SpamZine_________________
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12 de maio de 2003
são paulo  juiz de fora  lisboa  rio de janeiro  embu das artes
 
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n e s t a  e d i ç ã o:
 
a paz do pau - parênteses - segunda (sem você) - eu sou o lobo mau - editorial de moda - a paz do cu

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editorial
orlando tosetto júnior  [email protected]
 
O e-zine subiu no telhado?
 
Há um tempo atrás, amigável discussão tomou o blog da nossa página: será que os e-zines sobreviverão ao poder dos blogs? Na ocasião, a discussão me parecia improcedente: é um pouco como perguntar se o querido diário acabará com os jornais. Fosse como fosse, cerrei fileiras com os adeptos dos e-zines, que são, no meu entender, mais variados, menos previsíveis e mais interessantes que os blogs.
 
Como dizem os advogados, parece que restei isolado. Ultimamente os blogs se tornaram um hype (que frase...). Trocando em português: os blogs estão com a bola toda. É isso mesmo: os blogs crescem, aparecem, expandem-se e vão para os noticiários dos jornais e revistas, aqui e no mundo. Primeiro como esquisitice resultante do mundo midiatizado: será que o blogueiro (palavra horrível) se confessa na web porque não fala com ninguém na vida? Depois, como fenômeno cultural: é gente escrevendo, não é? Depois, como fenômeno social (vide o caso daquela moça que fez campanha no seu blog e angariou fundos para ajudar uma família de moradores de rua). Ultimamente, os blogs viraram fenômeno midiático mesmo: quantidade de acessos, influência, nomeada. Aliás, nesse último quesito, este e-zine está bem representado: primeiro com a quase vitória do blog do nosso editor-mor Alexandre Inagaki, que esteve a centímetros de ganhar o prêmio máximo do IBest; segundo com o outro blog que Inagaki comanda, com a ajuda do nosso co-editor regra-três Ian Black, e do compadre deles, Marmota - o Virunduns, cuja badalação é tamanha que rendeu matérias em jornais e na Isto É, com direito a fotos dos culpados.
 
O argumento em favor dos blogs naquela brevíssima discussão nossa era o de que essas páginas pessoais transcenderiam o lado "querido diário" e se tornariam alternativas informativas (e, vá lá, culturais) muito mais dinâmicas do que os e-zines: quem esperaria uma semana (ou mais) por um zine, quando tudo o que precisa fazer é dar uns cliques atrás de atualizações recentes e quentinhas? E quem é que vai querer continuar editando um e-zine, tarefa muitas vezes estressante, abnegada e sem remuneração, em que muitas vezes é necessário tourear colaboradores e leitores, e cujo feedback é demorado e incerto?
 
Respondendo a pergunta: o e-zine subiu no telhado? Subiu, sim. Assim como muitos hypes anteriores, que se deitaram em pleno vigor e acordaram rupestres.
 
E não adianta a gente se ressentir com o ir e vir das vogas; se na internet elas se sucedem com rapidez (e vida) de mosca, paciência. De certa forma, aqui na web os revivals são, também, simultâneos, e a nostalgia é antecipada.
 
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Hoje talvez pouca gente saiba, mas Carlos Drummond de Andrade militou alguns anos no PC. Durante esse tempo, o pessoal do partido quis, repetidas vezes, reescrever trechos dos seus poemas (não estou bem certo se não reescreveram mesmo), para lhes dar, como direi?, mais apelo revolucionário. Mais conteúdo conscientizador.
 
Esse negócio do governo dizer que din-din pra cultura tem que ser atrelado aos "nossos assuntos" é, portanto, típico. Ou melhor: histórico. A única novidade é a patota reclamar.
 
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O Spam Zine não recebe verba da Petrobrás, nem depende do bom humor do Sr. Gushiken. O Spam Zine é uma ONG de quase anônimos. Que desanonimiza (essa palavra existe?) quem pode. Hoje ganham vez o incomodado membro do Sr. Lindolpho Cademartori, e o contaminado pau do Gustavo Caetano; ganha vez a crônica de uma triste segunda-feira lisboeta (com ortografia e aspas locais); ganham vez o brazilian psycho do Elton Mesquita, a mistura de sangue e moda de Crib Tanaka, e a caganeira de verão de Ian Black.
 
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deixem o meu pênis em paz
lindolpho cademartori  
[email protected]
 
“Que mundializem os orgasmos e derrubem as fronteiras políticas em nome do prazer, até vai. Mas daí a querer meter o bedelho no pênis alheio, não se concebe. Que os pornográfos e lascivos façam o que bem entender. Mas deixem o meu pênis em paz.”
 
Vou parar de acessar a Internet. Vou mesmo. Precipuamente, deixarei de utilizar serviços de e-mail. Estão enviando-me mensagens e propostas das quais nunca ouvi falar ou tampouco solicitei. Semana passada, chequei meu e-mail e contemplei, com surpresa insuspeita, uma proposta de um website pornográfico que me oferecia acesso irrestrito a um acervo de mais de duzentas mil fotos de adolescentes holandesas, pela bagatela de doze euros mensais. Nada tenho contra as mulheres holandesas, mas, devo dizer, deletei prontamente a mensagem. Para quê?
 
Logo abaixo, seguia um outro e-mail, que me alertava para a imperdível promoção de outro website, cujo mote de oferta eram filmes nos quais mulheres grávidas apareciam copulando com cavalos e jumentos. Laico que sou, não me furtei a apagar esta outra mensagem, para, logo adiante, acessar outro (!!) e-mail, que me oferecia acesso gratuito a fotos de garotas polonesas e bielo-russas. Como se não bastasse, vi em minha caixa de mensagens uma suposta carta de apresentação, de autoria de uma suspeitíssima agência de viagens que prestava serviços no intuito de facilitar a vida de turistas  interessados em usufruir os préstimos das prostitutas vietnamitas. SexNam, a referida agência, providenciava tudo: desde os meios para tornar todo o processo o mais discreto possível até o sabor das calcinhas usadas pelas garotas. Qual bem há de se concluir, a Internet mundializou o sexo e transformou-o em bem transnacional, transcendente de fronteiras; uma prova cabal de que os orgasmos vindouros não se importam se sessenta mil norte-americanos foram peneirados a chumbo pelos fuzis vietcongues.

Não tenho nenhum “porém” tangente à mundialização dos orgasmos, e tampouco referente à atuação da Web em tal processo. Ejaculações desconhecem razões de Estado, fronteiras nacionais e mediações diplomáticas. Trata-se, numa hipótese demasiadamente subjetiva, da personificação máxima do Homem enquanto animal apolítico. Com efeito, toma parte em tal ação – ou tal “festa” – quem assim o quer. Ocorre, todavia, que eu não quis, mas mesmo assim recebi e-mails sobre adolescentes holandesas, prostitutas vietnamitas e modelos polonesas e bielo-russas. Desculpem-me, mas, por favor, tragam de volta a Cortina de Ferro.
 
