Artigos da categoria: Egotrip
Maitê Proença - Fevereiro de 1987 - Hoje em dia é muito mais fácil para um jovem cercado de espinhas e dúvidas existenciais por todos os lados satisfazer suas curiosidades peladísticas. Basta fazer algumas rápidas pesquisas no Google e, voilá, terá acesso a milhares de fotos e vídeos de mulheres nuas, peladas, au naturel, sem roupa e do jeito que vieram ao mundo. Mas, na época em que a mítica Playboy com Maitê Proença na capa chegou às bancas, eu era apenas um moleque de 13 anos, bobo como todos os homens são nessa idade (na verdade, continuamos bobos; apenas adquirimos um pouco mais de know how ao longo dos anos).
Se ainda hoje sofro com minha irreversível timidez, imagine a minha situação naquele longínquo verão de 1987, louco para conferir com meus olhos e mãos a nudez daquela atriz por quem me apaixonara irremediavelmente ao assisti-la protagonizando Dona Beija, novela da finada Rede Manchete na qual Maitê exibiu generosamente seu corpo em cenas como a vez em que sua personagem cavalgou nua, tal qual Lady Godiva, pelas ruas de Araxá. Continue Lendo
Quando eu era criança, nutria sonhos megalomaníacos: queria ser estrela de cinema, cientista maluco, astro do rock, líder revolucionário, presidente do Brasil ou tudo ao mesmo tempo, naquela típica onipotência que garotos mimadamente avoados costumam ter. A concretização desses “projetos” seria uma mera questão de tempo, e assim acalentava utopias debaixo do travesseiro enquanto esperava o sono chegar, fingindo, para meus pais, que já estava dormindo.
Crescer é um processo no qual pouco a pouco vamos nos desvencilhando dessas ilusões. Tornamo-nos “maduros”, “responsáveis”, e assim vamos nos desvencilhando de sonhos ao longo do caminho. O grande perigo é o de acabarmos nos concentrando em apenas um: como arranjar dinheiro para pagar as contas e manter o nome limpo no SPC e Serasa.
Hoje sou um homem mais cínico e cético do que gostaria, mas acredito que dentro da dosagem necessária para sobreviver a um mundo que não possui manuais de instrução ou botes salva-vidas. Sei um pouco a respeito das engrenagens sujas que movem o teatro das coisas, o bastante para acreditar que um pouco de ignorância é pressuposto fundamental para ser feliz no mundo em que vivemos. Mas, acima de tudo, tenho esperanças.
Sim, tenho esperanças. Não que eu seja um daqueles caras que acreditam que basta juntarmos nossas mãos e cantar “Imagine” para mudar o mundo: meu lado cínico não resiste a fazer piadas sobre hippies emaconhados ou pseudo-esquerdistas que guardam suas camisetas com a foto do Che Guevara penduradas ao lado de seus jeans Diesel e tênis Nike.
Minhas esperanças não estão atreladas a nenhum credo ou religião. Não tenho ídolos nem líderes a seguir, que pudessem me guiar em meio à alienação, ao tédio e ao torpor de um mundo devastado por guerras estúpidas, preconceitos acéfalos, desigualdade social e falta de amor. Não leio livros de auto-ajuda, não sigo paradas de sucesso, não faço doações à LBV, não sei qual é o sentido de nossa passagem por aqui e, por favor, não desejo receber nenhum attachment de Power Point com mensagens edificantes sobre a humanidade.
Em ocasiões como esta, nas quais meus neurônios, influenciados por dias melancolicamente nublados (e, provavelmente, pela overdose de chocolates que comi neste domingo pascoalino), começam a viajar na maionese, sou obrigado a recorrer a uma Bíblia particular para mim: “O Poder do Mito“, livro que transcreve as fantásticas conversas entre o jornalista Bill Moyers e seu entrevistado, o professor e escritor Joseph Campbell (1904-1987).
Ao falar sobre a teoria de Abelardo, segundo a qual a morte de Jesus na cruz teria sido um ato de expiação para a humanidade, afirma Campbell: “A idéia de Abelardo era que Cristo veio ser crucificado para evocar no coração do homem o sentimento de compaixão pelos sofrimentos da vida, e assim afastar a mente humana de seu cego interesse nas coisas deste mundo“. Mais adiante, complementa: “Desde que haja tempo, há sofrimento. Você não pode ter um futuro a não ser que tenha um passado, e ainda que esteja apaixonado pelo presente ele se tornará passado, seja como for. Perda, morte, nascimento, perda, morte – e assim por diante. Ao contemplar a cruz, você está contemplando um símbolo do mistério da vida“.
