“And the Oscar goes to…“
Por Alexandre Inagaki ≈ quarta-feira, 01 de fevereiro de 2006
Será que um drama sobre dois cowboys homossexuais que sofrem ao viver o amor que não ousa dizer seu nome ganhará o Oscar de melhor filme na conservadora América de Bush Júnior? A julgar pelo seu histórico de premiações, sem dúvida nenhuma. Afinal de contas, “O Segredo de Brokeback Mountain” já recebeu o Globo de Ouro de melhor drama, o Leão de Ouro de Veneza e os principais prêmios dos sindicatos de diretores e produtores de Hollywood. Além disso, é a produção com maior número de indicações (oito) ao Oscar 2006: melhor filme, ator, ator coadjuvante, atriz coadjuvante, trilha sonora, diretor (Ang Lee), roteiro adaptado (Larry McMurtry & Diana Ossana) e fotografia (Rodrigo Prieto).
Na disputa com “O Segredo de Brokeback Mountain”, estão no páreo “Boa Noite e Boa Sorte” (6 indicações), dirigido por George Clooney, “Crash - No Limite” (6 indicações), de Paul Haggis, “Capote” (5 indicações), de Bennett Miller, e “Munique” (5 indicações), de Steven Spielberg. As cinco produções que competem ao Oscar 2006 de melhor filme também foram indicadas para a estatueta de melhor direção, fato que não se repetia desde 1982, quando “Carruagens de Fogo”, “Reds”, “Atlantic City”, “Caçadores da Arca Perdida” e “Num Lago Dourado” foram os finalistas de ambas as categorias. Spielberg, nome em comum nas indicações de 1982 e 2006, disputa pela sexta vez o Oscar de melhor diretor, sendo que já levou a estatueta duas vezes, por “A Lista de Schindler” (1993) e “O Resgate do Soldado Ryan” (1998). Não creio, porém, que ele seja capaz de tirar a premiação das mãos do taiwanês Ang Lee, indicado anteriormente por “O Tigre e o Dragão” (2000).
Outra aposta praticamente certa é Philip Seymour Hoffman, indicado para melhor ator por sua performance em “Capote”. Elogiado por suas atuações em filmes como “Boogie Nights” (1997), “O Grande Lebowski” (1998), “Magnólia” (1999) e “Quase Famosos” (2000), Hoffman finalmente recebe sua primeira indicação ao Oscar ao personificar o escritor Truman Capote, um dos mentores do “new journalism” e autor do clássico romance de não-ficção “A Sangue Frio”. Se confirmada a sua vitória, será uma das mais justas premiações dos últimos tempos. Concorrendo com Hoffman, estão Heath Ledger (“O Segredo de Brokeback Mountain”), Terrence Howard (“Hustle & Flow”), David Strathairn (“Boa Noite e Boa Sorte”) e Joaquin Phoenix (“Johnny & June”).
O Oscar de melhor atriz também possui uma favorita destacada: Reese Witherspoon. Considerada a “namoradinha da América” por suas atuações em comédias edulcoradas como “Legalmente Loira” (2001) e “E Se Fosse Verdade” (2005), Reese, assim como Hoffman, também interpreta uma pessoa real, no caso June Carter, cantora country e grande amor da vida de um dos maiores nomes da música norte-americana de todos os tempos, Johnny Cash, em “Johnny & June”. Vencedora do Globo de Ouro e do SAG (Screen Actors Guild), Witherspoon terá como principal concorrente Felicity Huffman, notabilizada por sua participação no seriado de TV “Desperate Housewives”, que vive um transexual em “Transamerica”. As outras três indicadas, que deverão se contentar em participar da festa, são Charlize Theron (“North Country”), Keira Knightley (“Orgulho e Preconceito”) e Judi Dench (“Sra. Henderson Apresenta”).
As categorias de coadjuvantes prometem maiores emoções. Entre os homens a disputa promete ser aguerrida, com leve favoritismo para Paul Giamatti (“A Luta pela Esperança”), que após ter sido injustiçado por dois anos seguidos ao não ter sido indicado por “Anti-Herói Americano” (2003) e “Sideways - Entre Umas e Outras” (2004), possui créditos de sobra junto à Academia. Mas a briga promete ser acirrada com George Clooney, que ao concorrer por sua atuação em “Syriana” conseguiu o feito de disputar três estatuetas numa mesma edição do Oscar, juntando-se as indicações de melhor filme e melhor direção por “Boa Noite e Boa Sorte”. Matt Dillon (“Crash - No Limite”), William Hurt (“Marcas da Violência”) e Jake Gyllenhaal (“O Segredo de Brokeback Mountain”) são os outros competidores.
