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Poesia numa hora dessas?

Por Alexandre Inagakiquinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Quando comecei a navegar pela internet, em meados de 1997, a primeira coisa que fiz foi tentar encontrar pessoas que compartilhassem dos mesmos interesses que possuo. Inscrevi-me, por exemplo, em fóruns e listas de discussão que falavam de Arquivo X, cinema brasileiro e quadrinhos em geral. Na época, eu ainda não havia abandonado o curso de Letras da USP e nutria em silêncio o sonho de um dia me tornar um escritor reconhecido, daqueles que lançavam anualmente best-sellers e freqüentavam a lista dos mais vendidos da Veja quando ela ainda merecia respeito.

Data desses tempos a época em que participei de uma lista de discussões intitulada “Escritas”, reunindo poetas inéditos que trocavam entre si mensagens com críticas, observações e versos das mais variadas métricas, formas e gêneros, num ambiente no qual a internet era como sempre deveria ser: um ponto de encontro online no qual conhecimentos são generosamente compartilhados. Por meio de listas como a “Escritas”, li pela primeira vez autores como Orlando Tosetto Junior, Lau Siqueira, Fred Matos, Maria Frô, Daniel Francoy, José Félix, AL-Chaer, Tatiana “Sweethell” Leão, Sara Fazib e Alyuska Lins, que vocês talvez não conheçam porque infelizmente o mercado editorial brasileiro nem sempre contempla os melhores escritores, em especial aqueles que se dedicam a versos. Ainda mais em um país estranho como o nosso, no qual há mais “poetas” (com ênfase nas aspas) do que leitores de poesia, e são raras as pessoas que dominam a arte da metrificação, têm noção do ritmo compassado das redondilhas ou são capazes de distinguir sonetos ingleses de sonetos italianos.

Eu, que há tempos abandonei a ilusão de virar um grande autor, deixei arquivado um livro de poesias intitulado Aprendizado - Rascunhos Definitivos, que está devidamente guardado na adega da minha gaveta até que o vinho um dia revele sua condição de mero vinagre. De vez em quando sucumbo à tentação de publicar alguns versos só para constatar que poesia definitivamente não dá ibope, vide os escassos comentários a poemas meus como “Sete Faces”, “Língua” e “Futebol”. Menos mal que atualmente me dedico a atividades capazes de garantir o meu nome fora do SPC e do Serasa, destinando o ofício da poesia a escribas mais qualificados. Contudo, quando recebi e-mails de antigos colegas da lista “Escritas” relatando a criação do blog coletivo Poetas Lusófonos com o intuito de reunir novamente amigos virtuais que se conheceram há mais de uma década, não pude deixar de resgatar certas lembranças. Para não deixar este post sem um verso sequer, segue abaixo um poema que escrevi há mais de oito anos. Ocasionalmente sinto saudades daqueles tempos em quis me tornar um escritor.

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O Código Secreto das Estrelas

Leio nas entrelinhas do teu sorriso
rumores, canções que falam em pássaros.
Teus passos soletram pelas calçadas
sussurros de sombras por entre pétalas secas.

Falo de sonhos como quem tange nuvens,
galáxias, sintaxes de sons de estradas,
enquanto o tempo risca no vidro da memória
confusas lembranças que sibilam ferozes.

Hoje sei que tudo passa, embora ainda durma
com olhos de vigília e perfumes apócrifos.
Recordo com gosto agridoce de espelhos
na boca tua pele, teu sexo, teus olhos.

O tempo é turvo. O tempo é turvo.
Mastiga utopias, cospe sementes de névoa,
esparge fagulhas de luz no passado
- brinquedo imberbe nas mãos do acaso.

Mas não quero mais ser racional.
Deitado dentro de mim, hoje evoco
o momento único em que te encontrei,
e já começava a te perder.

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P.S. 1: Peguei emprestados o título e a ilustração deste post de um livro de Luis Fernando Veríssimo.

P.S. 2: Eis a minha lista de dez poemas que recomendo a qualquer um que se interesse por versos realmente bons: “Tabacaria” (Fernando Pessoa), “em algum lugar onde nunca estive” (e. e. cummings), “A Casada Infiel” (Federico Garcia Lorca), “A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock” (T. S. Eliot), “Áporo” (Carlos Drummond de Andrade), “A Sierguéi Iessiênin” (Vladimir Maiakóvski), “O Tygre” (William Blake), “Balada (em memória de um poeta suicida)” (Mário Faustino), “Janelas Altas” (Philip Larkin) e “Uma Faca Só Lâmina” (João Cabral de Melo Neto).

Qual o livro que mais marcou sua infância?

