SpamZine_________________
087
27 de janeiro de 2003
campos dos goytacazes
   
>>>
   
compre chão
jorge rocha  http://vortexvoce.blogger.com.br
 
Sem perna ! Foi a primeira frase que o homem que atira pelas costas ouviu assim que se deparou com um millhouse cabeludo. Na verdade, ouviu a frase antes mesmo de encarar a apocalíptica figura, que rangia os dentes e babava, usando uma camisa onde se lia "ya basta". Nada era fácil para ele, que havia acabado de cruzar a Avenida do Extermínio atirando em seus perseguidores. Mesmo tomado pelo asco e escorregando entre os contêineres vazios, ele ainda conseguiu fazer mira e disparar três vezes a Magnum 44 que empunhava na mão esquerda. Na direita, estava a irmã gêmea da arma que carregava na canhota. Miolos do millhouse cabeludo mancharam seu terno marrom, enquanto se ouvia o ressoar daquele último grito. Sem perna ! As costelas quebradas, o calcanhar despedaçado e o fato de estar pisando em contêineres fizeram com que ele se enchesse de gases. Soltou um peido como zarabatana, enquanto tentava se virar na direção de mais um grito. Sem perna ! Mão direita instintiva e um millhouse cabeludo dividido ao meio. Sem perna ! Dedo indicador da esquerda coçou e uma foi bem no estômago. Sem perna ! Sem perna ! No meio dos olhos. Bem no saco. Sem perna ! Sem perna ! Sem perna ! Bílis na parede. Costas grudadas no chão. Escalpo contêiner adentro. Uma obra de arte, no final das contas. Ao se deparar envolto por carcaças de nerds slow motion e livre de seus perseguidores, ele entendeu que ali estava toda a expiação necessária. A redenção requerida. Patente pendente. Havia encontrado o sentido da vida. A partir daquele momento, vinha ao mundo a Associação de Proteção aos Millhouses Cabeludos (APROMIC). O homem que atira pelas costas gritou. Sem perna ! E disparou duas vezes em direção ao próprio peito.
 
>>>
  
poderia ser melhor
juliane nascimento 
[email protected]

Eu, particularmente, me sinto um tanto quanto frustrada em contar o que sei sobre esta cidade. Campos tem um alto potencial, e só não atingiu o seu limite por causa de seu histórico regido pelo poder do coronelismo. Mas Campos é uma cidade universitária - um grande marco na região -, sua produção petrolífera é de alta relevância em nível nacional... blá, blá, blá.

Concordo, se você retrucar desta maneira, pois é verdade que o campo universitário vem tendo uma abrangência cada vez maior. E também é evidente a importância do petróleo que é extraído daqui. Mas, nem em relação a essas afirmativas podemos ser tão otimistas... Vamos começar pelo campo universitário. Sabemos que há um grande número de universidades e faculdades espalhadas por toda a cidade. Então poderíamos concluir que opções para cursar o terceiro grau não faltam. Entretanto, nos esquecemos que a grande maioria destas "opções" é de instituições particulares e algumas delas não oferecem, ao menos, uma qualificação confiável. Resta aos estudantes mais carentes tentar a sorte na Uenf, Cefet ou na UFF (que na sua unidade em Campos, oferece apenas o curso de Serviço Social).

E eu digo "tentar a sorte", visto que a maior parte dos estudantes dessas universidades pertence à classe média alta. Isto acontece pelo seguinte motivo: à medida que a concorrência pelas vagas aumenta, aumenta também o nível da qualidade de instrução, devido a maior cobrança nos exames de vestibular. E este elevado nível só pode ser adquirido nos melhores "cursinhos". E estes são pagos, muito bem pagos, diga-se de passagem. Ou seja, se você for pobre, não tem dinheiro para freqüentar um desses cursinhos (que dirá pagar uma faculdade particular), reze, faça promessa, jogue urucubaca nos outros ou alguma coisa parecida... Porque só assim, se alguma força sobrenatural te ajudar, você tem chances de chegar a faculdade. Agora voltemos ao outro assunto... Petróleo. Aqui na cidade, os benefícios dos quais se tem "conhecimento" são os royalties pagos à prefeitura pela Petrobrás por explorar o território campista. Benefícios estes que não são apresentados à população, que não é ciente de seu valor e nem de como é administrado.