Até onde me recordo, não disponibilizei meu endereço eletrônico em nenhum website pornográfico. Ignorante que sou, desconheço os novos métodos de marketing e propaganda em voga na dinâmica publicitária. Tenho, todavia, a certeza basilar de que tais métodos não gozam da prerrogativa de desrespeitar o indivíduo comum e desinteressado nas lascivas propostas oferecidas por tais sites. Que continuem a propagar seus produtos e a disseminar suas supostas reputações e seus críveis atributos substanciais; vivemos, afinal, em um País – e, de certa forma, em um Mundo – Livre. Nenhuma restrição ao direito de manifestação. No entanto, a continuidade do envio das mensagens em massa – os chamados SPAMS – pode resultar numa debandada igualmente maciça daqueles que fazem uso dos serviços de e-mail gratuito. Por que tais práticas continuam a ser logradas sem que os responsáveis sejam chamados à prestação de contas?
 
Em acepção lata, a verdade reside no fato de que o controle efetivo e viável de tais práticas é virtualmente impossível, vez que a obtenção dos endereços eletrônicos alheios dá-se por meios independentes daqueles controlados pelos serviços de e-mail gratuito. Sem mais delongas neste cerne argumentativo, dir-se-á apenas que a única via de defesa da qual os usuários dispõem é a exclusão sumária das mensagens indesejadas. Coisa que não fiz, e, digo mesmo, jamais farei. Tenho o ímpeto esdrúxulo de ler tudo o que me enviam, seja sobre prostitutas vietnamitas, repugnantes práticas de zoofilia ou até mesmo sobre garotas desnudas da ex-União Soviética. Enviaram as mensagens, globalizaram o orgasmo, brocharam a diplomacia e ganharam um articulista inútil. O que é melhor: crer em nada ou em nada crer?
 
Em verdade, devo dizer que não sei. Tento, talvez em vão, ser irredutível em minhas convicções, e dotá-las de envergadura mais altiva. Mas isso não vem ao caso.
 
Convicções bisonhas e estapafúrdias, disparates da ressaca pós-tudo, começam a aparecer na Web. Estava eu a averiguar meu modesto e-mail  quando descobri, com a mais prosaica das naturalidades, que há pessoas querendo aumentar o tamanho do meu pênis. E eu não sei por quê! Tais pessoas não me conhecem, nunca me viram, desconhecem minhas aptidões, minhas inclinações e minha pauta cognitiva, mas, sabe lá Deus porque, querem aumentar o tamanho do meu pênis. Enviaram-me nada menos do que catorze mensagens com títulos canhestros, tais como “Penis enlargement!”, “Monster Penis!” e “You can have a giant penis!” (as traduções ficam a cargo dos interessados na pauta). Como eu bem disse, não consigo deixar de ler o que me enviam, e, ato contínuo, lá estava eu, a ler propostas que me prometiam o porte de um membro viril descomunal e irresistível para as mulheres.
 
Lidas as mensagens, deletei-as sumariamente. Tão logo o fiz, pus-me a praticar meu passatempo imprescindível: devanear e especular acerca de absurdos argumentativos tão díspares como política, expansão da rede mundial de computadores e aumento do tamanho do pênis. O fato é que, como quase sempre acontece, eu não logrei conclusão alguma. Permaneci estanque, a devanear sobre orgasmos supraluminares  atravessando o mundo e chegando à Austrália em meio segundo e acerca das razões que levaram os remetentes das mensagens a sugerir-me um aumento no tamanho do meu pênis. Que o leitor não saia com inferências engraçadinhas e maliciosas; afinal, pode ele também ter recebido uma proposta de aumento do tamanho do pênis.
 
Pretendia viajar no final do ano. Se as finanças permitissem-me, iria conhecer o Leste Europeu e os países que em priscas eras constituíam a Cortina de Ferro. Não vou mais, nem mesmo se as razões de caráter financeiro permitirem-me. Estou amedrontado. Imagine o leitor que lá estou eu, a caminhar despreocupadamente pelas ruas de Minsk, na Bielorrúsia, e, de repente, sou surpreendido por modelos desnudas em pleno inverno europeu. Varão que sou, envolver-me-ia em carícias com ela por ali mesmo, de modo que a polícia local iria deter-me por atentado ao pudor. Na Chefatura de Polícia, descubro que o delegado faz bicos para a SexNam, a tal agência que providencia prostitutas vietnamitas, por um custo relativamente acessível. Desesperado, entro em contato com a Embaixada Brasileira, que consegue minha liberação e arranja-me um assento no próximo vôo rumo a Varsóvia, na Polônia. Ao chegar no saguão de embarque, sou novamente detido pela imigração. Sem nada entender, encaminham-me para uma sala, onde oferecem-me a irrecusável proposta de um medicamento que faz com que o pênis aumente de tamanho...
 
...Despertei. Passado o devaneio com molho transcendentalóide, voltemos à realidade. Devo pensar mais nas possibilidades reais e esquecer os ensejos doidivanas. Vou ficar quieto. Mas deixem o meu pênis em paz.
 
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( )
gustavo caetano 
[email protected]
 
Você confia em mim? Não sei, talvez. Pois deveria, estou lhe dizendo isso porque gostei de você, nunca contei pros outros. Eu sei. Então creia no que te digo. Certo. Como certo? Eu não me importo. Pois deveria, sabe que já contaminei mais de 20 homens inocentes? Você disse, mas ainda não me importo. Uhnn. Eu quero mesmo assim. Então quer dizer que aceita transar comigo sem camisinha mesmo depois deu lhe dizer que tenho AIDS? É! Tudo bem então, venha cá.
 
Um mês depois, ele resolveu fazer o teste. Na verdade, não esperava muita coisa. Não tinha certeza de que ela lhe dissera a verdade nem sentia esperanças de que fosse mentira. Abriu o envelope enquanto andava na rua. "Soro-positivo", dizia. Amassou o papel junto ao envelope, jogou numa lata de lixo e foi ao cinema.
 
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amanhã de manhã
joão verde 
http://cdb.pnorte.pt
 
Manhã de segunda-feira. Uma segunda-feira diferente, de silêncio. Não havia nada para dizer. Virei-me na cama, recuperei a consciência, perdida durante o sono - ou teria ela mesmo sido perdida? - e vi-te.
 
Ainda estavas a dormir. Ajeitei o meu corpo procurando fazer o menor ruído e agitação para que não acordasses. Tinhas um rosto sereno. O meu rosto era de lamentação. A lamentação de não me ser permitido ver o que estava a ver. Ao meu lado estava um corpo que eu não podia ter ali. Era uma segunda-feira muito diferente. Uma manhã que começava com cores de um amarelo vivo, o barulho na rua de quem corria para aqui ou ali. E ontem o que tinha sido? Tinha sido um Domingo errado.
 
Um copo a mais, com um líquido a mais. Uma língua desatada, conversas impróprias. E sem pensar estava ali deitado. Teria sido bom? A memória dizia-me que sim, que tinha sido bom. Teria sido significativo? A minha memória não me sabia dizer se tinha sido. Isso era outra coisa. Impossível de avaliar no momento.
 
Deixei de olhar o teu rosto. Virei-me de barriga para cima. Um momento depois sentei-me na cama. Levantei-me devagar, fui para a varanda. Fui olhar a paisagem. Mãos firmes no varão de ferro, pés sobre o chão frio. Mas nem um tremor. Uma abstracção absoluta. Nunca cheguei a ouvir-te levantar. Caminhaste nua em direcção a mim. Afastaste a cortina do quarto com suavidade. Chegaste a mim por trás, encostaste o teu corpo ao meu, senti os teus seios pressionar as minhas costas, os teus pêlos nas minhas nádegas, os teus braços a colher o meu peito. Apoiaste a tua cabeça no meu ombro. Eu não disse nada. Tu também não disseste nada. Segunda-feira de manhã num  absoluto silêncio. O meu coração batia. O teu também. Podia senti-lo. Virei-me. Olhei-te nos olhos. O nosso olhar cruzou-se por momentos.
 
