A história por trás de dois túmulos de mãos entrelaçadas
Por Alexandre Inagaki ≈ quinta-feira, 07 de novembro de 2013
Navegando a esmo na web, eis que me deparei com a foto acima. E não foi difícil intuir que haveria uma história interessante a explicar porque dois túmulos, separados por um muro, estavam unidos pelo que aparenta ser um aperto de mãos. Mas é muito mais do que isso.
Os túmulos estão localizados no cemitério de Roermond, na Holanda. De um lado do muro, estão enterrados católicos; de outro, protestantes. Consequência de uma época na qual o país era regido pela pilarização (“verzuiling” em neerlandês), sistema de organização que dividia a sociedade em “pilares” determinados de acordo com a religião ou ideologia de cada cidadão. Era três os principais pilares: o católico, o protestante e o social-democrata. Os membros de cada grupo administravam suas próprias escolas, universidades, clubes esportivos, hospitais, sindicatos, meios de comunicação e partidos políticos. Do mesmo modo, cemitérios também seguiam essa segmentação. Por causa dessa estratificação, muitos holandeses acabavam por não ter relações com pessoas que pertencessem a outro pilar.
Mas eis que, em meio a esse cenário, o coronel protestante JWC Van Gorkum, da cavalaria holandesa, se casou com a católica JCPH Van Aefferden, que pertencia à nobreza, no ano de 1842. Ela tinha 22 anos e o coronel tinha 33; e ambos viveram juntos até a morte de Van Gorkum, em 1880. Ele foi enterrado na área dos protestantes do cemitério de Roermond, próximo do muro que a separava dos túmulos dos católicos.
Oito anos depois, em 1888, Van Aefferden faleceu. Ela, porém, tinha manifestado o desejo de não ser enterrada no jazigo da família, porque queria estar o mais próxima possível do túmulo do marido. Assim, como a pilarização e as igrejas impediram que ela pudesse ser enterrada na mesma lápide da pessoa que amou, foi encontrada uma solução criativa. Até que a morte os unisse novamente, pois.
P.S.: Encontrei a imagem deste túmulo no Retronaut. E, sobre a história da pilarização, recomendo a leitura de um texto que explica por que a patinação no gelo é um passatempo tão popular na Holanda.
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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Kelly Brandão