Não é difícil entender o orgulho dos campistas, já que uma bacia petrolífera como a de Campos é realmente um motivo e tanto para se vangloriar. O que não dá para compreender é que se sintam tão beneficiados com isto. Vou explicar... Quem trabalha na área sabe muito bem do que estou falando. Vou começar tendo os próprios como exemplo. O embarque e desembarque de trabalhadores das plataformas da região são feitos, na maioria das vezes, na cidade de Macaé. Ou seja, um trabalhador de Campos deve se deslocar até lá, sempre que for embarcar. Tendo muitas vezes que pernoitar em Macaé para não correr o risco de perder o embarque. As empresas de refinaria e de pesquisa tendem também a estar, por motivos lógicos, nesta área (embarque/desembarque). Ao redor disto, as redes de comércio e prestação de serviços (hotelaria, por exemplo) crescem, sem falar nos empregos gerados por conta disto e toda esta rede se nutre desta movimentação em torno das plataformas.

Acho que não preciso de mais argumentos para provar que Campos não usufrui de praticamente nada do que uma bacia, como a que tem, pode oferecer para explorar.
 
Voltando ao inicio deste texto onde falei sobre o poder do coronelismo nesta cidade... Em sua fundação, Campos prometia ser um ponto referencial para as outras cidades da região e até mesmo para o restante do país. Por ser uma grande planície, ter condições climáticas favoráveis ao cultivo de cana-de-açúcar e ter um nível de urbanismo elevado, comparado a muitas outras cidades da época, atraiu pessoas de vários lugares. Pessoas estas que viriam atrás de novos horizontes de produção e do lucro da crescente indústria açucareira.
 
Acontece que, desde então, toda a economia da cidade se concentrou ao redor do "império açucareiro". E o dinheiro circulava conforme o nível da produção do açúcar. Campos utilizou todo o seu potencial para produzir açúcar durante muito e muito tempo. Ao poder político e econômico da época - que pertencia quase que exclusivamente aos usineiros, coronéis -, não interessava nada além de produzir açúcar. Resultado: hoje em dia, quando ando pelas ruas da cidade, posso facilmente reencontrar colegas da escola atrás do balcão de alguma loja no shopping. Não acreditaria se me dissessem que desde pequenininhos sonhavam com este futuro. Aos que conseguiram se formar na faculdade e desejaram prosseguir em suas carreiras, não restou outra alternativa a não ser ir tentar construir suas vidas longe daqui.

É realmente triste viver numa cidade que não pode oferecer muito mais do que um emprego no comércio... Ou de alguma vaga no serviço público. Há falta de apoio aos pequenos empresários, não há uma organização que realmente apóie a produção agrícola. Não se investe em pesquisas e novas tecnologias, até mesmo para o cultivo de cana-de-açúcar. Existem meios de produzir energia utilizando o bagaço excedente da produção. Será que os usineiros de Campos, os que ainda restam, sabem disto? Se sabem, não devem saber como aplicar esta tecnologia ou não querem fazê-lo por medo de prejuízos.

Campos é uma cidade rica e cheia de potenciais, mas que se entrelaçou tanto com seu passado que não consegue dar um passo sequer, por causa da influência e dos interesses de uma elite falida e retrógrada. Que continua agindo de uma forma ou de outra. Seja elegendo seus governantes, seja "boicotando" projetos que não lhes interessa. Tudo por causa de um nome bem bonito ou por terem muitas terras, mesmo que nelas não exista nem uma vaquinha de enfeite.
 
>>>
 
o filho
jules rimet  http://imagina.blogspot.com

Neco tinha a fala anasalada. Mais baiano que nem juntado todos os Caímes dava conta.

