SpamZine_________________
090
02 de maio de 2003
são paulo  são carlos  belo horizonte  rio de janeiro  itararé  salvador  goiânia  praia do nelson
 
>>>
 
n e s t a  e d i ç ã o:
 
tempus fugit - dossiês íntimos - tia guiomar - coral e orquestra - minicontos do desconforto - grudes musicaisa breguice de deus - mendigo em copacabana - rebeca, amanda, cecília - corrente e correnteza - lição literal
>>>
     
editorial
alexandre inagaki  [email protected]
   
E se eu perdesse completamente minha memória? Sem lembranças, talvez outra pessoa completamente diversa emergeria de dentro do meu corpo. Trocaria minhas noites insones digitando textos no silêncio da madrugada por caminhadas ensolaradas na Avenida Sumaré? Seria eu mais loquaz, irreverente, mesquinho, taciturno, ingrato, benevolente, passional? Esquecida minha timidez, finalmente teria cara de pau para perguntar às transeuntes incautas o telefone de seus cachorrinhos? Apagadas minhas leituras pregressas, trocaria minha biblioteca por uma mountain bike e uma vida menos sedentária? Faria uma viagem para o Tibete em busca de auto-conhecimento ou ingressaria em uma academia de jiu-jitsu?
 
* * *
 
Palmilhando as veredas de meu passado cinéfilo, cavouquei a lembrança de um filme, "A História Sem Fim 2", que devo ter assistido numa Sessão da Tarde. A premissa era a seguinte: Bastian era um garoto que encontrara numa biblioteca empoeirada um misterioso livro no qual ele podia entrar e interagir com seus personagens - bruxas, ogros, cachorros voadores, pássaros falantes. Para enfrentar os perigos desse mundo fantástico, Bastian recebera de uma das bruxas um medalhão que lhe oferecia o poder de satisfazer cada desejo solicitado. Contudo, havia uma contrapartida: para cada desejo formulado, uma lembrança seria perdida em definitivo.
 
O filme não era lá essas coisas, mas lembro que fiquei ruminando por muito tempo as tentações suscitadas por esse ambíguo medalhão. Perguntava a mim mesmo: e se eu o tivesse em minhas mãos, toparia trocar minhas memórias a fim de realizar alguns dos meus sonhos? Poderia me tornar um artista tão talentoso quanto Júlio Cortázar, Cole Porter ou Henri Matisse, mas o que me seria tomado em troca? O endereço da minha casa? A emoção do primeiro beijo? As histórias contadas por meu avô? As gargalhadas de uma tarde inesquecível entre amigos? O amor que um dia guardei pra você? Será que o preço valeria a pena, tendo em vista o fato de que cada desejo que nutrimos é criado a partir da memória dos sons, cheiros, vozes, leituras e lições que apreendemos ao longo da vida?
 
* * *
 
Uma lembrança puxa outra, e mais outra, e outra mais, no confuso cabo-de-guerra das associações de idéias que se emaranham e des(a)fiam o novelo da memória. E torna-se impossível não deixar de citar um conto de Jorge Luis Borges, "Funes, o Memorioso", sobre um homem que se lembrava de tudo, e, de tanto lembrar, tornava-se incapaz de viver o momento presente.
 
Ireneo Funes vivia como quem sonhava. Olhava sem ver e ouvia sem ouvir, ao perder-se irremediavelmente em cada milimétrico fiapo de memória. Porque Funes recordava todas as formas das nuvens austrais da manhã de 30 de abril de 1882, assim como cada dobra de um livro entrevisto apenas uma vez, ou cada folha de cada árvore de cada monte na estância de San Francisco. Pior: cada imagem estava ligada a sensações tácteis, olfativas, gustativas, indissociáveis de cada nova reminiscência resgatada pela vertiginosa memória do personagem de Borges.
 
* * *
 
Deus me livre de uma memória prodigiosa assim. Prefiro deixar que agendas, disquetes e cadernos se encarreguem de registrar meus dias: nenhuma pessoa agüentaria suportar a carga de se tornar um Google ambulante. Em vez dos afluentes do Rio Amazonas, prefiro recordar o dia em que Daniel Azulay me ensinou a fazer óculos de uma caixa de ovos e dois canudinhos. E jogar na lixeira da memória as fórmulas de cálculo estequiométrico que aprendi no colegial, a fim de reservar espaço para lembranças bem mais valiosas, como a noite em que bebemos vinho e você acendeu seu cigarro nas estrelas.
 
Que apenas os momentos que realmente importam sejam guardados em meu cérebro e meu coração. Porque é preciso recordar, mas também é preciso esquecer. Caso contrário, a vida seria um vaso repleto de ressentimentos, amizades perdidas e amores jamais cicatrizados (como diz a canção de Nando Reis, "tornar o amor real é expulsá-lo de você pra que ele possa ser de alguém").
 
>>>
 
A fim de compensar mais um atraso no envio do Spam Zine (edição que se preza atrasa no mínimo uma semana), cá está um número repleto de colaborações memoráveis. Para começar, temos a estréia de Priscilla Bergamasco, moça de prosa elegante que debuta no SZ com sua série "Dossiês Íntimos". A seguir, MESTRE Orlando Tosetto Júnior perscruta a "Indesejada das gentes" em dois textos pinçados de seu recém-falecido blog, sugestivamente intitulado Pequenas Mortes. Amigos há muito conhecidos e apreciados pelos assinantes do Spam se fazem novamente presentes com palavras da mais fina safra: Fábio Fernandes, André Machado, Silas Corrêa Leite, Márvio dos Anjos e cumpadi AL-Chaer, ao lado das preciosas colaborações de Natalia Carvalho, Nelson Moraes (o homem da praia) e Breno Pessoa, outro estreante de SZ. Bon appétit!
 
