Se nem Freud descobriu o que querem as mulheres, oras, o que um pobre leigo feito eu vai saber? Mas enfim, como bem disse Federico García Lorca, “só o mistério nos faz viver”. Será mergulhando de cabeça no universo feminino (e dentro de si mesmo) que o escritor e psicólogo André Newmann, personagem que protagoniza a nova série de Luiz Fernando Carvalho, buscará a resposta definitiva para esse dilema.
A fim de saber mais sobre como a pergunta clássica de Freud virou uma série da Globo, participei de um bate-papo com o trio de roteiristas por trás de “Afinal, o Que Querem as Mulheres?”: João Paulo Cuenca (um baita escritor que acompanho desde os tempos do Folhetim Bizarro), Cecília Giannetti (outra autora de primeira revelada pela web, mas que também é conhecida por ser serial killer de seus próprios blogs) e Michel Melamed (que também atua e, dizem por aí, exercita dons esquizofrênicos no blog da série). O evento, que contou com a presença de diversos blogueiros convidados, girou em torno de assuntos como deadlines insanos, o desafio de criar uma obra experimental para um veículo popular como a Rede Globo, os bastidores da gravação (Ciça testemunhou uma imagem marcante: Vera Fischer de calcinha) e o que Cuenca descreveu como uma “mitificação masculina e boba”: a tal questão que batiza a série.
Foi instigante acompanhar de perto o brainstorm de sinapses e abstrações dos três. Como descreveram no encontro, o processo criativo foi uma insanidade total, movida por uma dieta à base de “Red Bull, cigarro e pizza.” Quem assistiu ao primeiro capítulo de “Afinal, o Que Querem as Mulheres?” pôde constatar que a série, exibida às quintas-feiras, espelha esse Big Bang criativo. Afinal, estes são tempos de discursos atravessados, de cacofonia de muitas pessoas falando ao mesmo tempo: uma lógica típica da internet, que se reflete no modo como sentimos e vivemos o mundo. “Afinal, o Que Querem as Mulheres?” é, pois, o retrato desta era confusa, misteriosa e cheia de possibilidades. Com pessoas que querem tudo ao mesmo tempo agora. E que nutrem, citando Giannetti, “desejos loucos, disparados, com setas para todos os lados”.
Um dos momentos destacados nos bastidores da criação da obra foram as gravações feitas por um Michel Melamed devidamente trajado com os figurinos do seu personagem, quando ele foi às ruas conversar com populares. Michel, que gravou depoimentos com cerca de 300 pessoas como se fosse André Newmann, descreveu esses momentos como “um manicômio no meio de um redemoinho”.
Melamed ainda destacou: “Impressionante como num mesmo metro quadrado séculos separam pessoas. Logo após encontrar meninas espertas e safadas, achei mulheres cabisbaixas acompanhadas por maridos que as impediam de falar.” Se antes era tudo razoavelmente planificável, hoje o mundo é multifacetado. No Twitter, não encontramos ao mesmo tempo gente fascista, homofóbica, liberal, islâmica, preconceituosa, pansexual? Pois é: o Twitter é a vida. Ou, como bem resumiram Cuenca e Melamed: “Toda esquina é um Twitter.”
Não é de se estranhar que a série trabalhe com diversos níveis e camadas de entendimento, enredados por metalinguagens e intertextualidades. Basta pensar que seu blog, que já estava no ar antes da série começar a ser exibida, foi criado por um personagem que ainda não existia, sendo escrito por um autor que também é um ator. E que, a partir do início da exibição em um veículo de mass media, tem a possibilidade de refletir as percepções dos telespectadores e os comentários deixados pelas “pós-popuzudas” e “afrodites blogueiras” (expressões de Melamed). Sendo que o blog, na real, não é necessariamente escrito apenas por Michel/André. Afinal, como resumiu ironicamente Cuenca, a série é o resultado da fusão criativa de “oito mãos, três membros e uma florzinha”.
E agora? Bem, recomendo que você acompanhe o site de “Afinal, o Que Querem as Mulheres?” e fique atento à programação: no total serão seis capítulos, todos eles exibidos por volta das 23:30, às quintas-feiras. Afinal, nem sempre temos a chance de poder acompanhar uma produção sui generis como esta, capitaneada pelo mesmo Luiz Fernando Carvalho de outras jóias como “Capitu” e “Hoje é Dia de Maria”, dando sopa na tevê aberta.
