Sinto inveja da desconcertante criatividade das crianças que, sem cabecismos concretistas ou ambições pseudo-literárias, de repente criam do nada sacadas poéticas como esta: - A cor do céu depende da hora, do tempo e de quem olha. Quem diz que o céu é azul, nem desconfia que, de noite, ele pode ser preto e, quando vai anoitecendo, pode até ser rosa ou vermelho. Quem diz que o céu é azul é analfabeto de céu.
Adultos são o que as crianças se tornam depois que começam a produzir hormônios e a largar sonhos pelo caminho. E é assim que nos tornamos maduros, responsáveis e burrocráticos. Não é de se estranhar, pois, o sucesso da coluna que o dramaturgo e pediatra Pedro Bloch publicava toda semana na revista Manchete, intitulada “Criança Diz Cada Uma”. Nela, Bloch narrava tiradas espontâneas e engraçadíssimas, protagonizadas pelas crianças (de 3 a 11 anos de idade) que passavam pelo seu consultório (como a fala sobre a cor do céu do parágrafo acima).
Bloch compilou seus achados em dezenas de livros, dentre eles o Dicionário do Humor Infantil, meu predileto dentre todos por ter sido valorizado pelas ilustrações de Mariana Massarani, também autora de seis livros para crianças. Pena que o livro está fora de catálogo; tive de perambular por vários lugares até achar um lugar a fim de encontrar um exemplar para minha namorada. ;) Como não sou egoísta, compartilho aqui algumas das melhores definições deste sensacional dicionário: Continue Lendo
A Revista Bula fez uma pesquisa junto a 400 usuários de Web, selecionados entre jornalistas, escritores, publicitários, alunos e professores da UNB, UFG, UEG, UEL, UFMG, UFRJ e USP, em parceria com o Laboratório de Pesquisas de Opinião Pública e de Mercado da UEG/GO. A pergunta realizada: quais são os blogs mais influentes do Brasil? Fiquei honrado em saber que Pensar Enlouquece ficou em primeiro lugar na pesquisa, à frente de blogs das mais díspares tendências políticas (Paulo Henrique Amorim de um lado, Reinaldo Azevedo do outro) ou mantidos por jornalistas como Daniel Piza, Luis Nassif e Ricardo Noblat. Obrigado a todos que se lembraram do Pensar Enlouquece neste levantamento feito pela Revista Bula, e em especial aos leitores que constantemente me motivam a permanecer escrevendo neste blog há mais de cinco anos.
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Ontem vi um jogo histórico: a vitória da seleção feminina de futebol, que massacrou os Estados Unidos, atuais campeões olímpicos, por 4 x 0. Um espetáculo de bola, futebol-arte como não se via há tempos. A prova inconteste do que afirmo? O compacto que exibe flashes da equipe comandada com maestria por Marta. Não me canso, em especial, de rever o segundo gol que a melhor jogadora do mundo fez, mostrando que pés são capazes de traçar obras-primas com uma bola e um talento para desentortar zagueiros que remonta aos grandes momentos de Mestre Garrincha.
O mínimo a fazer é visitar o site da Fifa e eleger a obra-prima de Marta o gol mais bonito da Copa. E torcer por essas garotas na final da Copa do Mundo: domingo, dia 30, às 9 horas da manhã, contra a Alemanha, atual campeã mundial.
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Fal Azevedo, após ter passado pela mais difícil das perdas, voltou a escrever em seu Drops da Fal. A vida, a despeito dos golpes que ela nos dá, segue. E no dia 6, os amigos da mais carismática das blogueiras se reunirão a fim de tentar retribuir um pouco de todos os sorrisos, insights e carinho distribuídos por Fal em seu blog e seus livros. Deixo aqui o convite aberto para quem queira participar do encontro.
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Humor que se preze é sempre do contra. Tem de haver um quê de escárnio, de anarquia, de corrosão, a fim de instigar os pensamentos. Meus amigos da Olaria Mambembe de Humor Grandes Bosta, que recém-inauguraram suas suntuosas instalações na Web, são exímios nessa arte por vezes incompreendida de entortar convenções, provocar sinapses e, last but not least, causar gargalhadas no mais incauto dos espectadores. Bom exemplo do que digo: o vídeo de “Sergei”, esquete musical que integra o espetáculo Coçando o Saccro, em cartaz a partir do dia 29 de setembro no Teatro Folha.
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Um breve talagada de Paulo Leminski para encerrar bem este post.
Eu até imagino que esta deva ser uma paródia ao clima de paranóia e xenofobia que tomou conta de parcela considerável da população norte-americana, em especial após os atentados de 11/09. Aliás, quero acreditar que esta seja uma paródia. Porque é indisfarçável a sensação de incômodo que tive após ter encontrado esta animação em Flash supostamente voltada a crianças: “Por Que Os Terroristas Querem Me Ferir?”. Este “livro infantil” também já está no YouTube, disponibilizada dentro de um canal intitulado The Official Johnny Freedom Fan Club. Confiram o vídeo e me ajudem a chegar a alguma conclusão.