Em um de seus poemas, escreveu minha amiga Christiana Nóvoa: “A cada santo dia/ Eu renasço da dor/ Da paixão e da morte“. Viver é começar de novo, e de novo, e de novo. Que assim seja. Sempre.
* * * * *
P.S. 1: A bela ilustração deste post, que cita “O Beijo” de Gustav Klimt, é de Cecília Esteves.
P.S. 2: Depois de “300″, o próximo projeto do diretor Zack Snyder é a adaptação de “Watchmen“, graphic novel da dupla Alan Moore e Dave Gibbons. Isso explica o porquê da inserção, no trailer R-Rated de “300″, do sensacional easter egg incluso em um frame no momento 1:51 do vídeo: a imagem de Rorschach, um dos personagens principais de “Watchmen”!
Por falar em easter eggs, você já clicou no link oculto na animação dos dois elefantes deste blog?
P.S. 3: Este post, uma versão remixada e remasterizada de algumas reflexões que já havia feito em outras ocasiões, foi redigido ao som do magistral trabalho novo do Wilco, “Sky Blue Sky”. Fortíssimo candidato a melhor capa e melhor álbum de 2007.
Bruno Alves encontrou em alguns blogs no exterior a seguinte brincadeira: escrever um post expondo 5 metas pessoais para este ano de 2007, e depois convidar outros 5 blogueiros para passarem adiante a corrente. O Bruno trouxe a brincadeira para o Brasil no dia 26 de dezembro do ano passado, e a partir daí ela se multiplicou feito Gremlins molhados pela blogosfera tupiniquim, como mostra este post de Alexandre Fugita intitulado “A árvore genealógica de um meme”.
Eu, como procrastinador contumaz que sou (já fui convocado para mais duas brincadeiras do tipo desde então), ingresso nesta corrente com um certo atraso, após ter sido convidado pelo Fabio Seixas, pelo Nick Ellis e pelo Ibrahim Cesar. Mas enfim, eu fardo mas não talho. Eis 5 dos meus objetivos para 2007:
1. Finalmente ver no ar um projeto que pretende dar condições para que alguns dos mais talentosos blogueiros brasileiros possam pensar em pagar suas contas fazendo exclusivamente o que sabem fazer melhor: escrever.
2. Desmentir certa afirmação, já citada anteriormente neste blog, segundo a qual as mulheres mais interessantes ou moram distantes de mim, ou estão comprometidas.
3. Fazer mais viagens ainda. Tanto as maionésicas quanto, principalmente, as de cunho turístico.
4. Ler no mínimo três livros por mês. E iniciar esta resolução devorando os cinco livros da série O Guia do Mochileiro das Galáxias, presentaço que ganhei do meu amigo Marmota.
5. Assistir mais filmes, até porque serei em breve o responsável pelos textos sobre cinema de um site que logo mais entrará no ar.
* * * * *
P.S. 1: Em vez de convocar 5 blogueiros para participarem desta corrente, imitarei o Edney: os 5 primeiros que desejarem entrar na brincadeira e deixarem nos comentários sua lista de objetivos para 2007 ganharão links neste post. Eis os 5 blogs que desejam entrar na corrente: Ignorância é Fogo, Contos Bregas, Casa da Tuka, Fábio Resende e Caminhos do Ser.
P.S. 2: Em termos de realizações pessoais, posso dizer que este ano começou muito bem. Escrevi duas resenhas para a mais recente edição da Rolling Stone Brasil (com Rodrigo Santoro na capa), Pensar Enlouquece foi considerado um dos melhores blogs do ano segundo o Top Seven Scream & Yell (a propósito, estes foram os meus votos), participei da eleição dos melhores do ano da crítica do Prêmio Bizz 2007 e do júri do Festival Brainstorm #9 de Publicidade Fantasma, e ainda recebi uma citação bacana no recém-lançado projeto 1001 Blogs. 2007 definitivamente promete.
P.S. 3: O item 1 da lista deveria ser “responder pontualmente aos e-mails que recebo”, mas decidi incluir apenas metas que eu sei que posso cumprir…
P.S. 4: Perdi meu celular em algum brinquedo no Playcenter, onde estive neste último domingo com excelentes companhias. Bem, o fato é que a gente não deve se apegar aos bens materiais, certo? Já tratei de comprar um novo aparelho e consegui manter o mesmo número de telefone. Entretanto, toda a minha agenda de contatos foi para o espaço. Portanto, peço um favor aos meus amigos: e-mailem-me informando os seus respectivos telefones!
A vida é, definitivamente, boa e cheia de possibilidades. Pois e não é que meu Natal foi antecipado, graças à generosidade de uma leitora deste blog?