>>>
  
dossiês íntimos
priscilla bergamasco  http://balandronada.blogger.com.br
 
Adolfo, 33 e Paula, 25.
 
Casaram-se em 1998, no mês de maio, mês das noivas, ela achava romântico. Para ele não fazia diferença.
 
Agosto, 1998: Paula foi golpeada por Adolfo. Um murro que arrancou-lhe um dente da frente. Custou-lhes uma pequena fortuna em serviços odontológicos. O motivo? Não se sabe.
 
Setembro, 1998: Adolfo estrangulou Paula com as mãos. Não até a morte, que a amava muito. Entretanto não podia suportar camisa mal engomada.
 
Maio, 1999: Um travesseiro sufocou Paula enquanto dormia tranqüila após a íntima celebração de um ano de casados. Ela havia deixado o leite fora da geladeira. Azedou.
 
Julho, 1999: Paula, durante seu período menstrual, recusou-se a fazer sexo com Adolfo, alegando sentir cólica. Foi estuprada, que ele não se satisfaz na masturbação. É muito solitário.
 
Dezembro, 1999: Adolfo tinha certeza que Paula o traía. Só não sabia com quem. Seguiu a mulher durante o mês todo, controlando seus passos. Quando flagrou-a recebendo um folheto do Papai Noel das Lojas Americanas, arrastou-a pelos cabelos e bateu no velhinho. Coitados.
 
Fevereiro, 2000: Paula recebeu flores de seu pai. Era seu aniversário. Adolfo ameaçou matá-la, que onde já se viu mulher dele receber flores de outro homem?

Paula foi agredida, estrangulada, sufocada, estuprada, perseguida, ameaçada de morte. Mas nunca se ouviu um pio dela em relação ao marido. Amava Adolfo sobre todas as coisas. Nenhuma reclamação ou lamentação de qualquer espécie.

Novembro, 2000: Adolfo foi esfaqueado até a morte com uma faca de churrasco. Ele havia ameaçado matar Petit, o poodle toy. E Paula não conseguia dormir.
 
* * *
    
Heitor, 76, barbeiro. Cândida, 60, sua esposa.
 
Novembro, 1944 - Conheceram-se na barbearia. O pai de Cândida a levava junto em sua rotina mensal de cabelo e barba. Tinha 4 aninhos. 'Um anjo' dizia Heitor. Dava para ela pirulitos. Ela chupava. E sentava em seu colo.
 
Novembro, 1954 - O pai só atinou 10 anos depois:
 
"Cândida, não fica bem uma mocinha da sua idade sentando no colo do barbeiro da cidade. As pessoas comentam. A partir de hoje não me acompanhas mais."
"Mas, pai!!!"
"Sem mas, estás proibida de botar os pés naquele salão!"
 
No dia seguinte Cândida sentou-se no colinho de Heitor. Embarrigou.
 
Agosto, 1955 - Casaram-se poucas horas antes de Heitor Jr. nascer. Era um sábado. Durante os 45 anos de casamento ouvia-se vez ou outra: "Como não, Candinha???"; "Levanta essa bunda, Candinha!"; "Por que não, Candinha???"; "Nunca, Candinha???"; "Caceta, Candinha!!!"; "Porra, Candinha!!" e outras do tipo.
 
Setembro, 2000 - Dois homens cruzam a vida do casal.
 
Odilon, 62, fazendeiro e viúvo. Jonathan, 43, estrangeiro e charlatão.
 
A proposta: Heitor venderia Cândida a Odilon por um bom dinheiro, mas Jonathan, em seguida, devolveria a mulher e dividiriam o lucro. Simples assim.
 
Outubro, 2000 - O barbeiro foi o primeiro a ser enganado. O dinheiro nem sinal. O gringo foi o segundo. Acha que viverá da renda do trambique, não sabe ainda que o dinheiro é falso. Mas a polícia já foi avisada. E o fazendeiro foi quem se deu bem. Não gastou nenhum tostão. E, além disso, Candinha está decidida a não voltar mais ao colinho do barbeiro.
     
>>>
     
o medo da morte
orlando tosetto júnior  [email protected]

A lenta agonia cancerosa de tia Guiomar impressionou tia Ermínia, que era a mais velha das duas. A peregrinação baratinada das duas irmãs solteironas por cirurgiões espíritas, massagistas, pastores evangélicos, macumbeiros, Seicho-no-Iê e terapeutas holísticos vários fez com que a tia Ermínia conseguisse o prodígio que é manter, ao mesmo tempo, a fé mais fervorosa e a desconfiança mais fria. Siamesamente ligadas, incões, fé e desconfiança aumentavam juntas a cada novo fracasso no tratamento de tia Guiomar.

Nada sabemos sobre os deuses, suas pressas, seus ritmos, seus critérios. Insondáveis, a uns dão tudo, e com outros não falam. Com a tia, escolheram o silêncio. A morte de tia Guiomar parecia a ela um adversário de tribunal, que podia ser vencido com um bom advogado. Quando ela morreu, tia Ermínia passou a achar que seria vítima de uma revanche da morte. E tinha razão.

