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Não seja imbecil, vote consciente

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 26 de setembro de 2006

Ah, quer dizer que você acha que todo político é ladrão e que se você votar nulo e deixar de participar do “corrompido processo eleitoral” estará ajudando o Brasil a se tornar um país melhor? Com o devido respeito, não posso deixar de expressar minha opinião: você é uma besta.

Ok, se você me disser que faz trabalhos voluntários ou participa de alguma ONG tem todo o direito de me contestar, porque prova que ao menos faz algo para mudar esse estado de coisas. Porém, se você é daquelas pessoas que limitam-se a reencaminhar e-mails “indignados”, falam mal do governo enquanto furam a fila do cinema, vociferam contra a corrupção enquanto seus cachorrinhos cagam no meio da calçada pública e usam a Internet para baixar o vídeo daquela modelo na praia ou fuçar a vida do ex-namorado no Facebook em vez de buscar informações sobre os candidatos destas eleições, tenho a sólida impressão de que você não hesitaria em aceitar mensalões e propinas caso tivesse as mesmas, hmm, oportunidades.

Em tempos nos quais diversos sites apartidários como Transparência Brasil, Voto Consciente, Contas Abertas, Congresso em Foco e Políticos do Brasil disponibilizam todo um manancial de informações preciosas para os eleitores, não posso deixar de pensar que só joga seu voto fora quem é excluído digital, tem preguiça de dispender alguns momentos de seu tempo ocioso para escolher com consciência seus candidatos ou é um analfabeto político que se encaixa à perfeição na descrição feita pelo poema de Brecht:

Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

Em resumo: “é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política”.

Conheça os outros participantes da blogagem coletiva sobre ética na política.Depois, quando o Congresso Nacional reunir-se para discutir a reforma tributária, qual é a moral que o eleitor nulo terá para reclamar dos impostos que paga? Quando os deputados e senadores decidirem o que será feito a respeito da legislação sobre crimes hediondos, questões ambientais e eco-sociais, cassação de parlamentares envolvidos em processos judiciais, reformas políticas e previdenciárias e outros assuntos que afetam nosso dia-a-dia, quem será o representante do eleitor nulo? Porém, mais grave ainda é a omissão dos eleitores que possuem condições de buscar informações que vão além da alienação causada por estratégias marketeiras e vinhetas televisivas, porque estes não possuem desculpas aceitáveis para ajudar na formação de um Congresso, uma Assembleia Legislativa, uma Câmara de Vereadores melhor.

É claro que é muito mais fácil e mais cômodo cruzar os braços e sequer pesquisar informações antes de votar. Menos mal que quem se dispõe a exercer seu direito democrático com a devida responsabilidade se surpreenderá positivamente, desmentindo a generalização estúpida de que só existem políticos corruptos. Os meios estão aí, à disposição de quem se dispor a rastrear informações, cruzar dados e investigar a vida pregressa daqueles que pedem pelo seu voto. Além dos sites citados no terceiro parágrafo deste post, uma breve busca pelo Google informa a URL das páginas daqueles que efetivamente possuem currículo e propostas que justifiquem a razão de ser de suas candidaturas. Outras matérias do site Congresso em Foco informam a lista dos parlamentares que respondem a processos judiciais, os deputados que se ausentaram das votações de processos de cassação na Câmara e os parlamentares que foram destaque em temas como inovação tecnológica, saúde, segurança jurídica e defesa da democracia.

Aos que ainda insistem em crer na falácia de que votar nulo anulará as eleições ou impedirá os candidatos atuais de participarem novamente, recomendo fortemente a leitura desta entrevista concedida por Marco Aurélio Mello a Fernando Rodrigues da Folha de S. Paulo, e destes artigos de Antônio Augusto de Queiroz, Rosangela T. Giembinsky e Fernando Gouveia.

Mas, se depois de todo esse papo você ainda não se convenceu da importância do seu voto e da inutilidade do ato de anulá-lo, eis o meu último e mais persuasivo apelo: o recado de meus camaradas Calvin e Haroldo. E, por favor, faça algo mais útil do que simplesmente colocar um nariz de palhaço.

* * * * *

P.S. 1: Sim, política precisa ser levada a sério. Mas não dá para ignorar a fauna de candidatos pitorescos que, auxiliados pela popularidade do YouTube, tornaram-se conhecidos no Brasil inteiro graças a seus, hmm, singelos vídeos de campanha. Confira algumas destas figuras através do blog Candidatos Bizarros e dos links da matéria É pra rir ou pra chorar?, escrita por Edson Sardinha para o site Congresso em Foco.

P.S. 2: Este blog permanece engajado na campanha “Xô Sarney” e recomenda a leitura diária dos posts de Alcinéa Cavalcante.

P.S. 3: Algumas leituras para ampliar o leque de discussões: Valoriza o teu voto (Frei Betto), Eu não voto desde 1998 (Alexandre Rodrigues) e Que país é esse? (Cristiano Dias).

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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