Boa sorte, Presidente Dilma Rousseff
Por Alexandre Inagaki ≈ terça-feira, 02 de novembro de 2010
Pouco depois do anúncio oficial dos resultados finais do segundo turno, postei o seguinte no Facebook:
“Ufa, fim das eleições. Agora, duas torcidas: que Dilma Rousseff faça um excelente governo e que todo o tiroteio cruzado entre militantes xaatos de ambos os lados finalmente acabe. Afinal, estamos todos no mesmo barco, porra!”
Pena que um e outro espírito de porco ainda insiste em fomentar o espírito belicista que mediocrizou os embates políticos do segundo turno. Por vezes é duro manter a fé na humanidade.
Triste também a constatação de que o maniqueísmo insiste em pontuar as discussões políticas. Cito as palavras de João Villaverde: “Como todos sabemos, os torcedores nada entendem da realidade.” Uma frase que resume, por exemplo, o espírito de certos militantes tucanos que encheram a boca para criticar nomes como José Sarney, Delúbio Soares, José Dirceu e Fernando Collor, associados à campanha petista, mas nada diziam se recordados que, do outro lado, encontravam-se figuras do naipe de Heráclito Fortes, Ricardo Sérgio de Oliveira, Joaquim Roriz, José Roberto Arruda e Eduardo Azeredo. De resto, discussões pouco produtivas, que insistiam em depreciar o outro lado em vez de falar das próprias qualidades, ao pior estilo rotos vs esfarrapados.
De qualquer modo, é bom reiterar que o saldo das campanhas eleitorais na internet - apesar de terem ajudado a propagar o “lado B da campanha” - foi, sem dúvida nenhuma, positivo. Afinal, a rede apenas espelha a realidade off-line. É como bem lembrou André Forastieri:
“Os novos formadores de opinião são a força social mais poderosa do Brasil de 2010. E ela se fez ouvir, via internet. Por isso, 2010 ficará marcado como o ano em que tivemos a eleição mais democrática que este país já viu. Quem fala de recorde de baixarias de lado a lado tem memória curta - eleição para presidente é sempre na base da canelada mesmo. O que está em jogo é a chave do maior cofre do país, um dos maiores do mundo. Vale tudo, ou quase.”
Em tempo: as ilustrações deste post são de Leandro Caracciolo. Além de retratarem com precisão o espírito que assolou muitos dos militantes nestas eleições, são a melhor prova de que, numa discussão, não há contra-argumento mais certeiro do que o bom humor.
P.S.: No “Día de los Muertos”, aproveito para citar uma das passagens que mais aprecio da Bíblia: “Vai, pois, come a tua comida e alegra-te com ela/ Bebe o teu vinho com um coração feliz/ Pois Deus já de antemão se agrada das tuas obras/ Veste-te sempre de branco/ E que nunca falte óleo perfumado nos teus cabelos/ Goza a vida com quem amas/ Todos os dias da tua vida fugaz/ Porque esta é a tua porção nesta vida/ Pelo trabalho com que te afadigaste sob o sol.” (Eclesiastes 9.7-9)
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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