Dia Mundial do Rock?
Por Alexandre Inagaki ≈ sábado, 13 de julho de 2013
Sábado, dia 13, é o Dia Mundial do Rock. Uma data esdrúxula, feito outras efemérides criadas por vereadores como o Dia do Filatelista Brasileiro (celebrado dia 5 de março), o Dia do Disco (de vinil, não o voador, comemorado dia 20 de abril no Rio de Janeiro) e o Dia da Pizza (10 de julho, criado pela secretaria de turismo de São Paulo). Mas enfim, comemoração é comemoração.
A justificativa para a escolha da data: 13 de julho de 1985 foi o dia em que foi realizado o Live Aid, megaconcerto organizado pelo músico irlandês Bob Geldof, em prol dos famintos da África, que reuniu dezenas de bandas em dois shows realizados simultaneamente em Londres, Inglaterra, e Filadélfia, Estados Unidos. Foi um acontecimento marcante, concordo. Mas eu, particularmente, teria escolhido outra data para a celebração do rock: 3 de fevereiro.
Final dos anos 50. O rock’n'roll mal havia tocado suas primeiras notas na história da música e já sofria sua primeira crise, ameaçando perecer no mesmo limbo de outros estilos como a rumba, o calipso, o twist e o cha-cha-cha. Como peças de dominó, um a um os maiores ídolos do gênero viram suas carreiras tombarem de um dia para o outro. Tudo começou com o alistamento de Elvis Presley ao Exército, em 1957. Depois, foi Jerry Lee Lewis, que viu sua carreira soçobrar após o escândalo suscitado pelo casamento com sua prima de 13 anos. Em paralelo, Little Richard encontrara “a luz” e trocara o rock n’roll pela Igreja, enquanto Chuck Berry terminou a década na cadeia, após ter sido flagrado com uma prostituta menor de idade.
O vácuo repentino de ídolos abrira espaço para a ascensão meteórica de três talentos incipientes: o grande Buddy Holly (e sua banda The Crickets), Ritchie Valens (intérprete do sucesso “La Bamba”, pioneiro do rock latino) e The Big Bopper (DJ mais famoso da América e autor do hit “Chantilly Lace”). Durante o inverno de 1959, ambos participavam da turnê “Winter Dance Party”, consolidando junto aos fãs do meio-oeste americano o sucesso recém-adquirido (Valens, por exemplo, tinha apenas 17 anos quando surgiu nos hit parades da época). Seguiram-se infindáveis, extenuantes viagens de ônibus, ao longo de estradas constantemente cobertas de neve.
Um dia, Buddy Holly jogou a toalha. Na madrugada de 3 de fevereiro de 1959, logo após um show em Clear Lake, Iowa, Buddy decidiu fretar um avião a fim de prosseguir com a turnê em condições mais decentes. Havia espaço para mais dois passageiros. Uma das vagas ficou com Big Bopper, que, fortemente gripado, pediu para ser poupado de mais uma via-crúcis no indefectível ônibus dos músicos. A última poltrona, disputada no cara-ou-coroa (Deus não lança apenas dados), ficou com Ritchie Valens. Nem sempre quem ganha leva: poucos quilômetros depois de decolar, o avião caiu, certamente devido às péssimas condições climáticas, matando todos os seus ocupantes.
O rock tardaria a se recuperar de mais esse baque. As paradas de sucesso foram tomadas por baladeiros como Paul Anka, Pat Boone e Neil Sedaka, e mesmo Elvis Presley, que ao voltar das Forças Armadas preferiu consolidar sua imagem de galã de cinema, gravando basicamente musiquinhas mela-cueca. Apenas na metade dos anos 60 o rock resgataria sua vocação transgressora, graças a nomes como Bob Dylan, Beatles e Rolling Stones. Contudo, os pioneiros, os responsáveis pelas primeiras faíscas, merecem ser lembrados: sempre que uma Fender ou uma Gibson for plugada em um amplificador, acredito que ao menos um isqueiro deva ser aceso em homenagem a esses caras: Buddy, Ritchie e Big Bopper.
P.S. 1: Don McLean faz referência ao acidente em “American Pie”, canção composta e gravada por ele em 1971, descrevendo-o como “o dia em que a música morreu”.
P.S. 2: Os integrantes do Queen costumavam viajar em aviões separados, a fim de assegurar a sobrevivência da banda caso algum membro fosse vitimado por um acidente aéreo. Uma providência que pode até soar extrema, mas só para quem não se recorda do caso dos Mamonas Assassinas.
P.S. 3: Este texto foi publicado originalmente na edição 070 do SpamZine.
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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