Comerciais tailandeses sempre fazem a gente chorar
Por Alexandre Inagaki ≈ terça-feira, 15 de abril de 2014
É vergonhoso admitir que, embora a Tailândia seja um país asiático com mais de 66 milhões de habitantes, o pouco que sei sobre lá pode ser resumido em poucas linhas: sua capital é Bangkok, há muitos templos budistas, sua comida típica é apimentadamente deliciosa, não gostaria de apanhar de um lutador de muay thai e o cinema local produziu um filme cult, de um diretor cujo nome é impossível de se escrever sem recorrer ao Google (Apichatpong Weerasethakul), que ganhou há alguns anos a Palma de Ouro de Cannes. Porém, graças ao YouTube, descobri um outro aspecto interessante da cultura tailandesa: eles são os mestres absolutos na arte de produzirem comerciais que fazem a gente chorar como se estivéssemos cortando cebolas durante uma sessão de “Marley & Eu” em meio a uma chuva de ciscos.
O exemplo mais recente da capacidade quase maquiavélica que a publicidade tailandesa tem de produzir comerciais cotação 5 de 5 caixas de lenços de papel é “Herói Anônimo”, anúncio da Thai Life Seguros. O vídeo mostra os pequenos grandes atos de solidariedade de um homem que não ficará rico, não ficará famoso e nem aparecerá na TV por conta de suas atitudes. Porém, por conta delas, torna-se um herói muito mais real e relevante do que aqueles que protagonizam filmes e quadrinhos.
“Herói Anônimo” já foi visualizado mais de 8 milhões de vezes em apenas 12 dias, e caminha a passos largos para repetir o sucesso de outra propaganda tailandesa com a qual você provavelmente já viu por algum amigo que a compartilhou nalguma rede social, destacando o seu poder de fazer pedras chorarem: “Doar é a melhor comunicação”, comercial da operadora de celulares True Move. O vídeo mostra a história de um dono de restaurante que também possui o hábito de fazer pequenos gestos generosos ao longo do dia a dia. O final inesperado da narrativa me fez lembrar dos versos finais de uma das mais belas canções dos Beatles.
Outro comercial comovente (em mais uma peça patrocinada pela seguradora Thai Life) é “Silêncio do Amor”, que narra a história da relação conturbada de uma filha e seu pai surdo-mudo. Ao final, uma mensagem que faz todo o sentido do mundo: “Lembre-se de cuidar daqueles que se preocupam com você”.
Se houvesse no Festival de Cannes um Leão de Ouro dedicado a comerciais que fazem a gente chorar feito uma criança desamparada que acabou de assistir à morte do Mufasa ou da mãe do Bambi, outro sólido candidato seria “Não me Esqueça”, que mostra a dedicação de um marido à sua esposa doente, após décadas de casamento.
Não coloquei, neste post, nenhum aviso alertando para que você não veja estes vídeos enquanto estiver no escritório. Contudo, caso você se enquadre na improvável hipótese de que seus olhos não lacrimejaram até agora, creio que este é o momento de você só conferir este vídeo quando estiver no recôndito do seu lar, com privacidade suficiente para poder berrar feito um bezerro desmamado com o comercial a seguir.
É curioso constatar como essa vocação para criar comerciais dramáticos faz com que empresas com mais tradição no Ocidente também acompanhem essa onda. Vejam o vídeo a seguir, por exemplo, criado para divulgar os shampoos Pantene.
A fim de encerrar este post, e antes que você comece a enxugar seu rosto, recomendo que você assista ao próximo comercial. E desafio você a adivinhar, antes dos segundos finais desta propaganda, qual é o produto divulgado em meio a esta história de mãe e filho.
P.S. 1: Segue um link importante para você que acabou de assistir a todos os vídeos deste post: as recomendações do Dr. Drauzio Varella para evitar desidratação.
P.S. 2: Outros posts com grande potencial de atraírem ninjas invisíveis descascando cebolas para o seu lado: Abrace seu cachorro agora mesmo, Dançando com lágrimas nos olhos, Adele e o dom de fazer homens crescidos chorarem e Carrinhos e bonecas são brinquedos, cachorros não.
P.S. 3: A definição mais bonita de lágrimas foi cunhada por Paulinho da Viola em sua canção “Quando Bate uma Saudade”. Se você ainda não conhece esta música, preencha agora esta lacuna.
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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