Tudo na vida é uma questão de timing. Se você não estiver devidamente preparado para aproveitar as oportunidades que aparecem na sua frente, seu grande momento estará prestes a passar, está passando, já passou, foi embora, um abraço - ou nem isso - e até nunca mais.
Aquela garotinha ruiva que arrebatou seu coração ao sorrir da janela de um ônibus que acabou de partir da rodoviária, desapareceu de sua vista sem que você tenha sequer acenado para ela a fim de pegar seu telefone. A ideia mirabolante de um site inovador de comércio eletrônico, que você estava arquitetando em seus pensamentos meses a fio, acabou de ser implementada por alguns estudantes de Recife e já recebeu centenas de milhares de dólares de um investidor anjo da Califórnia. Seu projeto na teoria ainda parece ser melhor, mas ideias que não saem do papel são natimortas, e você desperdiçou aquela que poderia ser a chance da sua vida. Um headhunter entra em contato contigo e lhe oferece um emprego incrível e desafiador, a recompensa merecida após anos aturando aulas chatas na faculdade e estágios modorrentos. Porém, é uma vaga que exige inglês fluente, e você ainda está no the book is on the table… Continue Lendo
Há tempos não uso lápis ou caneta para escrever. Nem os versos que eu costumava cometer nos tempos em que estudava Letras na USP, tampouco listas de compras de supermercado, folhas de cheque, receitas de bolo, manuscritos quaisquer. De tão habituado a só digitar textos, minha caligrafia piora cada vez mais, se equiparando aos garranchos hieroglíficos de médicos apressados. E, na última vez em que fui reconhecer minha firma num cartório, fui obrigado a abrir uma nova porque minha assinatura não batia com a anterior. Males da vida digital.
Tenho guardadas em casa dezenas de folhas de caderno e papéis sulfite com manuscritos da época em que usava canetas para rebobinar fitas cassete e rascunhar versos e contos. Alguns desses textos foram remixados e remasterizados, tornando-se posts e artigos. Outros permanecerão guardados no fundo da gaveta, e só não viram material de reciclagem porque ainda teimo em arquivar certos testemunhos de um passado cada vez mais desfocado.
Mas, assim como arqueólogos volta e meia encontram algum fóssil interessante em escavações, outro dia achei uma pérola inesperada fuçando meus papéis amarfanhados: Continue Lendo
Nos últimos tempos, passei muitas horas dos meus dias naquela situação desconfortável de ficar esperando. Seja na sala de espera de um hospital, na fila do caixa de uma loja de construção ou na sala de embarque de um aeroporto, o fato é que ninguém gosta de se ver envolvido naquele hiato de tempo no qual você é obrigado a aguardar o desfecho de uma situação, e durante essa vigília fica impedido de se locomover livremente por aí. Sem um amigo do lado, a coisa fica pior ainda: os pensamentos começam a jogar squash cada vez mais irritados na quadra do cérebro, e as minhocas da cabeça entoam em coro uníssono versos falando de stress, raiva e insatisfação. Nesses momentos, nada mais recomendado do que ter a companhia de algo que faça o tempo escoar de forma mais útil e divertida. Pode ser um game portátil, uma revista de palavras-cruzadas ou um bom livro. Ou algo ainda melhor: que tal vários bons livros reunidos num dispositivo só?
Era uma coletânea reunindo obras-primas do conto como “Acender um Fogo”, de Jack London, “A Máscara da Morte Vermelha”, de Edgar Allan Poe, e “O Demônio da Garrafa”, de Robert Louis Stevenson. Histórias que li, reli e que me transportaram para lugares distantes e fantásticos, em algumas das melhores viagens que já fiz sem sair da minha casa. De quebra, todos os contos possuíam textos de apresentação de Ernesto Sábato, que escreveu prólogos saborosos, apresentando cada um dos autores selecionados. Julguei que seria, pois, o livro ideal para ser emprestado à minha amiga Lígia, que ainda não havia sido contagiada pelo vício da literatura. Tudo muito bonito, se não fosse por um detalhe: o livro nunca mais retornou à minha estante, e eu sequer sei se ela apreciou os contos e o objetivo foi cumprido. Continue Lendo
Há muitos e muitos anos, em uma galáxia distante, pessoas usavam um estranho aparelho intitulado telefone de disco. As novas gerações, habituadas com smartphones, certamente ficariam perplexas em descobrir que houve um tempo no qual aparelhos telefônicos tinham fios, serviam unicamente para fazer ligações e obrigavam seus usuários a enfiarem seus dedos em discos numerados a fim de efetuar chamadas.
Músicas são máquinas do tempo simples e eficazes, que nos transportam para outros momentos no exato instante em que somos tocados por certas melodias, timbres e acordes que marcaram lembranças de nossa vida.
Namoros, festas de formatura, almoços de família, dores de cotovelo, reminiscências da infância… Que atire o primeiro Mp3 player aquele que não tiver trilhas sonoras associadas a momentos especiais da vida, agindo como DeLoreans musicais que levam seus ouvintes a viajar sem sair do lugar (pense em uma pessoa que, capturada por uma certa canção no meio do dia-a-dia, devaneia alto e se imagina no meio de um videoclipe). Continue Lendo
Por mais que a gente esteja cada vez mais se habituando a ler textos na internet, o fato é que livros ainda têm um charme imbatível. Tenho um carinho especial pelos livros nos quais há algum manuscrito em suas páginas: uma dedicatória carinhosa, o autógrafo de um autor querido, as anotações que não resisti em fazer em alguma passagem específica.
Quem folheia algum livro meu vai se deparar com diversas divagações, questionamentos, dúvidas e insights que costumo fazer, e que acabam por ser o testemunho de minha passagem pelas páginas de um livro. Mais de uma vez já me peguei relendo algum volume e, me deparando com anotações anteriores que escrevi, acabei por fazer novos apontamentos. Como se travasse uma espécie de diálogo com o leitor que fui em minha primeira jornada por aquelas palavras e entrelinhas. Continue Lendo
Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.