Três takes
Por Alexandre Inagaki ≈ terça-feira, 26 de junho de 2007
Quando Steven Spielberg anunciou que seria um dos produtores executivos de um filme baseado naqueles carrinhos e aviões de brinquedo que se transformavam em robôs, fiquei incrédulo. Será que o diretor mais bem-sucedido da história de Hollywood conseguiria levar para as telas uma trama minimamente atraente a partir daqueles robôs que marcaram a infância de muitos garotos na década de 80? A resposta estará ao nosso alcance dia 20 de julho, quando o filme, dirigido por Michael Bay, especialista em blockbusters como A Rocha (1996), Armageddon (1998) e Pearl Harbor (2001), estreará nos cinemas brasileiros. Bem, ao menos há um motivo para que eu alimente expectativas menos pessimistas sobre a produção: os ótimos teasers em que eletrodomésticos simulam participar de testes de elenco de Transformers - O Filme.
Às vésperas do lançamento do novo filme, o portal G1 publicou uma matéria da Associated Press com uma curiosidade sobre a primeira versão para o cinema de Transformers: um longa animado de 1986. Pois e não é que o desenho animado baseado nos robôs de brinquedo foi também o último filme de Orson Welles? A biografia de Welles, escrita por Barbara Leaming, revela que o diretor de Cidadão Kane e A Marca da Maldade passou seus últimos dias de atividade cinematográfica dublando um brinquedo: Unicron, o vilão da história.
Nas esquinas de Porto Alegre um casal se encontra, se perde, se reencontra. A câmera acompanha as ações e, principalmente, não-ações de Ciro, um tradutor desempregado interpretado com alma por Júlio Andrade; às vezes em close-up, às vezes de soslaio. Porém, mantendo sempre um clima huis clos, externando a apatia claustrofóbica de um jovem de vinte e poucos anos. Personificação de uma geração que, atordoada diante da quase infinidade de perspectivas que a vida pós-moderna lhe oferece, mantém-se em estado de letargia. Beto Brant trilha aqui a mesma senda aberta por Crime Delicado, seu longa anterior. Cão Sem Dono é outro filme intimista e subjetivo, que explora as relações íntimas entre Eros e Tânatos. Desta vez Beto divide créditos de direção com Renato Ciasca, seu comparsa de longa data, que o acompanha há tanto tempo quanto Marçal Aquino, roteirista de todos os seus filmes anteriores. Nesta corajosa adaptação do livro Até o Dia em Que o Cão Morreu, de Daniel Galera, destaca-se ainda a bela estréia de Tainá Muller, no papel de Marcela, modelo e quase namorada de Ciro. A cena em que Tainá canta “Moonshiner” de Cat Power é de deixar boquiaberta a alma de qualquer cinéfilo.
Você já encontrou algum cinéfilo comendo pipocas ou tomando Coca light enquanto assiste a um filme de Bergman, Kiarostami, Yasujiro Ozu ou Tarkóvski? Nem eu. Para mim, a quantidade de junk food consumida durante uma sessão de cinema é inversamente proporcional à exigência intelectual da película projetada na tela. É de se imaginar que pipocas consomem neurônios imprescindíveis para a devida fruição de uma obra mais densa. Não é de se estranhar, pois, que durante a sessão de Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado a convite da BloggersCut, eu tenha consumido um saco e meio de pipoca e mais 500 ml de Coca Light.
A mais recente adaptação de quadrinhos da Marvel flui que é uma beleza: entretenimento descompromissado, entremeado por piadas infames e cenas de ação repletas de CGI. Eu, particularmente, não achei a interpretação de Jessica Alba tão ruim no papel de Sue Storm (afinal de contas, todos devem saber que a maior contribuição dramática dela está no embelezamento da fotografia do filme). Decepcionado mesmo fiquei com a caracterização de Galactus: eu, que tinha em mente a imponente entidade devoradora de planetas de capacete roxo tal como retratada na graphic novel clássica de Stan Lee com Moebius (uma das melhores HQs de todos os tempos), achei pra lá de insossa sua transformação em uma mera nuvem. Pena, ainda, que o filme tenha esvaziado os dilemas filosóficos do personagem do Surfista Prateado, dublado por Laurence “Morpheus” Fishburne. Porém, como não sou nenhum fã xiita de quadrinhos, não condenarei o filme por ser infiel à obra original (embora uma de suas melhores cenas, a da aparição de Stan Lee, reproduza uma cena clássica das HQs). Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado cumpre, pois, sua função: é diversão a ser desfrutada acompanhada por muita pipoca e refrigerante.
P.S. 1: Interessado em mais informações sobre Transformers - O Filme? Então confira a entrevista de Michael Bay ao site Dark Horizons.
P.S. 2: A resenha de Cão Sem Dono foi originalmente publicada na edição 6 da RollingStone Brasil.
P.S. 3: Recomendação cinéfila do dia: o blog Cinematório, de Renato Silveira.
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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