Amor não se escolhe; simplesmente acontece. Tudo seria muito mais simples se pudéssemos escolher a pessoa por quem nos apaixonamos. Não correríamos o risco de amarmos sem sermos correspondidos, não cairíamos na cilada de oferecer nosso coração a quem não fizesse por merecê-lo… Enfim, esses riscos que todos que já amaram alguma vez sabem muito bem quais são. Mas, como diria Riobaldo, viver é muito perigoso.
Neste final de semana meu time foi rebaixado para a terceira divisão do Campeonato Brasileiro. Mais uma dentre tantas decepções que eu, na condição de torcedor do Guarani Futebol Clube, tenho amargado nos últimos anos. Situação desgraçadamente corriqueira a torcedores que amam incondicionalmente o seu clube e que, feito eu, vivem em constante sofrimento: somos um bando de masoquistas ludopédicos. Por vezes me sinto como um marido cuja esposa me chifra inúmeras vezes, com meus melhores amigos, na minha própria cama. Ao chegar em casa, vejo seus amantes refestelados em meu sofá, com os pés na mesa e tomando da minha cerveja. E eu, na condição desgracenta de corno apaixonado, sou incapaz de ensaiar alguma represália, porque continuo amando essa ingrata desgraçada acima de tudo.
É duro acessar diariamente sites e rádios online e tomar conhecimento do amontoado de notícias deprimentes relacionadas ao meu Bugrão. Salários atrasados, jogadores despejados de flats por falta de pagamento, atletas que recorrem à Justiça para abandonar o time, total falta de recursos financeiros fazendo com que falte comida para os jogadores das divisões de base, torcida depredando a sede revoltada com os recentes resultados, etc etc. Faltam perspectivas, faltam alentos, faltam razões cartesianas para que eu possa vislumbrar dias melhores para o Guarani.
Mas o amor fomenta esperanças nos terrenos mais estéreis. Diante disso, abstraio as perspectivas sombrias, as piadas de outros torcedores, as decepções dos últimos campeonatos. É como diz o nosso hino: “Avante, avante meu Bugre/ Que nós vibramos por ti/ Na vitória ou na derrota/ Hoje e sempre Guarani“. Tenho a plena consciência de que meu time de coração não possui a mesma estrutura, muito menos o orçamento ou a quantidade de títulos arrematados por outras “grandes” agremiações. Ainda assim, sou capaz de vislumbrar na escassez de títulos um lado positivo: ao contrário de outros torcedores mal-acostumados, vibro intensamente com cada vitória conquistada, cada gol feito, cada avanço na tabela do campeonato.
Meu Bugrão permanece sendo o único clube do interior que foi campeão brasileiro (1978), além de ter conquistado a Taça de Prata (1981), a Taça dos Invictos (1970), a Taça São Paulo de Júniores (1994) e o bicampeonato da Copa Toyota de Futebol Juvenil no Japão (2001/2002). Também bateu recordes que perduram até hoje, como a de melhor ataque em campeonatos brasileiros (em 1982 o ataque formado por Lúcio, Jorge Mendonça, Ernani Banana e Careca fez 63 gols em 20 jogos - média de 3,15 gols por partida) e vitórias consecutivas (doze, em 1978). Pena que toda essa tradição de nada adianta no momento presente. A vida é assim mesmo: promessas de amor não valem nada, e se dissipam, voláteis, no etéreo território das ilusões.
Neste momento difícil, solidarizo-me com o sofrimento vivido por outros irmãos de sangue alviverde, como Bruno Ribeiro e Delfin, e busco forças em todos os bons momentos proporcionados pelo meu Bugrão, desde o primeiro jogo que assisti em um estádio (Guarani 3 x 2 América-RJ, em jogo válido pelo Brasileiro de 1980).
