Artigos da categoria: Blogosfera
Tudo começou com um desenho feito pelo cartunista Ronaldo Rony no muro de sua casa, localizada na avenida Mendonça Furtado, no centro de Macapá. A caricatura, uma charge sugestivamente intitulada “Xô Sarney” (imagem posteriormente reproduzida pelo próprio Ronaldo na camiseta da foto à direita, trajada por Patrícia Andrade), expressava os sentimentos de Ronaldo e de boa parte da população amapaense com relação ao ex-Presidente da República José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, que mudou seu domicílio eleitoral do Maranhão para o Amapá em 1990 com o objetivo de assegurar com maior facilidade uma vaga para o Senado Federal. Foi uma boa cartada de Sarney, que atualmente cumpre seu segundo mandato como Senador pelo Amapá. Nas eleições deste ano, o autor de Brejal dos Guajas (que recebeu de Millôr Fernandes o seguinte comentário: “só um gênio conseguiria fazer um livro errado da primeira à última frase“) postula nova reeleição. Contudo, a campanha do ex-presidente tem sido marcada por diversas ações na Justiça impetradas contra jornais e rádios amapaenses.
A coligação União Pelo Amapá, que apóia as candidaturas José Sarney para o Senado e Waldez Goes para o Governo, chegou ao ponto de processar o Google, a fim de solicitar que o site de buscas retirasse de seu arquivo todas as matérias que supostamente veiculassem conteúdo negativo à imagem de seus candidatos. A liminar foi considerada improcedente pelo Tribunal Regional Eleitoral do Amapá. Mas os advogados da coligação continuariam aprontando das suas.
Na terça-feira, dia 22, a jornalista Alcinéa Cavalcante publicou em seu blog um post intitulado “O Adesivo Perfeito”, no qual afirmava que a frase “o carro que mais combina comigo é o camburão da polícia” seria ótima para estampar o vidro traseiro do carro de um certo candidato. Dois dias depois, os advogados de Sarney entraram com uma representação solicitando a imediata retirada do ar de uma “publicação ofensiva”. A motivação do pedido foi um comentário publicado no post supracitado, assinado pelo leitor Paulo Henrique, fazendo alusão a uma piada antiga sobre certa “fazenda de burros” que o senador supostamente possuiria no Amapá. Além de limar o blog do ar, a ação ainda solicitava a aplicação de uma multa no valor de R$ 106.410,00. O juiz eleitoral Luiz Carlos Gomes dos Santos, mostrando possuir ainda bom senso, indeferiu o pedido feito pela coligação. É inevitável vislumbrar neste imbróglio semelhanças com o caso Imprensa Marrom. Contudo, o pior ainda estava por vir.
Na sexta-feira, dia 25, novo pedido de liminar foi feito em nome do ex-Presidente, desta vez atingindo o blog Repiquete no Meio do Mundo (infelizmente sem registro no cache do Google), mantido pela jornalista Alcilene Cavalcante, irmã de Alcinéa. O motivo da ação foi uma foto publicada com a imagem da caricatura feita por Ronaldo Rony. Por meio de notificação com a liminar concedida pelo TRE do Amapá ao processo 435/2006, Alcilene se viu obrigada a apagar a foto de seu blog, caso contrário estaria sujeita ao pagamento de multa de R$ 2.000,00 por dia. No entanto, embora a blogueira tenha deletado o post com a charge de Sarney, sua página, hospedada no UOL, foi tirada do ar por ordem judicial.
Restava mais um alvo: o blog de Alcinéa. Em outra representação, a coligação do autor de Marimbondos de Fogo (coletânea de poemas definida por Mestre Millôr como “um livro que quando você larga não consegue mais pegar“) pediu a aplicação de multas e a retirada do ar de seis posts. No dia 26, Alcinéa informa em seu blog que “amigos do Senador” entraram em contato com ela, pedindo desculpas pela “precipitação dos advogados da coligação“. Afirmam que as ações seriam retiradas. Porém, em troca, pedem para que a jornalista amapaense deixe de escrever qualquer texto contra o ex-Presidente. Alcinéa se recusa a aceitar o “trato”. Em ligação recebida em seu celular às 20:34, outro “amigo de Sarney” afirma que se a “briga” não fosse encerrada a coligação União Pelo Amapá entraria com ações contra “os jornalistas Cláudio Humberto, Chico Bruno, Alcilene Cavalcante e todo e qualquer jornalista ou blogueiro que se manifestasse contra Sarney“.
