Afinal, o que querem as mulheres?
Por Alexandre Inagaki ≈ quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Se nem Freud descobriu o que querem as mulheres, oras, o que um pobre leigo feito eu vai saber? Mas enfim, como bem disse Federico García Lorca, “só o mistério nos faz viver”. Será mergulhando de cabeça no universo feminino (e dentro de si mesmo) que o escritor e psicólogo André Newmann, personagem que protagoniza a nova série de Luiz Fernando Carvalho, buscará a resposta definitiva para esse dilema.
A fim de saber mais sobre como a pergunta clássica de Freud virou uma série da Globo, participei de um bate-papo com o trio de roteiristas por trás de “Afinal, o Que Querem as Mulheres?”: João Paulo Cuenca (um baita escritor que acompanho desde os tempos do Folhetim Bizarro), Cecília Giannetti (outra autora de primeira revelada pela web, mas que também é conhecida por ser serial killer de seus próprios blogs) e Michel Melamed (que também atua e, dizem por aí, exercita dons esquizofrênicos no blog da série). O evento, que contou com a presença de diversos blogueiros convidados, girou em torno de assuntos como deadlines insanos, o desafio de criar uma obra experimental para um veículo popular como a Rede Globo, os bastidores da gravação (Ciça testemunhou uma imagem marcante: Vera Fischer de calcinha) e o que Cuenca descreveu como uma “mitificação masculina e boba”: a tal questão que batiza a série.
Foi instigante acompanhar de perto o brainstorm de sinapses e abstrações dos três. Como descreveram no encontro, o processo criativo foi uma insanidade total, movida por uma dieta à base de “Red Bull, cigarro e pizza.” Quem assistiu ao primeiro capítulo de “Afinal, o Que Querem as Mulheres?” pôde constatar que a série, exibida às quintas-feiras, espelha esse Big Bang criativo. Afinal, estes são tempos de discursos atravessados, de cacofonia de muitas pessoas falando ao mesmo tempo: uma lógica típica da internet, que se reflete no modo como sentimos e vivemos o mundo. “Afinal, o Que Querem as Mulheres?” é, pois, o retrato desta era confusa, misteriosa e cheia de possibilidades. Com pessoas que querem tudo ao mesmo tempo agora. E que nutrem, citando Giannetti, “desejos loucos, disparados, com setas para todos os lados”.
Um dos momentos destacados nos bastidores da criação da obra foram as gravações feitas por um Michel Melamed devidamente trajado com os figurinos do seu personagem, quando ele foi às ruas conversar com populares. Michel, que gravou depoimentos com cerca de 300 pessoas como se fosse André Newmann, descreveu esses momentos como “um manicômio no meio de um redemoinho”.
Melamed ainda destacou: “Impressionante como num mesmo metro quadrado séculos separam pessoas. Logo após encontrar meninas espertas e safadas, achei mulheres cabisbaixas acompanhadas por maridos que as impediam de falar.” Se antes era tudo razoavelmente planificável, hoje o mundo é multifacetado. No Twitter, não encontramos ao mesmo tempo gente fascista, homofóbica, liberal, islâmica, preconceituosa, pansexual? Pois é: o Twitter é a vida. Ou, como bem resumiram Cuenca e Melamed: “Toda esquina é um Twitter.”
Não é de se estranhar que a série trabalhe com diversos níveis e camadas de entendimento, enredados por metalinguagens e intertextualidades. Basta pensar que seu blog, que já estava no ar antes da série começar a ser exibida, foi criado por um personagem que ainda não existia, sendo escrito por um autor que também é um ator. E que, a partir do início da exibição em um veículo de mass media, tem a possibilidade de refletir as percepções dos telespectadores e os comentários deixados pelas “pós-popuzudas” e “afrodites blogueiras” (expressões de Melamed). Sendo que o blog, na real, não é necessariamente escrito apenas por Michel/André. Afinal, como resumiu ironicamente Cuenca, a série é o resultado da fusão criativa de “oito mãos, três membros e uma florzinha”.
E agora? Bem, recomendo que você acompanhe o site de “Afinal, o Que Querem as Mulheres?” e fique atento à programação: no total serão seis capítulos, todos eles exibidos por volta das 23:30, às quintas-feiras. Afinal, nem sempre temos a chance de poder acompanhar uma produção sui generis como esta, capitaneada pelo mesmo Luiz Fernando Carvalho de outras jóias como “Capitu” e “Hoje é Dia de Maria”, dando sopa na tevê aberta.
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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