Você gosta de espiar?
Por Alexandre Inagaki ≈ segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
A diferença entre fama e infâmia é cada vez mais sutil. O palanque da democracia da fama abre espaço para qualquer figura, seja ela uma mulher-fruta, uma webcelebridade que postou um vídeo idiota no YouTube ou um cantor folclórico com a afinação de um jegue com cólicas. Torna-se quase bóbvio citar um diálogo de “Celebridade“, filme de Woody Allen sobre o tema: “Você conhece uma sociedade pelas celebridades que ela cria“.
Pois bem, estamos acompanhando mais alguns anônimos serem catapultados à fama em mais uma edição do Big Brother Brasil. Darão autógrafos nas ruas, serão abordados em shoppings e restaurantes, estrelarão ensaios de nu “artístico” (aham, senta lá, Cláudia) em revistas como Sexy ou G Magazine. Mas o que os diferenciará do restante dos mortais, senão o fato de terem aceitado se embebedar, falar palavrões, fazer confissões, dar amassos sob edredons e expor suas fraquezas e sentimentos diante de câmeras de TV?
Não há mais novidade em afirmar que a vida tornou-se espetáculo para ser visto. Vide a Internet, território no qual proliferam-se webcams e redes sociais repletas de gente disposta a compartilhar suas fotos e experiências pessoais com qualquer um que esteja conectado. Neste mundo apinhado de voyeurs e exibicionistas, o crítico cultural Neal Gabler, autor do livro “Vida, o Filme“, afirma que testemunhamos tempos nos quais “os indivíduos aprenderam a valorizar habilidades sociais que lhes permitem, como atores, assumir seja qual for o papel que a ocasião exija, e a ‘interpretar’ sua vida, em vez de simplesmente vivê-la“.
O problema é quando esses atores desse grande circo mergulham em seus papéis de tal modo que perdem a noção do que seja real. Lembro, por exemplo, de Kléber Bambam chorando inconsolavelmente quando a produção da primeira edição do Big Brother Brasil tirou de dentro da casa Maria Eugênia, boneca criada por ele a partir de um cabideiro, e que acabou por se tornar sua única amiga de verdade naquele programa (tal qual o personagem de Tom Hanks em “Náufrago“, e sua relação com a bola de vôlei Wilson).
E se você pensou que as edições anteriores do Big Brother Brasil já contiveram baixarias suficientes, saiba que nessa tal “novela da vida real” outras histórias pouco edificantes pontuam as suas várias versões internacionais. Nos Estados Unidos, por exemplo, um dos participantes da edição de 2001, Justin Sebik, foi expulso após encostar uma faca no pescoço de outra concorrente, ao vivo, dizendo a ela: “você ficaria chateada se eu te matasse?”.
Na quarta edição do Big Brother Bulgária, em 2008, dois participantes se envolveram em uma briga ao pior estilo UFC, com direito a socos, pontapés, sangue no rosto e a expulsão dos dois brigões do programa. Outro incidente nada edificante quase tirou do ar a versão portuguesa logo em sua primeira edição, em 2000, quando Marco, um dos brothers, agrediu a rapariga Sonia com um pontapé.
Na Dinamarca, o casal Robert e Sissel começou a namorar durante o programa, e ambos se empolgaram a ponto de protagonizar cenas de sexo que foram ao ar. Algumas semanas depois, o resultado: Sissel ficou grávida de Kornelius, o primeiro bebê gestado durante um Big Brother. Outros países como Espanha, Hungria e Bélgica não se furtaram a exibir seqüências calientes em suas edições (fotos e vídeos, como a singela coletânea dos 15 momentos íntimos protagonizados pelo casal Ollie & April no Big Brother 10 americano, são facilmente encontrados na Web).
Será que existe um quê de catarse em ligar a TV e descobrir que há pessoas mais fodidas que eu porque sofrem, choram, são carentes, levaram foras, são espezinhadas, estão desempregadas, foram traídas ou dão vexame quando bêbadas? O fato é que rimos e nos deleitamos, para depois criticarmos jocosamente a boçalidade de fulano, a luxúria de sicrana, a ingenuidade de beltrano - tão fácil gracejar das fraquezas de terceiros.
P.S. 1: Este texto é uma versão remixada e remasterizada de um texto que escrevi em 28 de outubro de 2001, tendo sido publicado no SpamZine. Na época, o reality show que me motivou a escrever essas linhas tinha sido o No Limite 3. Tirando uma e outra expressão ou palavra, o texto permanece essencialmente o mesmo, após vários anos de Big Brother Brasil e, hmm, comportamentos tão inadequados quanto os ocorridos no Big Brother África em 2007.
P.S. 2: Eis um link útil para os aficcionados por cultura inútil globalizada: World of Big Brother.
P.S. 3: Não haverá nunca um reality show tão divertido quanto a primeira edição da Casa dos Artistas, exibida pelo SBT em 2001.
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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