Momentos daqueles que duram muitos minutos. Tu procuravas uma resposta e eu também. E ao mesmo tempo queriamos encontrar algo para dizer. Mas não havia nada que se pudesse dizer. Melhor calar.
 
Toquei-te no pescoço. Uma carícia. A outra mão foi procurada pela tua. Os dois, numa imensa nudez, de corpo e de espírito, com mãos dadas e carícias leves. Desviei o olhar e esbocei um primeiro movimento para voltar ao quarto. Interceptaste-me. Estendeste o teu braço, mão no meu peito, barraste-me. Para que eu não desse um único passo mais. Entreabriste os lábios como que para articular uma palavra, mas paraste a meio. Não chegaste a dizer uma sílaba.
 
Olhei-te virando a cabeça. Baixei o olhar, suspirando. Baixaste o braço. Deixaste-me passar e assim entrei eu no quarto. Dei a volta à cama e sentei-me. De mãos na cara, cotovelos nos joelhos. Meditando. Apercebi-me, pelas sombras na parede em frente, que tinhas ficado parada na porta, afastando a cortina, projectava-se a tua silhueta, quase perfeita. A sombra de uma mulher com tudo no lugar. A sombra de uma mulher que tinha misturado o seu corpo com o meu até ao ponto de se confudirem. Diria mesmo, de se fundirem. Gotejando suor. Mas tudo isso acontecera horas antes. Depois viera um sono restaurador e uma consciência pesada.
 
O que tinha acontecido? Fechando os olhos baixei ainda mais a cabeça. A tua silhueta veio a mim. Sentaste-te ao meu lado. Olhei um pouco para o lado, vi a tua cintura iluminada pelo sol. A tua mão deslizou da beira da cama para a minha coxa esquerda. Foi a primeira vez que te ouvi falar nessa segunda-feira de manhã. E foi para dizer «Não faz mal, eu entendo!».
 
Depois ergueste-te, vi-te afastar um pouco enquanto procuravas a tua lingerie. Depois a saia. A blusa. O casaco. Os sapatos. Ias embora, mas antes voltaste. Inclinada na porta subiste um pouco a saia, despiste as cuecas. Atiraste-as para cima da cama. Disseste «toma, para que te lembres de mim». Depois de fechares a porta do apartamento tocou o telefone. Dei um salto. Atendi. Respondi. «Sim, está tudo bem. Volta por favor! Não suporto a tua ausência!».
 
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r á p i d a s   r a s t e i r a s  
 
"Não sei se teria perfil para ser atriz de novela ou para comandar um programa de entrevistas.”
(SABRINA SATO, neo-peladona, hesita ante as múltiplas possibilidades da arte. Sabem que, de vez em quando, eu também tenho dúvidas dessas? Não sei se viro supercraque, ou deus da guitarra.)  
 
"É preciso um controle externo do Judiciário."
(PRESIDENTE LULA, demonstrando noção precisa do significado da expressão "três poderes", e que não esclareceu se aceitaria um controle externo para o Executivo.)  
 
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estação dos lobos
elton mesquita 
http://r9ug7kv.blogspot.com
 
"Então aos 43 anos de idade eu descubro que o que eu faço melhor é matar pessoas.

A função que eu melhor desempenho, o meu verdadeiro talento, não é a periodontia, de onde tiro meu sustento, nem a jardinagem, de que me ocupo nos finais de semana. É de se imaginar, com razão, que eu tenha ficado tão surpreso quanto minha primeira - uso o termo com um compreensível embaraço - 'vítima'. Na excitação do momento, sujo de sangue e vísceras até os cotovelos, me peguei pensando no quanto de si próprio uma pessoa pode desconhecer. Porque, veja bem: Eu sou muito bom. Duas das pessoas que matei nem souberam o que estava acontecendo. Aliás, isto parou de ser divertido rapidamente. Hoje em dia eu gosto de ter a certeza de que todo mundo sabe o que está prestes a acontecer. 'O que está na ponta de cada garfo', poderia dizer.
 
Minha proficiência no campo não se deve a nenhuma predisposição ao cálculo frio, nem a uma dose de coragem acima da média. Eu realmente não sei explicar. Mas, às vezes, no meio de um esfaqueamento mais feroz, me vem à mente a lembrança de que a Fuga em G menor BWV 524 de Bach, e sua Oferenda Musical foram produtos de uma improvisação despretensiosa. Não pretendo conjecturar sobre coisas como 'predisposição genética' ou 'gênio inato'. Não tenho o orgulho de pretender compreender os desígnios de Deus. Se ele me deu este talento, deve ser para que eu o use.
 
A primeira pessoa que matei foi minha esposa. Por uma discussão enjoativa e tediosa, que já vinha se arrastando há algumas semanas, sobre a compra de uma geladeira. A bem da verdade, não era uma discussão. Eu não necessariamente discordava da opinião de Selma (este era seu nome) sobre o modelo de geladeira a ser comprado, ou sobre onde a compra deveria ser feita. Eu simplesmente não me importava, e tentei ficar de fora do processo. No entanto Selma, tendo sempre sido uma mariposa medrosa e indecisa, passou suas últimas três semanas de vida me importunando com o assunto, particularmente nas poucas horas que eu tinha para aproveitar um livro ou ouvir alguma música. No final, comprei eu mesmo a geladeira, onde guardei alguns pedaços seus. Fiz isso por não saber ainda que tipo de matador eu era; afinal, eu poderia ser um canibal. Mas não era, e após duas semanas me livrei do que restava de minha esposa.
 
Dei queixa do desaparecimento de Selma, houve as investigações de praxe, mas nada foi esclarecido. Meus filhos se recuperaram bem, e depressa. Pra minha sorte, já estão encaminhados e não moram comigo, de outra forma atrapalhariam consideravelmente minha nova atividade.

Seis meses e trinta e sete mortos depois, eu já sabia exatamente o que eu não era: Eu não era um Visionário, não tinha uma Missão, não era um Pervertido Sexual nem um Aventureiro. A modéstia inibe o que os fatos expõem: cabe aos leitores dos jornais atentar para a diferença entre mutilar o rosto de uma prostituta para então fodê-la e o ato de empalhar um bailarino em uma pose para a posteridade (o 'Caso Orighelli', que causou furor o ano passado. Aproveito a oportunidade para dizer que muito me lamentei me desfazer do espécime, mas não tive como levá-lo comigo quando de minha mudança apressada).
 