Enquanto isso, a campanha “Xô Sarney” espalha-se pela blogosfera, através da reprodução do desenho de Ronaldo Rony em diversos sites. Ao publicar a imagem que desencadeou a censura ao blog de Alcinéa Cavalcante, Marcelo Tas escreveu: “Os jornalistas e eleitores do Amapá têm todo direito de se expressar. E claro, de escolher seus legítimos representantes. De dizer não, este ano, agora mesmo, a este oportunista bigodudo“. No dia 29, matéria de Thiago Reis para a Folha Online já contabilizava 80 blogs engajados na campanha.
Sexta-feira, dia 1, em mais um flagrante atentado à liberdade de expressão, o blog de Alcinéa Cavalcante foi enfim tirado do ar. O fato repercute no exterior e faz com que o Brasil passe a se equivaler a países como China e Irã, que também possuem o hábito pouco edificante de censurar blogs por motivos políticos. Alcinéa não desiste de escrever e migra seu blog para um servidor no exterior, passando a postar na URL http://alcineacavalcante.blogspot.com. A campanha “Xô Sarney” alastra-se de vez pela blogosfera.
Em bem-humorado texto publicado pelo Jornal Pequeno, de São Luís, MA, o responsável pela coluna “Informe JP” relata o crescimento do movimento “Xô Sarney”, mas faz um alerta aos amapaenses: “Nós, aqui do Maranhão, não aceitamos devoluções (…) Não adianta apelar para o Código do Consumidor: o prazo para devolver a mercadoria já prescreveu“. Enquanto isso, pesquisas detectam que a candidatura do pai de Roseana parece perder fôlego, uma vez que sua concorrente mais próxima, Cristina Almeida (PSB), avançou de 15,4% para 29% das intenções do voto. Aguardemos pelos próximos capítulos, cruzando os dedos e divulgando a odisséia amargada pelas irmãs Alcilene e Alcinéa Cavalcante em suas batalhas contra os advogados do autor de Marimbondos de Fogo.
Em 30 de setembro de 2004 publiquei um post intitulado “Aberta a temporada de caça aos blogs“. Nele, eu relatava o que havia acontecido com o blog Imprensa Marrom, que havia sido retirado do ar por ordem da Justiça, atendendo à solicitação de um sócio de uma certa empresa de recolocação de profissionais, que se sentiu ofendido com um comentário deixado por um visitante do blog. Detalhe: o autor da liminar sequer havia entrado em contato com Fernando Gouveia (mais conhecido na Web pelo seu pseudônimo, Gravatai Merengue), responsável pelo Imprensa Marrom, solicitando que o comentário em questão fosse apagado. Simplesmente acionou a Justiça, fez com que o blog saísse do ar e ainda requereu uma indenização por danos morais devido a um comentário que, vale a pena citar, havia sido postado por uma pessoa anônima.
Em outubro de 2004, ainda sob o impacto do caso, escrevi o post “Comentários: tê-los ou não, eis a questão“. Nele, explicava o porquê da adoção, no espaço de comentários deste blog, de um disclaimer redigido pela advogada Suzi Hong, fazendo a seguinte observação:
“Todo e qualquer texto publicado na internet através deste sistema não reflete, necessariamente, a opinião deste weblog ou de seu autor. Os comentários publicados através deste sistema são de exclusiva e integral responsabilidade e autoria dos leitores que dele fizerem uso. O autor deste weblog reserva-se, desde já, o direito de excluir comentários e textos que julgar ofensivos, difamatórios, caluniosos, preconceituosos ou de alguma forma prejudiciais a terceiros. Textos de caráter promocional ou inseridos no sistema sem a devida identificação de seu autor (nome completo e endereço válido de e-mail) também poderão ser excluídos“.