Há algum tempo, quando o Orkut criou um espaço nos perfis pessoais para a publicação de listas de presentes, eu, que não tinha mesmo nada a perder, criei uma wishlist no Submarino. Na época, comentei a lista en passant neste blog sem fomentar maiores expectativas, e fui surpreendido com presentes de dois leitores especialíssimos, que me deram, respectivamente, uma camiseta e o livro O Caçador de Pipas. Fiquei, ao mesmo tempo, feliz pra burro (por constatar que haviam leitores que achavam que eu realmente merecia ganhar alguma coisa pelos textos deste blog) e desconcertado com tamanha generosidade. Mas nada poderia me preparar para a surpresa que me aguardava no dia de hoje.
Pois a Srta. M., que mora nos Estados Unidos, mandou-me o melhor pacote-surpresa que já recebi na vida: uma caixa contendo quatro CDs, dois DVDs, um mini-pôster de cinema, diversas fotos, uma lanterna king size e um carinhoso cartão me agradecendo pelos textos que venho publicando na Internet nestes anos. E aí eu me pergunto: como fazer jus a tamanha generosidade? Porque os presentes foram escolhidos a dedo, a saber:
a) Grace, o primoroso álbum que Jeff Buckley, a quem dediquei este artigo publicado no Burburinho, lançou em 1994. Mas não ganhei uma edição qualquer; fui agraciado com a edição especial de 10 anos do lançamento do CD, que inclui um CD extra com bonus tracks, out-takes e duas maravilhosas versões alternativas de “Dream Brother”, uma das melhores canções de Buckley. De quebra, esta “legacy edition” veio com um DVD que inclui cinco videoclipes, imagens das gravações de Grace e entrevistas com o produtor e os músicos da banda. Quem conhece a obra deste músico precocemente falecido aos 30 anos de idade certamente está babando de inveja com este presente, que inclui ainda um encarte com textos do jornalista Bill Flanagan, que faz uma precisa definição de Grace: um álbum inspirador e, mais do que isso, fomenta aspirações artísticas, uma vez que é o tipo de obra que faz com que músicos busquem superar seus limites, a fim de comporem canções tão poderosas quanto “Last Goodbye”, “Eternal Life” ou “Lover, You Should’ve Come Over”.
b) The Forgotten Arm, de Aimee Mann, considerado por mim o melhor álbum internacional de 2005. Como tudo que veio neste pacote, o CD que recebi veio em edição especial, incluindo livreto em formato americano reproduzindo o belíssimo encarte, no qual as letras são transcritas como se fossem capítulos deste verdadeiro filme sonoro que narra a história de amor protagonizada por John, um boxeador alcoólatra, e Caroline. Difícil não acompanhar esta trajetória musical esculpida com esmero por Mann sem se emocionar, principalmente diante dos capítulos 9 (“That’s How I Knew This Story Would Break My Heart”) e 12 (“Beautiful”).
c) E como se não bastasse, não é que fui presenteado também com Live at St. Ann’s Warehouse, box composto por um CD e um DVD que registram o show no qual Aimee Mann resgata as pérolas de sua carreira solo desde a saída do grupo Til Tuesday? Depois de sua audição, é fácil compreender porque o cineasta Paul Thomas Anderson buscou inspiração nas crônicas musicais de Mann a fim de criar os plots e personagens de sua obra-prima Magnólia.
d) diversas fotos da belíssima atriz italiana Monica Vitti (na foto ao lado, em A Noite, de Michelangelo Antonioni), que eu havia citado em um velho texto intitulado Questões de Timing, além de um mini-pôster de As Rainhas, comédia de 1966 em que Vitti simplesmente rouba a cena, e isso em um filme co-estrelado por outras musas como Claudia Cardinale e Raquel Welch .
e) uma lanterna king size, de cor azul, da marca Maglite, sobre a qual tergiversei em e-mail que mandei para a Srta. M. logo após ter aberto esta verdadeira caixinha de surpresas: “quando eu estiver imerso no abismo da noite e o rastro da minha lanterna traçar o fio em que eu, equilibrista bambo, caminhar na escuridão, pensarei na senhorita como se fosse Ariadne a me salvar do minotauro“.
Depois de receber um kit maravilhoso desses, o mínimo que poderia fazer é dedicar um post à Srta. M, a quem agradeço publicamente. E, enfim, voltar a atualizar este espaço após semanas de completo sumiço. Até porque preciso fazer jus a uma das melhores surpresas que já tive em toda a minha vida, e que me deixou mais bobo e desconcertado do que o habitual… :)
Detesto dirigir. Pedestre convicto, também sou assíduo freqüentador dos ônibus e metrôs de Sampa City. Em vez de me estressar na posição de motorista enfrentando os ziguezagues dos motoboys, os faróis altos ou as agruras dos congestionamentos que pipocam pelas ruas saturadas da metrópole, atenho-me à condição de passageiro que aproveita os olhos livres para ler revistas, tirar breves cochilos ou simplesmente vendo as pessoas que passam por meus olhos.