Muito embora eu sempre tenha apreciado Arte, jamais achei ter talento para qualquer coisa. Não que eu não tenha insistido: Eu sou um medíocre pintor, um escritor empolado, um músico sem espírito. A música escondida, as cores novas que eu sabia estarem ao alcance dos gênios, eu as pressupunha, mas nunca pude apreendê-las - até minha descoberta, quase acidental. Minha descoberta se deu da seguinte forma (e peço perdão por insistir no infeliz destino de minha esposa): Foi num dia particularmente monótono, em que Selma insistia em me levar de um canto a outro da cozinha com uma fita métrica, cacarejando incessantemente sobre sua indecisão. Eu não conseguia me forçar a prestar atenção, e naquele momento uma imagem precisa, com cheiro, sabor e sensação de tato, me veio à mente: A pele macia e levemente enrugada do pescoço de minha esposa, acumulando-se por sobre a borda metálica da fita métrica, ficando mais e mais vermelha pela pressão. Eu me lembro de ter dito 'Fica parada um pouco', e então dei uma volta ao redor dela com uma graça que até então desconhecia, e com o mesmo movimento de braços lhe tomei a fita métrica, com a qual enlacei o seu pescoço, e comecei a golpear sua nuca contra a quina da pia de mármore. A expressão de surpresa e confusão no olhar de Selma foi provavelmente a coisa mais engraçada que ela já fez na vida, e eu quase a soltei de tanto me sacudir, rindo. Me lembro de ter sentido um pouco de pena de Selma quando tudo acabou, mas minha atenção foi logo desviada para o novo jogo de facas que ela tinha comprado: Facas de todos os tamanhos e formas (até uma faca de cortar linóleo, por Deus!). Passei horas esquecido, experimentando a resistência de diferentes partes do seu corpo: Primeiro a carne afundava um pouco, depois cedia e se abria, contornando a lâmina com um 'plufp' que até dava pra ouvir, se você se concentrasse bastante. Só não gostei de lavar a cozinha. Sim, e depois saí com a picape e comprei eu mesmo a geladeira. Deixei os dedos de Selma numa jarra; pus ali seus lábios, também, atrás de uma torta de camarão. Só fui perceber o quanto havia me esforçado no dia seguinte ao acordar: meus braços e meus pulsos doíam de todo o esforço."
 
Alberto acendeu o cigarro e esticou as pernas. A mulher, amarrada a uma coluna de concreto no meio do armazém abandonado, tinha parado de chorar e agora tremia incontrolavelmente.
 
"Não se preocupe, ainda temos tempo. Estive tentando me decidir como vou matar você, e ainda não cheguei a uma conclusão. Só me parece que todo esse vidro quebrado por aqui está pedindo pra ser incorporado à composição. Antes de eu começar, deixe-me continuar com minha história um pouco mais. Se eu fosse você, aproveitava seu tempo o melhor que pudesse. Quando eu terminar esse cigarro, as coisas vão ficar horríveis".
 
* * *
 
Isabella tentou se levantar e só naquele momento compreendeu que aquele era o dia de sua morte. O Matador havia cortado seus tendões do calcanhar enquanto ela estava dopada. A dor lhe mordeu por dentro da carne até a base da coluna, e ela caiu no chão meticulosamente limpo sobre o qual se estendia um imenso cobertor de plástico transparente. "Olha, não se iluda, nem se canse. Você morre hoje. Eu não vou me demorar mais que meia hora, prometo", disse o Matador, fitando distraidamente a brasa do cigarro. Ele havia desamarrado Isabella já há algum tempo.

Naquele momento o Matador deixou de ser o Matador e se tornou Alberto - foi quando ele se apresentou:

"Meu nome é Alberto. Não tem mais garotos novos chamados 'Alberto'. Minha geração deve ser a última para um bocado de nomes: Selma, também... Qual o seu nome?"

Isabella olhou para o seu sangue, já seco, manchando seus pés e a barra de sua calça, e recomeçou a chorar. Seu sangue se esvaía dela como se nada tivesse que ver com esse negócio. Seus pés a traíam, seu corpo a abandonava. Tentou dizer seu nome, mas engasgou na primeira sílaba.

"Pode chorar, eu gosto. Sabe, minha pe... meu... desempenho depende muito da reação da audiência. Olha aqui o que eu trouxe", Alberto disse, abrindo uma bolsa esporte. Estava cheia de ferramentas - martelos e pregos, parafusos e chaves de fenda, serras elétricas, furadeiras. "Não se preocupe, não vou usar isso em você enquanto ainda estiver viva. Só depois". "Pelo amor de Deus...", Isabella conseguiu dizer.

Alberto largou a bolsa no chão. O ruído do metal pareceu uma explosão de riso de mofa. Alberto então pegou a bolsa de Isabella do chão e a abriu. Deu uma olhada não muito interessada no conteúdo da bolsa e então ergueu um cartão.

"Estagiária de Jornalismo. Que história essa seria, hein?"
"Deixa eu escrever uma história. Vai fazer você ficar famoso"
"Ah, minha querida, mas eu não quero ficar famoso. Eu não quero ser notado..." ele disse, se aproximando.
"Você disse que ia me contar outras coisas"
"Mudei de idéia. Vamos logo com isso.", Alberto disse, pegando um taco de beisebol e se aproximando de Isabella, que começou a se arrastar para trás.
"Eu quero quebrar seu nariz. Mais pelo som, entende? Empurrá-lo pra dentro da sua cara. Depois vou quebrar seus dentes. Não se canse, Isabella. Vem cá. Deixa eu te contar de uma vez em que pisoteei um bebê e ele explodiu".

Alberto apertava os botões certos por puro instinto. Seu tom de voz e as coisas que dizia aumentavam o terror que cada vítima sentia; ele tinha certeza de que algumas tinham mesmo enlouquecido antes de morrer apenas de ouvi-lo discorrendo sobre as coisas que fizera para se divertir.

"Bem melhor que jardinagem", ele pensou,quando o impacto do primeiro golpe enviou ondas de choque de suas mãos até seus ombros. Claro que ele não acertou o nariz de Isabella de primeira: acertou seu queixo. Ela mordeu a ponta da língua fora e se engasgou com saliva e sangue. No instante seguinte Alberto se descuidou e golpeu seu crânio, ao invés de se restringir ao rosto, como havia planejado. Felizmente, Isabella não tinha desmaiado.

Após um minuto, Isabella já não tinha certeza do que estava acontecendo. Alberto a segurou pelos longos cabelos loiros e a ergueu em seus joelhos. Quando ele a soltou para segurar o taco com as duas mãos, ela cambaleou um pouco, mas se susteve. Aí ele acertou seu nariz. O som foi tão bom quanto ele esperava que seria. Mais um minuto e o rosto de Isabella se desfez. Ela não gritava mais (e quase não tinha gritado, a bem da verdade), apenas emitia um longo gemido prolongado e tremia.

"Agora, como eu vou matar você?", Alberto perguntou alto, enquanto largava o taco de beisebol para um canto.
Foi quando ele viu um tonel cheio de água num canto mais escuro do armazém.
"Eu nunca afoguei ninguém, sabe", ele disse.
Então ele ergueu Isabella no colo e a levou cuidadosamente para lá.
 
* * *
 
“Antes do café eu matei três pessoas. Sem nenhum motivo além de ter sido uma manhã fria e eu estar precisando me aquecer. Depois de ter voltado ao chalé onde estou passando as férias, tomei um banho quente, rápido, e fui para o restaurante, onde tomei um café reforçado. Tinha manteiga de búfalo, panquecas, ovos cozidos e estrelados, café e leite, chocolate, suco de laranja, lingüiça, tiras de bacon, molho agridoce e nuggets de frango. Talvez seja só eu, mas meu apetite geralmente aumenta muito após uma morte ou duas, de modo que comi bastante. Pensar que, enquanto eu provava a consistência, textura e sabor do bacon, três pessoas incautas estavam iniciando seus processos de decomposição dentro do lago, para sempre separados dos trabalhos da vida, adicionou um tempero todo especial à comida.
 
