Nem vou comentar sobre a 3ª guerra mundial que começaria se rolasse uma versão inversa do aplicativo ou sobre o fato de que se você acha massa classificar os caras que já pegou automaticamente sua idade mental vai para -15.
Que pena. O ano em que eu vi tantas mulheres se mobilizando, vi o feminismo subindo à superfície das discussões sociais diárias e mulheres perdendo o medo e erguendo a voz contra o fiu-fiu, se encerra com uma inversão de bullying de gênero bizarra, que coloca uma parede de ferro no meio da estrada onde o orgulho pela tomada de rédeas feminina vinha caminhando.
Eu carrego a bandeira do feminismo declaradamente, não porque sou mulher e defendo “a minha raça”, mas porque, antes de tudo, eu defendo o RESPEITO. E se eu ficaria imensamente puta da cara ao me ver nessa situação de, como bem definiu o meu namorado, “estupro da intimidade”, eu também fico puta ao ver qualquer pessoa nessa.
Mas mais que puta, eu fico decepcionada e temerosa. Continue Lendo
Em 26 de dezembro de 2008, um torcedor do Boston Celtics, chamado Jeremy Fry, ouvia “Livin’ on a Prayer”, hit do Bon Jovi que estava sendo tocado nos alto-falantes durante o intervalo de um jogo da NBA. Quando se viu flagrado pelo telão do ginásio, se empolgou e começou a dançar ao som da música, de um jeito animadamente descoordenado.
Será que estamos nos tornando mais intolerantes, agressivos, irascíveis por causa da internet? Vendo as discussões travadas em replies de Twitter, comentários de blogs e de Facebook em torno de assuntos tão variados como embargos infringentes, a má fase do Corinthians, a final de um reality show ou uma polêmica pontual orbitando por temas díspares como decotes, bolacha ou biscoito ou médicos cubanos, cada vez mais me sinto cansado só de imaginar as discussões sem fim que serão catalisadas por causa de uma opinião sobre determinado tema.
Um exemplo recente: a recente história em torno do rato encontrado numa garrafa de Coca-Cola. Em casos do tipo Davi versus Golias, é natural que as pessoas torçam pelo lado mais frágil. O problema é quando sequer questionam todas as incongruências do causo narrado pela suposta vítima. Quantos, por exemplo, se deram ao trabalho de pesquisar o histórico do processo judicial, ou de ler o parecer técnico da Anvisa sobre o corante citado na matéria sensacionalista da Record? Em vez disso, compartilham a primeira história bombástica que assistem, sem sequer pensar que já existem diversosvídeos mostrando como é possível violar garrafas e colocar objetos dentro delas, mantendo-se o lacre intacto. Continue Lendo
Ontem acessei pouco a internet e acabei perdendo o caso da vez: a história de como Giovana Ferrarezi postou uma reclamação no Facebook sobre uma casa noturna, após ter pedido para “dar uma olhada na festa antes de todo mundo pagar para entrar”, comentando com a hostess que tem um blog que faz parcerias com a Capricho. Sua atitude, interpretada como tentativa de carteirada, recebeu uma saraivada de críticas. Seu post no FB recebeu mais de 1.800 comentários e centenas de comentários, antes de ser apagado (embora seja possível ver capturas de tela do post original de Giovana em dezenas de lugares, como no site da Folha). E, como tudo que ganha certa repercussão na internet, virou meme (clique aqui para conferir o resumo da ópera feito pelo youPIX).
O lado bom de ter ficado sabendo disso fora do calor do momento é que tive um certo distanciamento para entendê-la melhor, algo fundamental nestes tempos afobados em que pessoas mal ouviram falar de uma história e já se apressam para emitir opiniões e palpites sobre ela. E, confesso, senti pena pelo fato de uma menina de 20 anos, que escreve em um blog chamado Unicórnios Radioativos, estar sendo fartamente ridicularizada por causa de um ato tolamente imaturo. Perfis corporativos estão fazendo piadas com sua história em redes sociais, um tumblr chamado Blogueira Humildona foi criado e, enfim, aquele ciclo previsível de imagens engraçadinhas e sacadinhas irônicas tomou conta da web tupinambá. Afinal de contas, todo mundo quer surfar na onda da vez. Continue Lendo
Há anos participo de eventos como a Campus Party Brasil, o youPIX Festival e o Desencontro, seja na condição de curador, palestrante ou espectador. Quando estou envolvido diretamente na organização, a sensação é de loucura. Se até para dançar créu é preciso ter disposição e habilidade, imaginem o pique que é preciso ter alguém que se envolve na logística de um evento, cuidando da programação, produção de palcos, captação de patrocínios, passagens e hospedagem de palestrantes, gerenciamento de crises que surgem de última hora e toda uma série de cuidados que envolvem todas as atividades, workshops e painéis que compõem um evento do tipo.
