A vida era mais difícil quando ainda não havia internet para resgatar as coisas que a gente quase não lembrava mais que tinham existido. Por exemplo, o jingle das balas de leite Kid’s, que embalou minha infância numa época em que controle remoto de TV era o dedão esticado do meu pé mudando os botões dos canais. Passei anos sem ouvir o arranjo original daquela canção, embora nunca tenha me esquecido dos seus versos:
Roda, roda, roda baleiro, atenção
Quando o baleiro parar põe a mão
Pegue a bala mais gostosa do planeta
Não deixe que a sorte se intrometa
Bala de leite Kids
A melhor bala que há
Bala de leite Kids
Quando o baleiro parar…
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Certas canções possuem o poder de marcarem nossas lembranças de tal modo que um simples assobio é capaz de resgatar de nossa memória rostos, cheiros, gostos, sensações que há tempos não sentíamos. Provém daí, da força que a música possui de moldar a nossa memória afetiva, a carga emocional que faz com que certos jingles ainda sejam recordados e perdurem no inconsciente coletivo por muito mais tempo do que as próprias empresas que os encomendaram. Exemplo clássico é o tema que Edison Borges de Abrantes, o “Passarinho”, compôs para um comercial de Natal que o finado Banco Nacional encomendou em 1975. Mesmo crianças que nasceram depois da falência do Nacional já ouviram em algum lugar este jingle e sabem cantarolar os versos “Quero ver/ Você não chorar/ Não olhar pra trás/ Nem se arrepender do que faz“.
Quem acompanha as notícias quase diárias sobre a crise da Varig sabe que a empresa aérea, criada em 1927, está em iminente processo de seguir os rumos de outras empresas como Haspa, Mappin, Mesbla, Arapuã, Gurgel, Sears, Trol, Pan-Am, Vasp, Transbrasil e Panair. Eu, que viajei de avião pela primeira vez a bordo de uma aeronave da Varig, bem sei que a empresa mergulhou no caos financeiro devido a fatores como anos de gestões incompetentes, custos administrativos elevados, defasagem de tarifas aéreas desde os planos econômicos dos governos Sarney e Collor e a crise deflagrada no setor pelos atentados de setembro de 2001, e que se ela falir será um fato normalíssimo em meio às engrenagens que movem o livre mercado. Porém, ao ouvir alguns dos jingles que marcaram seus 79 anos de existência, não posso deixar o sentimentalismo de lado ao tecer um lamento pelo destino da Empresa de Viação Aérea Rio-Grandense. Continue Lendo