Algumas das lembranças mais marcantes de minha infância são as viagens que minha família fazia à cidade onde meus avós maternos moravam. Inúbia Paulista é uma cidade pequeníssima do interior de São Paulo, localizada a 578 km da capital. Tem pouco mais de três mil habitantes, ou seja, quase a mesma população do Edifício Copan, no centro de São Paulo. Ou, para usar uma comparação menos paulistana, pode-se dizer que seriam necessárias quase vinte e cinco Inúbias para lotar um Maracanã.
A cidade é uma verdadeira válvula de escape da neurose urbana. Mas nunca foi uma Pasárgada para mim: uma semana em Inúbia era o suficiente para morrer de tédio com a falta de opções de lazer. Em compensação, até hoje é possível colocar uma cadeira no meio da rua, sentar nela e se deliciar, no meio da noite, com o frescor das brisas desbloqueadas de edifícios, e com a beleza que é poder vislumbrar um céu limpo e cheio de estrelas.
Um de meus passatempos prediletos era o “lançamento de chinelos”. Sentados na varanda da casa de meus tios Michiko e Tsutomu, eu e meus irmãos balançávamos as pernas a fim de impulsionar nossas havaianas em direção à calçada do outro lado da rua, quase sempre deserta. Descalços, corríamos depois para recolher nossos chinelos, desviando das bostas dos cavalos das carroças que eventualmente passavam.
Também ia muito à casa de meu avô, Shigueo, que criava porcos no quintal, geralmente destinados aos banquetes de Ano Novo. Gostava de arrancar folhas das bananeiras para alimentá-los, e depois ouvi-los mastigando a comida, quando eles oincavam de satisfação.
Mas meu passatempo predileto era assustar pombos. Continue Lendo
Uma das muitas utilidades da internet reside em provar aos outros que não perdemos a sanidade ainda, inventando coisas das quais ninguém se lembra mais. Antes dela, por exemplo, seria quase impossível provar para outras pessoas que houve tempos nos quais supermercados vendiam vitaminas coloridas que vinham num pote de vidro, com o nome de Mastiguinhas, que eram perigosamente deliciosas. A ponto de obrigar minha mãe a guardá-las no armário mais alto da cozinha, caso contrário seriam devoradas sem dó até a última pastilha.
Há alguns anos, porém, toda vez que eu falava nas Mastiguinhas, descrevendo-as como pastilhas coloridas que tinham um gosto levemente azedo, mas muito saboroso, com um cheiro bom que impregnava inclusive o algodão que as protegia dentro do pote de vidro, meus interlocutores me encaravam como se eu fosse um abilolado falando de uma realidade oriunda do mundo imaginário da minha cabeça. Continue Lendo
É bom recomeçar. Após um ano agitado e complicado, marcado por problemas de doença na família, reforma de apartamento, muitos projetos novos surgindo, viagens e palestras Brasil afora, batizado do meu sobrinho na Espanha e duas cirurgias que meu pai sofreu em dezembro, eu quase poderia dizer que 2011 foi o ano que não terminou.
Mas, ufa, acabou sim. :) Após longos 47 dias internado, meu pai finalmente recebeu alta do hospital e recupera-se bem. Só não digo que a reforma do apê acabou porque quem já passou por essa via-crúcis sabe que uma coisa dessas não acaba nunca, mas já estou morando em um novo lar. E, por último mas não menos importante, eis que este blog chega a 2012 em versão remixada e remasterizada, com direito a endereço novo - http://www.pensarenlouquece.com - e layout zero bala, a cargo do meu camarada Henrique Costa Pereira. Continue Lendo
Dizem que tempo é dinheiro; balela. Tempo vale muito mais do que dinheiro. Afinal de contas, a gente é capaz de arregaçar as mangas, batalhar e tapar os buracos causados por faturas atrasadas, juros para pagar, nome sujo no SPC. Horas perdidas, porém, não se recuperam jamais. A vida é muito preciosa para ser desperdiçada com coisas improdutivas como discussões na internet.
Chega o fim de ano e com ele algumas tradições inevitáveis, como as piadas com aquela música da Simone e as reflexões sobre a Vida, o Universo e Tudo Mais. E, embora eu mantenha a convicção pessoal de que datas são meras convenções (lembro daquelas palavras de Dickens, que descrevem uma sensação de #tudoaomesmotempoagora que não vem de hoje: “foi a estação da Luz, a estação das Trevas, a primavera da esperança, o inverno do desespero”), não posso deixar de sentir um certo alívio por este ano estar acabando. Continue Lendo
A nova novela global do horário das seis, “Cordel Encantado”, já havia chamado minha atenção por vários motivos. Por exemplo, por marcar a estreia na teledramaturgia de ninguém menos que Zé Celso Martinez Correa, criador do Teatro Oficina, que aos 74 anos de idade finalmente sucumbiu aos apelos da TV. Outro ator de destaque que está estreando em novelas é João Miguel, que já havia se destacado nos cinemas protagonizando dois excelentes filmes: “Cinema, Aspirinas e Urubus” e “Estômago”. Continue Lendo
Não posso reclamar da vida. Creio que, dentro do possível, tenho tido muita sorte. Sim, eu tenho consciência de que a passagem do tempo é inexorável. E de que, ao longo desta jornada que palmilhamos, perdas são inevitáveis. Mas, até agora, tenho sido razoavelmente poupado de ver as pessoas mais próximas de mim sendo atingidas.