Afirmou Sergio Fonseca: “amor que não dói não é amor“. Viver é assimilar os socos desferidos na alma e prosseguir combatendo nas batalhas do dia-a-dia. E o amor é como uma lente de aumento que amplifica cada mínimo detalhe do cotidiano. Assim é a minha paixão pelo Guarani: uma profissão de sangue, coisa para poucos e privilegiados iluminados, cujos corações foram tocados por algo maior e inexplicável. Porque o amor desnorteia, e faz com que a lógica cartesiana dance rumba e saia de fininho.
Haja o que houver, eu sempre afirmarei que sou feliz, e muito, por possuir o privilégio de torcer para o Bugrão. Com muito orgulho. Com muito amor.
O post de hoje traz um conto escrito por Alex Castro. Responsável por um dos blogs mais conhecidos do Brasil, Alex mora atualmente em Nova Orleans, onde desfruta de uma bolsa de estudos. Segundo suas próprias palavras, ele é um cara feliz. Nas horas vagas, come, dorme, transa, faz pães, fuma cachimbos, beija pés, brinca com seu cachorro, lê, escreve, passeia, explora, transa e experimenta. O quê, eu não sei: melhor perguntar a ele.
Mas, como você poderá constatar alguns scrolls abaixo, Alex também é um escritor que conhece como poucos seu ofício. “A Porta” segue à risca os ensinamentos de mestre Júlio Cortázar, que dizia: “Enquanto no romance você conquista o leitor por rounds, no conto você deve abatê-lo por nocaute“. E, de fato, Alex Castro leva à lona seus leitores. Não apenas em “A Porta”, como também nas quatro outras narrativas que compõem o livro Onde Perdemos Tudo, à venda de forma pouco usual no Brasil, onde são raros os internautas dispostos a pagar algo por conteúdo (por melhor que ele possa ser): e-book, em formato PDF, por meros 7 reais ou 3 dólares (procedimentos devidamente explicados nesta página). A seguir, uma amostra grátis deste autor que, como disse Zander Catta Preta, é um filho da puta que escreve bem, desgraçadamente bem. Bom nocaute.
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A Porta
“Jesus respondeu: Façam todo o esforço possível para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo: muitos tentarão entrar, e não conseguirão. Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vocês vão ficar do lado de fora. E começarão a bater na porta, dizendo: ‘Senhor, abre a porta para nós!’ E ele responderá: ‘Não sei de onde são vocês’. E vocês começarão a dizer: ‘Nós comíamos e bebíamos diante de ti, e tu ensinavas em nossas praças!’ Mas ele responderá: ‘Não sei de onde são vocês. Afastem-se de mim‘”. Lucas 13, 23-27
“A most melancholy voice sobbed, ‘Let me in - let me in!’ ‘Who are you?’ I asked, struggling“. Lockwood, em Wuthering Heights, de Emily Brontë
Amanda e eu nos conhecemos na boate. Não dentro: na porta.
Eu pastoreava uma matilha de amigos, todos pavlovianamente vestidinhos no melhor estilo da estação, e só eu de roupas coloridas. Amanda nos relanceou um olhar e sentenciou: todos entram, menos o aloha. Camisa florida aqui, nunca.
Eles escorraçaram-se para dentro e eu não ranqueei um segundo olhar de Amanda. Resignado, carreguei minhas frustrações para casa.
Correram algumas semanas e a tribo decidiu, num supetão, voltar à boate. Como sempre, eu estava fantasiado de eu-mesmo e carimbei: aquela ruiva vai me deixar na porta de novo. Eles me tranqüilizaram: imagina!, se eu fosse barrado, iríamos todos para outro lugar, e muito melhor!
Amanda me farejou de longe e não tirou as narinas de mim. O pessoal pressentiu: a ruiva da porta está toda aberta pra você. Assentamos mais de hora na fila e Amanda sempre me desviando olhares sonegados. Quando chegou nossa vez, chicoteou: os amiguinhos com estilo, entram, o camisa-florida, fica. E não me olhou mais.