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 29 de janeiro de 2008

O primeiro livro que ganhei em minha vida chama-se “A Margarida Friorenta”. Na época, eu cursava o pré-primário, tinha cinco anos de idade e estudava no Colégio Raio de Sol, que ficava na Rua Monte Alegre. Singelo, não? O livro contava a história de uma flor que à noite tremia e chorava de tanto frio que sentia. O final feliz é alcançado graças ao carinho de uma menininha, que dá um beijo na margarida e faz com que o frio vá embora. Graças ao Fosfosol do Google, resgatei o nome da autora do primeiro livro que tive na vida, e que deve ter ido embora junto com as mudanças de domicílio que sempre fazem com que a gente deixe pra trás algumas coisas do passado: Fernanda Lopes de Almeida. Eu, que quando criança fui cativado por autores como Stella Carr, Pedro Bandeira, Ray Bradbury, Fernando Sabino e Agatha Christie, poderia citar muitos títulos que aos poucos foram construindo minha sede de palavras, mas jamais me esqueci deste livro com título um tanto quanto emo que foi o primeiro volume de minha estante: “A Margarida Friorenta”.

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No total, recebi 127 e-mails de leitores interessados em participar da promoção Coração de Pedra, que responderam à seguinte pergunta: qual foi o livro que mais marcou a sua infância? Mais do que a quantidade de mensagens, me surpreendeu o fato de cerca de 90% delas terem sido enviadas por pessoas que nunca vi deixarem comentários por aqui. Foi uma bem-vinda surpresa: a promoção acabou se tornando uma maneira de conhecer melhor os leitores mais “quietos” que visitam regularmente este blog. Mais bacana ainda foi constatar a qualidade dos textos que recebi, justificando suas respostas. A ponto de, em vez de premiar apenas duas respostas (que ganharão, cada um, um exemplar de Coração de Pedra e alguns brindes como o Coolnex Card e um bottom do Pensar Enlouquece), resolvi presentear mais cinco leitores com um pequeno kit com algumas lembranças legais, como fitas de São Google e exemplares da revista Pix.

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Antes de reproduzir os textos dos sete ganhadores da promoção, quero deixar aqui a lista com todos os títulos citados, que creio que servirão como boas sugestões de leituras para crianças de todas as idades. Eis a biblioteca básica da infância dos leitores do Pensar Enlouquece:

6 citações: O Pequeno Príncipe (Antoine de Saint-Exupéry).

5 citações: Meu Pé de Laranja Lima (José Mauro de Vasconcelos).

4 citações: Harry Potter (a série de sete volumes escrita por J. K. Rowling).

3 citações: O Menino do Dedo Verde (Maurice Druon) e O Menino Maluquinho (Ziraldo).

2 citações: As Batalhas do Castelo (Domingos Pellegrini), A Bolsa Amarela (Lygia Bojunga Nunes), Um Cadáver Ouve Rádio (Marcos Rey), Dom Quixote de La Mancha (Miguel de Cervantes), O Gênio do Crime (João Carlos Marinho), Harry Potter e a Pedra Filosofal (J. K. Rowling), A História Sem Fim (Michael Ende), Ilusões: As Aventuras de um Messias Indeciso (Richard Bach), Menino de Engenho (José Lins do Rego), O Rapto do Garoto de Ouro (Marcos Rey), O Reizinho Mandão (Ruth Rocha) e Zezinho, o Dono da Porquinha Preta (Jair Vitória).