No segundo ano após a morte de tia Guiomar, tia Ermínia já era uma sombra. Pouco soubemos de suas dores; minha mãe não quis ficar com ela em nossa casa. Sabemos, intuímos que sofreu muito. Seu silêncio, surpreendente (era mulher de muitos escândalos), não era a serenidade do morituri; era antes pungente rendição.

O périplo tinha sido retomado. Ela tinha ido novamente atrás dos emissários, dos canais, dos porta-vozes do insondável. Mas, embora fizesse tudo o que lhe fosse pedido ou ordenado, ia por ir - como quem ronda uma porta por tanto tempo que acaba esquecendo o que espera sair, transformando em hábito e neurose o que um dia foi esperança.

Os deuses não gostam de autômatos. A tia morreu num novembro quente e dilatado - um mês em que tudo parecia estalar. Mês de muitas moscas e de verde acinzentado. Coube a mim segurar uma das alças do caixão. Ao lado dos meus tios e primos, eu esperava que uma sensação de clã me invadisse. Esperei em vão - éramos todos meras pessoas, isoladas, mergulhadas em mundos e pensamentos inacessíveis, de que só poderíamos dar uma tênue idéia aos de fora. Idéia que nem sempre queremos dar.

As famílias grandes têm a curiosa virtude de não nos desacostumar da morte. Não houve, na minha infância, ano em que não morresse parente. Às vezes iam dois no mesmo ano, ou até no mesmo semestre. Sabíamos de cor o caminho do cemitério, tínhamos roupas prontas, palavras decoradas e tom de voz ensaiado. Uma ou outra vez um desespero legítimo nos espantava, quase constrangia.

Vivíamos com a idéia de morte presente. Não é a mesma idéia de morte iminente que, creio eu, se tem nas guerras, mas sim a noção precisa de que a morte existe, e de que tudo, depois dela, continua. Todas as gerações se acham perto do final dos tempos porque inconscientemente não acreditam que o mundo sobreviverá às suas mortes. Acham que, com o apagar das suas consciências, apagar-se-á também o mundo. Viver rodeado de mortes, se não elimina, pelo menos atenua essa impressão. Víamos pessoas morrendo e víamos o mundo continuando; e embora secretamente acreditássemos que o mundo continuava porque nós é que estávamos vivos, a desconfiança de que isso se dava à nossa revelia já estava dentro de nós. Como os anos, essa convicção só aumentaria, trazendo sozinha metade do fel que, somado ao das outras inevitáveis decepções, encheria a taça da nossa amargura.

A tia tinha tentado permanecer aqui. Mesmo que não tivesse conscientemente percebido sua derrota, tinha sido mais honesta do que todos os que, aceitando a morte na aparência, a renegávamos por trás, inventando mundos onde ela não nos pudesse atingir. Quando se torna inelutável a conclusão de que o mundo sobreviverá a nós, torna-se necessário pensar e acreditar que nós é que sobreviveremos a ele. Transcendendo-o, humilhando-o, tornando-o subitamente inferior a nós, acessório, ferramental. Diremos que ele nos serviu - ou que nos serve - sem admitir a aterradora possibilidade de que todos, nós e ele, sejamos mero acaso, inexplicáveis e sem sentido como todos os acasos. Se for preciso, renegaremos a própria idéia de acaso, tecendo entre todas as coisas e eventos a rede que nos deterá em nossa queda rumo ao nada.

Por detrás de todos os seus inevitáveis defeitos e disfarces, a tia teve o raro mérito de acreditar mais no mundo do que em si mesma.
 
NOTA DO EDITOR: a continuação deste texto segue no final desta edição.
 
>>>
 
bruxas
fábio fernandes  http://polis.blogspot.com
 
Aqueles olhos. E aqueles lábios.
E como ela fodia bem.
Depois, quando tudo tivesse passado, você chegaria à conclusão de que foi justamente por aí que ela te enfeitiçou. Pela buceta.
Sejamos francos: você gostava de exibir aquela mulher. Gostava de se sentir amo e senhor de uma criatura bonita e sensual, que atraía o desejo dos homens e a inveja das mulheres. E ela era só sua.
E você era só dela.
No começo tudo bem, era o que você queria. Até começarem as crises de ciúmes.
Que eram apenas um pretexto. Porque tudo era motivo para briga.
Era uma relação sadomasoca, mais do que você gostaria de admitir. Porque não se restringia só à cama.
E acabou como sempre acaba esse tipo de relação. Na porrada. Você não se orgulha disso.
Até hoje, quando você saiu com os amigos que a conheceram, ocasionalmente algum deles faz a pergunta: por onde anda ela?
E a mesa faz um minuto de silêncio.
Você não tem a menor idéia de onde anda aquela mulher que te enfeitiçou.
Mas que ela existe, existe.
 
>>>
 
r á p i d a s   r a s t e i r a s
 
"Um jornalista do Peru, onde 'Presença de Anita' estava fazendo muito sucesso, me perguntou como era namorar aquela musa, a Mel Lisboa. Eu disse que é ótimo e que ela é só do meu peru”.
(CACO CIOCLER, o feliz namorado de Mel Lisboa, flagrado em momento de rara elegância.)
 
"Só com trabalho, ocupação, e oportunidade a violência pode acabar, e muito amor".
(GISLAINE RODRIGUES FERREIRA, eleita Miss Brasil neste último sábado, ao responder à pergunta "o que você faria para resolver o problema da violência?". Anotou essa, Anthony Garotinho?)
 
