Você já conhece a Cia. Barbixas de Humor? Em caso de resposta negativa, não se apoquente: ainda há tempo de se corrigir essa grave lacuna cultural. Pois o Barbixas é um power trio que, (ins)pirado por grupos como Monty Python e Gato Fedorento, produz esquetes humorísticas que buscam trazer entretenimento saudavelmente burlesco a toda a família brasileira, em especial para aquelas suas priminhas ninfetas.
O Barbixas é composto por três atores: Daniel Nascimento (“Com apenas 25 anos, foi procurado pela polícia rodoviária de todo país por dirigir sem carro. Após cumprir 43 anos de pena em prisão domiciliar, teve sua pesquisa sobre viagem no tempo interrompida. Estava grávido de Luis Carlos Prestes”), Anderson Bizzocchi (“Tem uma ONG voltada para homens que gostam de usar peruca de mulher, é pai de três filhos que não conhece e acredita em inseminação artificial”) e Elidio Sanna (“Com vasta experiência no mundo teatral, foi servente do Teatro Ruth Escobar e zelador do Teatro Escola Pereira Aguiar. Atualmente é urologista, mas não acha graça nenhuma nisso”). Caracterizados pela extrema pontualidade, estão em cartaz no Teatro Jaraguá, em São Paulo, com a peça “Em Breves”, encenada todos os sábados às 23:58. Continue Lendo
Eu me lembro dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, quando o corredor braziliense Joaquim Cruz ganhou a medalha de ouro na prova dos 800 metros rasos. O país todo celebrou a conquista inédita, esquecendo do fato de que Joaquim, tal qual diversos outros atletas brasileiros, havia se tornado medalhista olímpico por sua própria conta e risco. A vitória de Cruz foi um triunfo pessoal, construído à base de muitos sacrifícios e treinamentos em Utah, EUA, custeados graças a uma bolsa oferecida por uma universidade local. Não me esqueço de que, um dia após a vitória de Joaquim Cruz, a Globo quis lhe presentear com uma casa própria, devidamente recusada pelo atleta, que prontamente questionou: “Por que não me deram uma casa no começo da minha carreira, quando eu realmente precisava de uma?”.
Os anos se passaram, mas há certas coisas que não mudam neste país. Quando um brasileiro vence, torna-se orgulho nacional e a conquista é compartilhada por toda uma nação. Porém, quando esse mesmo atleta sai de mãos abanando da disputa de um pódio, é tachado de “amarelão” e vira motivo de comentários genericamente depreciativos, bem ao estilo das piadas que há anos são feitas com Rubens Barrichello, duas vezes vice-campeão de Fórmula 1. Quando um brasileiro torna-se campeão, pouco importa que sua carreira tenha sido construída no exterior, como nos casos de Joaquim Cruz e César Cielo Filho, vencedor da prova dos 50 metros rasos nas piscinas de Pequim 2008 e que treina há anos na Universidade de Auburn, no Alabama. Afinal de contas, estes medalhistas representam “todo o nosso país”, certo?
Errado. O Brasil é um país de torcedores chorões que adoram reclamar do desempenho de nossos atletas, quando deveriam focar suas críticas em dirigentes incompetentes, ausência de políticas de planejamento a longo prazo e políticos que só aparecem quando surge um medalhista olímpico na tela da TV. Esse bando de reclamões consegue me deixar quase tão irritado quanto certas transmissões televisivas que botam câmeras nas casas de parentes de atletas e só conseguem flagrar declarações pífias de tias e avós lacrimejantes, um recurso tacanho que virou clichê insuportável.
Sim, eu fico emocionado quando revejo no YouTube o vídeo com o Hino Nacional Brasileiro sendo executado durante a cerimônia de premiação, embora eu não consiga me acostumar com a versão que é tocada atualmente, apenas com a primeira estrofe e os últimos versos, cortando-se todo o restante. E fiquei mais do que feliz com a conquista admirável de César Cielo, a primeira medalha de ouro de toda a história da natação brasileira. Mas que fique bem claro: como bem ressaltou Flávio Gomes, esse ouro “caiu do Cielo”. Não foi mérito do COB, da CBDA ou do Ministério dos Esportes, muito pelo contrário. Como bem destacou o pai do nadador na entrevista que concedeu à ESPN Brasil, essa vitória é um mérito muito maior da família de um atleta abnegado, que aos 21 anos abdicou de baladas e namoros a fim de se concentrar em treinamentos espartanos nos Estados Unidos, longe do país que hoje celebra uma vitória essencialmente pessoal.
Vale a pena lembrar que a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, que certamente custeou a ida de muitos dirigentes para Pequim, não pagou os ingressos para que a família de César Cielo Filho pudesse assistir à sua vitória. E que, como informa o blog de Mauro Cezar Pereira, o campeão dos 50 metros rasos perdeu o patrocínio dos Correios porque optou por treinar fora do Brasil. Agora que Cielo Filho é campeão olímpico, certamente choverão ofertas generosas de patrocínios. Contudo, é preciso recordar o tapa que Joaquim Cruz deu na cara de todos os pachecos patriotas em 1984: na hora em que os atletas mais precisam de apoio, dinheiro e condições para treinar, quem aparece para ajudá-los a pagar as contas?
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P.S. 1: Lágrimas olímpicas foram o tema da primeira coluna que escrevi para o Yahoo Posts, intitulada “Pedras Preciosas da Ilusão”. Toda segunda-feira assinarei um texto inédito por lá.
P.S. 2: Já está no ar uma das melhores iniciativas surgidas na blogosfera brasileira nos últimos tempos: Lablogatórios, primeiro condomínio de blogs de ciência do país. Boa sorte a todos os envolvidos, em especial aos meus camaradas Carlos Hotta e Atila Iamarino!
P.S. 3: Fiz uma espécie de “crítica às críticas”, mas quando elas são engraçadas, tudo zen: bom humor é um álibi definitivo. Vide o blog Bronze Brasil 2008, que em seu post comentando o ouro de Cielo, escreveu: “O ouro não é propriamente uma vergonha, como a prata. É apenas uma forma de fechar os olhos para as dificuldades e falta de apoio ao esporte no nosso país. Prefiro pensar que Cielo nao foi bom o suficiente para mesclar a força e a lentidão necessárias para ficar com o bronze”.
O ano era 1993. Após ter passado quatro anos sem gravar um álbum de canções inéditas, Chico Buarque pensou que havia perdido a mão para compor. O fato de ter dedicado boa parte desse hiato musical escrevendo seu primeiro romance, Estorvo (publicado em 1991), fez com que ele tivesse perdido o hábito de pegar o violão e compor novas letras e melodias com a naturalidade de outros tempos. E, se antes os acordes vinham quase que de bate-pronto, dessa vez a busca pela inspiração musical foi acirrada; versos e sons surgiam meio que arredios, como um gato de estimação que não lhe vê há tempos e arranha suas mãos na primeira tentativa de carinho.
Porém, ninguém se torna um Chico Buarque à toa. Após algumas semanas de labuta, eis que o Mestre compôs uma nova fornada de canções registradas no álbum Paratodos, metaforizando todo o tempo que passou distante da música em “De Volta ao Samba”, na qual diz: “Pensou que eu não vinha mais, pensou/ Cansou de esperar por mim/ Acenda o refletor/ Apure o tamborim/ Aqui é o meu lugar/ Eu vim”. Continue Lendo
Pense Nisso!
Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.