Já fazia três semanas que tinha saído da cidade. Quando minha propensão ao assassinato se revelou, soube que, não importasse o que eu fizesse, fatalmente chegaria o dia em que eu seria pego, ou morto. Ninguém abate duzentas e trinta e sete (perdão, quarenta) pessoas sem pagar algum preço. Mas não me importava. A idéia de ser martirizado pela minha arte me parecia extremamente atraente. O toque exótico que conferiria legitimidade às minhas ações. E foi com prazer que eu identifiquei um policial (à paisana, mas no meu ramo de atividades se aprende a reconhecer um policial quase instintivamente) de férias com a família. Mal sabia ele que estava destinado à glória. Mas ainda havia tempo para preparar tudo.
 
Terminei de comer, arrotei discretamente e olhei em redor, contando as famílias que tomavam seus cafés assistindo às televisões penduradas nas paredes, e pensei em quanta fome eu estaria sentindo no almoço".
 
* * *
 
"É tudo muito simples", disse Alberto, tomando cuidado para suavizar o tom de voz e transmitir segurança para seu interlocutor. Era essencial que o ambiente estivesse calmo e relaxado, para que as coisas fluíssem da maneira desejada em direção a uma conclusão limpa e rápida.
 
Alberto havia imaginado escavar uma cicatriz dolorosa e absurda no policial que ele agora sabia se chamar Leônidas. Primeiro ele imaginou a cicatriz fisicamente; no entanto, acabou se decidindo por uma cicatriz psicológica. E agora ele estava prestes a desferir o golpe.
 
"É tudo muito simples", ele repetiu, e qualquer um naquela sala saberia que ele estava falando sério. "Você tem uma mulher e dois filhos. Excelentes crianças. Mas, sim: Você escolhe qual dos três morre, ou os três morrem. É um negócio sem imaginação, e sem tempo, também, mas não acho que você esteja reclamando. O que pra mim é uma saída medíocre e cansada, pra você, nesse exato instante, deve ser o momento épico que definirá sua vida. Pense por alguns minutos, se quiser. Cinco, aliás. Mas não serão seis minutos. Cinco. Aí você escolhe, e eu uso essa tesoura de cortar carne na jugular de um deles. Depois eu solto você, e você pode me prender ou matar, tanto faz. Simples assim, rapaz. Meu fogo brilha com tanta intensidade que fará com que você também resplandeça no final. Não importa que você não seja digno. Você nem deve saber quem foi Leônidas, não é mesmo? Mas o tempo urge, e devo me contentar com a mera homonímia. Bom, vamos com isso: A mulher, o garoto ou a menina?"
 
Leônidas não sabia o que dizer. Se lembrava de estar no lago, à noite, com a mulher. Sua última lembrança era do cordão de lâmpadas amarelas que dava uma volta no lago, iluminando os botes e pequenos barcos ancorados nas margens. No ponto oposto havia uma fogueira e uma numerosa família fazendo um pique-nique. Mateus e Clara estavam dormindo, e logo ele e a esposa estariam indo pro chalé, também. Mas tudo havia ficado escuro de repente, e quando ele acordou se viu amarrado a uma cadeira, de frente para as três camas onde sua família estava amarrada.
 
Todos estavam em silêncio. As crianças tinham começado a chorar, mas tiveram que parar. Até a pequena Clara, de dez anos, entendeu que seria melhor ficar em silêncio, pois Alberto tinha dito, sacudindo graciosamente a tesoura de trinchar galinha, "Fiquem quietinhos ou eu corto fora o nariz da mamãe". De vez em quando, um soluço era ouvido, e então o quarto voltava a ficar quieto.
 
"Faltam dois minutos, rapaz. Aí do seu lado tem a arma que você vai usar pra me prender ou matar. Pense só, não vai ser bom meter umas balas na minha cabeça, hein? Quanto mais cedo você escolher, mais rápido isso acaba".
 
Leônidas quis gritar, mas a mordaça o impediu. Sacudiu a cabeça, olhando bem dentro dos olhos de Alberto - e sentindo o desespero aumentar ao constatar que nenhuma luz vagamente humana flutuava em suas pupilas. Alberto tinha olhos brilhantes e impenetráveis de inseto. A tesoura gordurosa era uma pinça má, uma extensão do seu corpo. Cortava através de osso e carne como se cortasse manteiga. E Leônidas sabia que ainda não, mas logo, aquela tesoura estaria escavando a pele, cartilagens e ossos de um de seus filhos ou de sua esposa.
 
"Um minuto, Leônidas. Um deles ou os três. Tenho certeza que você consegue ver o problema pelo menos do ponto de vista quantitativo. Confio em seu julgamento".
 
Alberto observava a cena com interesse. Lágrimas rolavam do rosto dos quatro, uma, depois outra, e ainda outra. Já fazia bastante tempo, até. Era um choro dedicado e silencioso; Clara parecia estar em transe.
 
Leônidas achou que tinha um plano, mas Leônidas não conhecia Alberto, não sabia das coisas estranhas e inventivas que Alberto havia feito com o corpo de desconhecidos. E, achando que tinha uma chance, Leônidas apontou para Clara. Porque, em seu pequeno e confortável esquema de coisas, era inconcebível que alguém degolasse uma menina de dez anos com uma tesoura de aço inoxidável.
 
Clarice, a mulher de Leônidas, soltou uma série de pequenos gritos curtos, abafados. Se sacudiu e tremeu e se retorceu toda na cama, e por um momento tanto Alberto quanto Leônidas acharam que ela ou iria romper as algemas que a aprisionavam, ou rebentaria em dois. Lucas olhava para o teto e balançava a cabeça lentamente de um lado para outro; parecia estar conversando com alguém - parecia estar implorando.
 
"Muito bom. Eu teria escolhido a esposa, mas sou suspeito para falar", disse Alberto, contente por tudo estar terminado. Ele se aproximou de Clara, que mantinha os olhos fechados numa careta indescritível, e lhe disse:
 
"Você vai morrer agora. Sabe o que significa?"
 
Clara sacudiu a cabeça, fazendo que não.
 
“Ah, mas vai”.
 
Clarice estava prestes a quebrar a cama, se sacudindo e pulando. Leônidas olhava para Alberto. Queria poder se ajoelhar para poder se ajoelhar e beijar os pés de Alberto, queria poder falar para implorar tanto quanto pudesse. Mas não podia. Fechou os olhos.
 
"Ah, desculpe mudar as regras no final, mas tinha esquecido desse detalhe: Quero que você veja. Senão o garoto e a mulher morrem, também. Vamos, não tenho o dia todo".
 
Leônidas abriu os olhos a tempo de ver a ponta da tesoura sumir sob o queixo de Clara, que mantinha os olhos fechados. Um fio de voz aguda pareceu escapar do corte que se abria, e depois houve um barulho úmido e sons de ligamentos se rompendo. Acima disso, o estalar metálico da tesoura, repetidas vezes. Clarice se deixou cair na cama com um vagido trêmulo, extenuada, abandonada pelos nervos. Lucas pareceu enfurecer-se com quem quer que estivesse se comunicando. Olhou para o teto uma última vez, depois deu dois suspiros e desmaiou.
 