Os amiguinhos, aqueles putos, nem tossiram: tinham esbarrado com a Alicinha na fila, combinaram de se esbarrar mais lá dentro, e você viu a bunda da Alicinha hoje?, não podiam deixar a bunda da Alicinha na mão!, e entraram. Eu, mais uma vez, me deportei de volta pra casa.
No mês seguinte, meus mui-amigos planejaram com antecedência uma nova ida à boate. Eu não queria participar, mas houve pressão. Aparentemente, a bunda da Alicinha estaria lá. Por sorte, tia Eulália morrera no ano anterior e eu tinha algumas roupas escuras no armário.
Depois da hora ritual de fila, os suplicantes chegaram diante do oráculo. Os olhos de Amanda sussuraram, discretíssimos, que me reconheciam, mas o resto de seu corpo preferiu não se comprometer. Fez um gesto soberbo e ganhamos entrada, sem burocracias.
Tirando o bundão da Alicinha - realmente fenomenal, mas melhor apreciado diariamente, de nove às onze, no posto seis - a boate era a estampa de qualquer outra: escura, ensurdecedora, emaranhada, esfumaçada.
E, por entre a fumaça, logo vi o cabelo malagueta de Amanda marchando com diligência, olhando para o escuro, estalando os saltos. Pensei: está a minha espreita! Mas não: ventou por minha mesa duas vezes e não fez nada. Por fim, fez. Ocupou a cadeira à minha frente e desferiu: eu não devia ter te deixado entrar. Você nessas roupas é a profanação de um lugar sagrado. E a culpa é minha. Daqui a duas horas, o movimento some e eu estou liberada. Me espere aqui e vamos entrar em um lugar muito melhor. E entramos.
Nossos dois anos de casamento foram delirantemente felizes, até o dia em que eu estava tomando banho e ouvi, por entre a água, o som da chave na fechadura. Só Amanda tinha a chave. Fechei a água e chamei: Amanda? Ela uivou: sou eu, sou eu, abre a porta, por favor, me deixa entrar. Tudo bem?, eu quis saber, ainda no chuveiro. A essa hora, ela deveria estar no trabalho. E por que sua chave não funcionava? A resposta veio num estalo: abre essa porta agora, rápido.
Pinguei pelo banheiro, correndo, mal encostando a toalha no corpo, tocou o telefone e nem atendi, mas a secretária atendeu:
Alô? Tem alguém em casa?, implorou a voz. Era Norma, colega de trabalho de Amanda. Atende, por favor, suplicou e, então, desabou: meu deus, não sei o que fazer, a Amanda, ela, nós estávamos tentando entrar no ônibus, o motorista não parou, ela foi correr atrás, tentou pular pela porta aberta e o motorista fechou a porta na hora, ela ficou com o braço preso, foi sendo arrastada, meu deus, meu deus!, e eu, já enxuto, me aproximei do telefone, mas não atendi, olhei a porta, mas não abri, coloquei a mão sobre a secretária e senti sua vibração: eu corri atrás do ônibus, não acredito que estou contando isso para uma secretária, você não está aí?, não sei o que fazer, eu corri atrás do ônibus, vi a Amanda sendo arrastada pela rua, ela gritou o tempo todo, eu também, os passageiros gritaram, mas o motorista não parava, não parava, até que parou, parou e fugiu, mas ela já estava morta, morta, e estou aqui do lado do corpo, preciso de voc-clique.
No silêncio, ouvi a respiração canina de Amanda do outro lado e caminhei até lá. O som do meu celular tocando chamou sua atenção e ela se achegou à porta, me deixa entrar, por favor, eu preciso entrar, eu preciso te ver, e passou os dedos sensualmente em volta do olho mágico, como se alisando meu rosto, aqueles dedos de unhas longas e negras que sempre me excitaram.