É claro que nem tudo são louros. No ônibus a caminho para o trabalho invariavelmente viajo de pé, espremido feito os livros nas prateleiras abarrotadas do meu quarto. Mas é nessas horas que percebo o quanto tornou-se fundamental andar com meu iPod, que uso com fones de ouvido comprados em camelô (os fones brancos originais do iPod são tão discretos quanto um ornitorrinco fazendo cambalhotas). Nada como uma boa trilha sonora (no caso, “Everything Flows” do Teenage Fanclub) para tornar uma insípida viagem de busão algo mais palatável.
* * *
O mais poderoso slogan cunhado neste ano não foi criado por nenhum publicitário. O (dúbio) mérito deve ser creditado aos traficantes que mataram os incendiadores do ônibus no Rio, que deixaram um recado do lado de fora do carro em que jaziam os corpos dos quatro bandidos assassinados: “do lado certo da vida errada”. De quebra, arremataram tal frase com o complemento: “fé em Deus”. Não sou ateu, mas às vezes a metralhadora diária das manchetes de jornais me obriga a pensar se não estou enganado quanto às minhas convicções. Continue Lendo
Aos poucos os filhos pródigos do condomínio virtual Gardenal.org retornam à Terra Prometida. Por supuesto não foi uma jornada das mais serenas. Eu e outros colegas de imprudência perdemos todos os posts publicados em 2005 por um motivo deveras prosaico: não fizemos backup de nossos blogs. Pra vocês verem como a coisa foi feia, perdi até o template, que foi parar no buraco negro destinado a guarda-chuvas, promessas de campanha eleitoral, tampas de Bic e outros itens que somem para nunca mais. Não vou negar que senti o baque. Mas a vida tem dessas coisas, como diria o Ritchie. Às vezes é preciso levar uns jabs na alma a fim de mexer a bunda da cadeira e sacudir a apatia. E eu, que andava há algumas semanas de saco cheio do blog, de repente me vi novamente motivado a escrever. Nada como uma porrada pra tomar vergonha na cara (drink shame in the face) e acirrar ânimos, huh? Enfim.
Por enquanto estou me virando com o template básico do Movable Type. Consegui ao menos resgatar os textos da maior parte dos meus posts, que republicarei em doses homeopáticas, enquanto assimilo mais uma valorosa lição que provavelmente esquecerei daqui a duas semanas. Ao pessoal que durante esse ínterim acompanhou os textos publicados na barraca de camping que montei no Blogger Brasil, obrigado pela fidelidade. E bola pro mato que o jogo é de campeonato!
Cansei dessa necessidade que todos parecem ter de expor suas opiniões e depois verem-se compelidos a justificá-las, argumentá-las, passionalizá-las, asseverá-las a ferro e fogo. Certas discussões me lembram aquelas intermináveis mesas-redondas de futebol, em que uma bancada repleta de palpiteiros discute ad nauseam se tal jogador estava impedido, se tal lance foi pênalti ou não, e a troco de quê? Do mais rotundo e absoluto nada.
Já briguei demais com pessoas importantes em minha vida movido por essa vaidade estúpida de querer provar as minhas verdades. Estou saturado de viver em um ambiente cercado de palpiteiros patológicos que, subitamente, tornam-se experts sobre qualquer assunto que esteja sob o imediato foco midiático. Não quero provar que o meu gosto musical é mais refinado, que a minha opinião sobre o porte de armas é melhor argumentada que a sua, que eu li um porrilhão de livros e isso me torna um sujeito mais culto, que eu sou bacana e cool e blasé e indie e antenado.
A compreensão de que minha opinião sobre qualquer assunto é tão relevante quanto saber a cor da tampa do ralo do banheiro público do metrô é algo que ainda apreendo aos poucos, e faz parte do paulatino e dolorido processo de tentar me tornar uma pessoa melhor. Um dia ainda hei de saber filtrar a arrogância, o cinismo e o ceticismo que envenenaram minhas palavras em certos bate-bocas, discussões, e-mails.
(Quem afirma algo como “se eu pudesse voltar atrás faria tudo exatamente igual” é um contumaz imbecil.)
Pretendo, pois, limitar minha participação em embates verbais exclusivamente a situações in loco, ao lado de amigos que me vejam olho no olho e saibam reconhecer meus momentos de ironia, convicção, sarcasmo e, sobretudo, fraqueza.
- « Página anterior
- Próxima página »
- 1
- 2
- 3
- 4
- 5