Muitos achavam (inclusive eu) que a nona temporada de American Idol, programa mais assistido nos Estados Unidos na atualidade, seria a derradeira. Porque, oras, a fórmula repetida com sucesso desde 2002 dava sinais de esgotamento. De quebra, foi a última com a presença de Simon Cowell - inglês rabugento que era, indiscutivelmente, o jurado mais carismático e qualificado do programa. Cowell decidiu que, a partir de 2011, se dedicará à produção e apresentação da versão americana de X-Factor, programa ao melhor estilo Show de Calouros.
Eu, na condição de telespectador assíduo do reality show há anos, lamentava pelo final do American Idol. Mas fui surpreendido positivamente pela renovação do júri, com as presenças de Jennifer Lopez e Steven Tyler, que deram novos e bem-vindos ares ao programa. Mas tergiverso, tergiverso. E tudo para comentar que aproveitei o pretexto para publicar mais uma listinha por aqui: vídeos com as nove melhores performances do American Idol de todos os tempos.
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9.Chris Daughtry (temporada 5) - “Hemorrhage (In My Hands)”. A participação de Daughtry mudou a história do American Idol. Se antes os grandes competidores do reality show destacavam-se por cantar músicas pop ou standards clássicos, este roqueiro careca e boa pinta fez com que o rock’n'roll ganhasse de vez seu devido espaço na competição. Daughtry foi eliminado precocemente, ficando apenas na quarta colocação em um resultado que ainda causa controvérsias, mas fez de sua performance de “Hemorrhage (In My Hands)” algo tão marcante que fez com que a banda que gravou originalmente esta música, o Fuel, o convidasse para assumir os vocais do grupo. O convite não foi aceito; ao invés disso, Daughtry criou uma banda com o seu nome, vendendo mais de 4 milhões de cópias do seu álbum de estreia.
A recepção de um filme depende bastante das expectativas que você nutre a respeito da obra. Para mim, foi natural alimentar grandes expectativas a partir do momento em que soube que Alice no País das Maravilhas, clássico da literatura nonsense infantil escrito por Lewis Carroll, ganharia uma versão cinematográfica capitaneada por Tim Burton. Um cineasta que, embora não seja um dos meus prediletos, é inequivocadamente criativo e original; quem já assistiu a filmes como Edward Mãos-de-Tesoura, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça e Sweeney Todd: o Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet já tem uma boa ideia de como é o universo bizarro e fantástico que perpassa toda a obra de Burton.
“1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 - então o 11, e você começa tudo outra vez”. Onze, a renovação da dezena: assim interpreta Joseph Campbell em O Poder do Mito. Viver é começar de novo, e de novo, e de novo. Nada mais apropriado, pois, do que uma edição número onze no dia em que se celebra a ressurreição de Cristo: morte e renovação.
Toda mudança carrega em si um pouco de morte e mais um tanto de renascimento. Como o adulto de hoje, que precisou matar muitas atitudes e ilusões da infância para se tornar o que é. Como eu, que assassinei, a sangue frio, muitos dos mitos que carreguei comigo em meus “wonder years“: o Papai Noel, o coelhinho da Páscoa, o “bom selvagem” de Rousseau, a minha futura carreira de cantor de rock, os amores que um dia se foram (sempre me identifiquei com o Charlie Brown, em seus constantes desencontros com a garotinha ruiva).
Hoje sou um homem mais cínico e cético do que gostaria, mas acredito que dentro da dosagem necessária para sobreviver a um mundo que vem sem manuais de instrução ou botes salva-vidas. Sei um pouco a respeito das engrenagens sujas que movem o teatro da vida, o bastante para acreditar que um pouco de ignorância é pressuposto fundamental para ser feliz no mundo em que vivemos. Mas, acima de tudo, tenho esperanças.
Sim, tenho esperanças. Não que eu seja um daqueles caras que acreditam que basta juntarmos nossas mãos e cantar “Imagine” para mudar o mundo: meu lado cínico não resiste a fazer piadas sobre hippies emaconhados (não aqueles mauricinhos da novela das seis, assépticos e domesticados como o som de uma boy band), ou esquerdistas que guardam suas camisetas com a foto do Che Guevara penduradas ao lado de suas calças Fórum e t-shirts Nike.
Minhas esperanças não estão atreladas a nenhum credo ou religião. Não tenho ídolos nem líderes a seguir, que pudessem me guiar em meio à alienação, ao tédio e ao torpor de um mundo devastado por guerras estúpidas, preconceitos acéfalos, desigualdade social e falta de amor. Não leio livros de autoajuda, não sigo paradas de sucesso, não faço doações à LBV, não sei qual é o sentido de nossa passagem por aqui e, por favor, não desejo receber nenhum anexo de Power Point com mensagens edificantes sobre a humanidade.
Tampouco sei porque fui acometido com estas reflexões. Talvez seja porque não ganhei nenhum ovo de Páscoa.