Acariciei a maçaneta, que soluçou mecanicamente ao meu toque. Amanda eriçou as orelhas e ganiu: por favor, eu não quero ir embora, você prometeu que iríamos ficar juntos pra sempre, que me protegeria e me acompanharia, não pode me largar aqui fora, eu te peço.
Me espalmei contra a porta como uma lagartixa e fiquei apreciando Amanda, registrando cada poro, cada pestana, sentindo ainda o aroma cítrico do seu sabonete de limão, embalado pelo som frustrado da chave na fechadura, chorando lágrimas secas.
Algum tempo depois, sumiu. Só fui vê-la de novo quando reconheci o corpo.
Praia do Meio, Trindade, Paraty, 2 de agosto de 2004
Sou muito desligado para datas comemorativas. Percebi que o pontapé inicial da contagem regressiva para o Natal foi dado ao receber, ontem, o catálogo de compras do Submarino. E foi assim, da maneira mais capitalista possível, que, ao folhear as ofertas e atiçar meus sonhos de consumo (celulares com mp3 players, monitores de tela plana, um box de filmes do início de carreira do Stanley Kubrick, etc etc), que constatei o quão desenraizado das origens das celebrações natalinas eu estou. Este trailer, do que parece ser um novo filme de animação, e que mostra a imagem impactante de Papai Noel dormindo na rua debaixo de chuva, ilustra bem a quantas anda o espírito natalino nestes tempos céticos e cínicos.
Não, não incorrei na cantilena de dizer que o Natal perdeu sua razão de ser, que virou uma celebração destinada apenas ao consumo, que nesta época a solidariedade e a fraternidade aparecem feito bolhas que duram apenas um dia no ano, yada yada yada. Apesar dos pesares, eu ainda gosto da data, tenho em mente seu simbolismo religioso e, oras bolas, por que condenar um dia que serve de pretexto para reencontrar os amigos e a família? Citando as palavras de meu amigo Ricardo Sabbag: “Não devemos perder nosso senso crítico sobre festas como o Natal, que servem para nos estressar nas multidões dos shoppings, nos empanturrar de comida gordurosa, beber mais do que o normal ou sorrir para aquele tio pentelho que mora no interior. Mas o Natal - e festejos afins - pode ser também o momento que usamos para rever os amigos, dar um presente bonito para a namorada e até se emocionar quando o pai faz um discurso emocionado depois de uns vinhos a mais. Qualquer coisa pode ser uma desculpa para se fazer o que gosta. E um dia feliz é melhor que um dia triste, independente da data que seja“.
No ano passado, cometi os seguintes versos no sarau de Natal promovido por Chris Nóvoa:
Amigos secretos que viram
Inimigos notórios,
Certo peso na consciência
E sentimentos contraditórios.
Ver mendigos na calçada
E o espírito repleto de esperanças vãs,
Quase como encontrar meu scrapbook
Abarrotado de indefectíveis spams…
Parafraseio Machado:
- Mudou o Natal ou mudei eu?
Sei que, morto Papai Noel,
tornei-me um natalino ateu.
Perdido o hímen das ilusões,
Consolo-me com o que resta de bom:
Os fogos no céu, o espoucar das rolhas,
As mocinhas de calcinhas novas no réveillon!
Sim, o Natal é legal. Mas confesso que eu, definitivamente, prefiro celebrar o Ano Novo. :)
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P.S. 1: A “patética árvore de Natal do Charlie Brown”, que ilustra este post, está à venda na Urban Out Fitters.
P.S. 2: Você já conhece o ótimo bookmark online que a Luiza Voll mantém em seu blog Favoritos?