Nesta semana, porém, meu pai precisou ser internado às pressas por causa de uma suboclusão intestinal. O que à primeira vista aparentava ser um desconforto passageiro acabou por revelar que era um problema mais sério do que se imaginava. E ontem, por fim, meu pai precisou ser submetido a uma operação para a extração de um pequeno tumor. Ao menos por algumas semanas, sua vida não será mais como costumava ser. Mas, ao menos, o motivo de sua internação já foi extirpado, e agora é torcer e batalhar por sua recuperação plena. Continue Lendo
E-mails, perfis em sites, Net Banking, números de telefone, endereços, datas de aniversário, compromissos agendados… São tantas informações a serem guardadas na memória que, confesso, sou obrigado a apelar para a agenda do celular ou os serviços de algum site para dar uma trégua aos meus neurônios cada vez mais combalidos. Sou fã, por exemplo, da Last.fm, site que há mais de 5 anos registra todas as músicas que ouço nos computadores que uso (leia o FAQ caso você ainda não conheça a Last.fm), dedurando as faixas que mais tocaram no Winamp, Windows Media Player, iTunes ou qualquer outro player que uso.
Pois bem, navegando na web fui parar neste site: http://kastuvas.bullet.lt/lastfm. Trata-se de um aplicativo que exibe determinada numeração das músicas que ouvi desde que criei meu perfil na Last.fm. Parece bobagem, e é. Mas enfim, depois de obter via Last.fm a minha parada da Billboard pessoal, com as músicas que mais ouvi nestes últimos anos, achei curioso saber quais foram as faixas randômicas que rolaram nesse mesmo período. Pena que o “milestone generator” não capturou as primeiras faixas que ouvi. Mas o fato é que achei mais interessante conhecer uma relação aleatória do que meus tímpanos andaram consumindo, do que checar as mais tocadas. Até porque tem coisa aí que eu nem lembrava que já havia ouvido… 3000: Lambchop - Steve McQueen 4000: The Smashing Pumpkins - Stand Inside Your Love 5000: Morcheeba - Over and Over 6000: Rádio Táxi - Você Se Esconde (DJ Memê Remix) 7000: Egotrip - Viagem ao Fundo do Ego 8000: The Beach Boys - God Only Knows (Stack-O-Vocals) 9000: Madredeus - Haja o que Houver (Lux Mix)
10000: Death Cab for Cutie - Your Heart is an Empty Room 11000: Snow Patrol - Chasing Cars 12000: Violins - Auto-Paparazzi 13000: The Rolling Stones - Tumbling Dice 14000: Band of Horses - The First Song 15000: Elbow - Fallen Angel 16000: Legião Urbana - Música Urbana 2 17000: The Flaming Lips - Feeling Yourself Disintegrate 18000: Ben Folds Five - She Don’t Use Jelly
19000: Red Hot Chili Peppers - Knock Me Down 20000: Bob Dylan - Shelter From the Storm 21000: Paralamas do Sucesso - Cuide Bem do Seu Amor 22000: PJ Harvey - Losing Ground 23000: Cecilia Ann - Solemío 24000: Prefab Sprout - Bonny 25000: Maxwell - Ascension (Don’t Ever Wonder) 26000: Eskobar - Persona Gone Missing 27000: Paralamas do Sucesso - Trac Trac 28000: Lamartine Babo - O Teu Cabelo Não Nega 29000: Wilco - Shake It Off 30000: The Beatles - I Am the Walrus 31000: Mônica Salmaso - A Volta do Malandro 32000: Nirvana - Smells Like Teen Spirit 33000: Pato Fu - 30.000 Pés 34000: Death Cab for Cutie - Soul Meets Body 35000: The Cure - Plainsong 36000: Johnny Cash - Love’s Been Good to Me 37000: The Beatles - Come Together/Dear Prudence/Cry Baby Cry
38000: Hard-Fi - Toxic 39000: Nando Reis - Mesmo Sozinho 40000: Patsy Cline - She’s Got You 41000: Soda Stereo - En Remolinos 42000: The Smiths - The Queen is Dead 43000: Claudinho & Buchecha - Só Love 44000: Violins - Manobrista de Homens 45000: Roberta Sá - O Pedido 46000: Che - Helena x Aldine 47000: Los Porongas - Tudo ao Contrário 48000: Teenage Fanclub - The Sun Shines From You 49000: Irene Cara - Flashdance/ What a Feeling 50000: Roberta Sá - O Pedido
51000: Sonic Youth - Reena 52000: Copacabana Club - Just Do It 53000: She & Him - Please, Please, Please, Let Me Get What I Want 54000: Os Paralamas do Sucesso - Será Que Vai Chover 55000: The Silent Years - On Our Way Home 56000: Nina Simone - Cherish 57000: João Brasil - Let’s Dance Samba (Lady Gaga X Paulinho da Costa) 58000: The National - Runaway 59000: Soda Stereo - Final Caja Negra 60000: Arcade Fire - Modern Man 61000: A Girl Called Eddy - Tears All Over Town
Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.