Saca aquela frase surrada do Lennon, sobre vida ser o que acontece enquanto fazemos planos? Pois bem, ela meio que resume minha filosofia. Toda vez que me perguntam onde pretendo estar daqui a dez anos, não tenho uma resposta pronta. Tal como um jazzista, vou improvisando notas enquanto procuro acompanhar a música da vida. Provavelmente por causa disso, não liguei para a suposta falta de respostas a todos os enigmas exibidos nas seis temporadas de Lost. Simplesmente apreciei a viagem durante todo o tempo que ela durou.
Em um primeiro momento, imagino que as pessoas que odiaram o fim de Lost são as mesmas que lêem livros de Agatha Christie com o intuito de adivinhar a identidade do assassino. Ao invés de se preocuparem tanto com respostas - como se a vida desse respostas definitivas para todas as perguntas que temos -, deveriam conhecer melhor o conceito de MacGuffin cunhado por Alfred Hitchcock: um elemento na trama que serve para distrair a atenção dos espectadores e alavancar a ação do filme, mas que não passa de um pretexto para que o verdadeiro tema da obra seja abordado pelo autor.
Lost foi um seriado sobre fé vs ciência, livre-arbítrio vs destino, mas, principalmente, sobre redenção, esperança e amor. É difícil falar sobre esses temas sem resvalar no piegas, e entendo perfeitamente as críticas ranzinzas que compararam o fim de Lost a um capítulo final das novelas de Manoel Carlos ou à cena do reencontro de Jack e Rose em Titanic. Mas eu, que embarquei nas tramas envolvendo eletromagnetismo, viagens temporais ou aparições de mortos sem ansiar por respostas, me preocupei mais com o destino de cada um dos personagens do seriado. E, por isso mesmo, fiquei tão satisfeito com o episódio final, que me fez cair em lágrimas pelo menos quatro vezes, nas emocionantes cenas de reconhecimento e reencontro; porque as pessoas importaram muito mais do que quaisquer interrogações que foram feitas ao longo de seis anos.
Ainda que respostas fossem dadas para cada mistério, não creio que elas seriam satisfatórias. Alguém gostou de saber que a Força no universo de Star Wars nada mais é do que excesso de Midi-chlorians no sangue dos jedis? Ou ficou satisfeito com a explicação didaticamente modorrenta que o Arquiteto deu naquela cena longa e soporífera de Matrix Reloaded? Bah.
Em vez disso, prefiro admirar as entrelinhas que os roteiristas de Lost deram para que cada um de nós use seu livre-arbítrio e suas crenças pessoais a fim de teorizar sobre a ilha, a igreja e o significado de seu belíssimo episódio final. Pois sábias foram as palavras proferidas por Riobaldo, personagem de Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas: “Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas”.
Há teorias muito boas sobre Lost pululando na rede. Dentre elas, destaco os textos que li nos blogs TV Squad, Dark UFO, Let’s Blogar e Trabalho Sujo, que jogam alguma luz nos mistérios. Mas que, no final das contas, são substratos para que cada um de nós espelhe-se em sua resposta pessoal.
Não me apego a nenhuma religião em especial. No entanto, creio que exista algo além desta vida. Não tenho motivos racionais para crer nisso; simplesmente tenho esperanças. E é pautado na minha crença pessoal de que a vida é boa e cheia de possibilidades que eu prossigo, movido pelo pensamento de que estamos todos neste mundo louco por algum motivo que nos transcende. Em um poema que escrevi há alguns anos, digo:
Carrego dentro de mim sonhos e sentimentos que morrerão comigo,
momentos que não existem em nenhum lugar mais
além do meu coração:
pôr-de-sol, brisa no rosto, conversa com amigos, sorriso de mulher.
Instantes que valeram por uma vida inteira,
rastro de estrelas num céu poluído e aparentemente vazio.
Não posso deixar de lembrar que o último episódio de Lost, “The End”, tem o mesmo nome de uma canção dos Beatles cujo verso derradeiro resume, para mim, o espírito de todo o seriado: “E, no final, o amor que você recebe é igual ao amor que você doa”. Que assim seja.
Muitos achavam (inclusive eu) que a nona temporada de American Idol, programa mais assistido nos Estados Unidos na atualidade, seria a derradeira. Porque, oras, a fórmula repetida com sucesso desde 2002 dava sinais de esgotamento. De quebra, foi a última com a presença de Simon Cowell - inglês rabugento que era, indiscutivelmente, o jurado mais carismático e qualificado do programa. Cowell decidiu que, a partir de 2011, se dedicará à produção e apresentação da versão americana de X-Factor, programa ao melhor estilo Show de Calouros.