É cansativo, mas ao mesmo tempo é extremamente gratificante fazer parte de uma empreitada capaz de reunir centenas de pessoas debatendo ideias, trocando inspirações, encontrando-se, desencontrando-se e reencontrando-se em um mesmo local físico, em um intercâmbio doido de experiências que acaba por refletir na vida offline toda a maçaroca de sons, imagens e ideias que compõem a internet. Continue Lendo
Tudo na vida é uma questão de timing. Se você não estiver devidamente preparado para aproveitar as oportunidades que aparecem na sua frente, seu grande momento estará prestes a passar, está passando, já passou, foi embora, um abraço - ou nem isso - e até nunca mais.
Aquela garotinha ruiva que arrebatou seu coração ao sorrir da janela de um ônibus que acabou de partir da rodoviária, desapareceu de sua vista sem que você tenha sequer acenado para ela a fim de pegar seu telefone. A ideia mirabolante de um site inovador de comércio eletrônico, que você estava arquitetando em seus pensamentos meses a fio, acabou de ser implementada por alguns estudantes de Recife e já recebeu centenas de milhares de dólares de um investidor anjo da Califórnia. Seu projeto na teoria ainda parece ser melhor, mas ideias que não saem do papel são natimortas, e você desperdiçou aquela que poderia ser a chance da sua vida. Um headhunter entra em contato contigo e lhe oferece um emprego incrível e desafiador, a recompensa merecida após anos aturando aulas chatas na faculdade e estágios modorrentos. Porém, é uma vaga que exige inglês fluente, e você ainda está no the book is on the table… Continue Lendo
A proliferação dos espaços onde se escreve, se lê, se fala e se ouve cultura
Somos testemunhas e protagonistas de uma era na qual todos os nossos referenciais tecnológicos e de disseminação de conhecimento são modificados em intervalos cada vez menos espaçados. Há duas décadas, tecnologia de vanguarda era sinônimo de disquetes de 3 e 1/2 polegadas e videogames de 8 bits como o Master System. Atualmente, não passam de itens empoeirados do que Cazuza descreveu, em uma música composta em 1988, como “museu de grandes novidades”. Que teve seu catálogo multiplicado, ao longo dos últimos vinte anos, por itens como laser discs, pagers e tamagotchis. Chega a soar quase inverossímil lembrar que o mercado ainda oferecia para venda computadores como o TK-85, da Microdigital, cujos programas eram gravados em fitas cassete comuns.
Há 20 anos, mal tínhamos idéia de que um dia computadores de todo o mundo estariam interligados por uma única rede (a World Wide Web, sistema de hipertexto que possibilita a troca de textos, imagens e arquivos por meio de links, grande responsável pela popularização da internet, só foi criada pelos pesquisadores Tim Berners-Lee e Robert Cailliau em 1990). Hoje, documentamos tempos nos quais não dependemos somente da mídia tradicional para sabermos das últimas novidades. Temos blogs, aplicações peer-to-peer, comunidades no Orkut, sites de compartilhamento de vídeos como Dailymotion, de veiculação de músicas como o Imeem e de conteúdo colaborativo como o Overmundo, dentre as muitas opções à disposição de qualquer internauta. É a era dos prosumers, palavra cunhada por Alvin Toffler a partir de conceitos pensados por Marshall McLuhan e Barrington Nevitt na década de 70, utilizada para descrever os consumidores que também produzem conteúdo e são early-adopters das novas tecnologias. Continue Lendo
Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.