10 lições de vida que aprendi jogando Candy Crush
Por Alexandre Inagaki ≈ quinta-feira, 13 de junho de 2013
1. Antes de mais nada, devo alertar que mães e dentistas estiveram sempre certos: nunca aceite doces de estranhos. Mas, em se tratando de Candy Crush Saga, esta advertência deve ser reforçada e estendida a todas as pessoas que você conhece, sejam elas desconhecidas, amigas de infância ou parentes de terceiro grau. Caso você ainda tenha conseguido escapar incólume a esta droga virtual, fica aqui o alerta: recuse quaisquer solicitações ligadas ao Candy Crush, porque este jogo irá escravizar seu foco, invadir seus sonhos, liquidar seus momentos de ócio e destroçar sua produtividade de modo devastador.
2. Há momentos nos quais a gente não tem a menor ideia de como deve agir. Tomamos decisões, ainda incertos de qual seria o melhor caminho a seguir. Acontece na vida, acontece no Candy Crush. Nem sempre planejamento e estratégias cuidadosamente elaboradas são suficientes para superarmos as dificuldades que surgem à nossa frente. Às vezes precisamos ter fé, às vezes necessitamos que a doce brisa da sorte sopre a nosso favor. Mas uma combinação de brigadeiro com doce listrado também ajuda.
3. Quando você se deparar com chocolates, elimine-os sem dó nem hesitação. Eles são como células cancerígenas em metástase: se você não tratar de detê-los o mais rápido possível, os chocolates irão se multiplicar, tomando conta da tela até você entrar em desespero e gastar todos os movimentos restantes tentando aniquilá-los. Elimine-os com a mesma falta de piedade dos roteiristas de Game of Thrones com seus personagens.
4. Dica útil para quem deseja poupar seu cartão de crédito e diminuir os efeitos deste crack online: desative os sons do Candy Crush. É muito fácil se deixar inebriar por aquela voz que, a cada combinação bem sucedida de doces, cumprimentará você com suculentos adjetivos: “TAAAASTY… SWEEEEEEEEET… DIVIIIINE…”
5. A condição humana está permanentemente ligada à insatisfação (“I can’t get no/ Satisfaction/ But I try, and I try and I try”). Candy Crush Saga nada mais é do que a representação gameficada dessa condição desgracenta: buscamos saciar nossos desejos e nos sentimos incompletos até que o objetivo mais imediato seja alcançado. Mas, logo depois, retornamos ao estado de insatisfação porque a gratificação foi fugaz e outros anseios surgem, fazendo com que voltemos a atazanar amigos em busca de mais vidas e bilhetes para destravar novos episódios do jogo. Sábios são os budistas, que afirmam que o caminho da felicidade plena passa pela eliminação desses desejos materiais; eles certamente já bloquearam todas as notificações de Candy Crush no Facebook.
6. A fase do chefe, que costuma ser a mais desafiadora dos videogames, também tem seus equivalentes no Candy Crush. Prepare-se psicologicamente e seja forte ao enfrentar as fases 65, 135 e 277.
Maldita seja a fase 65 do Candy Crush. Devo ter dançado o quadradinho de 8 na frente da cruz pra ter me viciado nesse joguinho.
— Alexandre Inagaki (@inagaki) April 15, 2013
7. Mantenha seu karma positivo. Se eu lhe dou vidas no Candy Crush, é óbvio que eu anseio desesperadamente por receber outras de volta. Gentileza gera gentileza, e a falta de reciprocidade gera pensamentos impublicáveis sobre pessoas filhadaputamente ingratas que não forem tão interesseiras bacanas quanto eu.
8. Chantagens emocionais deveriam ser um crime inafiançável. Enquanto o nosso código penal não as pune com o devido rigor, abstraia as imagens de crianças chorando e corações partidos que surgirão em sua tela tentando lhe convencer a comprar vidas extras, balas listradas ou movimentos adicionais.
Mas, se ainda assim você estiver tentado a digitar os números de seu cartão de crédito, com uma estranha e perturbadora satisfação na alma, recomendo que você confira este artigo do BuzzFeed: “How To Cheat Your Way To Unlimited Lives On Candy Crush”. Ou este do Techtudo: “Como ganhar vidas infinitas no Candy Crush Saga”.
9. Não caia na cilada de começar a jogar Candy Crush só porque todos os seus amigos estão viciados e enviam sistematicamente notificações dessa praga para o seu perfil no Facebook. Em um primeiro momento, você até pode se sentir um pouco solitário ou desenturmado por não compartilhar do mesmo vício da galera. Porém, quem já caiu nessa arapuca sabe muito bem qual é o verdadeiro significado de solidão.
10. Compreenda melhor o inimigo, lendo o artigo “Podemos considerar Candy Crush um problema de saúde pública?”, de Pedro Burgos. Ou busque a libertação seguindo os 12 passos para superar Candy Crush ministrados pelo Cinismo Ilustrado.
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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