"Por alguma razão, nada me parece tão lúbrico e devasso quanto anões besuntados numa orgia. Mas não falo por experiência".
(LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO, o criador do Analista de Bagé e da Velhinha de Taubaté, e escritor de imaginação mui pródiga, c.q.d.)
  
>>>
  
para coral e orquestra
 
espelho oval, moldura barroca. teatros antigos proporcionam certos luxos cobertos de veludo vermelho, cheio de arremates dourados fora de moda. teatros são como aquelas caixinhas onde guardamos as jóias mais caras: caixinhas antigas, herdadas de uma avó vinda de um tempo mais antigo ainda, e forradas para não arranhar as pedrarias.
 
cabelos impecavelmente penteados, mas terrivelmente ondulados. acerta mais uma vez a gravata e admira o perfil refletido no espelho. já não é mais tão magro, mas os ombros ainda são imbatívelmente largos. um vallet não veste um terno melhor do que ele. abotoaduras de ouro. kölnishwasser. hora do tremor das mãos enormes cessar.
 
primeiro sinal. veste a casaca. segundo sinal. a última olhada no relógio de bolso que herdou do pai almirante, e segue pelo corredor. terceiro sinal. o homem está na porta do fosso. um barulho pouco de roldanas e cordas abre as cortinas, e ele ouve muitos aplausos. pode apostar que o teatro está cheio. não quer ter certeza.
 
adentra o fosso de cabeça baixa, mesmo sendo recebido de pé. rebrilhos de metais, cheiro de madeiras enceradas. roupas negras. levanta os olhos uma única vez, para estender a mão à sua spalla. tem vontade de sorrir ao vê-la de vermelho. ela sempre escolhe uma cor que combine com a noite. faz calor.
 
abre os braços, respira fundo. silêncio absoluto, rasgado pelo primeiro acorde. o primeiro acorde é sempre o mais difícil, porque é ele que desperta os demais do seu sono dentro das caixas, dos tubos, dos sopros. é o primeiro acorde que sincroniza e desabotoa a enchente da sinfonia, dos metais, dos trovões ocasionais da percussão. ele tem os braços e o nariz do pai almirante, do pai navegador.
 
os primeiros movimentos são tranquilos, com as pontas dos dedos, até que a música lhe invada os poros, entorte a gravata e revolte os cabelos, como as amantes fazem em noites de fúria e amor. até que a primeira gota de suor escorra e manche o papel das partituras na sua frente. até que ele atire longe o pregador que segura as páginas e reja de memória, como aprendeu a fazer na escola, na Alemanha. até que tudo acabe em aplausos, e ele saia do fosso pela mesma porta que entrou, recebendo os cumprimentos da orquestra. sempre de costas.
 
não lhe disseram nunca por que teria que reger sempre de costas. alguns tinham a curiosidade de olhar para qualquer porção de público que se revelasse fora do fosso, e de reger fora dali, para poder admirar a platéia. ele não. na verdade, ele escolheu as sinfonias pelo seu anonimato. a sinfonia é a música só, transcendendo a orquestra, o fosso, o teatro, a noite. a sinfonia é do tamanho da escuridão da noite.
 
e ele sempre era o último a deixar o teatro. sempre pela porta dos fundos. sempre batendo o tacão do sapato nas pedras da calçada, para marcar o ritmo da música que tocava dentro da alma dele... e ele tinha os olhos grandes e lacrimosos da mãe, que sempre lhe fazia dormir com uma vozinha delicada de soprano ligeiro. sempre com aquela música que ele cantava baixinho, a caminho de casa:

- Freude, schöner Götterfunken, Tochter aus Elysium, Wir betreten feuertrunken. Himmlische, dein Heiligtum! Deine Zauber binden wieder Was die Mode streng geteilt; Alle Menschen werden Brüder Wo dein sanfter Flügel weilt...

(com um thanx especial ao Sérgio Bermudes, do No mínimo)...
  
>>>
 
minicontos do desconforto
andré machado  http://amachado.blogspot.com
 
- 25 -

Seus olhos lacrimejavam há dois dias e ele não conseguia entender por quê. Então a viu encostada no poste do ponto de ônibus. E compreendeu que suas córneas tinham profetizado sozinhas que ele encontraria a Beleza, a verdadeira e única, e por isso choravam sem parar há quarenta e oito horas, antecipando o choque.
 
- 26 -

Sua mulher o esbofeteou quando entrou em casa às quatro da manhã. Durante vinte anos ela nem se dignara acordar, jamais procurara marcas de batom onde quer que fosse, nunca ligou para os roncos que aumentavam com a bebedeira. Só que dessa vez ele chegara em casa totalmente sóbrio, composto e feliz, assobiando.
 
O tabefe foi compreendido e ele nunca mais recusou uma série de dez saideiras.
 
- 27 -
 
Afrodite e Atena passeavam pelo jardim de nuvens topiadas do Olimpo. Como eram amigas há tempos (o incidente com Páris já fora esquecido), a primeira perguntou à segunda, com franqueza, o porquê de sua feiúra.
 
-- A sabedoria não faz mais radiantes os rostos dos homens -- foi a resposta. -- Quando mais sabem, mais eles descobrem as chagas de suas almas; então suas testas se enrugam, os cabelos caem, as bocas murcham e os olhos perdem o viço. E eu sou a soma dessas criaturas infelizes.
 
>>>

p e r g u n t a r   n ã o   o f e n d e
"Por que as músicas grudam na cabeça das pessoas?"
 
lúcia canuto  http://mmundo.blogspot.com 
"Acho que porque música é algo que toca nosso íntimo - tem a capacidade de mexer conosco por inteiro - nos remetendo a bons e a maus (por que não?) momentos.
 
