“Me empresta um beijo, amanhã eu te devolvo!”
Por Alexandre Inagaki ≈ sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
Flerte, papo-aranha, torpedo, xaveco. Devo confessar que sempre nutri uma admiração silenciosa pelos meus amigos que possuem a desfaçatez de abordar uma mulher do nada, na mais deslavada das caras-de-pau, a fim de proferir as mais infames cantadas. Pra mim, é uma forma de arte subestimada. Porque você precisa ter o timing da comédia e a síntese do hai-kai para, em poucas palavras, conseguir despertar a simpatia e um sorriso com uma frase certeira como uma flechada. Caso contrário, prepare-se para levar um belo e sonoro tapa na cara.
Jamais esqueço da história de um amigo meu que, em uma balada, encontrou uma japonesa dançando na pista e, com a coragem intrépida daqueles que não possuem absolutamente nada a perder, abordou-a usando a seguinte cantada: “Oi, você me dá um beijo sabor sushi?”. É o tipo de coisa que me daria overdose instantânea de vergonha alheia. E, no entanto, não é que funcionou e eles ainda ficaram juntos por quase um ano? É o tipo de causo que me faz pensar nas oportunidades que perdemos por excesso de superego. Será que Bandeira levantaria de seu túmulo se eu interpretasse seu verso “a vida inteira que podia ter sido e não foi” como uma reflexão sobre as pessoas que deixamos de conhecer porque não proferimos mais xavecos absolutamente escrachados como esse do beijo-sushi? Continue Lendo