Este disclaimer logo tornou-se um dos textos mais reproduzidos em toda a blogosfera. No entanto, ao adotá-lo, eu já sabia que ele seria insuficiente para me proteger de eventuais ações judiciais. Como bem explicou Suzi nos comentários do post referido: “o disclaimer NÃO TEM A PRETENSÃO de eliminar, por completo, o risco de um indivíduo qualquer acionar a justiça (e conseguir êxito no pedido da liminar). Seu propósito é minimizar o risco, servir de argumento a mais em caso de eventual litígio“.
O uso do disclaimer teve ainda a função de evitar que eu tomasse a medida provavelmente mais sensata a ser tomada: limar de vez o espaço dos comentários. Seria a prevenção definitiva a fim de evitar todo o aborrecimento, dores de cabeça e gastos advocatícios amargados pelo meu colega Fernando. No entanto, compensaria perder a interação com os leitores de Pensar Enlouquece, que tantas vezes complementaram, corrigiram, reverberaram e enriqueceram o conteúdo deste blog com seus comentários?
* * * * *
Alguém pode questionar: não soa absurdo o fato de um blogueiro ser condenado por causa de um comentário anônimo escrito por um internauta qualquer? Bem, o fato é que tive acesso à sentença redigida pela juíza responsável pelo processo, e ela foi bem clara sobre o assunto: “Embora não seja o requerido (o blogueiro Fernando Gouveia) o autor das palavras ofensivas, por certo que, disponibilizando o espaço, tem responsabilidade perante o ofendido“. Em outro trecho, a juíza complementa: “a responsabilidade do requerido se mantém, pois que, ao disponibilizar o espaço para divulgação democrática (termo utilizado na contestação) do conteúdo inserido por terceiros, assume o risco sobre as expressões ofensivas veiculadas“.
Sim, após quase dois anos na Justiça finalmente saiu a sentença em primeira instância do caso Imprensa Marrom. Fernando “Gravatai Merengue” Gouveia foi condenado a pagar indenização no valor correspondente a 10 salários mínimos (ou seja, R$ 3.500,00) ao ofendido. Obviamente os advogados do meu colega entraram com um pedido de recurso. No entanto, esta primeira derrota cria uma jurisprudência pra lá de delicada. No post em que comenta a decisão da Justiça, Fernando faz um alerta a todos os blogueiros: “Se vocês não querem amanhã ou depois passar pelas agruras que estou passando, simplesmente tratem de hospedar seus blogs num país que tenha ordenamento jurídico diferente. Ficando no Brasil, eliminem os comentários“.
Apesar deste blog ser hospedado no exterior, prefiro me precaver de quaisquer dissabores. Optei, pois, por adotar a pré-aprovação de cada comentário antes que ele seja publicado, a fim de evitar a publicação de qualquer ofensa que possa ser feita a terceiros. E recomendo esta medida a qualquer blogueiro que não deseje eliminar de vez seu espaço de comentários, esteja seu blog hospedado no Brasil ou lá fora.
* * * * *
P.S. 1: Leituras relacionadas: Sentença judicial contra Imprensa Marrom abre perigoso precedente na blogosfera brasileira (Idelber Avelar), Justiça às turras com a Internet (Alex Castro), Na mira da Justiça (Rodney Brocanelli) e Manual de sobrevivência na selva de bits (Túlio Lima Vianna & Cynthia Semíramis Vianna).
P.S. 2: É uma pena ter que publicar um post como este justamente no Blog Day.
P.S. 3: Ainda sobre a blogosfera, vale a pena dar uma conferida na Pesquisa Blogosfera Brasil, realizada por meus camaradas do condomínio virtual Verbeat.
Enquanto dicionários como o Aurélio e o Houaiss perdem terreno para a Wikipedia por não terem criado ainda um verbete para a palavra, deixo aqui minha definição: blog é um site regularmente atualizado, cujos posts (entradas compostas por textos, fotos, ilustrações, links) são armazenados em ordem cronologicamente inversa, com as atualizações mais recentes no topo da página. Criados com o auxílio de ferramentas de publicação como Blogger e Movable Type, blogs são páginas dinâmicas e democráticas – qualquer internauta razoavelmente alfabetizado é capaz de criar o seu. Podem ser espaço para observações do cotidiano, mural de recados, laboratório de experimentações literárias, depósito de links curiosos, relicário de agruras sentimentais, diário de viagem ou tudo isso ao mesmo tempo agora.
