A vida era mais difícil quando ainda não havia internet para resgatar as coisas que a gente quase não lembrava mais que tinham existido. Por exemplo, o jingle das balas de leite Kid’s, que embalou minha infância numa época em que controle remoto de TV era o dedão esticado do meu pé mudando os botões dos canais. Passei anos sem ouvir o arranjo original daquela canção, embora nunca tenha me esquecido dos seus versos:
Roda, roda, roda baleiro, atenção
Quando o baleiro parar põe a mão
Pegue a bala mais gostosa do planeta
Não deixe que a sorte se intrometa
Bala de leite Kids
A melhor bala que há
Bala de leite Kids
Quando o baleiro parar…
Um dia ainda hei de botar no papel minha teoria a respeito da capacidade única que a música sertaneja possui de prover a trilha sonora para corações combalidos em busca de catarse. E ainda possuo a convicção de que um dia Zezé di Camargo terá o mesmo status cult merecidamente conquistado por Roberto Carlos: poucos compositores na MPB possuem a mesma capacidade de, sem necessitar recorrer a maiores firulas metafóricas, conseguir traduzir musicalmente todas as alegrias, dores e angústias que o tal do Amor nos faz sentir.
Enquanto não redijo minha tese sobre os fragmentos do discurso amoroso nas canções de Zezé Di Camargo & Luciano, a entrevista que concedi a Eva Uviedo, para o site da revista Trip, já adianta algumas das minhas observações sobre este gênero musical injustamente subvalorizado. Em tempo: recomendo que ela seja lida ao som do playlist com meu Top 10 Sertanejas. :)
Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Jé plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantêm este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.