Em pouco tempo estava terminado.
 
Alberto desamarrou Leônidas em seguida. Nervoso, gaguejou um pouco ao dizer suas últimas palavras, por isso não chegou a completar a frase. Leônidas não prestou atenção. Se levantou mecanicamente e desfez o rosto de Alberto com seis tiros. Nunca entendeu o que lhe aconteceu. Nunca soube quem Alberto era. Pegou mais balas de uma pochete, recarregou a arma e deu mais seis tiros no rosto de Alberto. Aquela coisa não merecia um rosto humano.
 
Depois Leônidas se sentou no chão, se sentindo como se estivesse bêbado. Mais um minuto e ele desmaiaria. Desmaiou.
 
* * *
 
Acordou para o mesmo mundo, para ver sua mulher trabalhando freneticamente para desfazer o nó de seu braço direito. Leônidas saiu calmamente do quarto e se dirigiu à recepção, onde chamou a polícia. Sentou-se numa poltrona, abraçou-se como se estivesse com frio e fechou os olhos. Trancou a porta e jogou a chave fora.
 
Os filhos de Alberto compareceram ao seu enterro, mas não se atreveram a chorar, embora mal se agüentassem. Ainda tinham um inventário pela frente, e a casa de seu pai era grande, tinha sótão e porão e vários quartos, e quem sabe o que aqueles cômodos revelarão?
 
Os jornais falaram sobre o acontecido durante um mês e dezessete dias. Depois a guerra começou, e compreensivelmente a atenção do público se desviou para notícias do front (embora um espasmo de notícia tenha vindo à tona numa página 12: o túmulo de Alberto tinha sido violado e o corpo, queimado); à noite, as famílias se reuniam em frente de telas de tevê que mostravam céus negros riscados por linhas e pontos de fósforo branco. “Este clarão foi um hospital atingido por engano”, dizia o apresentador. “A linha intermitente no topo da tela, se aproximando do chão – este é um novo míssil, que cria uma nuvem inflamável de cinco quilômetros de diâmetro. Após a ignição, obtêm-se um poder de destruição logo abaixo do de uma bomba atômica. Estas são imagens do que sobrou de uma criança refugiada que escapou de um campo de concentração na faixa de Gaza”.
 
E enquanto Leônidas descia escadas em espiral cada vez mais para baixo, poços de petróleo em chamas iluminavam as noites do deserto e corretores acompanhavam com a respiração suspensa as caprichosas oscilações do valor do dólar, do ouro, das ações, do barril de petróleo. Ao cair da noite, voltavam para seus apartamentos silenciosos e olhavam para o horizonte permitido pelos prédios. Imaginavam dentes, pêlos, saliva, garras; pegadas na areia, pares de olhos amarelos, um ondular de costas arqueadas. Cerravam então as cortinas, apagavam as luzes e se deitavam. Esperavam o sono tensos, o maxilar travado, rezando para não ser acordados pelos uivos que logo invadiriam as ruas.
 
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p e r g u n t a r   n ã o   o f e n d e
"Se você fosse guardar apenas uma lembrança de sua vida, qual seria ela?"
  
 
daniel paulo  http://saravasuabanda.blogspot.com
Eu guardaria uma camisa do Santos Futebol Clube.  
 
cristina xavier  [email protected]
Bolo de aniversário de 4 anos bananasplit nas americanas com mamãe cozinhadinho no quintal com as amigas e irmãs praia sábado a tarde com papai cheiro de caderno novo sorriso do meu avô violão da vovó vestido novo dos 16 passar no vestibular pela primeira e pela segunda vez verões na praia da costa beijos na varanda de casa gosto de sal na boca calor quentinho depois do mergulho gelado festa de aniversário surpresa carnaval em iriri porre de cachaça com caju violão e voz do marco menininha Amanda casa ficando amarela pulo de áquila no colo primeira transa com o grande amor prédio chamado namorados carinho de Aline e Raquel... (tudo bem, eu roubei um pouquinho, mas é uma lembrança só).
 
rodrigo  [email protected]
Se eu pudesse guardar só uma lembrança da minha vida, guardaria a lembrança do porquê eu não poderia guardar as outras, que talvez fosse mais confortante do que puxar pela memória e perceber que só havia uma lembrança restando, sem saber o motivo.
 
vingador  [email protected]
Ah, essa é fácil, gostaria de lembrar sempre onde guardo meus diários e memórias que escrevo desde os nove anos de idade.
 
paola baião  [email protected]
Levaria minhas fotos de recordação!!! Pra onde eu vou elas estão comigo!!!
 
dimitri  [email protected]
Eu guardaria uma vaga impressão de que vivi umas tantas coisas muito legais - o diabo é que não lembro bem quais...
 
mr. soda  [email protected]  
Não sei quem irá ler esse e-mail, portanto não irei escrever nada além da resposta e essa introdução. Não irei responder que foi o dia que o meu Tricolor foi bi campeão mundial, ou quando minha irmã nasceu, muito menos no primeiro beijo. Se eu fosse guardar uma lembrança da minha vida, eu guardaria a noiteem que eu fiquei bêbado pela primeira vez com 4 colegas e comprei um Kinder Ovo, mas não sei o por quê, nem sequer consegui montar a surpresa. Nem assistindo os melhores filmes de comédia, lendo as melhores crônicas ou ouvindo as melhores piadas, eu dei tanta risada quanto aquela noite. Hoje só me arrependo de ter ido durmir na melhor fase da minha vida. E pelo jeito não me contive em escrever apenas a resposta...  
 
nicole lima  http://nicolsaddress.sites.uol.com.br
Esses dias me contaram de um homem que tece colchas de retalhos e fabrica instrumentos num manicômio dizendo que Deus pediu pra ele mostrar-lhe como é o mundo. Se eu pudesse levar só um instante da minha existência pra mostrar pra Deus eu contaria a ele como a minha mãe pedia pra eu deitar na cama sem cobertas quando eu era criança no inverno frio de Lages. Depois ela ia jogando uma a uma as várias camadas de lençóis, cobertores e alcochoados de lã de carneiro que cobriam meu rosto formando milhares de tons filtrados pela luz.  Por fim fechava os cantinhos em volta do meu corpo com as mãos como num casulo de cobertas pro frio não entrar, me abraçava e ia dormir.
 
alessandra mascarenhas  [email protected]
Seria a noite dos olhos molhados. A noite em que eu soube quem você é. O que você é prá mim. Ou o que seria. Ou o que será. Madrugada. Seu corpo de perfil recortado pela janela escancarada ao fundo. Noite de estufa, ar morno. Lua gigante. O prisma pendurado. Imóvel. Sua mão linda e trêmula iluminada segurando a taça de vinho tinto. O momento congelado. E eu, no sofá azul da sala, assistindo a cena, senti meus olhos se encharcarem, minha boca sorrir e meu coração dar um tranco.
 
