Sinto inveja da desconcertante criatividade das crianças que, sem cabecismos concretistas ou ambições pseudo-literárias, de repente criam do nada sacadas poéticas como esta: - A cor do céu depende da hora, do tempo e de quem olha. Quem diz que o céu é azul, nem desconfia que, de noite, ele pode ser preto e, quando vai anoitecendo, pode até ser rosa ou vermelho. Quem diz que o céu é azul é analfabeto de céu.
Adultos são o que as crianças se tornam depois que começam a produzir hormônios e a largar sonhos pelo caminho. E é assim que nos tornamos maduros, responsáveis e burrocráticos. Não é de se estranhar, pois, o sucesso da coluna que o dramaturgo e pediatra Pedro Bloch publicava toda semana na revista Manchete, intitulada “Criança Diz Cada Uma”. Nela, Bloch narrava tiradas espontâneas e engraçadíssimas, protagonizadas pelas crianças (de 3 a 11 anos de idade) que passavam pelo seu consultório (como a fala sobre a cor do céu do parágrafo acima).
Bloch compilou seus achados em dezenas de livros, dentre eles o Dicionário do Humor Infantil, meu predileto dentre todos por ter sido valorizado pelas ilustrações de Mariana Massarani, também autora de seis livros para crianças. Pena que o livro está fora de catálogo; tive de perambular por vários lugares até achar um lugar a fim de encontrar um exemplar para minha namorada. ;) Como não sou egoísta, compartilho aqui algumas das melhores definições deste sensacional dicionário: Continue Lendo
Se “tudo que é sólido desmancha no ar”, como diziam Marx (não o Groucho) e Engels, o que dizer da Internet, esta interface efêmera por natureza? Um exemplo: ainda guardo em meu winchester um arquivo com meu bookmark de 1998, gerado pelo Netscape, na época o navegador utilizado por cerca de 70% dos internautas. Hoje em dia quantos o utilizam? E quantos ainda têm o costume de salvar páginas de Web, nestes tempos de Delicious e StumbleUpon?
Embora não seja prática recorrente, devo dizer que foi bom ter feito backup de alguns sites que não deixaram nenhum resquício digital de sua existência, nem no cache do Google, nem no Internet Archive. Web é um cemitério sem ossos, implacável com o volátil legado virtual de sites que saiam do ar. Continue Lendo
Não é fácil ser adulto. Basta dar uma passada de olhos pelas manchetes dos jornais para que o ceticismo corroa nossa alma: violência, desemprego, recessão, terrorismo. Às vezes é até uma tarefa inglória alimentar sonhos, quando estamos tão ocupados procurando maneiras de como arranjar dinheiro para pagar as contas no final do mês. Como meu amigo Mário costuma dizer, “a vida é que nem rapadura, é doce mas é dura“.
É por essas e outras que admiro as pessoas que, mesmo batalhando pela sobrevivência no dia-a-dia, conseguem manter viva a criança dentro delas. Não é tão difícil identificar alguém assim em meio à multidão acinzentada: procure por alguém com sorriso fácil, capacidade de rir de si mesmo, mousepad com estampa do Snoopy ou que possua a mania de fazer origamis no meio do serviço ou encontrar nuvens com formato de Bart Simpson pairando no céu.
Imaginação, eis o diferencial. O aspecto que mais admiro na infância está na capacidade desconcertante que as crianças possuem em enxergar cada detalhe do dia-a-dia de maneira espontânea, talvez por ainda não terem sido bitoladas pela visão acachapante dos adultos. Porque uma criança possui a mente aberta, seja para acreditar em Papai Noel ou coelhinho da Páscoa, seja por recriar as coisas do mundo de acordo com o poder de sua imaginação.
Inspirado no site I Used to Believe, que descreve crenças e recordações infantis de internautas do mundo inteiro, faço a seguir um Top 10 de reminiscências e coisas nas quais acreditava quando era criança. Algumas lembranças podem soar tolas hoje, mas ao mesmo tempo me dão saudades de uma época na qual eu era menos cético e mais inocente.
* * * * *
1) Quando eu era criança, acreditava que as estrelas eram os olhos de Deus, que piscavam de vez em quando para a gente apenas para que soubéssemos que havia um cara lá em cima de olho nas traquinagens que aprontávamos. Continue Lendo
Evandro Mesquita:
“Salve, salve Juninho, como é que é, tudo bem?”
Juninho Bill:
“É… mais ou menos”
Evandro Mesquita:
“Ué, por que, irmãozinho, que cara é essa?”
Juninho Bill:
“Sabe o que é, Evandro, eu quero é ser presidente do Brasil!”
Evandro Mesquita:
“Ei, diz aí então, me conta!”
Hoje acordei e ouvi no rádio
Alguém dizia que o mundo ia mal
Que entre 2001 e 2010
Já era a Terra numa guerra final
Eu sou o fera, o fera neném
Olha só o mundo que a gente tem
Eu sou o fera, o fera neném
Se eu for presidente você vai se dar bem
Eu canto, danço, nado, brinco com tudo
E até que não me dou mal no estudo
Quando quero alguma coisa, eu berro
Brinco de médico, ninguém é de ferro
Eu sou o fera, o fera neném
Qual o futuro que a gente tem?
Eu sou o fera, o fera neném
Se eu for presidente você vai se dar bem
Quando sonho, viajo por mil lugares
O mundo é lindo pra quem sabe viver só na paz
E corro feliz pra te ver
Vou em frente, não dou bola pra bruxa
Acordo contente quando sonho com a Xuxa
Só quero dizer que eu sou o fera, o fera neném
Pára na minha que você vai se dar bem
Eu sou o fera, o fera neném
Se eu for presidente você vai se dar bem
Juninho Bill:
“Alô, alô, gatas, gatinhas e cachorrões
Eu sou a solução!
We Are the World!”
Evandro Mesquita:
“E vem aí Juninho Bill a cores para todo o Brasil!
Esse é fera hein, diz aí, Juninho!”
Eu canto, danço, nado, brinco com tudo
E até que não me dou mal no estudo
Quando quero alguma coisa, eu berro
Brinco de médico, ninguém é de ferro
Eu sou o fera…
Olha aí, vote em mim pra presidente
E alô, alô, senhoras e senhores
Paguem logo a tal da dívida, senão vai sobrar pra gente
É isso aí, mais fantasia no seu destino
Bote fé nesse menino, sou o futuro no presente
Juninho Bill para presidente do Brasil
Evandro Mesquita:
“Tô contigo e não abro, Juninho”
Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.