Já a categoria de melhor atriz coadjuvante chama a atenção por apresentar duas das maiores injustiças do Oscar 2006: as ausências de Maria Bello e Scarlett Johansson. Não é a primeira vez que as duas atrizes são esquecidas. Bello, que brilhou em “Marcas da Violência”, já merecia ter sido indicada por “The Cooler” (2003), da mesma maneira que não deu para entender como é que a Academia ignorou as atuações de Scarlett em “Encontros e Desencontros” e “Moça com Brinco de Pérola”, ambos de 2003. Bello e Johansson prometem ser as versões femininas de Paul Giamatti nas próximas edições do Oscar. Mas enfim: azar para umas, sorte para Rachel Weisz, que graças a “O Jardineiro Fiel” deverá levar a estatueta para casa, apesar da concorrência de Amy Adams (“Junebug”), Catherine Keener (“Capote”), Frances McDormand (“North Country”) e Michelle Williams (“O Segredo de Brokeback Mountain”).
O Brasil mais uma vez sairá de mãos abanando do Oscar. Fernando Meirelles, a despeito de seu excelente trabalho na direção de “O Jardineiro Fiel”, se limitará a ficar na torcida para que seu filme fature alguma de suas quatro indicações (atriz coadjuvante, roteiro adaptado, trilha sonora e edição). “Dois Filhos de Francisco” também ficou na mão, uma vez que os selecionados à categoria de melhor filme estrangeiro foram “Don’t Tell” (Itália), Joyeux Noël (França), “Paradise Now” (Palestina), “Tsotsi” (África do Sul) e “Sophie Scholl - Os Últimos Dias” (Alemanha).
De resto, duas categorias merecem um destaque especial. Pela primeira vez desde que a categoria de melhor longa animado foi instituída, em 2002, nenhum dos três desenhos finalistas foi gerado por computador. “O Castelo Animado”, de Hayao Miyazaki, usa desenhos tradicionais, enquanto tanto “A Noiva-Cadáver” (que valeu a primeira indicação ao Oscar para Tim Burton) quanto “Wallace & Gromit - A Batalha dos Vegetais”, da dupla Nick Park & Steve Box, são animações à base de stop-motion.
Já na categoria de melhor trilha sonora, o destaque fica por conta do compositor John Williams. Ao ser indicado duplamente por seus trabalhos em “Munique” e “Memórias de uma Gueixa”, Williams tornou-se o músico com mais indicações ao Oscar: 45, sendo que em cinco delas o compositor predileto de Steven Spielberg foi premiado, por “Um Violonista no Telhado” (1971), “Tubarão” (1975), “Guerra nas Estrelas” (1977), “E.T., o Extraterrestre” (1982) e “A Lista de Schindler” (1993). Na disputa com Williams, estarão três compositores estreantes no Oscar: o argentino Gustavo Santaolalla (“O Segredo de Brokeback Mountain”), o italiano Dario Marianelli (“Orgulho e Preconceito”) e o espanhol Alberto Iglesias (“O Jardineiro Fiel”). A mais do que merecida indicação de Iglesias, autor de magníficas trilhas para filmes como “Os Amantes do Círculo Polar” (1998), “Tudo Sobre Minha Mãe” (1999) e “Fale Com Ela” (2002) compensa em parte minha decepção com o esquecimento de Danny Elfman, autor de dois ótimos trabalhos para duas produções de Tim Burton, “A Fantástica Fábrica de Chocolate” e “A Noiva-Cadáver”.
Outros grandes injustiçados do Oscar 2006: David Cronenberg e seu “Marcas da Violência”, Mickey Rourke (a melhor surpresa de “Sin City”), o “2046″ de Wong Kar-Wai (que merecia no mínimo uma indicação para melhor fotografia), Ralph Fiennes (sua performance em “O Jardineiro Fiel” é uma das melhores de sua carreira) e Naomi Watts (simplesmente cativante em “King Kong”).
Anote na agenda: a cerimônia de entrega dos prêmios da 78a. edição do Oscar será realizada dia 5 de março.
P.S. 1: Clique aqui para ver a lista completa de indicados.
P.S. 2: Texto originalmente escrito para o site da Antena 1.
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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