thiago costa  http://eudesigner.blogspot.com
coé galera do zine, eu tenho minha resposta pra pergunta da semana, embora pareça muito estranho ou bizarro, mas foi a primeira coisa que veio na minha cabeça. eu guardaria a lembrança do meu primeiro gozo. sério, eu nao esqueço e ainda comemoro o aniversário.
 
marla  [email protected]
Eu guardaria a lembrança da minha primeira viagem a Maceió, nos idos anos de 1985. Eu nunca havia saído de Salvador. Tinha 18 anos e me achava horrorosa. Fui para um congresso de Engenharia com uma amiga que era estudante da área, e eu de penetra, era uma formanda em análise de sistemas, tímida que só!!!. Como era a minha primeira viagem tudo era novo pra mim. Aquela cidade com praias belíssimas e de águas límpidas me fascinaram. Eu moro em Salvador e a adoro. Sei de todos os seus encantos e as ´malvadezas´ de seus desencantos, mas nunca tinha visto uma coisa tão linda como o mar de Pajuçara. Lembra aquela música: " mergulhar no azul piscina, no mar de Pajuçara..." ? Pois é, quem é tão ´velho´ quanto eu deve lembrar. E quem já foi de jangada até a coroa no alto mar de Pajuçara, sabe do que eu falo. Hoje, imagino que o passeio é mais comercial do que encantado. Mas naquela época, velhos pescadores nos levavam ao som de cantorias, com vozes a la Dorival Caymmi. Lá na coroa, você só vê o céu e o oceano. E você vê a areia do fundo do mar bem pertinho, em alto mar. Você se sente infinito com tamanha imensidão. E se sente pequenininho diante de tanta beleza. Era como se eu tivesse mergulhado no azul. Era um mar tão lindo que sentei na ponta da jangada e chorei. Agradeci a Deus por aquela oportunidade, por poder enxergar e sentir as maravilhas que a natureza tão simplesmente nos oferece. Pensei nas pessoas queridas que eu queria que estivessem ali comigo. Que se emocionariam ao testemunhar junto, sem precisar explicar o quê. Nunca mais voltei lá. Já fiz outros passeios semelhantes, mas nenhum, nem em Porto Seguro, nem em Porto de Galinhas, nem na Baía de Camamu, há um azul encantado, como que pintado, como se fosse um papel azulzinho acetinado a embrulhar os segredos do mar. Há muitas outras lembranças em minha mente, como o primeiro beijo, o primeiro namorado, o primeiro filho, e tantas outras. Mas essa foi a primeira vez que me senti recebendo um presente de Deus e por isso mesmo me senti sendo um presente pra Ele!
 
pergunta da próxima semana:
"Quando o Spam Zine deveria ter acabado?"
José Vicente, o editor da próxima semana, aguarda ansiosamente por suas declarações sinceras. Escrevam: [email protected].
 
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alcaparras
crib tanaka 
[email protected]
 
Tirou uma foto do corpo dele no chão. Ajeitou como se estivesse querendo comprovar que ele mesmo tinha se matado. Pôs um dos braços meio dobrado, nessas posições em que só mortos são encontrados. Limpou um pouco o vermelho e volta. Não havia necessidade de tanto sangue saindo da boca e nariz. A expressão das mãos e dos olhos bastaria. A testa, lisa, parecia maior que o normal. Com o susto, ele provavelmente teria aberto demais os olhos. Imaginou - e riu, pondo a mão por cima da larga boca - os olhos com molas, como nos desenhos animados.
 
Bateu um filme todo. O carpete a fazia espirrar. Irritava-se quando com alergia, aquela sensação de fios de algodão entrando no nariz era enlouquecedora. No carpete desenhara a giz o contorno do corpo dele. Bem devagar o volteou, meio de joelhos, meio em pé. Sempre prestando atenção nos pêlos que saíam da blusa dele. Gostava de homens assim. Pareciam estar sempre prontos para o sexo.
 
Suada, cansada e confusa. O cheiro de ketchup misturado ao esmalte o deixara enjoado. As fotos ficaram boas? Não sei, acho que sim, gostei da sua mão assim, meio pro lado, parecia quebrada, solta do braço. Quer comer alguma coisa? Ela nem acreditou naquele convite, ele pondo o colete, barba grisalha por fazer, mãos grandes.
 
Andaram pouco, ela tentando disfarçar a timidez, escondendo-se nos próprios cabelos. Ele abriu a porta e fez menção para que ela tomasse à frente. Lustres imensos de cristais pendentes e mesas infinitas espalhadas sobre o assoalho de brilho oleoso. Ela, desacostumada com refinamentos, sentia-se lisonjeada e desconfortável em meio a todas as sedas que cobriam mesas, forravam cadeiras. Sentaria em tecido mais rico do que o brim barato que cobria seu corpo. Olhou para as flores no jarro e pensou em como não era uma mulher feminina. Mulheres femininas sempre ganham flores. Ela nunca ganhara. Não deveria ter cara de quem gosta de coisas leves.
 
O garçom apressou-se em trazer garrafas de vinho. Novidades da Itália, senhor. Esse não conheço. Deixe aqui na mesa, vamos provar. O rubro taça de cristal quase líquido ela engolia a seco, enquanto ouvia a voz dele ressoar no fundo do restaurante. Voz longe. Bebia devagar, o olhava desfocado pelo cristal da taça e tinha no rosto um misto de sorriso trêmulo de nervoso com cartão de visitas. Não mostrava os dentes, mas também mantinha sempre as maçãs contraídas.
 
Ele pediu um peixe com alcaparras. O sabor amargo a agradava. Odiava pôr guardanapo no colo, mas, assim sentiria-se não tão deslocada, seguindo as convenções da boa etiqueta. Ele falava sem parar sobre como mercado de trabalho no Brasil para ele era praticamente nulo. Em como há anos só conseguia trabalho com estrangeiros. Especialmente os italianos. Eles são ótimos nisso. Têm extremo bom gosto.
 
Ela já estava na terceira taça de vinho. E lambia a boca da taça discretamente, desejando que ele nisso visse que ela era mulher, porra, ela era mulher. Tirou o casaco e deixou os ombros à mostra, fugindo pelas alças da camiseta rosa e fina. Tentou posições diferentes para mostrar-se. Ele falava. Deixou o começo de um dos bicos do seio aparecer pelo decote. E ele falava e cruzava e descruzava os braços e apoiava-se na mesa em seus cotovelos-redoma. O bico róseo ficou ali, em contraste com a camiseta, aparecendo e escondendo-se em rendas. E ele falava de seu trabalho, de suas viagens, de suas roupas.
 
Pegou então uma faca e cortou o próprio seio. Misturou o bico às alcaparras que ele tanto degustava, enquanto ele olhava-se no espelho, ajeitando o cabelo. Não vai comer mais? Não, estou satisfeita. Mas, comeu tão pouco. Ela construiu um sorriso frágil, desses acompanhados de cílios fechando vagarosamente. Coma por mim. Pôde ver na expressão dele o estranhamento de quem sabe que mastiga o que não condiz com a imagem do que viu no prato. Fale-me mais do seu trabalho - ela então disse -  enquanto com o guardanapo estancava o sangue. Ele engoliu de uma vez, tomou um gole de vinho, tirou o guardanapo do colo e limpou a boca. Em Milão, pude conhecer muita gente legal, como era bom viajar para lá, ainda o mais emendando depois em Londres, ótimos pubs, lugar de gente bonita, sabe? Mas, gostei de ter vindo ao Brasil. Sempre tive vontade de fazer um editorial tipo esse que a gente fez hoje, meio macabro. Você acha que as fotos ficaram boas? Ela tomava vinho e ria. Como detestava modelos.
 