Tamanha facilidade de publicação não passa impune: segundo o Technorati, há cerca de 49,9 milhões de blogs. É de se pensar: quem lê tanta gente? Há quem diga que blogs são como escritos dentro de garrafas jogadas no mar, que bóiam pela Web em busca de poucos e raros destinatários; não é bem assim. Graças à comunicação feita por links e comentários deixados em outros blogs, estas garrafas virtuais coligam-se em comunidades, amealhando leitores de modo similar ao fenômeno boca-a-boca que transforma filmes obscuros em sucessos cult.
Quem escreve em um blog em geral o faz com uma linguagem informal, descompromissada, não raro pontuada por erros de grafia que denunciam a urgência com que o internauta escreve seu texto, como rascunhos que já nascem com caráter definitivo. Do comando do cérebro ao ato dos dedos digitando no teclado, palavras borbotam e – click! – desembocam direto para a tela.
Na Internet, prevalece a cultura do imediato: teias de aranha virtuais cobrem um site se este não é atualizado pelo enorme intervalo de… um dia. Repare: toda vez que um novo texto é publicado, os anteriores deixam de receber novos comentários. Na blogosfera, mais do que nunca prevalece a cultura do imediato: o post está morto, viva o novo post! Em nome da velocidade no carregamento do site, não mais do que dez artigos são publicados na página inicial, enquanto os anteriores são empurrados para o quartinho dos fundos. Pergunto: quantos gatos pingados possuem o hábito recorrente de vasculhar os arquivos de um blog?
Em precisa analogia, o escritor goiano Nelson Moraes compara os blogs a palimpsestos – “pergaminhos de couro utilizados por monges da Idade Média para registrar textos e gravuras, que de tempos em tempos eram lavados a fim de remover a tinta e gravar novos manuscritos que iam sendo sobrepostos aos anteriores”. Ao contrário dos textos impressos, transportáveis para qualquer local e lidos a qualquer hora, o prazo de validade de um post é o tempo de exposição na homepage. Depois, torna-se jornal virtual a embrulhar peixes cibernéticos precocemente envelhecidos, folheados por uma massa restrita de leitores.
Em meio a tanta fugacidade, há no entanto aqueles que usam os blogs como escoadouro de toda uma produção literária represada. O que antes jazia em fundos de gaveta agora é compartilhado com um clique de mouse. É óbvio que toda essa facilidade de publicação possui dois gumes – há na Web muita literatice constrangedoramente capenga, assim como é possível garimpar autores preciosos que recorrem à interface do blog da mesma maneira que outras gerações criavam fanzines xerocados a fim de divulgar seus escritos.
O blogueiro entra nessa história como um daqueles comediantes novatos que sobem em um palco tal qual na stand-up comedy notabilizada por nomes como Jerry Seinfeld. Despido de cenografia, dá a cara pra bater: ao narrar “causos” autobiográficos ou piadas de próprio punho, arrisca-se a receber apupos ou a indiferença de sua platéia, traduzida pela ausência de comentários ou pela estagnação das estatísticas de seu contador de acessos. Em contrapartida, há aqueles que graças aos blogs tornaram seus nomes conhecidos e foram acolhidos pelo mercado editorial brasileiro, como João Paulo Cuenca, Daniela Abade e Clarah Averbuck.
É preciso falar ainda da crescente influência da blogosfera como meio livre de circulação de informações, tornando-se uma espécie de ombudsman coletivo da grande imprensa em geral. É inevitável citar o caso da demissão do âncora da rede de TV CBS Dan Rather, que coordenou a produção de uma reportagem sobre o passado militar de George W. Bush baseada em documentos falsos, em denúncia feita pelo blog Power Line. Em países sob regimes ditatoriais, como Irã, China e Coréia do Norte, a blogosfera ganha mais relevância ainda, tornando-se preciosa fonte alternativa de informação – representativa a ponto de sofrer severas repressões. Sites como Civiblog e Committee to Protect Bloggers surgiram com o objetivo de denunciar os casos de blogueiros presos simplesmente por veicularem notícias e idéias incômodas a certos governos. É o caso do Irã, nação que mandou para a cadeia diversos blogueiros nos últimos anos, e que ainda mantém sob detenção Mohamad Reza Nasab Abdolahi e Motjaba Saminejad.