1 citação: Alice no País das Maravilhas (Lewis Carroll), Amor de Perdição (Camilo Castelo Branco), Anarquistas, Graças a Deus (Zélia Gattai), Assassinato no Expresso Oriente (Agatha Christie), As Aventuras de Tom Sawyer (Mark Twain), Os Barcos de Papel (José Maviael Monteiro), Bom Dia, Todas as Cores! (Ruth Rocha), Buraco de Formiga, Buraco de Tatu (Lúcia Pimentel Góes), O Cachorrinho Samba (Maria José Dupré), Caminho Suave (Branca Alves de Lima), Canção do Exílio (Gonçalves Dias), Cândido (Voltaire), Capitães de Areia (Jorge Amado), O Caso da Borboleta Atíria (Lucia Machado de Almeida), Cazuza (Viriato Correa), A Chegada do Invasor (Flávio de Souza), A Cidade e as Estrelas (Arthur C. Clarke), toda a coleção Vaga-Lume da Editora Ática, Confissões de Adolescente (Maria Mariana), Confusões e Calafrios (Silvia Cintra Franco), A Cor da Ternura (Geni Guimarães), Coração (Edmundo De Amicis), A Corrida Gaiata (uma versão da fábula da corrida entre a lebre e a tartaruga), “um dicionário”, Dom Casmurro (Machado de Assis), A Droga da Obediência (Pedro Bandeira), Os Doze Trabalhos de Hércules (Monteiro Lobato), Éramos Seis (Maria José Dupré), Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada, Prostituída… (Kai Herrmann & Horst Rieck), fábulas dos Irmãos Grimm, O Feijão e o Sonho (Orígenes Lessa), Fernão Capelo Gaivota (Richard Bach), Flicts (Ziraldo), Grimble (Clement Freud), O Hobbit (J. R. R. Tolkien), A Ilha Perdida (Maria José Dupré), O Iluminado (Stephen King), A Inspetora (série de livros de Santos de Oliveira, pseudônimo de Ganymédes José), Os Karas (a série protagonizada pela Turma dos Karas, escrita por Pedro Bandeira), O Lago das Lágrimas (Emily Rodda), A Lenda do Castelo de Montinhoso (Vera Krijanovskaia e J. W. Rochester), O Livro de Ouro da Mitologia (Thomas Bulfinch), “O Livro de Ouro da Playboy”, A Mão e a Luva (Machado de Assis), Manu: A Menina que Sabia Ouvir (Michael Ende), O Maravilhoso Mágico de Oz (Lyman Frank Baum), A Marca de uma Lágrima (Pedro Bandeira), Memórias de um Burro (Condessa de Ségur), A Menina e o Pássaro Encantado (Rubem Alves), O Menino Sem Imaginação (Carlos Eduardo Novaes), O Outro Lado da Ilha (José Maviael Monteiro), A Pedra no Sapato do Herói (Orígenes Lessa), Pollyanna (Eleanor H. Porter), Pollyanna Moça (Eleanor H. Porter), Receita Para um Dragão (Simone Saueressig), O Rei Caracolinho e a Rainha Perna Fina (Maria Heloisa Penteado), Reinações de Narizinho (Monteiro Lobato), Robinson Crusoé (Daniel Defoe), Rosinha, Minha Canoa (José Mauro de Vasconcelos), O Saci (Monteiro Lobato), Sangue Fresco (João Carlos Marinho), Saudade (Tales de Andrade), “Se Eu Fosse Grande” (não encontrei o autor), O Senhor dos Anéis (J. R. R. Tolkien), A Serra dos Dois Meninos (Aristides Fraga Lima), Sítio do Pica-Pau Amarelo (coleção completa de Monteiro Lobato), Stardust (Neil Gaiman), Os Três Porquinhos (autor desconhecido), A Turma da Rua Quinze (Marçal Aquino), O Velho e o Mar (Ernest Hemingway), Veludinho (Martha Azevedo Pannunzio), Viagem ao Centro da Terra (Julio Verne), Vidas sem Rumo (S.E. Hinton), Vita Brevis (Jostein Gaarder), A Volta ao Mundo em 80 Dias (Julio Verne), Vupt, a Fadinha (Lúcia Tulchinski) e um livro descrito desta maneira pela leitora Elizabeth Alves: “Não recordo o título, mas a história e suas conseqüências estão fresquinhas: um menino adorava ir a uma casa vizinha para ouvir o pássaro cantar na gaiola. Ia sempre, pois achava lindo. Foi quando descobriu que aquele canto era de tristeza, e libertou o pássaro”.

Obrigado a todos que participaram da primeira promoção do meu blog. E aproveito pra anunciar que ainda hoje já rolará uma nova por aqui, na qual oferecerei o box de um dos melhores seriados que estão sendo exibidos na TV atualmente. B) Mas, enfim, é isso aí: clique no botão abaixo para descobrir quem são os ganhadores da promoção e ler as suas respostas!

