Cloverfield, o terror em primeira pessoa
Por Alexandre Inagaki ≈ terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
Nesta que é a semana que antecede a cerimônia do Oscar, estou fazendo uma maratona cinéfila a fim de tentar assistir a todos os principais indicados. Porém, faço um parênteses para escrever sobre um possível indicado aos prêmios de 2009: Cloverfield - Monstro. Um filme que é a representação cinematográfica das mesmas sensações que tomam conta de um incauto andando em um carrinho de montanha-russa: olhares tremidos, vertigens constantes e um certo sentimento de satisfação masoquista ao final do trajeto.
O filme mostra o que aconteceria se a cidade de Nova Iorque fosse atacada por um monstro digno daqueles que destroçavam as construções de Sim City. Porém, esqueça ameaças como King Kong, Godzilla ou George W. Bush: trata-se de algo muito mais arrasador. A grande sacada deste blockbuster dirigido por Matt Reeves e produzido por J.J. “Lost” Abrams está no modo como a trama é exibida: através da câmera de vídeo na mão de um dos personagens que corre destrambelhadamente pelos destroços da “Big Apple”.
O roteiro, acertadamente, não busca dar explicações pseudo-científicas para o surgimento do monstrengo. Ele simplesmente está lá, e você tem que se virar pra conseguir escapar vivo dessa. Outro ponto eficiente é a maneira como são apresentados ao espectador os personagens do filme, um grupo de amigos reunidos para a festa de despedida de Rob, que viajaria para assumir a vice-presidência de uma empresa no Japão, terra natal do Godzilla. As imagens da festa são gravadas em cima de uma fita com registros antigos de Rob ao lado de Beth, seu grande caso de amor mal resolvido, e por meio desse artifício narrativo o espectador passa a saber de informações que serão utilizadas adiante com o devido impacto dramático. A partir do momento em que o monstro começa a tocar o terror em Nova Iorque (na companhia de “amiguinhos” menores que dão o ar de sua desgraça na seqüência do metrô), a câmera passa a registrar a angústia esbaforida dos personagens em fuga, enquanto imagens entrecortadas do bicho são vistas apenas de relance em um e outro enquadramento tremido. E aí está outro mérito da direção e roteiro de Cloverfield: entender que sugerir é um ato muito mais instigante do que escancarar.
Uma das cenas mais significativas de todo o filme é a seqüência na qual a cabeça da Estátua da Liberdade é arremessada pelo monstro, vai parar no meio de uma rua e é logo cercada por diversos transeuntes que começam a filmá-la e fotografá-la com seus celulares e câmeras digitais: Cloverfield é o típico produto de uma era de produtores de conteúdo que não estão mais satisfeitos em ver um acontecimento diante de seus olhos: eles desejam registrar seus pontos de vista fazendo fotos, vídeos, posts.
Não perca tempo questionando a inverossimilhança de uma câmera digital cuja bateria é mais resistente que coelhinho da Duracell ou o estômago do Jack Bauer que em 24 horas nunca para pra tomar um lanche sequer. Cloverfield é um filme angustiantemente divertido, que reflete o zeitgeist desta época na qual registramos nossas lembranças através do suporte de smartphones e câmeras digitais. Produto típico desta era de convergência de mídias, não à toa foi precedido por uma campanha viral na qual cada imagem de seus trailers foi analisada por espectadores que congelaram frames e criaram blogs expondo suas teorias a respeito do filme.
Encontrei na Web vídeos que analisam o áudio quase ininteligível que surge após o final dos créditos e um objeto que cai no mar em determinada cena do filme. Mas só recomendo que você clique nesses links após ter assistido a Cloverfield. Que, ao lado da estupenda produção coreana O Hospedeiro, de Bong Joon-ho (IMHO, o melhor filme de 2007), faz com que eu seja obrigado a dizer que o gênero “filme-de-monstro” nunca esteve tão revigorado e criativo.
P.S. 1: Tenho um par de ingressos do filme dando sopa por aqui. Se você quiser assisti-lo de graça com direito a acompanhante (afinal de contas, sessão de cinema fica mais bacana quando você tem alguém com quem compartilhar os sustos e impressões), deixe um comentário neste post dando um novo título em português para Cloverfield - Monstro. Todos os comentários dando sugestões de nomes só serão liberados para publicação na meia-noite desta sexta-feira, dia 22, quando também divulgarei o nome do vencedor de acordo com a comissão julgadora deste blog (leia-se: eu). Em tempo: os ingressos que tenho aqui são válidos em qualquer cinema localizado no território brasileiro, de segunda a quinta, exceto no Cinemark do Shopping Iguatemi em Sampa City e nas salas do Grupo Estação.
P.S. 2: Locutório, Roda Presa e Saloma do Blog, sejam bem-vindos ao InterNey Blogs!
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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