Desapreguiçado desde cedo, já nasceu "deitando mata pros patrões do pai", dizia. Depois de moço é que caçou outro destino, rumou o mundo, conforme se procurara este lugar pra sossegar o facho. Chegou e ficou. Outros dizem que veio fugido, sabe lá de quê, morte talvez. Uns outros sempre comentavam que homem forte, de cara vermelha, e vozerio troante,  se não fez ainda faria defunto. Melhor que já tivesse feito, falavam. Criança, eu ouvia tudo aquilo, nas esteiras das noites, na varanda da casa, compadres de meus tios, e tios, e tantos que vinham espichar a prosa até o sono chegar. E aos lampiões a prosa tomava proporção demais. Eu dormia ouvindo.

Neco chegou e ficou. Trazia dinheiro, com o que montou a venda, e se enrabichou por uma que andava enrabichada por ele. Sossegou e casou. Filhos teve logo três, um após o outro. Duas meninas, um menino. Comprou um pedaço dum morro e, ensinando o filho, deitaram o mato, onde construiu a casa nos fundos da venda, também construída.

Ria o riso folgado que toda gente já conhecia. Moças criadas, Neco teimava astúcias, medroso de que pegassem barriga. Não pegaram. Casou as duas, mais ou menos casadas, e ajudava na mantença delas e dos maridos delas. Importante é que tivessem marido, pensava, de modo que não fez questão de nada quando apareceram, primeiro uma, depois outra, enrabichadas. Providenciou logo a cerimônia, sem mais nem porquê. Melhor casar logo antes que o demo viesse de bolinação e mais, dizia. O filho permaneceu solteiro.

Criatura do pai, o filho saiu conforme ele avisava: "quem quiser que prende suas cabritas, porque meu bode está solto!" E se espichava todo para todas as moças. Mulheres também. Que ele, o filho-bode, queria mais era se desopilar não importando com quem. Neco cantava macheza.

Mas foi tanto que um dia o tal filho-bode, solto na vila, acabou por desfazer de moça a filha de Dona Maria Clara, rezadeira conhecida em todo o lugar. Dona Maria Clara de clara só os dentes, que eram fortes e grandes, como convém a rezadeiras. Rezava também que a filha, criada na fé, deixasse pra trás a vida da mãe, e seguisse os passos de freira. Isso não era segredo. A filha, toda a vida criada nos mandamentos, tinha o dia cheio dos afazeres de deus, na igreja. E foi da Igreja que o filho-bode convenceu a menina, dezesseis anos então, com palavras tramadas e enviezadas, a sair mulher.

Mas à mãe nada escapa quando é ao filho que diz respeito. E Dona Maria Clara, antes mesmo de findar o intento do tal, com sua filha, maculada, estabanou no terreiro vassoura-de-bruxa e caprichou uns gemidos. E palavra gemida tem força de bala.

***

Uns dizem que fugiram, desde então; sem deixar de suspeitar do cuidado que Dona Maria Clara passou a devotar numa de-repente criação de cabras.
   
>>>
    
visão panorâmica sobre campos dos goytacazes
alexandro chagas florentino  [email protected]

Jesus nasceu em uma região - nessa região, determinado povo era escravo. Jesus os conduziu à liberdade e seus "ideais" e mensagens se propagaram por todo o Ocidente (ideologia judaica cristã). E as civilizações antigas (as mais antigas como China e Índia), por que essas mensagens não chegaram lá? Será que não era necessário? Se eles já conheciam a verdade, ainda conhecem! Então, será que é justo julgarmos suas culturas e religiões, achando - com toda a nossa prepotência de bons cristãos ocidentais - que nós, somente nós somos os certos, os possuidores da verdade? A isto eu chamo fundamentalismo  - sim, aquele mesmo que é motivo pelo qual os EUA bombardeiam os povos do Oriente Médio. Tudo que é diferente, a nós é errado e deve ser "exorcizado"...! Não admitimos o diferente, o que é consenso da "maioria" é o que deve ser (muita prepotência achar que somos maioria).