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Coração de Pedra

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 08 de janeiro de 2008

Recebi semana passada da Ediouro alguns exemplares de Coração de Pedra, livro infanto-juvenil de Charlie Fletcher que recorda em pelo menos um aspecto os best-sellers de J. K. Rowling. Pois, assim como Harry Potter no primeiro livro da série, George Chapman, o o protagonista de Coração de Pedra, é um jovem inglês de 12 anos que tem problemas de relacionamentos com a família e colegas da mesma idade. Do mesmo modo, o protagonista de Fletcher imergirá em um mundo paralelo ao nosso, no qual criaturas como estátuas e gárgulas ganham vida e caminham pelas mesmas ruas que humanos, sem que estes “trouxas” saibam de suas desventuras.
Há mais semelhanças, e no aspecto positivo. Por exemplo: assim como fiz com os volumes de Harry Potter, li Coração de Pedra de uma talagada só, devorando suas 464 páginas em uma única tarde. Charlie Fletcher é um autor que possui o dom de enredar seus leitores com uma narrativa ágil, fluida. Eis algo que o diferencia de Rowling, provavelmente por causa de suas experiências anteriores como roterista de filmes e de seriados da BBC: ele é mais objetivo. Seus parágrafos são curtos, seus diálogos têm o timing típico das produções audiovisuais. Ainda assim, Fletcher consegue descrever com estilo o que se passa na cabeça de seus personagens. Vide, por exemplo, este trecho do capítulo 3, em que o protagonista do livro é perseguido por um monstro nas ruas de Londres: “Fugir de pesadelos é como eles começam. Nossos corpos têm lembranças antigas dos quais nossas mentes não têm conhecimento nenhum. E essas lembranças fizeram George correr ainda mais rápido”.
Não vou dizer que Coração de Pedra é uma obra-prima da literatura mundial, até porque o objetivo da obra não é esse. Mas trata-se de uma boa leitura para jovens e fãs de fantasias. Não à toa, foi indicado para premiações como o Branford Boase Award e o The Guardian Children’s Fiction Prize. E também é facilmente explicável o porquê de os direitos para o cinema terem sido adquiridos por dois dos mais bem-sucedidos produtores de Hollywood, Scott Rudin (de A Família Adams, As Horas e Escola de Rock) e Lorenzo Di Bonaventura (de Constantine, 1408 e Stardust). A história iniciada por Coração de Pedra, e que integra uma trilogia prosseguida por Iron Hand (inédito no Brasil) e por um último volume que deverá publicado no exterior ainda em 2008, tem grande potencial para se tornar uma nova franquia cinematográfica de sucesso.
No site do livro é possível baixar gratuitamente seu primeiro capítulo. Há também uma promoção que distribui prêmios como mochilas, camisas e squeezes. Mas, já que a Ediouro me encaminhou exemplares a mais do romance de Fletcher, aproveitarei a ocasião para fazer uma promoção exclusiva para os leitores deste blog. B) Se você quiser participar, mande um e-mail para [email protected] até o dia 25 de janeiro, dizendo qual o livro que mais marcou sua infância e justificando sua escolha. As duas respostas mais bacanas receberão pelo correio um exemplar de Coração de Pedra e mais alguns brindes relacionados ao meu blog. ;) Divulgarei os resultados na segunda, dia 28.

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P.S. 1: Confira um vídeo no qual Charlie Fletcher fala de Coração de Pedra. Ele faz parte de um projeto interessantíssimo, Meet The Author, no qual escritores gravam depoimentos sobre suas obras mais recentes.
P.S. 2: Já que o assunto é livros, meu camarada Dauro Veras pede para avisar: se você tem livros ou revistas para passar adiante, que tal fazer uma doação à Biblioteca Leia o Mundo, um projeto social sediado no interior de Rondônia? Clique aqui para conhecer mais detalhes deste belo projeto.
P.S. 3: Esta é apenas a primeira de muitas promoções que pretendo fazer em meu blog em 2008. Nada de muito extraordinário, uma vez que o proletário aqui nem tem tanta verba para fazer altos investimentos. Mas, uma vez que o Pensar Enlouquece tem me proporcionado tantas coisas bacanas, nada mais justo do que buscar recompensar meus leitores de alguma maneira, não? ;)

Sugestões de presentes literários para o Natal

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Vida Dupla - Rajaa Alsanea. A capa esclarece o tema desta obra: um romance sobre o Oriente Médio hoje, escrito pela saudita atualmente residente nos Estados Unidos Rajaa Alsanea, de 26 anos. O livro, à primeira vista, lembra a trama da série Sex and the City, uma vez que fala da vida social, amorosa e sexual de quatro amigas pertencentes à classe alta. Porém, essas mulheres vivem na Arábia Saudita, um país cuja sociedade convive diariamente com o dilema de, arraigado em um patriarcalismo milenar sustentado pela crença no islamismo, ser cada vez mais influenciado pela modernidade trazida a galope da globalização. Não à toa, Rajaa estrutura seu enredo na forma de e-mails trocados em um grupo de discussões no Yahoo, em uma narrativa que soa como uma versão pós-moderna de Ligações Perigosas, o romance de Choderlos de Laclos escrito no século XVIII, cujos capítulos são todos na forma de cartas trocadas entre os personagens.