Mexe com nossa natureza tríplice: nosso corpo (mãos, pés, boca, olhos...); nossa mente, tomando conta dos nossos pensamentos (às vezes uma música linda que não escutávamos fazia tempo, outras aquele refrão daquela música horrível que toca toda hora no rádio); nosso espírito (ora nos acalmando, ora nos enraivecendo, ora nos fazendo voar, ora nos levando a outros lugares, ora nos fazendo firmes na terra, ora nos deixando felizes, ora nos deixando tristes).
 
Qual de nós nunca escutou uma música que traduzisse exatamente o que sentia? Ou lembrou de algo? Ou de alguém? Muitas vezes mesmo querendo não lembrar.
 
E por isso sempre damos uma resposta. Mesmo que seja com aquele cantarolar sem jeito, com batidas numa mesa ou num outro objeto qualquer...".
 
"É como cola de adesivo vagabundo: precisa de muito trabalho e produtos especiais pra remover. E, com tudo isso, sempre fica um resquício a encher o saco...".
 
ismael alberto schonhorst  [email protected]
"Porque elas são fabricadas com Super Bonder, e Super Bonder cola e não descola, entenderam?"
 
ruana rodriguez rueda  [email protected]
"Porque elas são ruins. Se fossem boas não nos lembraríamos delas para cantarolar".
 
Pergunta da próxima semana:
"Se você fosse guardar apenas uma lembrança de sua vida, qual seria ela?"
Mande sua resposta para [email protected].
 
>>>
  
flagramenthus (delivery)
silas corrêa leite 
[email protected]

mortadela frita faz mal pras tripas

tudo o que reluz é braile

habemus ícaros

minha terra tem palmeiras onde canta a Sandy & Júnior

guelra é guelra

na linha do horizonte, pássaros que não existem

ame um gordo. Contém mais tecido adiposo nos pneus

sejam sensatos: Deus é brega

há acnes que vêem pra bem

silêncio tem fritas cuneiformes

a dor tem silhueta - dorme amor e acorda Gordoleta

silêncio tem documento

FHNistão: O Pai da Fome

o fígado faz mal pra saideira

maionese xadrez já foi lágrima de lírio laranja

ABC: América Bush Cloaca

os primeiros serão ecológicos

Paulo Leminski não existe: É uma rima feliz/De Alice Ruiz

gado vacum: neliberalismo globalizado

eu te proponho: arroz e rímel

vade retro chiste chulo

ave Lula! Os que são liberais são saúvas

em Brasília as paredes têm ofídios

o rato roeu a roupa do Ricardão

poetna tem groselheira seca na alma nau

bebo, logo, eis isto

escrevo porque não sei ser eclipse neural

haikais etílicos são lágrimas em sânscrito

o carteiro não sabe Ser sem sê-lo
 
>>>
 
cena copacabanenha
márvio dos anjos  [email protected]
 
Pago minhas refeições e lanches com tíquete e meu grande problema é conseguir o troco. Normalmente eles dão contravale e eu sou péssimo para guardar papeizinhos. Por isso, acabo comendo um pouco mais do que quero e isso me faz engordar. Paciência...
 
Foi assim que, às 19h, cheguei numa casa de sucos ao lado de casa, pedi uma limonada e um queijo quente. E me interpelou um mendigo de uns trinta e poucos anos, cara imunda de fome, roupa mais imunda ainda e bandana da seleção na cabeça.
 
- Amigo, vc pode me arrumar um...
- Foi mal, cara, não tenho.
 
Continuei comendo. Só que a limonada e o queijo quente não consumiam aquele tíquete de R$ 6,50. Pedi mais um suco de uva e, do tíquete, sobrou-me exatamente um real.
 
Lembrei que havia um pastel grande que custava exatamente isso. Só que eu não queria
comer mais, então pensei em fazer uma boa ação. O mendigo continuava parado, na mesma lata de lixo de minutos atrás. Pedi um pastel de queijo, grande, bem-servido, e ofereci ao mendigo:
 
- Toma aí, rapá.
 
Ele sequer me olhou. Insisti e ele, sem olhar pra mim:
 
- Não quero isso aí não.
- Ué, como assim?! - respondi, surpreso.
- Pô, gordura pura...
 
Em 2003, Copacabana inventou o mendigo diet.
 
>>>
 
n a v e g a r   i m p r e c i s o
 
tudo começou aqui
Os assinantes mais antigos do Spam Zine ainda se lembram dos virunduns que eram publicados toda semana aqui? Pois eles renderam um blog próprio, que foi parar nas páginas da Folha de S. Paulo, O Globo, Jornal da Tarde e Isto É Gente. Troque de biquíni sem parar você também.
 
mp3 bizarros
Músicas dos Beatles regravadas por nomes como Kevin Spacey, Peter Sellers e Telly Savalas? Cover de "Stairway to Heaven" à base de banjo e tuba? Temas originais de desenhos animados como "A Formiga Atômica", "Tartaruga Touché" e "Wally Gator"? Receitas culinárias na voz de Vincent Price? É ouvir para crer.
 
número dezenove
Uma raridade na história do cinema brasileiro: uma ficção científica de qualidade. Vale a pena conferir esta pequena jóia escrita e dirigida pelo jovem diretor Paulo E. Miranda.
 
will the real hussein please stand up?
O crossover definitivo de Eminem com Saddam Hussein.
   