No entanto, apesar da severa repressão, o processo de popularidade dos blogs entre os jovens iranianos (existem mais de 60 mil blogs em farsi, o dialeto persa) parece ser irrefreável, especialmente entre as mulheres, que vêem neles uma oportunidade rara de externar suas idéias e sentimentos. Outro aspecto importante: a fim de estabelecer contato com o mundo, muitos iranianos optam por escrever em inglês (vide este diretório), oferecendo a internautas de outros países a oportunidade de conhecer aspectos do cotidiano de um país no qual jovens correm o risco de serem presos por irem a uma festa ou caminhar ao lado de um amigo do sexo oposto.
Ao final deste artigo, não posso deixar de reiterar aqueles que, a meu ver, são os aspectos mais positivos de um blog: o fomento de debates em tempo real, o estímulo à comunicação de idéias, a democratização da publicação de conteúdo na Web e, principalmente, a liberdade de expressão.
* * * * *
P.S. 1: Republiquei este texto, anteriormente veiculado no Correio Braziliense e no Digestivo Cultural, como uma espécie de boas-vindas a todos que conheceram este blog graças à matéria de capa da revista Época desta semana, conduzida por Ricardo Amorim e Eduardo Vieira. A aqueles que imaginavam que blogs não passavam de diarinhos virtuais, ou sequer sabiam o significado da palavra, fica aqui o conselho para que naveguem pelos links da coluna à direita e percam-se por aí. Internet é muito mais do que um meio de veiculação de piadas velhas por e-mails.
P.S. 2: O site da Época publicou uma compilação de links de minha autoria. Inspirado em um site português que, infelizmente, parece estar fora do ar, os 25 momentos da blogosfera brasileira (que, como o navegante atento perceberá, são mais do que vinte e cinco) fazem parte de um trabalho inacabado que deveria ter sido publicado em formato wiki, com a colaboração ativa daqueles que têm feito a história da blogosfera tupiniquim (é um projeto a ser retomado junto com diversas coisas que pretendo fazer até o final deste ano). Pena que, ao menos até o momento em que entrei na página pela última vez, ela estava repleta de hyperlinks errados. Torço para que sejam brevemente consertados.
P.S. 3: Ao ver minha foto na matéria, fiz a inevitável constatação: não nasci para ser top fodel. Pretexto para uso de minha interjeição predileta: nhé!
Parreira ficou prostituto da vida. Pudera: um quadro do Fantástico revelou o que o técnico da Seleção e seus comandados dizem durante as partidas, graças à leitura labial feita por três jovens surdos. Neste sensacional vídeo (que encontrei no blog Samjaquimsatva), a matéria do Fantástico dedura as palavras vociferadas por Parreira depois do segundo gol feito por Ronalducho no jogo contra o Japão:
- Agora vamos ver, filhos da puta! E ainda pedem pro Ronaldo ir embora. “Tira ele…”. Vai se foder, vai tomar no cu, porra!
Outro destaque da matéria: o comentário que Pelé faz a um amigo depois de ver seu rosto sendo exibido no telão do estádio alemão:
- Alá, ó. Ó lá, bonito pra caralho!
* * * * *
Observe a imagem acima e atente para a figura central. À primeira vista, não parece que o bloco de cima é mais escuro do que o bloco de baixo? Saiba, pois, que ambos os blocos têm o mesmo tom de cinza. Duvida? Então cubra a aresta central com um dedo estendido, constate a engenhosidade desta imagem criada por Beau Lotto, e clique aqui para ver outras ilusões de ótica (via Juegos de Ingenio).
* * * * *
Encontrei, no Antena Paranóica, link para uma matéria do Independent Critics que elenca os 100 Melhores Pôsteres de Filmes de Todos os Tempos. De fato, eles fizeram uma ótima lista, com destaques mais do que merecidos para os cartazes de Um Corpo que Cai, Anatomia de um Crime, Casablanca, Manhattan e tantos outros que um dia ainda hei de emoldurar e colocar nas paredes do meu quarto.