É assim que eu vejo Campos: um lugar onde as "elites religiosas" ditam as regras junto com as influências das fracassadas oligarquias açucareiras... As "elites religiosas" estão entranhadas dentro de um lugar que é de vital importância para o desenvolvimento de qualquer sociedade: a educação! Quando as instituições não são formalmente dirigidas por um determinado ramo religioso, elas têm pessoas - líderes de coordenações, chefes de setores, etc - com grandes poderes de influenciar decisões a serem tomadas pela instituição, pertencentes a algum ramo religioso... O que há de mal nisto?

Acontece que a intolerância ao diferente é prato de café da manhã das "elites religiosas" campistas; não só das "elites", mas também da grande maioria da sociedade! Por que que a sociedade é assim?

Ora bolas...! A educação, as heranças e cargas culturais, o meio de vivência... estão diretamente ligados à formação do caráter do indivíduo. E se a educação institucionalizada é fundamentalista, é preconceituosa, a sociedade também será, porque os pais aprenderam a ser e passaram para os filhos, que recebem o reforço nas escolas... Portanto, vira figura repetida ver pessoas que fogem do senso comum, que deveriam ser consideradas e tratadas no mínimo com respeito, pela coragem, pela originalidade e personalidade, serem execradas, rotuladas, marginalizadas. Só como exemplo: pessoas são despedidas de seus empregos por se recusarem a cortar o cabelo - mesmo, no local onde trabalham, tendo uma grande estátua da imagem de Jesus Cristo com seus longos cabelos. Outras são taxadas de satanistas por não concordarem com tudo que o pastor - um outro homem - disse.

As visões dogmáticas já são impostas dentro de casa, e a "escola", que deveria formar os indivíduos para terem visões críticas às coisas, apenas reforçam os dogmas. E um dos métodos de implementação deste tipo de "ensino" é um mal que abrange todo o país, precariedade de um dos direitos básicos, a educação. Afinal de que interessa os cidadãos terem visões críticas ao "poder" instituído?

E junto a isso, temos o orgulho das fracassadas oligarquias açucareiras campistas - que fez com que se destruice um excelente teatro, o Trianon, para contruir um banco. Ao reconstruir o teatro - em outro local - ,ignorou-se um projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, para dar preferência a um arquiteto campista... Sem querer desmerecer o trabalho deste arquiteto "anônimo", mas imaginem os benefícios que um teatro projetado por Oscar Niemeyer - arquiteto reconhecido mundialmente - traria para a cidade... Várias pessoas viriam até Campos ver o Trianon, e consequentemente o comércio local seria bastante beneficiado, o que seria um "grande bem", visto que é o comércio a maior fonte de renda da população campista... O teatro não teria uma beleza só de "fachada"... Isso mesmo, afinal suas laterais são "lisas", simples paredes como as de qualquer construção... Sem se falar na acústica, que ao contrário do que tentam "empurrar", deixa muito a desejar... Caso se sente nas primeiras filas, praticamente não irá entender o que ao menos foi proposto como essencial de se escutar...
 
As influências deste nostálgico orgulho açucareiro estão junto ao emaranhado de pré-conceitos dogmáticos que regem esta cidade... Aqui, quem ousa ser diferente da maioria, entende muito bem quando eu digo que as pessoas, aqui em Campos, vivem do passado, esquecem o presente e não estão nem aí para o futuro...!
 
>>>
 

o maior de todos os tabus
julio césar andolini  [email protected]

 
É estranha a vida. Muito estranha. Não se sabe quando e nem de que forma vai terminar. Não é como uma partida de futebol, um programa de TV, uma viagem de ônibus. Pode durar alguns segundos ou 122 anos, e uma vida bonita e realizadora pode acabar em um acidente de trânsito idiota (vide o caso do Dias Gomes).


E o que vem depois? Se é que algo vem depois. Muito se especula, muitas guerras são travadas em nome desta questão, mas a verdade é que não há uma resposta.