O livro chegou a ser proibido na Arábia Saudita, devido à forma despachada e sincera com que Rajaa fala da vida amorosa de suas personagens, incomodando os setores tradicionais de seu país. Para nós, ocidentais, não há nada de demais, até porque o livro não descreve nenhuma cena mais picante. O grande interesse, pois, está em conhecer melhor o mundo islâmico, sem que estejamos atrelados a estereótipos como mulheres que dançam como odaliscas, submissas aos caprichos de seus xeiques, ou homens que são meros discípulos de Bin Laden. Vida Dupla possui esse grande mérito de ajudar a desvendar o que se esconde sob os véus e túnicas negras que costumam cobrir as jovens sauditas. Em tempo: existe realmente no Yahoogroups uma lista Seerehwenfadha7et, conforme citada no romance de Alsanea. Aparentemente não foi criada pela autora, mas a lista acabou por congregar leitores e admiradores de Vida Dupla espalhados por todo o mundo.

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A Love Supreme - A Criação do Álbum Clássico de John Coltrane - Ashley Kahn. Este é um livro dedicado a descrever todos os bastidores em torno da criação de um dos álbuns de jazz mais importantes da história, gravado em uma noite de dezembro de 1964. Produto de uma exaustiva pesquisa feita por Ashely, jornalista colaborador de publicações como Mojo, Rolling Stone e New York Times, que é ao mesmo tempo um retrato e uma celebração à obra de um saxofonista celebrado 40 anos depois de sua morte como um músico que possuiu a capacidade rara de transformar sua música em uma manifestação espiritual do mais alto quilate. Não à toa, existe até uma Igreja São John Coltrane, localizada em São Francisco, na Califórnia.

Quem ouviu A Love Supreme compreende bem que Coltrane foi um músico iluminado, daqueles que são capazes de modificar vidas com sua arte. Recordo Louis “Satchmo” Armstrong respondendo o que era o jazz a um incauto: “Se você precisa perguntar, nunca vai entender”. Diga-se de passagem, Paulo Leminski fez uma associação insolitamente precisa, que conecta música a religião: “Zen é que nem jazz. E humor. Dessas coisas que não se explicam”. Sabiamente, Ashley Kahn não ousa, com seu belo livro, esgotar o assunto em torno de A Love Supreme. É preciso ouvir Coltrane para poder embarcar em sua viagem transcendental, que une Deus à melhor música produzida no século XX.

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Os Viralata. Uma iniciativa de Albano Martins Ribeiro que visa a divulgação do trabalho de escritores independentes, ajudando a intermediar o contato entre autores e leitores distribuindo com títulos que não encontraram abrigo no circuito convencional. Uma iniciativa que transporta para a Web o mesmo espírito da Geração Mimeógrafo, que nos anos 70 revelou autores como Cacaso, Ana Cristina César e Paulo Leminski, com escritores que não aguardaram pelo “sim” de grandes editoras pra botar seus blocos literários na rua.

Dentre os escritores publicados pela Viralata, nomes como Alex Castro, Olivia Maia e Marcos Donizetti. Tal qual a literatura independente dos anos 70, seus livros são disponibilizados para venda em edições a baixo custo, porque o que importa realmente é fazer com que suas obras cheguem às mãos dos leitores. E devo confessar que dá até vontade de ser publicado, especialmente por causa dos comerciais que Albano Ribeiro prepara para os autores que publica. Um bom exemplo: o vídeo promocional para Meias Vermelhas & Histórias Inteiras, do Doni.

P.S.: Para encerrar este post, mais uma dica literária: a Copa de Literatura Brasileira. Lucas Murtinho, idealizador do site, explica o conceito desta premiação sui generis: “Um prêmio que se vende como capaz de escolher regularmente o melhor livro do ano não pode expor ao público nem os gostos dos seus jurados, nem as falhas do seu processo. Mas se a idéia é, como acredito que sempre seja, simplesmente falar de livros, por que não mostrar o processo por inteiro? Por que não dar voz e espaço a cada jurado para explicar sua escolha? E, se escolher o melhor é estatisticamente impossível, por que não tornar o prêmio mais emocionante com um regulamento em que, como nos torneios esportivos, os livros se enfrentam um ao outro até que reste apenas um? Essa é a idéia da Copa de Literatura Brasileira”. Quem ler às excelentes resenhas dos romances que participaram da primeira edição da Copa se surpreenderá com o alto nível das críticas tecidas. Agora a CLP está na fase de eliminatórias para a edição de 2008: participe da escolha dos próximos oponentes.

Palavras que deveriam existir

Por Alexandre Inagakisábado, 14 de abril de 2007

Reza a lenda que os colonizadores ingleses, ao chegarem à Austrália, ficaram espantados em encontrar um estranho animal com uma bolsa na barriga que se locomovia dando largos pulos. O Capitão Cook mandou chamar um nativo e perguntou-lhe, usando gestos, qual era o nome daquele bicho. O aborígene respondeu: - Khan ghu ru, khan gu ru! Anos mais tarde, outros exploradores teriam descoberto o verdadeiro significado daquelas palavras. O índio, ao ver os sinais que lhe faziam os ingleses, responderam: - Não estou entendendo (ou seja, “khan ghu ru” no dialeto local).

