Artigos da categoria: Livros

Millôr, Bussunda e os limites do humor (publieditorial)

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Nos últimos tempos, passei muitas horas dos meus dias naquela situação desconfortável de ficar esperando. Seja na sala de espera de um hospital, na fila do caixa de uma loja de construção ou na sala de embarque de um aeroporto, o fato é que ninguém gosta de se ver envolvido naquele hiato de tempo no qual você é obrigado a aguardar o desfecho de uma situação, e durante essa vigília fica impedido de se locomover livremente por aí. Sem um amigo do lado, a coisa fica pior ainda: os pensamentos começam a jogar squash cada vez mais irritados na quadra do cérebro, e as minhocas da cabeça entoam em coro uníssono versos falando de stress, raiva e insatisfação. Nesses momentos, nada mais recomendado do que ter a companhia de algo que faça o tempo escoar de forma mais útil e divertida. Pode ser um game portátil, uma revista de palavras-cruzadas ou um bom livro. Ou algo ainda melhor: que tal vários bons livros reunidos num dispositivo só?

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O dilema dos livros emprestados na era dos e-books (publieditorial)

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 09 de janeiro de 2012

Era uma coletânea reunindo obras-primas do conto como “Acender um Fogo”, de Jack London, “A Máscara da Morte Vermelha”, de Edgar Allan Poe, e “O Demônio da Garrafa”, de Robert Louis Stevenson. Histórias que li, reli e que me transportaram para lugares distantes e fantásticos, em algumas das melhores viagens que já fiz sem sair da minha casa. De quebra, todos os contos possuíam textos de apresentação de Ernesto Sábato, que escreveu prólogos saborosos, apresentando cada um dos autores selecionados. Julguei que seria, pois, o livro ideal para ser emprestado à minha amiga Lígia, que ainda não havia sido contagiada pelo vício da literatura. Tudo muito bonito, se não fosse por um detalhe: o livro nunca mais retornou à minha estante, e eu sequer sei se ela apreciou os contos e o objetivo foi cumprido. Continue Lendo

Livros digitais e a solidão compartilhada de Quintana (publieditorial)

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 27 de dezembro de 2011

Há muitos e muitos anos, em uma galáxia distante, pessoas usavam um estranho aparelho intitulado telefone de disco. As novas gerações, habituadas com smartphones, certamente ficariam perplexas em descobrir que houve um tempo no qual aparelhos telefônicos tinham fios, serviam unicamente para fazer ligações e obrigavam seus usuários a enfiarem seus dedos em discos numerados a fim de efetuar chamadas.

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Conheça o eFácil e concorra a um livro (publieditorial)

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 05 de julho de 2011

PhotobucketPor mais que a gente esteja cada vez mais se habituando a ler textos na internet, o fato é que livros ainda têm um charme imbatível. Tenho um carinho especial pelos livros nos quais há algum manuscrito em suas páginas: uma dedicatória carinhosa, o autógrafo de um autor querido, as anotações que não resisti em fazer em alguma passagem específica.

Quem folheia algum livro meu vai se deparar com diversas divagações, questionamentos, dúvidas e insights que costumo fazer, e que acabam por ser o testemunho de minha passagem pelas páginas de um livro. Mais de uma vez já me peguei relendo algum volume e, me deparando com anotações anteriores que escrevi, acabei por fazer novos apontamentos. Como se travasse uma espécie de diálogo com o leitor que fui em minha primeira jornada por aquelas palavras e entrelinhas. Continue Lendo

Promessas de ano novo: ler mais livros, perder peso, deixar de fazer promessas de ano novo…

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Ok. No réveillon você comeu lentilhas, pulou sete ondinhas, usou calcinha ou cueca nova, guardou sementes de romã na carteira e prometeu que desta vez vai cumprir todas as promessas de ano novo que você faz, como emagrecer, fazer academia, parar de ser tão dispersivo na internet, viajar para o exterior ou parar de fumar? E, no entanto, você acaba sendo demagógico consigo mesmo, fazendo promessas vãs que acabam sendo recauchutadas no ano seguinte.


Foto de Paul Octavious.

“Ler mais livros” é uma das promessas mais citadas em todas essas listas de resoluções que você acaba esquecendo no bolso da calça (e que viram papel machê involuntário depois que a roupa volta da lavanderia), certo? Pois bem: a fim de ajudar os leitores deste blog a não seguirem meu mau exemplo (prometi atualizar diariamente o Pensar Enlouquece em 2011 e já deixei dois dias em branco), darei um exemplar do livro Na Kombi, organizado pelos intrépidos Silvio Lach e Ulisses Mattos, sócios da M… Corporation.

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Grandes começos de livros

Por Alexandre Inagakiquinta-feira, 06 de janeiro de 2011

O passado é um país estrangeiro; lá, eles fazem as coisas de modo diferente.” - L. P. Hartley, O Mensageiro (1953).