Pesquisando pelo assunto, encontrei o site do Internet Movie Poster Awards, que há sete anos distribui prêmios em categorias como Cartaz Mais Divertido, Cartaz Mais Assustador e Melhor Tag Line. Estes foram os vencedores do prêmio de melhor pôster: O Talentoso Mr. Ripley (1999), Um Homem de Família (2000), O Dia do Terror (2001), Gangues de Nova York (2002), The Cooler - Quebrando a Banca (2003), Colateral (2004) e O Senhor da Guerra (2005).
Eu, do alto de minha condição de cinéfilo tupiniquim, não poderia deixar de destacar os trabalhos de mestre J. L. Benicio, ilustrador de centenas de cartazes de filmes brasileiros, incluindo-se aí inúmeras pornochanchadas (como A Super Fêmea e Histórias que Nossas Babás Não Contavam) e comédias dos Trapalhões. Mas o melhor de seus trabalhos, IMHO, pode ser conferido na imagem à direita (e, na íntegra, nesta excelente página): o mesmerizante retrato de Vera Fischer no pôster de Perdoa-me Por Me Traíres.
Last, but not least: confira aqui matéria de Pedro Brandt sobre a obra de Mestre Benicio.
* * * * *
Discordo veementemente das convicções ideológicas de Heloísa Helena, candidata à Presidência pelo PSOL, mas tenho de reconhecer que ela é uma política carismática e muito bem articulada. Fausto Macedo, repórter que acompanhou o lançamento oficial da candidatura de HH em União dos Palmares, Alagoas, para o Estado de S. Paulo, relata em sua matéria que a senadora chorou e fez muita gente chorar com seu discurso engajado e repleto de frases de impacto. Disse Heloísa: “Vamos à luta, vamos à vitória, vamos dizer para os farsantes neoliberais e para os representantes do parasitismo político que ousam pensar que são donos do Brasil, vamos dizer que podem vir quente que nós estamos fervendo (grifos meus)”. Em outro trecho de seu discurso, não mediu palavras para atacar o PT, seu ex-partido: “Sei o esforço de todos aqui, militantes que, sem o dinheiro público roubado, sem os dólares nas peças íntimas do vestuário masculino, sem AeroLula nem jatinho, sem absolutamente nada, vieram até aqui neste dia tão precioso“.
Geraldo “Picolé de Chuchu” Alckmin daria dez ministérios para ter metade da verve e carisma dessa mulher.
* * * * *
O amor é um labirinto. E eu encontrei a imagem acima no Afrodite Sem Olimpo, excelente blog de Claudia Letti que voltou à ativa após longo período sabático.
* * * * *A profusão de vídeos disponibilizados na Web, impulsionada pelo sucesso do
YouTube, inspirou o New York Times a criar um blog dedicado exclusivamente ao fenômeno:
Screens, mantido pela crítica de TV Virginia Heffernan. Uma ótima sacada, que pode ser facilmente atestada por estes dois links:
100 Vídeos Incríveis selecionados pela revista online Pitchfork, e esta compilação com quase
1.400 videoclipes dos anos 80.
O primeiro passo, o mais árduo e sofrido de todos. Como começar? Esta é sempre a dúvida que me inquieta. “Entre o sim e o não, existem inúmeros talvez“, sentenciou mestre Cortázar. Mas permanece a questão: como começar uma página do nada, como desvirginar este branco na tela e em minha cabeça?
Sempre detestei redações com tema livre; perdia ao menos um terço do tempo buscando algum assunto interessante pra escrever. Pode parecer paradoxal queixar-se da liberdade total para escrever, mas é que sou um cara que precisa de limites pré-definidos para produzir melhor. Não sei, se eu tivesse disponível todo o tempo do mundo para escrever, provavelmente deixaria meus neurônios jogando papo fora na mesa de bar do meu cérebro. Como todos sabem, papos de barzinho nunca chegam a nenhuma conclusão. E, se chegam a algum lugar, está todo mundo bêbado demais para se lembrar de alguma coisa no dia seguinte.
