Ontem acessei pouco a internet e acabei perdendo o caso da vez: a história de como Giovana Ferrarezi postou uma reclamação no Facebook sobre uma casa noturna, após ter pedido para “dar uma olhada na festa antes de todo mundo pagar para entrar”, comentando com a hostess que tem um blog que faz parcerias com a Capricho. Sua atitude, interpretada como tentativa de carteirada, recebeu uma saraivada de críticas. Seu post no FB recebeu mais de 1.800 comentários e centenas de comentários, antes de ser apagado (embora seja possível ver capturas de tela do post original de Giovana em dezenas de lugares, como no site da Folha). E, como tudo que ganha certa repercussão na internet, virou meme (clique aqui para conferir o resumo da ópera feito pelo youPIX).
O lado bom de ter ficado sabendo disso fora do calor do momento é que tive um certo distanciamento para entendê-la melhor, algo fundamental nestes tempos afobados em que pessoas mal ouviram falar de uma história e já se apressam para emitir opiniões e palpites sobre ela. E, confesso, senti pena pelo fato de uma menina de 20 anos, que escreve em um blog chamado Unicórnios Radioativos, estar sendo fartamente ridicularizada por causa de um ato tolamente imaturo. Perfis corporativos estão fazendo piadas com sua história em redes sociais, um tumblr chamado Blogueira Humildona foi criado e, enfim, aquele ciclo previsível de imagens engraçadinhas e sacadinhas irônicas tomou conta da web tupinambá. Afinal de contas, todo mundo quer surfar na onda da vez. Continue Lendo
Um dos primeiros blogs que acompanhava diariamente era o Tolos Devaneios Tolos, que ficava hospedado em um site, o Tipos.com.br, que já não está mais no ar. Pena que, assim como a maior parte dos blogs brasileiros que surgiram no final dos anos 90 e começo de 2000, seus arquivos se dissiparam e só podem ser resgatados, de modo parcial, através do Archive.org. Infelizmente a internet é feito a Dory, aquele peixe abilolado de Procurando Memo que sofre de perda de memória recente. Se um dia algum pesquisador tentar escrever a história da blogosfera brasileira, penará para fazer isso.
Mas tergiverso, tergiverso. O que me fez lembrar do Tolos Devaneios Tolos foi a notícia da morte do jornalista e professor Rodrigo Manzano. Quando vi esse nome, lembrei imediatamente daquele recanto virtual descompromissado e saborosamente bem escrito por ele, representante clássico de uma época na qual ninguém sequer imaginava que um dia a atividade de blogueiro viraria profissão. Os posts saíam mais espontâneos e confessionais, não havia paranóia com números de audiência nem pressão para que blogs fossem atualizados diariamente. Era a época, enfim, dos “blogs-moleque, dos posts-arte”. Continue Lendo
1. Antes de mais nada, devo alertar que mães e dentistas estiveram sempre certos: nunca aceite doces de estranhos. Mas, em se tratando de Candy Crush Saga, esta advertência deve ser reforçada e estendida a todas as pessoas que você conhece, sejam elas desconhecidas, amigas de infância ou parentes de terceiro grau. Caso você ainda tenha conseguido escapar incólume a esta droga virtual, fica aqui o alerta: recuse quaisquer solicitações ligadas ao Candy Crush, porque este jogo irá escravizar seu foco, invadir seus sonhos, liquidar seus momentos de ócio e destroçar sua produtividade de modo devastador.
2. Há momentos nos quais a gente não tem a menor ideia de como deve agir. Tomamos decisões, ainda incertos de qual seria o melhor caminho a seguir. Acontece na vida, acontece no Candy Crush. Nem sempre planejamento e estratégias cuidadosamente elaboradas são suficientes para superarmos as dificuldades que surgem à nossa frente. Às vezes precisamos ter fé, às vezes necessitamos que a doce brisa da sorte sopre a nosso favor. Mas uma combinação de brigadeiro com doce listrado também ajuda.
Há coisas que escapam do plano racional. O medo de viajar de avião, por exemplo. Toda vez que estou a bordo de um vôo, sinto que estou sendo confrontado com a minha mortalidade.
Ok, eu sei que posso bater as botas, ir para a terra dos pés juntos, subir no telhado, vestir pijama de madeira, comer capim pela raiz, ir desta para melhor, a qualquer momento. Mas a existência de tantos eufemismos para a morte é uma das provas de que não é fácil encará-la de frente. E eu, quando estou em um avião que começa a decolar, não consigo deixar de pensar uma série de bobagens. “Que última impressão eu gostaria de deixar ao mundo? A última palavra que eu disse às pessoas que amo foi bacana? Deixei de fazer muitas coisas das quais me arrependo? Disse alguma bobagem vexaminosa em meu último tweet? Espero que minha morte seja rápida e que eu não sofra muito. Bah, que seja uma explosão repentina, assim eu nem vou saber o que me aconteceu.” Continue Lendo
Em sua coluna na Galileu, Débora Nogueira tergiversa sobre o desligamento de vínculos em tempos de redes sociais: “(…) você provavelmente já conheceu alguém pela internet e depois o levou para a vida real. Esse texto é sobre o passo seguinte. O unfollow na vida. Seja por qual motivo você julgou que aquela pessoa não valia estar ‘entre seus amigos’ é possível cortá-la. Apagá-la. Excluí-la. As relações estão a um clique de serem rompidas (tirar a pessoa da cabeça já são outros quinhentos…). Esse rompimento do unfollow é como dizer ‘não quero mais saber o que está fazendo, ou se vai mandar indiretas para mim’. (…) Romper a relação de receber atualizações e fotos que no fim significam sentimentos para a gente. Ver o que a pessoa está fazendo sempre nos afeta após um rompimento, certo? Na internet isso é mais explícito. Por mais que você não ande na mesma região da cidade que a pessoa, você vai saber que ela está tomando um sorvete, em tal lugar e se bobear até o sabor!”Continue Lendo
Sou um cara que aprendeu a ler com as HQs do Tio Patinhas, que percorria os quatro cantos do mundo em busca de tesouros. Curtia especialmente as aventuras nas quais os personagens eram obrigados a resolver charadas, decifrando pistas passo a passo até conseguirem chegar ao destino final. E, embora o tesouro fosse o objetivo que catalisava todas aquelas estripulias, o mais bacana era acompanhar todas as aventuras vividas por Patinhas e seus sobrinhos ao longo daquela trajetória.
Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.