Eu, na condição de telespectador assíduo do reality show há anos, lamentava pelo final do American Idol. Mas fui surpreendido positivamente pela renovação do júri, com as presenças de Jennifer Lopez e Steven Tyler, que deram novos e bem-vindos ares ao programa. Mas tergiverso, tergiverso. E tudo para comentar que aproveitei o pretexto para publicar mais uma listinha por aqui: vídeos com as nove melhores performances do American Idol de todos os tempos.
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9.Chris Daughtry (temporada 5) - “Hemorrhage (In My Hands)”. A participação de Daughtry mudou a história do American Idol. Se antes os grandes competidores do reality show destacavam-se por cantar músicas pop ou standards clássicos, este roqueiro careca e boa pinta fez com que o rock’n'roll ganhasse de vez seu devido espaço na competição. Daughtry foi eliminado precocemente, ficando apenas na quarta colocação em um resultado que ainda causa controvérsias, mas fez de sua performance de “Hemorrhage (In My Hands)” algo tão marcante que fez com que a banda que gravou originalmente esta música, o Fuel, o convidasse para assumir os vocais do grupo. O convite não foi aceito; ao invés disso, Daughtry criou uma banda com o seu nome, vendendo mais de 4 milhões de cópias do seu álbum de estreia.
Conheci pessoalmente Fábio Montanari durante o lançamento do Fiz.TV, um canal de televisão, lançado em agosto de 2007, que buscava abrir espaço para produções independentes, conciliando televisão e internet. Infelizmente o canal foi descontinuado em junho deste ano, embora ainda ocupe um espaço na grade de programação da MTV. É bom saber, porém, que o Fábio permanece firme e forte à frente de iniciativas como a websérie Privadas.tv, sucesso na internet que, durante esta semana, está sendo exibida também no Programa Novo, exibido pela TV Cultura.
Fábio Montanari é o criador, roteirista e co-diretor (ao lado de Rafael Barioni) deste projeto, que é protagonizado pelos pés de Fábio Lucindo e Victor Coelho (a.k.a. Mionzinho). Torço para que o Montanari, que passou por dias difíceis neste estranho ano de 2009, continue à frente de produções bacanas como o Privadas. Afinal de contas, precisamos de mais gente fina, elegante e sincera como o Sr. Noir.
Era visível a incredulidade nos rostos dos jurados e da plateia do programa Britain’s Got Talent (um misto de Show de Calouros com American Idol) quando Susan Boyles, uma senhora britânica de 47 anos, subiu ao palco para cantar “I Dreamed a Dream”, do musical Os Miseráveis.
Pouco antes de exibir sua performance, o programa mostrou uma breve entrevista na qual Susan revelou que vivia sozinha com Pebbles, seu gato de 10 anos de idade. Mais: nunca havia se casado e, pior, nunca havia sido beijada na vida. Sua aparência física certamente não se assemelha ao visual habitual dos popstars, e o seu jeito simples e levemente atrapalhado fez com que júri e audiência aguardassem por um momento supremo de vergonha alheia. Continue Lendo
Creio que foi em um dos livros do Casseta & Planeta que foi publicada a clássica piada: “Se nós já passamos por crises existenciais frente à nossa insignificância em meio à imensidão do universo, imaginem o que uma ameba não sentiria?”. Lembrei dessa piada ao assistir ao vídeo We Are Here: The Pale Blue Dot (“nós estamos aqui: o pálido ponto azul”), no qual o astrônomo Carl Edward Sagan narra alguns dos pensamentos que lhe vieram à mente quando viu a famosa foto que a sonda espacial Voyager 1 tirou do planeta Terra, a uma distância de mais de 6 bilhões de quilômetros.
Um minúsculo ponto granulado, perdido em meio à poeira das estrelas. E, como na canção pra lá de manjada de John Lennon, sem paraíso, sem países, sem religiões, sem posses. Assistir ao belo vídeo abaixo, dirigido por David Fu, com narração e texto de Carl Sagan e uma magnífica trilha sonora (“Stop Coming to My House”, do Mogwai), é dessas coisas que fazem a gente parar pra pensar na condição humana e no que estamos fazendo com este surrado planeta.
Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.