Quanto mais vou sabendo de ti, mais gostaria que ainda estivesses viva. Só dois ou três minutos: o suficiente para te matar. Merecias uma morte violenta. Se eu soubesse, não te tinha deixado suicidar com aquelas mariquices todas. Aposto que não sentiste quase nada. Não está certo. Eu não morri e sofri mais do que tu. Devias ter sofrido. Porque eras má. Eu pensava que não. Enganaste-me. Alguma vez pensaste no que isso representou na minha vida miserável? Agora apetece-me assassinar-te de verdade. É indecente que já estejas morta.” - Miguel Esteves Cardoso, O Amor é Fodido (1994).

Minha querida Lucy, comecei a escrever esta história para você, sem lembrar-me de que as meninas crescem mais depressa do que os livros. Resultado: agora você está muito grande para ler contos de fadas; quando o livro estiver impresso e encadernado, mais crescida estará. Mas um dia virá em que, muito mais velha, você voltará a ler histórias de fadas. Irá buscar este livro em alguma prateleira distante e sacudir-lhe o pó. Aí me dará sua opinião. É provável que, a essa altura, eu já esteja surdo demais para poder ouvi-la, ou velho demais para compreender o que você disser. Mas ainda serei o seu padrinho, muito amigo.” - C. S. Lewis, O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa (1950).

Encontraria a Maga? Tantas vezes bastara-me chegar, vindo pela Rue de Seine, ao arco que dá para o Quai de Conti, e mal a luz cinza e esverdeada que flutua sobre o rio me deixava entrever as formas, já sua delgada silhueta se inscrevia no Pont des Arts, por vezes andando de um lado para o outro da ponte, outras vezes imóvel, debruçada sobre o parapeito de ferro, olhando a água. E era muito natural eu atravessar a rua, subir as escadas da ponte, dar mais alguns passos e aproximar-me da Maga, que sorria sempre, sem surpresa, convencida, como eu, de que um encontro casual era o menos casual em nossas vidas e de que as pessoas que marcam encontros exatos são as mesmas que precisam de papel pautado para escrever ou que começam a apertar pela parte de baixo o tubo de pasta dentrifícia.” - Julio Cortázar, Jogo da Amarelinha (1963).

Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta.” - Vladimir Nabokov, Lolita (1955).

Eu nasci duas vezes: primeiro como uma menininha, num dia excepcionalmente despoluído de Detroit, em janeiro de 1960; e depois outra vez como um rapaz adolescente, num ambulatório de emergência perto de Petoskey, Michigan, em agosto de 1974. Os leitores especializados talvez tenham esbarrado comigo no estudo do Dr. Peter Luce, ‘Identidade Sexual em Pseudo-Herma­froditas com 5-Alfa-Redutase’, publicado no Journal of Pediatric Endocrinology em 1975. Ou talvez tenham visto a minha fotografia no capítulo 16 do hoje tristemente ultrapassado Genetics and He­redity. Sou eu lá na página 578, sem roupa, diante de um gráfico que indica minha altura, com uma tarja preta sobre os olhos.“. - Jeffrey Eugenides, Middlesex (2002).

D. João, quinto do nome na tabela real, irá esta noite ao quarto de sua mulher, D. Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa e até hoje ainda não emprenhou. Já se murmura na corte, dentro e fora do palácio, que a rainha, provavelmente, tem a madre seca, insinuação muito resguardada de orelhas e bocas delatoras e que só entre íntimos se confia. Que caiba a culpa ao rei, nem pensar, primeiro porque a esterilidade não é mal dos homens, das mulheres sim, por isso são repudiadas tantas vezes, e segundo, material prova, se necessária ela fosse, porque abundam no reino bastardos da real semente e ainda agora a procissão vai na praça.” - José Saramago, Memorial do Convento (1982).

Mamãe e papai não passavam de duas crianças quando se casaram. Ele tinha dezoito anos, ela dezesseis e eu, três.” - Billie Holiday, Lady Sings the Blues (1956).

Você vai começar a ler o novo romance de Italo Calvino, Se um Viajante numa Noite de Inverno. Relaxe. Concentre-se. Afaste todos os outros pensamentos. Deixe que o mundo a sua volta se dissolva no indefinido. É melhor fechar a porta; do outro lado há sempre um televisor ligado. Diga logo aos outros: ‘Não, não quero ver televisão!’. Se não ouvirem, levante a voz: ‘Estou lendo! Não quero ser perturbado!’. Com todo aquele barulho, talvez ainda não o tenham ouvido; fale mais alto, grite: ‘Estou começando a ler o novo romance de Italo Calvino!’. Se preferir, não diga nada; tomara que o deixem em paz.” - Italo Calvino, Se um Viajante numa Noite de Inverno (1979).

