Chico Buarque falando de “Futuros Amantes”
Por Alexandre Inagaki ≈ quinta-feira, 20 de setembro de 2007
Chico Buarque tornou-se unanimidade nacional, e não é à toa. O cara é bom, muito bom. A ponto de afirmar que, se minha mulher me chifrasse com ele, eu seria capaz de ficar orgulhoso e de alardear para todos os meus amigos: eu fui corneado pelo Chico Buarque!
Mas, falando sério, embora eu ainda considere que sua obra-prima seja Construção, gravado em 1971, o fato é que ao longo dos anos Chico tem mantido uma invejável forma artística, além de ter publicado ao menos dois belos romances: Estorvo e Budapeste. Porém, o motivo que me levou a publicar este post foi ter encontrado, no excelente blog da Ticcia, um vídeo extraído do especial que o filho do Sérgio Buarque de Holanda gravou para a Band, por ocasião do lançamento de Paratodos, em 1993. Trata-se de uma preciosidade: nele, Chico Buarque explica o gênese da composição de “Futuros Amantes”, mais uma dentre tantas de suas obras-primas.
Tendo a Cidade Maravilhosa ao fundo, Chico devaneia e ilumina seus admiradores com a história de como surgiu a inspiração para a letra de música:
Eu tava mexendo no violão, começando a fazer a melodia, e a primeira imagem que apareceu foi exatamente esta: uma cidade submersa, isolada de tudo. Porque, cantarolando, parecia que a música queria dizer isso. Eu tinha que ir atrás da explicação dessa cidade submersa. Aí eu coloquei os escafandristas, e surgiu a história de um amor adiado, um amor que fica para sempre. Essa idéia do amor como algo que pode ser aproveitado mais tarde, que não se desperdiça. Passa-se o tempo, passam-se milênios, e aquele amor ficará até debaixo d’água. Um amor que vai ser usado por outras pessoas, um amor que não foi utilizado porque não foi correspondido, e então ele fica ímpar, pairando… Esperando que alguém o apanhe e complete a sua função de amor.
Uma bela explicação para uma música que dá o consolo definitivo a todos aqueles que um dia sofreram com sentimentos não-correspondidos: “futuros amantes quiçá se amarão, sem saber, com o amor que eu um dia deixei pra você“. Devo confessar que já houve dias em que ouvi esta canção com os olhos tremeluzentes de lágrimas…
P.S.: Leitura complementar ao meu primeiro parágrafo: O orgulho de ser corno, de Tutty Vasques. Comunidade do Orkut ligada a este post: Chico Buarque peida. Quem diria, até ele!
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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