Quando vi essa decoração natalina, numa rua de Torres, não pude resistir à compulsão de registrá-la numa foto. Afinal de contas, taí um Papai Noel que combina mais com o Halloween do que com o Natal. E que, convenhamos, é sustentável, mas é horrível.
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Taí um chocolate natalino que não é Kinder Ovo, mas também reserva uma surpresa. :P Continue Lendo
Fotografias são momentos que capturamos de um tempo presente, cristalizando-o em uma imagem que sempre guardará a emoção daquele instante. E, embora aquele momento esteja aparentemente recortado no tempo e espaço, dentro de uma moldura limitada, retendo apenas a breve fração de um cenário ou paisagem, o fato é que um retrato é capaz de transcender tais fronteiras dentro de nós, expandindo lembranças, sons, cheiros, sentimentos no baú das memórias que é aberto cada vez que revemos determinada imagem.
Dear Photograph é um site que foi criado pelo publicitário canadense Taylor Jones em maio de 2011, com um conceito simples e brilhante: tirar a foto de alguma outra fotografia do passado, sobreposta ao momento presente. Desde então, recebe colaborações de pessoas que enviam suas contribuições, acompanhadas por um breve relato descritivo, contextualizando fotografias e recordações. E assim, nesta era de câmeras digitais, Taylor estimulou os visitantes de seu site a tirarem de gavetas e álbuns seus retratos antigos, transportando-os para estes tempos de selfies e instagramadas.
É difícil não se emocionar com as fotos compartilhadas no Dear Photograph. Não estranhe, pois, se ninjas invisíveis cortando cebolas ou soprando ciscos em seus olhos subitamente aparecerem do seu lado durante a leitura deste post.
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“Querida Foto,
Obrigado por tudo que nós tivemos.
@jonathanstampf“ Continue Lendo
A ideia de misturar o universo dos quadrinhos de Bill Watterson com fotos de paisagens foi de Michael Den Beste, formado no Instituro de Arte de Seattle, que publicou no tumblr Real Calvin and Hobbes suas montagens fantásticas. Se não fosse pelas questões de copyright, que impediram que Michael continuasse publicando suas artes, eu certamente encomendaria alguma dessas ilustrações para decorar meu apartamento. Confiram outras imagens na continuação deste post. Continue Lendo
Navegando a esmo na web, eis que me deparei com a foto acima. E não foi difícil intuir que haveria uma história interessante a explicar porque dois túmulos, separados por um muro, estavam unidos pelo que aparenta ser um aperto de mãos. Mas é muito mais do que isso.
Os túmulos estão localizados no cemitério de Roermond, na Holanda. De um lado do muro, estão enterrados católicos; de outro, protestantes. Consequência de uma época na qual o país era regido pela pilarização (“verzuiling” em neerlandês), sistema de organização que dividia a sociedade em “pilares” determinados de acordo com a religião ou ideologia de cada cidadão. Era três os principais pilares: o católico, o protestante e o social-democrata. Os membros de cada grupo administravam suas próprias escolas, universidades, clubes esportivos, hospitais, sindicatos, meios de comunicação e partidos políticos. Do mesmo modo, cemitérios também seguiam essa segmentação. Por causa dessa estratificação, muitos holandeses acabavam por não ter relações com pessoas que pertencessem a outro pilar. Continue Lendo
São Paulo, esta cidade que não sabe adormecer, é uma metrópole acelerada e caótica que amodeio de coração. Por causa da falta de planejamento urbano, é uma cidade que cresceu confusa e disforme. Mesmo assim, entre japonesas louras e deselegantes discretas, labirintos místicos e aglomeradas solidões, posso dizer que, apesar dos pesares, é sempre lindo andar na cidade de São Paulo. Afinal de contas, com todo defeito, te carrego no meu peito.
Não acredite nos rumores de que não existe amor em SP. Quem aprende a se esgueirar pelos labirintos desta capital sabe que, apesar da força da grana que ergue e destrói coisas belas, a definição de Vinicius de Moraes de que esta seria uma cidade tão lírica e tão fria não faz jus a todas as facetas de uma cidade esquizofrenicamente bela. E é por isso que gosto tanto de iniciativas como o Pinagram, exposição de fotografias originalmente publicadas no Instagram. Em sua segunda edição, o tema foi “Qual é a sua São Paulo”. Cerca de 9 mil fotos foram instagramadas com a hashtag #pinagram2, 70 delas foram selecionadas para exposições na Pinacoteca e na Reserva Cultural, e algumas destas fotografias vieram parar aqui também, retratando um pouco das belezas inesperadas desta cidade com nome de santo.
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O reflexo de um casarão na Avenida Paulista em uma poça d’água, apenas uma das muitas fotos impressionantes de Becken Lima. Continue Lendo
Houve época em que se acreditava que a fotografia não passava de uma mera reprodução da realidade, e que, por conta disso, não teria valor criativo ou artístico. Ledo e ingênuo engano: muito mais do que simplesmente espelhar a natureza, os artistas da câmera possuem a capacidade de captar uma determinada imagem em uma específica fração de tempo e fazer com que ela transcenda os limites da moldura, preenchendo a escrita da luz com entrelinhas que não se esgotam em um mero clique.
Um bom exemplo é o da foto acima, tirada de um parque de diversões abandonado no Japão. Para além do mero registro visual, fiquei mesmerizado com a capacidade que uma “simples” foto possui de fazer com que mergulhemos em uma dimensão perdida, na qual quase podem se vislumbrar espectros circulando pelos trilhos enferrujados de uma montanha-russa mergulhada em névoas e reminiscências desencontradas.
Angulações diferentes, senso de observação, técnica no uso de filtros e lentes, manipulação digital. Um fotógrafo, mais do que fazer o mero registro da realidade, é capaz de recriar as imagens à sua frente, descolando-se das limitações do real a fim de mergulhar em um território muito mais instigante. É o que faz, por exemplo, a soteropolitana Daniela Bracchi, que na foto acima extrai da paisagem cinzenta de São Paulo cores que passam desapercebidas pelos desatentos à poesia escamoteada entre viadutos e pichações.
E no entanto, a poesia não necessariamente reside em fotografias profissionais. Registros congelados de tempo, as imagens encontradas em álbuns de família encapsulam momentos que resistem, teimosos, ao oblívio do passado. Fotos Encontradas é um site fascinante com fotos resgatadas nas calles de Buenos Aires, seja em sacos de lixo ou calçadas. Sem quaisquer referências a respeito de seus personagens, cada fotografia veiculada no site é um ponto de reticências acerca do seu destino. Teria sido rasgada, queimada ou jogada no lixo por trazer lembranças dolorosas ou simplesmente porque estava fora de foco? Que histórias se ocultam por detrás do sorriso amarfanhado de um casal de imigrantes em preto e branco, ou na expressão melancólica de uma mulher sentada ao lado de alguém cuja cabeça foi meticulosamente recortada?
As grandes fotografias possuem uma origem em comum: a felicidade do obturador ter sido pressionado no momento fugaz em que Deus foi flagrado em um sorriso distraído.
(texto originalmente publicado em 15/06/05)