Me chame de Ismael e eu não atenderei. Meu nome é Estevão, ou coisa parecida. Como todos os homens, sou oitenta por cento água salgada, mas já desisti de puxar destas profundezas qualquer grande besta simbólica. Como a própria baleia, vivo de pequenos peixes da superfície, que pouco significam mas alimentam.” - Luís Fernando Veríssimo, O Jardim do Diabo (1987).

Escolha viver. Escolha um emprego. Escolha uma carreira, uma família. Escolha uma puta duma televisão. Escolha lavadoras, carros, CD players e abridores de latas elétricos. Escolha saúde, colesterol baixo e plano dentário. Escolha uma hipoteca a juros fixos. Escolha sua primeira casa. Escolha seus amigos. Escolha roupas esporte e malas combinando. Escolha um terno numa variedade de tecidos em uma merda de fábrica. Escolha fazer consertos em casa e pensar na vida domingo de manhã. Escolha sentar-se no sofá e ficar vendo game shows chatos na TV, enfiando comidas em sua boca. Escolha apodrecer no final, beber num lar que envergonha os filhos egoístas que pôs no mundo para substituí-lo. Escolha o seu futuro. Escolha viver.” - Irvine Welsh, Trainspotting (1993).

Aos 16 anos matei meu professor de lógica. Invocando a legítima defesa – e qual defesa seria mais legítima? – logrei ser absolvido por cinco votos a dois, e fui morar sob uma ponte do Sena, embora nunca tenha estado em Paris. Deixei crescer a barba em pensamento, comprei um par de óculos para míope, e passava as noites espiando o céu estrelado, um cigarro entre os dedos. Chamava-me então Adilson, mas logo mudei para Heitor, depois Ruy Barbo, depois finalmente Astrogildo, que é como me chamo ainda hoje, quando me chamo.” - Campos de Carvalho, A Lua Vem da Ásia (1956).

Ao despertar após uma noite de sonhos agitados, Gregor Samsa encontrou-se em sua cama transformado em um monstruoso inseto.” - Franz Kafka, A Metamorfose (1915).

Eu não quis saber, mas soube que uma das meninas, quando já não era menina e não fazia muito voltara de sua viagem de lua-de-mel, entrou no banheiro, pôs-se diante do espelho, abriu a blusa, tirou o sutiã e procurou o coração com a ponta da pistola do próprio pai, que estava na sala de almoço com parte da família e três convidados. Quando se ouviu a detonação, uns cinco minutos depois da menina ter abandonado a mesa, o pai não se levantou de imediato, mas ficou alguns segundos paralisado com a boca cheia, sem se atrever a mastigar nem a engolir nem, menos ainda, a devolver o bocado ao prato; quando por fim se levantou e correu para o banheiro, os que o seguiram viram como, enquanto descobria o corpo ensanguentado da filha e levava as mãos à cabeça, ia passando o bocado de carne de um lado ao outro da boca, sem saber ainda o que fazer com ele.” - Javier Marías, Coração Tão Branco (1992).

Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: o suicídio. Julgar se a vida merece ou não ser vivida é responder a uma questão fundamental de filosofia. O resto, se o mundo tem três dimensões, se o espírito tem nove ou doze categorias, vem depois. São apenas jogos; primeiro é necessário responder. E, se é verdade, tal como Nietzsche o quer, que um filósofo, para ser estimável, deve dar o exemplo, avalia-se a importância desta resposta, visto que ela vai preceder o gesto definitivo.” - Albert Camus, O Mito de Sísifo (1942).

Aquele foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos; aquela foi a idade da sabedoria, foi a idade da insensatez, foi a época da crença, foi a época da descrença, foi a estação da Luz, a estação das Trevas, a primavera da esperança, o inverno do desespero; tínhamos tudo diante de nós, tínhamos nada diante de nós, íamos todos direto para o Paraíso, íamos todos direto no sentido contrário“. - Charles Dickens, Um Conto de Duas Cidades (1859).

Ler faz crescer (publieditorial)

Por Alexandre Inagakiquinta-feira, 28 de outubro de 2010

Os primeiros livros que devorei com gosto durante minha infância nunca foram publicados. Tratam-se dos diários que meu pai escrevia, de forma sistemática, durante a juventude. Neles, seu Shiguehiko relatava a época em que morava em Mogi das Cruzes junto com meus avós e seus seis irmãos. Meu avô paterno, seu Fumio Inagaki, fazia carvão e depois o vendia, de porta em porta. Nas horas vagas, escrevia hai-kais; e eu, seu neto japaraguaio e analfabeto de ideogramas, infelizmente até hoje desconheço sua obra. Minha avó, hoje octagenária, desconhece o paradeiro de seus versos. Continue Lendo

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Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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A vida é boa e cheia de possibilidades.
A vida é boa e cheia de possibilidades.
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