>>>
 
rebeca.
 
Rebeca tinha a estranha mania de espalhar borra de café pelo chão da casa. Ela queria ter certeza de que estava viva. E sentindo aquele cheiro forte, ela tinha. Rebeca era um tipo diferente, que rezava em pontos de ônibus ajoelhada, para que cada curva não se transformasse num acidente. Ela morria de medo que o seu destino machucasse outras pessoas. Rebeca acreditava em anjos da guarda, por isso dormia sempre de barriga para cima, ou para baixo, ou de lado, mas sempre virada para o esquerdo, porque todos sabem que o anjo bom fica do lado direito, e ele poderia morrer sufocado dentro da espuma do colchão. Aí, o anjo do mal, iria pentelhar a sua cabecinha para que ela fizesse coisas que não devia. Rebeca às vezes lembrava de coisas que nunca existiram e contava para outras pessoas, só para tornar sua vida mais interessante. Rebeca se confessou com todos os padres da cidade, sendo um personagem diferente para cada um deles. Ela mudou tantas vezes de nome que certa vez, até esqueceu do seu. O original. Aquele que um dia um casal idiota brigou para colocar nela. Rebeca odiava ser chamada de Rebeca, por isso, agora vamos chamá-la de Amanda, ou Cecília. Cecília passou no vestibular de psicologia e perdeu toda a sua fé no mundo. Como um curso tão importante não fazia teste prático? Ela não conseguia entender. Cecília se apaixonou por um cara que se masturbava antes de trepar com ela, para que a transa durasse mais e fosse mais proveitosa. Mas enquanto ele batia punheta, ela sentia vontade de rir e corria para o banheiro, para tomar comprimidos e se anestesiar, fazendo a vontade de dar passar. Mesmo assim, ela trepava feito louca e gritava os nomes de todos os vizinhos, entre um gozo e outro. Cecília precisou se mudar e me fez um pedido. Queria ser chamada de Amanda. Amanda tinha uma boneca de porcelana que ficava presa ao ventilador de teto, de cabeça para baixo. É que sua vida andava muito monótona. Um dia Amanda resolveu que Rebeca era um nome lindo e passou a ser feliz, dispensou os anjos e comprou um carro. Mas no dia seguinte, acordou sem sentir o cheiro da borra de café espalhada pelo chão. Carina, ela agora se chamava Carina, ficou desesperada, olhou-se no espelho para ver o seu reflexo e a sua vida ainda viva. Carina foi ao médico para ver se estava morta. Subiu o elevador e ninguém a cumprimentou. Então ela gritou bem alto e ficou falando sem parar, olhando para a parede. Todas as pessoas desceram no primeiro andar. Carina se convenceu de que era uma assombração e decidiu que mudar de nome não era legal. Mortos não precisam ser chamados. Rebeca falou com a recepcionista e se assustou. A mulher a tratou como se ela estivesse viva. Rebeca esperou o médico chamá-la e contou toda a sua história para ele. Ok, nem toda. Só a parte que interessava. O médico receitou um remédio para sinusite e aconselhou que ela procurasse um psicólogo. E desde então Rebeca tem mudado de nome e de escritório de psicologia a cada quatro sessões. Rebeca não achou mais tão importante ser maluca e resolveu ser normal. Casou, teve filhos e passou a dar aulas na faculdade de psicologia depois de pós-graduada. Outro dia, seu marido trocou seu nome pelo da secretária e ela deu um tiro nele. Depois, se matou, só para parecer sensata. 
     
>>>
   
colar
al-chaer  [email protected]

dedilho o vinco
              do tecido
 
da blusa
          a gola eriça tramas
              de algodão pele arrepios
 
o segundo botão 
abre-se
          iniciação
de ombros e pescoço
 
o sexto botão
salta-se
        da casa
 
           segredos
           de portas de janelas de pernas
           tuas aberturas
                arfam
                olhos e garganta
 
mais três botões
         
                forja de suor músculos espasmos
                lábios teus elos minha língua
             
        emergem corrente
              e correnteza
               
                         de ligas            
                         de palavras de gozo
               
                pingente
   
>>>
 
lição de português
nelson moraes  
http://www.blogdebolso.kit.net
          
Pelo que sabemos, as mortes teriam sido causadas pelo uso impreciso de um advérbio.

Vanderley apresentava um programa de entrevistas no horário da madrugada, sem quase nenhuma audiência, mais como uma deferência da emissora à sua condição de colunista social decadente. Vanderley mantinha também o hábito de utilizar “literalmente” fora do contexto original – mais como uma muleta verbal para reiterar alguma idéia. “Estou literalmente cansado”. “O cabelo de nossa entrevistada está literalmente mais curto”. Isso inclusive era motivo de secreta chacota por parte da equipe do programa – dos técnicos à produção.
 
Ontem à noite, ao entrevistar a um professor de português, Vanderley teve – na conversa fora das câmeras que antecedia a entrevista – sua atenção chamada pelo docente, que em voz baixa lhe corrigiu o uso do advérbio: "Significa ao pé da letra. Não é sinônimo de 'realmente'. Serve para tirar de algum termo sua característica de metáfora. Se a palavra tem duplo sentido, o 'literalmente' vem para acentuar que o termo está sendo usado em seu conceito primeiro, desprovido de simbologia". "Sei, sei", disse Vanderley entre circunspecto e constrangido.
 