Essa dificuldade transparece em minha vida amorosa. Como abordar uma menina por quem estou a fim, e que não conheço? Sou um cara desajeitadamente tímido, e só Deus sabe o quanto isto atrapalha minha vida. Nunca sei como dar o primeiro passo, ou seja, como passar uma cantada em uma mulher que nunca vi na vida. Afinal de contas, o que dizer? “Oi, você vem sempre aqui?” Não, necas de pitibiriba: jamais teria a cara de pau suficiente pra dizer algo tão bóbvio. Mas e aí, perguntar o quê? Qual o telefone do cachorrinho?
Só sei que foram raríssimas as cantadas que dei na minha vida. Mesmo porque só passo uma quando sei que terei 101% de chances de dar certo. OK, eu nunca levei um fora, e fui correspondido todas as vezes que pus pra fora o Don Juan que existe dentro de mim. Mas vou me gabar do quê? Pois sabe-se lá quantas boas e deliciosas oportunidades já perdi na vida por conta da inaptidão e falta de cara-de-pau pra paquerar incautas mundo afora. Um dia preciso incutir em minha mente a sabedoria adquirida através de certa letra de pagode cujo refrão nos ensina: “relaxa, senão não encaixa“. Sábias palavras. Afinal de contas, pensar demais enlouquece.
E assim, de elucubração em elucubração, tergiversando como quem não quer nada, feito aqueles cronistas que faziam da falta de assunto o assunto de suas colunas, eis que o texto se escreveu com a naturalidade de quem caminha sem pensar na distância a ser percorrida.
- Oi, você vem sempre aqui?
Lição de casa a todos que se interessam pelo universo dos blogs (você, por exemplo): conferir a matéria “Os blogs vão mudar seus negócios“, de Camila Guimarães e Eduardo Vieira, publicada na edição 860 da revista Exame. A matéria destaca o poder que os blogueiros possuem de externar queixas ou elogios a respeito dos produtos e serviços que consomem, criando uma nova dinâmica na relação entre empresas, fornecedores e clientes. Atentos à crescente importância dos blogueiros como formadores de opinião, diversas empresas, como General Motors, Microsoft e Sun Microsystems, têm incentivado executivos e funcionários a criarem seus próprios blogs, como um meio de maior aproximação entre corporações e consumidores.
O Brasil ainda engatinha nesta era dos “Blogs S.A.” São escassos os exemplos de blogs corporativos por estas bandas, e as poucas experiências já feitas de páginas patrocinadas, como o blog da mamãe Pampers, não duraram muito tempo no ar. Mas o fato é que as empresas não podem mais ignorar o poder de alcance e de reverberação de opiniões da blogosfera, assim como a capacidade de segmentação do público-alvo e a influência que um blogueiro pode ter sobre os seus leitores. Sobre o assunto, recomendo ainda uma visita à versão em PDF da revista Mundo Corporativo (que traz uma matéria sobre blogosfera) e os posts escritos por Fabio Cipriani e Fabio Seixas (seu Camiseteria representa o melhor exemplo atual de blog corporativo brasileiro).
* * * * *
Gustavo de Almeida criou uma polêmica das boas ao republicar no blog Paralelos seu texto “
Salvem Damien Rice da Língua Portuguesa“. Nada menos que
178 comentários, oscilando entre a concordância, a indignação e a perplexidade, foram deixados a respeito do desabafo que Mr. Almeida escreveu a respeito das escabrosas versões que Simone (a mesma que assassinou novamente John Lennon com “Então é Natal”) e a dupla Ana Carolina & Seu Jorge fizeram da belíssima música “Blower’s Daughter” de Damien Rice (
veja aqui o clipe da música, tema do filme “Closer - Perto Demais”). Especialmente infeliz é a letra cunhada por Ana Carolina, que deu à composição original de Damião Arroz o título de um slogan velho da Coca-Cola (“
É Isso Aí“), se bem que a
cover cantada por Simone (com
letra de Zélia Duncan) não é muito melhor.