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P.S. 1: O texto acima foi publicado originalmente na edição 011 do SpamZine, em 15 de abril de 2001. À guisa de contextualização: o SZ foi um fanzine, distribuído semanalmente por e-mail para mais de 3.500 assinantes previamente cadastrados, que durou 93 edições e circulou de fevereiro de 2001 a novembro de 2003. Criação minha e do cumpadi Ricardo Sabbag, o SpamZine surgiu na esteira do seminal CardosOnline, mailzine criado por André Czarnobai, a.k.a.Cardoso, que influenciou toda uma geração de novos autores que encontrou na internet o espaço ideal para divulgar seus trabalhos e achar novos comparsas.
Ao longo de pouco mais de dois anos, o SpamZine publicou textos de autores do naipe de Orlando Tosetto Junior, Nicole Lima, José Vicente, Eduardo Fernandes, Suzi Hong, Cecilia Giannetti, Índigo, André Machado, Ian Black, Mateus Potumati, Ione Yoshida de Moraes, Fábio Fernandes e Daniela Abade. Porém, como tudo que está na internet é volátil feito fama de ex-participantes de reality show, o site do Spam Zine saiu do ar, deixando poucos vestígios na web. Do mesmo modo, diga-se de passagem, que outros ezines contemporâneos daqueles tempos pré-blogs, como o Tijolão, o Alfinete, o MOL e o Ogden (o Givago é um dos raros que ainda mantém um site).
Mas enfim, como diz aquele clichê amarfanhado, recordar é viver. Citei o SpamZine em uma entrevista que dei a Augusto Nunes para o site da Veja. Bom pretexto para resgatar este texto sobre a Páscoa e lembrar dos bons tempos em que fui editor de um fanzine rodado em um mimeógrafo virtual. B)
P.S. 3: Minhas opiniões sobre a Páscoa, escritas há nove anos, são essencialmente as mesmas. Mas houve ao menos uma diferença essencial neste ano de 2010: ganhei um ovo de Páscoa. ;)
Há músicas que devem ser ouvidas como quem se entrega a um beijo e se deixa levar: de olhos fechados. Há certas canções que possuem o dom de me fazer viajar longe, na sala escura da imaginação, enquanto o projetor da minha mente exibe um videoclipe composto por associações inusitadas e memórias que subitamente retornam, feito madeleines musicais, resgatadas por certas melodias, riffs e acordes que reverberam momentos do passado que fizeram ser o cara que sou agora, com todos os meus erros, tentativas e acertos.
Bastaram alguns minutos para fazer a constatação: a tarefa de selecionar as cinco melhores músicas do Rei não seria nada fácil. Mal recordava de algumas gravações, logo outras tão boas quanto surgiam no meu jukebox mental reivindicando seu espaço.
Sei que muitos me questionarão: como pude, por exemplo, deixar de lado “Outra Vez” (1977), composição de Isolda sobre “a mais estranha história que alguém já escreveu”? Ou “Cavalgada” (1977), talvez a melhor descrição de uma noite de sexo já feita por uma canção da MPB (“Vou cavalgar por toda a noite/ Por uma estrada colorida/ Usar meus beijos como açoite/ E a minha mão mais atrevida/ Vou me agarrar aos seus cabelos/ Pra não cair do seu galope”)? E o que dizer de outros clássicos como a balada “As Curvas da Estrada de Santos” (1969), o soul/gospel de “Jesus Cristo” (1970), a tristemente bela “À Distância” (1972), cuja versão em italiano fez parte da trilha sonora do filme Violência e Paixão, de Luchino Visconti, ou a catártica “Fera Ferida” (1982)? Enfim, que cada um faça as suas listas; o que importa mesmo é saudar a obra deste artista que está celebrando 50 anos de carreira. Continue Lendo
Bloqueio criativo. Eu, que por tantas vezes me vi diante de um papel em branco ou de um documento no Word, lutando para encontrar palavras represadamente encalacradas em algum lugar do meu cérebro, sou bem mais familiarizado do que gostaria com os sentimentos de angústia e frustração de alguém martirizado pelo writer’s block. E o problema nem é de falta de idéias; elas surgem aos borbotões. O grande drama, ao menos para mim, está em me organizar a fim de alinhar todos os impulsos criativos em fila indiana e explorar as possibilidades de cada idéia até o final, ao invés de abandoná-las após rascunhar um ou dois parágrafos e tweets e largá-las, como um amante que ejacula precocemente e não liga no dia seguinte. Mas enfim, tergiverso, tergiverso.
Nine, o novo filme de Rob Marshall, diretor de Chicago, é uma releitura de Oito e Meio, clássico de Federico Fellini cujo tema é metalinguístico até a medula: um cineasta em crise criativa e existencial que não sabe como começar seu próximo filme, mergulhado no impasse de um bloqueio criativo. Continue Lendo
Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.