A entrevista seguinte foi com um cientista maluco que inventara um eletrodo a partir de água mineral. Uma faísca da engenhoca escapuliu, pegou na cortina do cenário, alastrou-se até o papel manteiga que cobria um dos refletores e que já estava superaquecido, o pequeno foco não pôde ser debelado e logo o estúdio estava em chamas. A porta por algum motivo não quis destrancar e o pânico irradiou-se tão rápido quanto as labaredas. Sem lembrar-se do número dos bombeiros, Vanderley só teve tempo de ligar de seu celular para a casa do produtor do programa – e, em meio ao torvelinho, um instante de auto-realização pessoal: redimensionar corretamente a utilização do advérbio. A bateria do celular já acabando e ele pôde apenas gritar: "O programa está literalmente pegando fogo!" A ligação caiu e o produtor voltou ao sono, satisfeito, imaginando que a audiência deveria estar reagindo.
 
>>>
 
lembrança noturna
orlando tosetto júnior  [email protected]
 
Tia Guiomar era uma mulher bruta. Todos eles, os italianos da minha família, eram, de um jeito ou de outro, pessoas brutas. Uma maneira fácil de defini-los é dizer que eram brutos, mesquinhos e apequenados. Fácil e inexata: havia muito mais coisas neles, coisas nem sempre simples assim de definir. Eram gente, afinal, tortuosos como quase todos. Mas havia brutalidade de sobra. Herdei muito dela. Amigos me acham calmo, mas não sou; sou contido, o que é muito diferente, como sabem os que tiveram a infelicidade de ver as barreiras romperem-se, e quinhentos anos de raiva meridional aprisionada no sangue despejar-se, irracional.

O nome dela era Igomar, que soa um pouco a nome de homem. Ninguém nem pronunciava essa palavra; virou Guiomar. Amava-nos, a mim e a meu irmão, como os filhos que nunca teve. (Já fui muito amado; já houve tempo em que eu podia ser amado sem que fossem necessários descontos e condescendências, lutas com o estômago e bebedeiras. Amar-me nem sempre foi um ato de coragem.) Era, na minha infância, a mulher mais bonita que eu já tinha visto, com sua boca grande e um dente amarelado na parte de cima que me fascinava como uma pedra branca que brilhasse no fundo de um rio. Hoje paro pra pensar e vejo o quão pouco me lembro dela: era funcionária pública, vestia-se bem, tinha amigas de nomes italianados como Iole e Trieste, e pintava os cabelos de caju. Dançava tango com meu pai: trançavam as pernas, cantarolavam juntos "vieja pared en arrabal / tu sombra fué mi compañera", ou "sintiendo ese calor / del humo embriagador / que acaba por prender / la llama ardiente del amor".

Amou uma vez, um homem de histórias que ficou conhecido pelos pósteros como "o turco". Nome, idade, profissão, nada se soube; era turco, e desquitado, portanto proibido para católicos ferozes como elas. Mas era indubitável que amou: cheiros, perfumes desse amor entranharam-se na história, surgindo de todas as letras, não importando quem a contasse. Ela e tia Ermínia costuravam, para si, para amigas, e para poucos mais. Tinham mesas grandes, gizes achatados e encerados, revistas de moda à la anos 60, quando viveram seu pequeno auge e foram à Europa. Vi-a várias vezes de fita métrica pendurada ao pescoço, com alfinetes de cabeça vermelha presos na boca, óculos sobre os olhos repentinamente frios, trabalhando compenetrada no velho casarão do Brás, com seu telefone preto de fios encapados em pano, as portas de vaivém da sala, o sofá imenso forrado com chita.
 
Uma vez me levou a Santos, ficamos lá alguns dias. Lembro de uma tarde sem energia elétrica, seu perfil romano recortado contra aquelas luzes avermelhadas que surgem sozinhas quando queremos pensar em poentes, mas tão real, tão real que é uma verdade, numa janela da cozinha do apartamento.

Nenhum de nós puxou os olhos azuis da minha avó. Somos bonitos, eu era - Clarice, jovem e preservada, já foi comparada, com razão, a um anjinho de pintura, e a um Botticelli. Não recuperarei mais a beleza que perdi, são muitos os descuidos, os estragos, os desleixos. Mas, mesmo que pudesse, ainda seria um sem olhos azuis. Os de tia Guiomar eram castanhos e duros, nunca ressacados, nunca "olhos de cama" - eram olhos de fiscal. Era bruta e dura, como eu disse: gritava, dizia coisas horríveis, era impaciente, dava as costas. Eu a amei muito. Minha mãe ainda a odeia.
 
Morreu uma morte que não quero contar, nem desejo que ninguém tenha. Uma vez eu não a quis ver, ia saindo de fininho, mas ela ouviu meus passos na escada e gemeu de dentro do quarto:

- Giugnetto, você não vem ver a tia?
 
Fiz o que sempre faço quando estou envergonhado, menti.

- Achei que a senhora estava dormindo.

E beijei seu rosto murcho e manchado, a pele que se ia amarelando, a vida que ia indo, indo, descolando-se com dor e deixando-a mais sozinha do que nunca, porque já meio apartada de si mesma. Há, dizem, pessoas capazes de serenar e entender todas as mortes; eu me limito a caminhar fincando bandeiras em todos os muitos montes da minha incompreensão.
 
Não chorei a morte dela.
 