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diarréia
ian black 
http://chicletecliche.blogger.com.br
 
Consegui convencer meu corpo cansado e o meu cú frouxo para conseguir chegar sem maiores danos até o posto de saúde. Ao chegar, uma fila enorme formada de mulheres acalmando crianças chorosas no colo, velhinhos limpando seus narizes catarrentos pela décima segunda vez em seus lencinhos, conseguindo a proeza de dobrá-los mais vezes do que as leis da física permitem. Mocinhas com seus 16 anos e barrigas de 7 meses e meio. Material para dar e vender para qualquer antropólogo que queira aventurar-se por estas bandas pobres.

Enfrentei a tal fila, trançando as pernas, contraindo a bunda e tentando não pensar no que era quase inevitável. Cheguei a pensar em simular um desmaio, uma convulsão, mas cheguei a conclusão de que as recepcionistas estava fartas de tais encenações quando vi o tédio rascunhado no rosto de cada uma.

Usei de gestos leves e voz baixa para informar que eu precisava de um clínico-geral. Usei da mentirinha que havia esquecido o comprovante de endereço, afinal, eu estava num posto de saúde de Taboão da Serra. Moro em Embu das Artes, mas o posto de saúde mais próximo de casa é o da cidade vizinha, e eu não poderia correr nenhum risco, meu cu não agüentaria muito tempo. Pela minha cara, a recepcionista deve ter pensando que eu realmente não estava em condições de lembrar ou de procurar nas gavetas um comprovante de residência, de modo que aceitou o endereço falso que informei e apontou-me o corredor para que eu aguardasse minha vez para a consulta.  
 
Mal entrei no corredor e fui olhando porta por porta, na esperança de encontrar a milagrosa palavra "masculino" ou  "banheiro" ou "homens" ou o desenho de uma cartola ou de um menininho como nos sinais de trânsito, o lugar aonde eu poderia render-me à minha diarréia que estava cobrando o prêmio por sua paciência. Adentrei o tão sonhado banheiro e descobri que ele não era tão "dos sonhos" assim. Não havia sabonete líquido para lavar as mãos, ele era pequeno e o mais desesperador era que NÃO HAVIA PAPEL.  
 
Saí, e sem pensar em vergonha ou qualquer timidez, afinal, vergonha maior seria ter as calças borradas, entrei na enfermaria e, educadamente pedi licença às enfermeiras e peguei um dois três quatro quatro cinco seis pedaços de papel. Elas não ligaram, provavelmente outros já haviam feito o mesmo. Corri para o banheiro, e ainda descobri triste que a porta não possuía trincos. Numa demonstração ímpar de paciência e coragem  isolei a borda do vaso para então começar o ritual de evasão, sempre com os reflexos em dia para gritar "TEM GENTE" ao menor movimento da porta.  
 
Apesar do prazer que sinto em demorar-me quando vou ao banheiro, até havia levado uma revista para matar o tempo, como faço de costume, não quis arriscar-me a perder a voz de tanto gritar para alertar minha presença. Voltei ao corredor de espera, esperei mais alguns minutos e escutei meu nome sendo chamado por uma voz feminina no consultório número três.  
 
Era uma mulher nova, mais alta do que eu, usando óculos e cabelos alaranjados. Fez as perguntas de praxe, arriscou o nome da bactéria, impronunciável e "inlembrável". Pediu para que eu sentasse na maca para que utilizasse o estetoscópio em mim. Pediu que levantasse a camisa. Deu atenção à minha tatuagem horrível nas costas, disse ter gostado. Os olhos arregalaram-se quando viu meus piercings no mamilo. "Posso?" ela perguntou, ao que eu respondi com uma sacudida de ombros, nem imaginando o que ela queria dizer com isso.  
 
Deu uma mordida de leve no mamilo esquerdo, que resultou num "ai" abafado
meio bichístico da minha parte. "Doeu?" "Não, bêibi, não esquenta". Voltou a dar mordidelas e lambidas, e o cu avisando que estava com saudades do banheiro sem trinco na porta. Soltei um "Porra" baixinho por entre os dentes e ela "Oi?". Segurei seu peito esquerdo e disse "Bêibi, infelizmente o que eu preciso hoje é de um remédio."  "Oh, desculpe". "Sem problemas". Ajeitei a camisa enquanto ela escrevia a receita, "Ei, até que você não tem um garranchão.". Ela sorriu e voltou a escrever. Carimbou a receita e o atestado que eu pedi para poder faltar ao trabalho com a consciência tranqüila. Na despedida, enfiei a língua em sua garganta e pedi desculpas pelo meu cú.  
 
Corri na enfermaria para pegar os os sete papéis (mais um pra garantir) e de lá para o banheiro mais uma vez e mais uma vez cometi o ritual de isolar e mijar pelo rabo e gritar "TEM GENTE". Dali, fui pra uma sala também cheia de enfermeiras e de gente internada. Dei a receita para o enfermeiro bicha que antes de olhar para a receita abriu um sorriso para a camisa que eu usava, com a estampa de uma banda inglesa "Nossa, nunca que eu ia pensar que alguém por aqui ia gostar deles também" e começou a cantarolar as músicas da banda, imitando os trejeitos do vocalista enquanto preparava a agulha e o soro.

Como não havia mais macas, tive que contentar-me com a cadeira dura de plástico, ouvindo o enfermeiro (ainda) cantando as músicas enfermaria afora. Eu tentava encontrar uma posição confortável, e olhava para o soro que parecia descer cada vez mais devagar. Curvei-me abaixando a cabeça sobre os braços cruzados sobre as coxas, torcendo para pegar no sono,  para dois minutos depois ser advertido pelo enfermeiro que aquilo só faria o soro descer mais devagar. Então juntei mais duas cadeiras e joguei-me  sobre elas, esquecendo a dor nas costas e o enfermeiro só apareceu para avisar que o soro havia acabado.  
 
Saí do posto de saúde com o sol do meio-dia fritando os piolhos, com um algodão tapando o furo do soro e torcendo para que Cristiane tivesse comprado maçãs e preparado uma jarra de chá-mate gelado antes de ir para o trabalho.
 
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apenas acreditamos que era necessário um tempo para que o projeto tomasse forma, corpo e alma.
 
Então estamos pedindo uma contribuição, de qualquer valor, para podermos seguir esse atordoante rumo. Qualquer ajuda será importante. Deverá ser depositado na conta do Banco do Brasil, agência: 3457-6  conta: 14267-0, favorecido: Vitor Freire. Após efetuar qualquer depósito, envie um e-mail nos informando ou envie por correio o comprovante. É importante para nós sabermos quem colaborou, não importando a quantia. Quem quiser dar alguma colaboração de outra maneira, é muito bem-vindo. Caso o valor das
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Desde já agradecemos as colaborações. Muito obrigado a todos aqueles que acreditam no Cabeza como um projeto que merece continuação.
 
orlando: mães custam absurdamente caro.
 
orlando: lá vem o solzinho triste. e aquele ventinho pedindo morte. vai ser dose.