Embora meu camarada Gustones adote uma postura convictamente crítica a respeito de versões para músicas estrangeiras, creio que o problema específico está com os tradutores/traidores da canção de Rice. Infelizmente “Blower’s Daughter” não teve a mesma sorte de “No Woman No Cry”, de Bob Marley, que na pena de Gilberto Gil tornou-se “
Não Chore Mais“, ou de “It’s All Over Now, Baby Blue”, de Bob Dylan, transformada em “
Negro Amor” por Caetano Veloso e Péricles Cavalcanti. Além do mais, quem já ouviu na rádio online da
Trash 80′s versões em português como as cometidas por Vanusa para “I Will Survive”, Markinhos Moura para “Jealous Guy” (Bryan Ferry teria uma síncope se ouvisse “Ciúmes de Rapaz”), Sula Miranda para “Mr. Postman” (que se transformou em “Meu Caminhoneiro”) ou Ovelha para “Hotel California” sabe que crimes muito mais atrozes já foram cometidos na história da MPB…
* * * * *
Albano Martins Ribeiro, também conhecido como
Branco Leone, é o idealizador do
Inteligência Ltda., site criado com o intuito de abrir espaço para a divulgação de escritores que, alijados do mercado editorial, decidiram arregaçar as mangas e bancar as edições de suas obras. Com a palavra, Albano Ribeiro: “
Acredite no que faz, acredite no resultado de sua criação, cuide de sua arte como coisa séria. Pense nela como produto. Publique. Depois, mostre o resultado do seu trabalho aqui. E divulgue“. Além dos livros já divulgados pelo site e de textos que falam sobre o mercado editorial brasileiro, o site convida autores inéditos a participarem de um consórcio literário para a publicação de suas obras (conheça mais detalhes
clicando aqui). Como diriam os punks:
do it yourself!
Já escrevi, em ocasiões passadas, sobre as ameaças de processo judicial feitas a blogueiros como Alessandra Félix, Edney Souza e Cristiano Dias. Esses imbróglios foram os primeiros indícios de que a visibilidade crescente dos blogs e a liberdade de expressão exercida por quem os escreve começavam a incomodar.
Pois bem, agora é oficial: surgiu o primeiro caso de um blog brasileiro retirado do ar por conta de um processo judicial. O caso, inédito no país, limou da Web o blog coletivo Imprensa Marrom (disponível para visitação apenas no cache do Google). O aspecto mais surreal desse imbróglio é que a ação foi motivada por um… comentário. O autor do processo sentiu-se ofendido por um comentário deixado no blog, entrou com uma liminar na justiça e o Imprensa Marrom saiu do ar.
O precedente é perigossímo. Em um país que teoricamente defende a liberdade de expressão, ver um site fora do ar por causa de um comentário que sequer foi redigido por seus autores é algo de kafkiano. Fernando Gouveia, que escreve na Internet com o pseudônimo Gravataí Merengue e é o responsável pelo registro do domínio imprensamarrom.com.br, não esconde a angústia com o caso e alerta, sem esconder sua ironia: “muito cuidado com os comments que vão ao ar. Apaguem tudo que pareça minimamente ofensivo, pois alguém pode optar por, em vez de pedir a retirada do comentário, simplesmente processar o blog“.
O aspecto mais aterrador de todo esse caso é constatar que mergulhamos, oficialmente, no território das incertezas. A partir desse precedente, sou obrigado a fazer alguns questionamentos sobre a natureza de meu blog. Até que ponto posso emitir as minhas opiniões sem que algum melindrado ameace tirá-lo do ar por algum critério subjetivo? Chegará o tempo em que necessitaremos de consultoria jurídica prévia para a publicação de um post? Vale a pena permitir a publicação de comentários, ou será mais prudente limitar a interação do meu blog? Devo me limitar a escrever sobre o cardápio do meu café da manhã e as cólicas do meu cachorrinho?
Com a palavra, Fernando Gouveia:
“Esta é a PRIMEIRA AÇÃO JUDICIAL promovida contra um blog por causa de comentário. Vamos criar jurisprudência. Essa causa, desculpe o pieguismo, é ‘de todos nós’. Não podemos deixar que ‘o outro’ ganhe essa ação, porque aí vai ser uma festa contra todos nós. Qualquer assuntinho mais polêmico pode ser alvo de uma medida assim, e os blogs definitivamente se condenam a ser um diarinho bundamole que versa sobre o umbigo do dono (e cuidado para que o umbigo - ou uma aliança do mesmo com o resto do abdômen - não processe o autor)“.
- « Página anterior
- Próxima página »
- 1
- (...)
- 4
- 5
- 6
- 7
- 8
- 9