O autor desta pérola da pedagogia do medo, l, descreve a si mesmo como um bom cristão nascido em 1966 em Dallas, Texas. Conheceu a sua esposa, Vicky, durante uma convenção nacional do Partido Republicano. Abalado pelos atentados de setembro de 2001, Archibald teria se convencido de que era necessário “proteger” as crianças dos Estados Unidos das ameaças contemporâneas, e começou a criar uma série de livros com a intenção de passar a elas os “bons e velhos valores americanos”. Sua primeira obra, datada de 2003, foi esta: “A Bíblia Diz: Garotos Usam Calças, Garotas Usam Vestidos”.
Outra obra deste cidadão com nome de oficial britânico é esta: “Fronteira Fora da Ordem”. Um trabalho que, se tivesse sido escrito por um francês, certamente teria sido aprovado por Jean-Marie Le Pen.
Até agora não cheguei à conclusão se Archibald Campbell é um doido varrido ou um satirista talentoso. Mas, neste mundo superpovoado por analfabetos funcionais, não posso deixar de pensar que, neste mundo no qual um presidente com cara de modelo da Mad como é George W. Bush foi eleito para exercer dois mandatos graças ao voto popular, há muitas piadas que são levadas a sério até demais.
Até o leitor mais desatento deve ter reparado que meu blog estampa, há vários dias, um superbanner e a barra do iG. Pois é, agora todos os sites do InterNey estão devidamente hospedados no portal iG. Edney Souza conta tudo sobre a parceria InterNey/iG em um excelente FAQ. Também conversei com o Guilherme Felitti, que escreveu uma matéria para o IDG Now! sobre a era “Ig-terney Blogs”.
Agradeço as citações feitas ao meu pouco santo nome em vão nas capas elaboradas para divulgar as “campanhas” de Marina Santa Helena, Luiza Gomes e Nathalia Grün para a Playboy, e de Mirian Bottan para a capa da Rolling Stone. Este blog apóia entusiasticamente todas as empreitadas, mas faz a devida ressalva: mantenham os três pés atrás se vocês se depararem com estranhas campanhas tentando pegar carona nestas iniciativas descompromissadamente descontraídas.
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Notícia que encontrei no ALT1040: tanto a carência quanto o excesso de sono duplicam os riscos de morte por enfermidades cardiovasculares. No caso específico deste insone que costuma dormir em média 5 horas por dia, posso dizer: estou lascado. XX(
Ian é o idealizador da Absolut Blogs, série de garrafas customizadas com os logos de seus blogs prediletos. Seguiu assim o exemplo da famosa marca de vodca sueca, que lançou recentemente duas garrafas com ilustrações feitas pelos artistas plásticos Nelson Leirner e Daniel Senise, produzidas em edição limitada colecionável. Bem, ao menos a Absolut versão Pensar Enlouquece pode ser apreciada sem qualquer moderação. ;D
Chico Buarque tornou-se unanimidade nacional, e não é à toa. O cara é bom, muito bom. A ponto de afirmar que, se minha mulher me chifrasse com ele, eu seria capaz de ficar orgulhoso e de alardear para todos os meus amigos: eu fui corneado pelo Chico Buarque!
Mas, falando sério, embora eu ainda considere que sua obra-prima seja Construção, gravado em 1971, o fato é que ao longo dos anos Chico tem mantido uma invejável forma artística, além de ter publicado ao menos dois belos romances: Estorvo e Budapeste. Porém, o motivo que me levou a publicar este post foi ter encontrado, no excelente blog da Ticcia, um vídeo extraído do especial que o filho do Sérgio Buarque de Holanda gravou para a Band, por ocasião do lançamento de Paratodos, em 1993. Trata-se de uma preciosidade: nele, Chico Buarque explica o gênese da composição de “Futuros Amantes”, mais uma dentre tantas de suas obras-primas.
Tendo a Cidade Maravilhosa ao fundo, Chico devaneia e ilumina seus admiradores com a história de como surgiu a inspiração para a letra de música: Continue Lendo
Se “tudo que é sólido desmancha no ar”, como diziam Marx (não o Groucho) e Engels, o que dizer da Internet, esta interface efêmera por natureza? Um exemplo: ainda guardo em meu winchester um arquivo com meu bookmark de 1998, gerado pelo Netscape, na época o navegador utilizado por cerca de 70% dos internautas. Hoje em dia quantos o utilizam? E quantos ainda têm o costume de salvar páginas de Web, nestes tempos de Delicious e StumbleUpon?