P.S. 3: Sim, um dia feliz é melhor que um dia triste. A vida constantemente nos desfere socos na alma. Mas, felizmente, não é sempre que ela fornece álibis para nos condoermos das pequenas grandes desilusões cotidianas. O apego à tristeza é escolha de cada um; minha opção é de manter constantemente um viés otimista sobre as coisas. Porque a vida, como reitera meu mantra pessoal, é boa e cheia de possibilidades. :)
Antes de mais nada, é bom explicar que o texto abaixo não é de minha autoria, e sim de Carlos Eduardo Lima, que acaba de lançar seu romance de estréia. Enquanto não aterrissa nas livrarias, “Vestido de Flor” já pode ser adquirido através de seu site, com a vantagem especial de ser enviado para a sua casa com uma dedicatória do autor. Eu, que tive o privilégio de escrever o prefácio do livro, decidi postar a crônica abaixo (publicado anteriormente no Scream & Yell) como uma espécie de aperitivo para aqueles que ainda não conhecem os textos deste cara que, além de crítico musical, é escriba de mão cheia e autor de um dos melhores romances de estréia que li nos últimos anos. Não à toa, encerrei meu prefácio a “Vestido de Flor” com esta frase: “Carlos Eduardo Lima é um cara que escreve com a paixão de quem ouve uma música com os olhos fechados, as asas abertas feito um coração dependurado na corda bamba“. Aprecie sem moderação.
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Houve um tempo em que um dos meus sonhos mais acalentados era receber uma fita-cassete gravada de uma ex-namorada que tivesse me feito sofrer bastante. E nesta fita deveriam estar algumas canções importantes dos tempos idos, alguns pedidos de perdão implícitos, sendo que a primeira música do lado A deveria ser Os Outros, do Kid Abelha. Sim, é isso mesmo.
Por quê? Porque Os Outros é, sem dúvida nenhuma, um dos mais intensos e fiéis retratos de uma relação de namoro que já foram feitos na língua portuguesa em muito tempo. Exagero? Pode ser, mas vamos entender os fatos. Continue Lendo
O surgimento do YouTube e o aumento do número de usuários com banda larga de Internet fizeram com que a quantidade de vídeos virais, ou seja, aqueles que você recebe por e-mail, MSN ou Orkut e não resiste à compulsão de passar para a frente, tenha multiplicado mais que Gremlins na chuva. Se você passa ao menos duas horas na frente do computador, provavelmente já se cansou de receber links para vídeos como o do Sílvio Santos e a piada do poste, da mulher e do bambu, da briga entre João Gordo e Dado Dolabella, a apresentação de Joseph Climber no Programa do Jô ou a animação feita com base em um teste de fonoaudiologia na qual um paciente imortaliza a frase “as árveres somos nozes“.
Para que um vídeo apresente maior teor de “viralidade”, tanto melhor que ele seja (ou soe) espontâneo, feito o dia em que Fernando Vanucci apresentou um programa aparentemente bêbado. Ou que ele seja engraçado ou curioso suficiente a ponto de desejarmos compartilhar nossas sensações com toda a nossa lista de contatos, como é o caso do vídeo mais assistido na história do YouTube, “Evolution of Dance“, visualizado mais de 35 milhões de vezes, ou a cover que dois irmãos argentinos (um de 9 e outro de 13 anos) fizeram de uma música do Sepultura, que recebeu mais de 1 milhão de visitas em um mês.
Internautas, marqueteiros, publicitários perguntam-se: é possível produzir um vídeo viral? A clássica resposta que sou obrigado a dar é: depende. Você pode pegar uma cibercelebridade, por exemplo, e tentar explorá-la em uma nova produção. Foi o caso de Gary Brolsma, que se tornou famoso ao filmar-se com sua webcam dublando a música “Dragostea Din Tei” (regravada por Latino como “Festa no Apê”). Quase dois anos após o primeiro vídeo, Gary reapareceu.
Seu novo vídeo é nitidamente bem produzido. A espontaneidade cedeu lugar a uma produção com direito a efeitos de animação, “bailarinos” acompanhando as coreografias desajeitadas de Brolsma e trilha sonora a cargo do mesmo compositor de “Dragostea Din Tei”, tudo meticulosamente feito com o intuito de divulgar o site New Numa e divulgar um concurso que oferece um prêmio de US$ 25 mil ao internauta que produzir o melhor vídeo de redublagem de Gary. Não se pode dizer que a iniciativa foi um fracasso, até porque a nova produção foi visualizada mais de 3 milhões de vezes, mas é indiscutível constatar que este remake não chegou nem aos pés da repercussão do primeiro vídeo, até porque seria impossível repetir o efeito surpresa do original.