>>>
   
f a l a   q u e   e u   t e   e s c u t o
Você tem medo de Virginia Woolf? Espera por Godot? Procura por Wally, Osama Bin Laden ou Carlinhos? Sabe o que aconteceu a Baby Jane ou quem vai ficar com Mary? Então escreva para [email protected], e compartilhe suas indagações com nossos sagazes assinantes.
 
----- Original Message -----
From: Lecy Pereira Sousa <[email protected]>
Sent: Tuesday, April 15, 2003 2:34 PM
Subject: Academia Contagense de Letras - ACL
 
"Prezado Alexandre Inagaki,
teço essas mal traçadas teias de crocodilo(!) para dizer que recebo o spamzine desde o ano passado e que o descobri 'fuçando' num site de busca, clicando em Literatura.

Achei a idéia de receber o zine aos domingos muito estimulante. Ainda mais lê-lo no domingo à tarde, aquele sol se despedindo, aquela melancolia de 'Every day is like sunday' do Morrissey, é tri-criativo, tchê. Eu optei pela versâo 'bloco de notas' e tenho o hábito de imprimir os textos. O último redundou em 13 páginas.

Sinto muita falta quando o sz não chega em minha caixa de e-mail, mas eu entendo que divulgar a literatura em qualquer versão é, mesmo, dose para elefante. A gente precisa ser meio discípulo de São Jorge para combater o dragão da ignorância, do olho gordo e da má vontade. Peço-lhe que não desista. Crie uma equipe de confiança para colocá-lo no ar com guerra, sem guerra, com sol, com chuva ou com neve. Porque, como diz Fidel Castro: 'Precisamos defender a Revolução. O que devemos fazer com os traidores da Revolução, people of Cuba? Viva a Revolução! Eu defenderei a Revolução! Mas, cá pra nós, o que é mesmo Revolution?'

Sobre o seu sobrenome, toda vez que o leio, lembro-me de uma fábrica de brinquedos japoneses. Será que faz sentido, senhor Inagaki? Imagine: 'Senhor Inagaki, acabamos de finalizar um protótipo do Ultraman mais avançado' ou 'Senhor Inagaki, a diretoria de marketing da Disneylândia agendou uma reunião às 3 da tarde' (...)".
  
inagaki responde: caro Lecy, antes de mais nada urge informá-lo que minha família infelizmente não possui fábrica de brinquedos: minha infância teria sido muito mais divertida se acompanhada por bonecos do Astro Boy ou réplicas do Mach 5. Quanto aos pontuais atrasos no envio dominical do Spam Zine, espero que o colega não compartilhe das convicções de Fidel Castro a respeito de castigos à base de "paredóns". Mas, falando sério, gostaria de agradecer a sua força. Divulgar autores novos não é tarefa fácil nem tampouco remunerada: demanda tempo, distensão de neurônios e uma certa dose de idealismo defasado. Vale a pena? Vale, apesar das cobranças desmedidas para um trabalho gratuito e dos leitores (ou colaboradoras) reclamões. Enfim. O difícil, já dizia o filósofo Falcão, não é nada fácil. Anyway, obrigado pelo apoio, Lecy: aquele abraço!
 
Em tempo: Lecy Pereira Sousa possui diversos contos e poesias publicados nesta URL: http://www.temploxv.pro.br/autor.asp?id=195. Para maiores informações sobre seus textos, contate-o por intermédio do e-mail [email protected].
 
>>>
   
 
c r é d i t o s   f i n a i s

staff
Alexandre Inagaki > http://inagaki.blogger.com.br
Ricardo Sabbag > http://sabblog.blogspot.com
Orlando Tosetto Junior > [email protected]
José Vicente > http://www.exquisite.com.br/privacidade
Suzi Hong > http://planeta.terra.com.br/arte/vastoceano
  
colaboradores
AL-Chaer > [email protected]
André Machado > http://andremachado.blogspot.com
Breno Pessoa > [email protected]
Fábio Fernandes > http://archetipos.blogspot.com
Márvio dos Anjos > http://nobrefarsa.blogspot.com
Natalia Carvalho > [email protected]
Nelson Moraes > http://praiadonelson.blogger.com.br
Priscilla Bergamasco > http://balandronada.blogger.com.br
Silas Corrêa Leite > [email protected]
 
special guests
Diogo > [email protected]
Ismael Alberto Schonhorst > [email protected]
Lecy Pereira Sousa > http://www.temploxv.pro.br/autor.asp?id=195
Lúcia Canuto > [email protected]
Ruana Rodriguez Rueda > [email protected]
    
>>>
 
Spam Zine - fanzine por e-mail
 
conheça, leia, assine:
http://www.spamzine.net
 
colaborações, sugestões, críticas & propostas indecentes:
[email protected]

>>>
 
p. s.
 
inagaki: Érica de Freitas, minha amiga e estudante de letras na USP, está participando de um projeto bacana que pretende resgatar o prazer de aprender a Língua Portuguesa. Mais especificamente, pretende implementar um projeto experimental a alunos do ensino fundamental da escola estadual Paulo Rossi, no bairro da Vila Mariana, em São Paulo. Para tanto, solicita a doação de livros infantis e revistas de histórias em quadrinhos, que serão posteriormente integrados ao acervo da biblioteca da escola. A galera que puder ajudar com esse projeto deve entrar em contato com a Érica através do e-mail [email protected].
 
orlando: - Posso ser sincera?
- Claro que não. Minta. Minta muito.
 
Não me perguntem se ela mentiu mesmo.
 
inagaki: Eu sei que ia escrever algo relevante ou espirituoso aqui, mas... pfuf, esqueci.