Embora não seja prática recorrente, devo dizer que foi bom ter feito backup de alguns sites que não deixaram nenhum resquício digital de sua existência, nem no cache do Google, nem no Internet Archive. Web é um cemitério sem ossos, implacável com o volátil legado virtual de sites que saiam do ar. Continue Lendo
Com quase dois meses de atraso, cá estou respondendo à convocação feita por Leonardo Luz, da Revista Papo de Homem e do blog Eu e Meu Ego Grande, que criou um dos melhores “memes” dos últimos tempos: Top 10 Filmes pra Macho.
Creio que a quintessência do gênero “filme pra macho”, que pode ser resumida pela chamada-clichê das produções exibidas no Domingo Maior (“é ação do começo ao fim”), está sintetizada em uma cena de Stallone Cobra (1). Que está disponível do YouTube da melhor maneira possível: por meio de uma seqüência digitalizada de uma reprise no SBT, com direito a dublagem mega-ultra-plus-blaster tosca. Sylvester Stallone proferindo um diálogo como “você é um cocô” é algo simplesmente imperdível.
Outro grande momento do cinema-porrada é Dirty Harry (2), que ganhou no Brasil o título de Perseguidor Implacável. Trata-se do primeiro filme protagonizado pelo detetive policial Harry Callahan, interpretado por Clint Eastwood. Um homem que não hesita em torturar e encher suspeitos de balas, que é pra aprenderem a não mexer com o macho errado. Na cena a seguir, Clint cunha um dos diálogos mais famosos do cinema: “You’ve got to ask yourself one question: ‘Do I feel lucky?’ Well, do ya, punk?”
Não poderia, porém, elaborar uma lista dessas sem citar os filmes que foram fundamentais para a minha formação de japaraguaio safado desde criancinha: as pornochanchadas da Sala Especial, sessão de filmes brasileiros exibida pela TV Record nos anos 80. Vários são os títulos que minha memória me obriga a citar: Os Bons Tempos Voltaram - Vamos Gozar Outra Vez (3), Histórias que Nossas Babás Não Contavam (4), O Bem Dotado, o Homem de Itu (5) e o mais impagável de todos, A Super Fêmea (6). Obra-prima da tosquice, narra a história de uma campanha publicitária para o lançamento de uma pílula anticoncepcional para os homens. Vera Fischer, na época com 18 anos, interpreta a garota-propaganda encarregada de incentivar o uso da pílula masculina com slogans de sutileza paquidérmica como “Não dê moleza ao seu pinto”. Pertence a este filme um dos diálogos mais infames de todos os tempos: - Você acredita em ETs?
- Eu não. Eles são muito mentirosos! O cinema nacional merece mais duas menções honrosas. Uma, por conta de A Estrela Nua (7), filme protagonizado por Carla Camuratti que possui uma cena digna de menção em qualquer enciclopédia: a seqüência em que a diretora de Carlota Joaquina corta seus pêlos púbicos, faz um baseado com eles e… fuma. Fotos mais reveladoras desta cena antológica estão disponíveis no blog Lobotomia Phase II. Outro crássico do cinema brasileiro é Rio Babilônia (8). Dirigido por Neville D’Almeida em 1982, é um filme que retrata um Rio de Janeiro em plena época de desbunde e ditadura militar: cenas de “sacanageral”, regadas a muito sol, cocaína e orgias, tornaram este filme um marco inenarrável na adolescência de muitos jovens inebriados pela desfaçatez com que atrizes globais como Christiane Torloni e Denise Dumont exibem seus corpos. Denise, diga-se de passagem, protagoniza ao lado (de frente e de costas também) de Pedrinho Aguinaga e Joel Barcellos o mais polêmico ménage à trois de toda a história do cinema brasileiro, quiçá mundial, dentro de uma piscina. Em entrevista concedida a Christiana Albuquerque, da revista “Quem Acontece”, Neville, ao ser questionado se o ménage na piscina chegou às vias de fato, tergiversa: “A cena é tão boa, tão fantástica, que ninguém consegue esquecer. Fico admirado de que 20 anos depois as pessoas continuem falando dela. A idéia não era consumar. Mas o fotógrafo filmou: a água estava transparente, o Joel estava excitado, as coisas foram acontecendo… Até hoje não sei se rolou ou não. Essa cena é fantástica, uma das maiores seqüências da história do cinema”.
Mas seqüência afrodisíaca mesmo é a estrelada por Rebecca Romijn em Femme Fatale (9), de Brian de Palma. Ao macho que assistir a esta cena e não sentir nenhuma reação advinda do seu corpo, dou o mesmo conselho dado pelo Pelé naquela propaganda de Viagra: “Fale com seu médico. Eu falaria!”.
Para encerrar este Top Ten com chave de ouro, uma obra-prima do cinema mundial: Era Uma Vez no Oeste (10), de Sergio Leoni. Dois dos maiores ícones da macheza em todos os tempos, Charles Bronson e Henry Fonda, disputam os favores amorosos de Claudia Cardinale enquanto protagonizam uma história de vingança no velho oeste. A cena a seguir é do tiroteio final do filme. Pra macho nenhum botar defeito.
Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.