No Brasil, iniciativa semelhante foi feita com a campanha da BrasilTelecom “Eu Vim em Paz“, que contratou os comediantes da companhia Os Melhores do Mundo (responsáveis pelo vídeo de Joseph Climber) para criarem e estrelarem diversos curtas ficcionais envolvendo OVNIs e os produtos da empresa.
É lógico que, pelo fato de o vídeo ter sido produzido com evidentes fins publicitários, seu alcance acaba sendo limitado. Vale a pena acompanhar as discussões nos comentários do Brainstorm 9, blog especializado em publicidade, a fim de compreender as perspectivas, limitações e o potencial de alcance do marketing viral.
Mas, polêmicas à parte, uma constatação é inequívoca: o YouTube já garimpou seu lugar no inconsciente coletivo. Que o diga Jane Skinner, âncora da rede de televisão Fox News, que ao apresentar uma matéria ao vivo sobre policiais assassinados no Afeganistão, cometeu um lapso pra lá de freudiano ao dizer “top cock” em vez de “top cop“. As gargalhadas do cô-âncora e a reação de Skinner, que, ciente de que aquilo ia parar na rede de qualquer maneira, diz para a câmera “You tube me now, just do it“, provam que, nestes tempos youtubísticos, quem sabe faz ao vivo e quem não sabe verá tudo ad nauseam na Web. A propósito, já está no ar uma montagem do vídeo tendo como trilha sonora “You Shook Me All Night Long“, do AC/DC. Recomendo. :)
Saíram os resultados finais do prêmio The BOBs. na categoria Melhor Weblog em Português, o prêmio do júri foi para o engajado Apocalipse Motorizado, blog “cicloativista” que critica a falta de planejamento urbano nas grandes metrópoles, em especial na cidade de São Paulo, que não dá condições para que seus habitantes troquem seus carros por bicicletas. Já o premio dos usuários foi, merecidamente, para as Garotas que Dizem Ni, minhas vizinhas de Gardenal.org. A blogosfera tupiniquim levou a melhor em mais duas categorias com o voto do público: Melhor Blog Corporativo (com o blog de mestre Marcelo Tas) e Prêmio Repórteres Sem Fronteiras (merecidíssimo reconhecimento ao trabalho da Alcinéa Cavalcante). De minha parte, agradeço a todos os leitores de Pensar Enlouquece que deixaram o meu blog em um significativo terceiro lugar, na frente de concorrentes do mais alto nível. Valeu! Continue Lendo
“Memento mori” é uma expressão em latim que ressalta o óbvio nem sempre recordado: “lembre-se de que você vai morrer“. A saudação, longe de ser pessimista, serve para que tomemos consciência de que um dia morreremos, e precisamos investir na vida enquanto ainda estamos por aqui. Não se trata de morbidez: pensar na morte é meditar sobre a vida, é aprender a encará-la com a serena naturalidade de quem sabe que ela faz parte inexorável da nossa existência.
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Meu amigo Daniel Barros faleceu em 30 de outubro do ano passado, aos 50 anos. No entanto, segundo sua persona no Orkut, ele já completou 51 anos de idade. Quando vi em minha página inicial o lembrete de seu aniversário, deixei uma mensagem em seu perfil. Assim como eu, vários dos muitos amigos de Daniel também escreveram recados, não se importando com o fato de o aniversariante não estar mais por aqui para respondê-los. Um dos depoimentos deixados fala em torcer para que haja conexão à Web onde quer que ele esteja (“espero que existam cibercafés no céu”). Continue Lendo
Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.