Não é por nada não, mas esta história é engraçada demais para ser verídica, e me soa a lenda urbana. De qualquer modo, serve para ilustrar um assunto que sempre me interessou: etimologia, a ciência que estuda a origem das palavras. Por que chamamos o hipopótamo de “hipopótamo”? De onde cargas d’água surgiram vernáculos como “capicua”, “ornitorrinco” e “vernáculo”?

Shakespeare, no ato 2 da peça Romeu & Julieta, tergiversa sobre o assunto: “O que há em um nome?/ Pois aquilo que chamamos de rosa/ Por qualquer outro nome/ Exalaria o mesmo doce perfume“. Quem já estudou lingüística sabe que palavras não passam de signos lingüísticos previamente convencionados por um sistema de sinais. Ou seja, partem de uma relação semelhante à dos sinais de trânsito, cuja lógica arbitrária faz com que vermelho signifique “pare”, e verde, “prossiga” (a não ser que você seja daltônico).

Contudo, cada palavra que utilizamos no dia-a-dia tem a sua história e reflete as evoluções culturais sofridas pela sociedade em que vivemos atualmente. Há quinze anos, quem imaginaria que palavras como “popozuda”, “mouse” e “escanear” existiriam? Do mesmo modo, fico pensando se daqui a quinze anos meus sobrinhos conhecerão o significado de substantivos como “vitrola” ou expressões como “futebol-arte”.

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Idiomas são organismos vivos, que refletem as mudanças do mundo ao seu redor. Necessitam, pois, incorporar diariamente novos jargões, neologismos e estrangeirismos ao seu repertório, a fim de que possam sobreviver. Caso contrário, murcham e morrem, feito o latim e milhares de outras línguas e dialetos soterrados nestes séculos de civilização. Faz muito bem, pois, a última flor do Lácio, ao adaptar com ginga os anglicismos que vão sendo incorporados por seus poucos e fiéis seguidores, nesta verdadeira bacanal lingüística: é assim que “whisky” virou uísque, e “Whoop! There It Is” (refrão de uma música do grupo americano Tag Team) metamorfoseou-se no hino de todas as torcidas “uh tererê!”.

Há um ótimo texto de Sérgio Augusto, publicado no Digestivo Cultural, que aborda este assunto. Em seu artigo “Para tudo existe uma palavra“, Sérgio cita algumas palavras que gostaria que fossem adotadas pela língua portuguesa. Por exemplo: Razbliuto, palavra russa que significa o sentimento carinhoso que nutrimos por uma pessoa que um dia amamos. Ou Mamihlapinatapei, vocábulo genial que pertence a um idioma indígena da Terra do Fogo. E que quer dizer, simplesmente, o “ato de olhar nos olhos do outro, na esperança de que o outro inicie o que ambos desejam mas nenhum tem coragem de começar“. Depois dessa, só posso dizer uma coisa: uau!

Se bem que nós, poucos mas fiéis usuários deste quase-dialeto que é a língua portuguesa, podemos nos ufanar da síntese contida dentro desta pequena e maravilhosa palavra: saudade.

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Palavras são misteriosas, palavras são esquivas. Principalmente aquelas que não existem, mas deveriam. Nunca sei o que dizer, por exemplo, a um amigo que sofreu a perda de uma pessoa querida: “sinto muito” me soa muito distante e vago. E o que dizer sobre aquele frio na barriga que surge na primeira vez em que vemos uma pessoa que entorpece nossa língua, tolda nossos sentidos, faz nossos ouvidos zumbirem e os olhos se boquiabrirem?

Há palavras e expressões que perderam o sentido de tanto serem repetidas. Um exemplo: existe frase mais banalizada do que “eu te amo”, balbuciada por paqueras de micaretas com a mesma facilidade com que Pedro Bial chamava os participantes de um reality show como o Big Brother Brasil de “heróis”? Sábios eram os gregos, que possuíam quatro verbos para falar em amar: erao, ligado estritamente ao amor erótico; filéo, o amor de amizade, de querer bem ao outro, de gostar; agapao, o amor ligado à satisfação de um desejo; e, finalmente, stergo, o amor cujo impulso básico é a proteção do outro. Um amor como a dos pais por seus filhos; galinha protegendo pintinhos sob suas asas.

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Recomendo fortemente a leitura de “O Desejo“, obra que compila diversas conferências sobre o assunto do título, organizada pelo filósofo Adauto Novaes e publicada pela Companhia das Letras. Todos os textos são fascinantes, mas há um em especial que me marcou desde a primeira leitura, e que gerou em mim o interesse pela etimologia. Trata-se de “Os Caminhos do Desejo“, escrito pelo filólogo Flavio Di Giorgi; um artigo delicioso e muitíssimo bem-humorado, no qual ele relata as origens etimológicas da palavra “desejo”. Que é proveniente do verbo latino desiderare, que por sua vez descende da palavra sidus, “estrela”. Segundo a explicação de Di Giorgi, desiderare vem da linguagem dos adivinhos que tentavam interpretar o futuro em Roma, observando os astros em busca de pistas sobre o que haveria de acontecer. O ato de contemplar os astros chamava-se considerare, palavra que deu origem ao português “considerar” (ou seja, observar as estrelas e a partir delas extrair uma conclusão sobre os eventos futuros).

No entanto, e pra quem está desesperado de tudo, feito eu depois que vejo meu extrato bancário? Aí os romanos recomendavam ao pobre coitado vislumbrar as estrelas em busca de algum alento. Mas o sujeito, desanimado da vida, dizia: “não adianta, estou perdido“. Isso era desiderare: “desistir dos astros”. Provém daí a significação do verbo “desejar”: ter a certeza da ausência. Não tenho o que quero ou preciso, e por isso desisto de especular sobre o futuro. Tenho a consciência de que não possuo o que quero, e passo a tomar a atitude que me resta: desejar, porque passo a ter a certeza da ausência daquilo que não tenho. Reconheço a ausência, desencano de ficar mirando os astros, e sonho com a busca daquilo que me falta. Orbito, portanto, sob a esfera do desejo.

Fala sério: depois de uma explicação tão bonita, dá ou não vontade de passar a vida inteira estudando etimologia em busca de respostas como essas?

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The Meaning of Liff, por Douglas Adams e John Lloyd.P.S. 1: Dois ótimos textos foram indicados nos comentários deste post. O primeiro, “Significado Das Coisas“, é uma relação de neologismos cunhados por Alexandre Nix, inspirada no livro “The Meaning of Liff“, da dupla Douglas Adams (sim, é ele mesmo!) e John Lloyd. Segundo a dupla Adams & Lloyd, tal livro surgiu devido ao fato de que existem centenas de experiências em comum, sentimentos e situações que todos nós somos capazes de reconhecer, mas para as quais não existem ainda palavras que as descrevam.

Pois bem, Nix inspirou-se em “The Meaning of Liff” e cunhou alguns termos novos para a língua portuguesa. Dois ótimos exemplos:

ANEDOMAR (verbo) - Lembrar que conhece a piada que está sendo contada, não interromper o orador e fingir achar ainda graça.

PRESENGO (substantivo) - Presente que você quer jogar fora, vender, dar ou trocar, mas não pode porque é presente de alguém especial, que se magoaria com o ato.

Nix aceita mais contribuições. Eu também.

P.S. 2: A outra indicação deixada nos comentários foi deixada pelo meu leitor Junior, que recomenda o post “Aprendendo com o silêncio de Bashô“, do meu camarada e professor de culinária Gustavo Weber. Nele, Weber faz uma citação do filósofo taoísta Chuang Tse, que afirmou: “A rede de peixe existe por causa do peixe; uma vez que pegar o peixe, esqueça a rede. A armadilha para coelhos existe para pegar o coelho; uma vez que o pegá-lo, esqueça a armadilha. As palavras existem pelo sentido; uma vez que conseguir o sentido, esqueça a palavra. Onde posso encontrar um homem que esqueceu as palavras, para que possa trocar uma palavra com ele?

P.S. 3: A respeito da origem etimológica da palavra “canguru”, a leitora Marcia M lembra que o dicionário Aurélio afirma que ela teria surgido a partir de uma expressão que efetivamente significaria “não sei”. Porém, segundo a Wikipedia, o vernáculo “canguru” é oriunda da palavra gangurru, falada em um dialeto aborígene australiano, Guugu Yimidhirr, utilizada para se referir a uma espécie cinza de canguru. Sobre o tema, recomendo ainda a leitura do artigo “Canguru - Falsas Etimologias“, de Cláudio Moreno.

P.S. 4: A convite da Luiza Voll, tive a honra de ser o primeiro convidado de uma seção nova do Favoritos falando de um de meus sites prediletos. Valeu, Luiza! ;)

Como Fazer Amigos e Influenciar Homens de Marte, Mulheres de Alpha Centauri e Chorões às Margens do Rio Piedra (ou: Seja Feliz e Ajuda-te a Ti Mesmo Sozinho e Sem Ajuda de Ninguém, Mexendo no Queijo Alheio de Acordo com os Princípios do Feng Shui)

Por Alexandre Inagakidomingo, 25 de fevereiro de 2007

Como escrever um livro e enriquecer tapeando incautos.Vida tem manual de instruções? Consumidores de livros de autoajuda parecem acreditar que sim, dando vazão à publicação de obras que fazem promessas mais mirabolantes do que as veiculadas em propagandas eleitorais gratuitas. Por exemplo? “Como Ficar Rico“. Melhor que o título singelo desta obra, só mesmo o nome da editora que o publica: Academia de Inteligência (mesmo porque burros são os leitores que acreditam num conto de vigário desses). Outra pérola: “Como Fazer Qualquer Pessoa se Apaixonar Por Você“. Segundo a sinopse do livro, sua autora, a Dra. Leil Lowndes, “mostra que é possível aprender o momento certo de se fazer de difícil, quanto se deve esperar para um convite, como deixar uma primeira impressão inesquecível, preencher os desejos sexuais do parceiro ou como alimentar a menor centelha de atração para transformá-la em uma paixão avassaladora“. Com o perdão da má expressão: ahhh, doutora filha da mãe essa que atiça pessoas a armarem esses malditos joguinhos! Continue Lendo

Um poema para Meg

Por Alexandre Inagakidomingo, 14 de janeiro de 2007

Ergo uma rosa, e tudo se ilumina

Como a lua não faz nem o sol pode:

Cobra de luz ardente e enroscada

Ou vento de cabelos que sacode.

Ergo uma rosa, e grito a quantas aves

O céu pontuam de ninhos e de cantos,

Bato no chão a ordem que decide

A união dos demos e dos santos.

Ergo uma rosa, um corpo e um destino

Contra o frio da noite que se atreve,

E da seiva da rosa e do meu sangue

Construo perenidade em vida breve.

Ergo uma rosa, e deixo, e abandono

Quanto me dói de mágoas e assombros.

Ergo uma rosa, sim, e ouço a vida

Neste cantar das aves nos meus ombros“.

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Há quase cinco anos dediquei os versos acima, publicados pelo poeta bissexto José Saramago no livro Os Poemas Possíveis (1966), para a minha amiga Maria Elisa Guimarães. Nascida em Belém do Pará, Meg foi professora de Filosofia, crítica literária e uma das blogueiras mais importantes do Brasil. Sempre generosa, sempre incentivando os inúmeros amigos que fez graças ao seu blog, o Sub Rosa, minha querida amiga Meg deixou este mundo na noite do dia 14 de janeiro.

Em uma preciosa entrevista concedida à jornalista Elis Monteiro em maio de 2002, Meg afirmou: “Escrever um blog é uma tarefa que não se faz sozinho. Vira um trabalho coletivo. Quer no fato de que as pessoas que nos lêem seguem indicações e chegam a outros destinos, vão em frente, como também suas críticas, seus questionamentos, os que apontam erros nossos, contribuem expressivamente para se saber a quantas se anda. (…) Acho que blog é uma experiência conjunta de se viver melhor. Da prática da partilha, a negação da propriedade absoluta. Exercício de esforços do afeto“.

Meg, você foi a mais generosa das amigas que fiz neste vasto (às vezes decepcionante, quase sempre gratificante) mundo que é a Web. Obrigado por seu afeto e pelo incentivo constante que você deu a todas as minhas iniciativas na rede, desde os tempos em que eu escrevia no Logopéia e no Spam Zine. Obrigado pela paciência que você sempre teve com meus e-mails atrasados (você, sim, foi um presente que ganhei na Internet e na minha vida pessoal). Obrigado, enfim, pelas preciosas lições de vida, de escrita e de amizade que tanto me iluminaram e me enriqueceram. Meg, você estará sempre aqui, em um lugar especial no meu coração. E você me perdoe, por favor, pela voz embargada e desafinada, mas é que gostaria de lhe dedicar este verso: “adeus não, me diga até logo“. Um beijo deste seu amigo relapso.

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Ane Aguirre, Beth Salgueiro, Cora Rónai, Cynthia Feitosa, Eliane Stoducto, Elis Monteiro, José Carlos Cipriano, Luisa D.S., Luiz Antônio Gravatá, Magaly Magalhães, Milton Ribeiro, Nelson Moraes, Paula Foschia, Paulo José Miranda, Rachel Kizirian, Sergio Fonseca, Solange A., Stella Cavalcanti, Thaís Fabris também escreveram sobre a Meg.

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UPDATE: Escrevi o post “A morte e a não-morte de Maria Elisa Guimarães“, sobre desdobramentos posteriores deste caso.

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Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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A vida é boa e cheia de possibilidades.
A vida é boa e cheia de possibilidades.
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