Só que algumas pessoas não esperam pelo fim imprevisível. Corajosamente põe, por sua própria conta, fim a suas próprias vidas. Sim, corajosamente. Não é qualquer covarde que empreende conscientemente esta viagem ao desconhecido. Não é qualquer chorão que deixa definitivamente para trás tudo o que conhece, tudo o que ama, tudo o que almeja.


As razões que levam a isso são as mais diversas possíveis. Corretas, incorretas; bobagens, até. Não pretendo julgar o mérito destes motivos, apenas quero deixar claro que admiro a coragem dos que se matam. Sempre sinto-me um covarde ao saber de um caso.
 
(para Marta Amorim de Oliveira, minha tia, que se atirou do 12º andar do prédio da UERJ. Tinha 30 anos)

 
 >>>
  
o mágico de ozzy
venoso  http://www.venoso.blogspot.com

Era uma vez uma menininha muito malvada chamada Dorotí que tinha uma fera-assassina-disfarçada-de-poodle-toy-chamada-Totó. Um belo dia, Dorotí e sua fera-assassina-disfarçada-de-poodle-toy-chamada-Totó, após sua má ação habitual, resolveram dar uns bordejos pela localidade. Foram pegos por um furacão. Não me perguntem como, essa é só mais uma estória infantil, ou quase... Acabaram parando no mundo de encanto e magia, amor e felicidade, chamado Campos dos Goytacazes (como o nome era muito grande, os habitantes de Campos dos Goytacazes resolveram, em assembléia, mudá-lo para Oz. Nome simples, curto, além de ficar bonitinho nos uniformes da guarda civil...)
 
- Acho que não estamos mais em Sabonete, Totó... Graças a Deus! Já estava de saco cheio daquela gente pobrinha! Vamos dar uma voltinha e cometer alguns delitos!

E lá se foi Dorotí seguida de sua fera-assassina-disfarçada-de-poodle-toy-chamada-Totó rumo ao desconhecido, indo aonde nenhuma garotinha malvada e sua fera-assassina-disfarçada-de-poodle-toy-chamada-Totó foram antes.

Doroti nem imaginava onde o furacão a deixara. Mas, para sua sorte, após uma longa e exaustiva caminhada e alguns palavrões, avistaram três populares que jogavam dominó.

- Aquela gente esquisita deve saber que raio de lugar é esse, fera-assassina-disfarçada-de-poodle-toy-chamada-Totó. E se não souberem, a gente dá um pau neles pra deixarem de ser burros!

Só que os trajes dos nativos locais chamaram a atenção de Dorotí. Metida como ela só, foi logo dizendo:

- Vocês não têm vergonha na cara não, é?
- Hein? - Indagou o homem fantasiado de Espantalho.
- Do que você está falando? - quis saber o Homem de Aço Inoxidável.
- Três marmanjos fantasiados de Espantalho, Homem de Aço Inoxidável e Rei Leão, e você ainda tem coragem de me perguntar do que estou falando? É muita falta de senso crítico...
-  É que ontem nós fomosss numa fessta a fantassia, lá no Rancho da Ilha... - disse o Rei Leão que tinha uma dicção "diferente".
- E daí? Já sei, gostaram tanto dessas roupas cafonas que decidiram ficar com elas para sempre!
- Não, sua besta! - irritou-se o Espantalho - Nós arrumamos confusão com uma dona que estava fantasiada de Bruxa do Oeste...
- ?
- Você é burra messmo! Ela era uma bruxsa de verdade e noss prendeu nesssass roupass. - disse o Rei Leão que tinha língua presa, igual ao Romário.
- E por que não deram um sacode nela?
- Preguiça! - exclamaram todos.
- Vocês são uns bunda mesmo! Aí, como é o nome desse lugar?
- Bem, o nome oficial é Campos dos Goytacazes, mas todos o conhecem por Oz... - Disse o Homem de Aço Inoxidável.
- Campos dos Goytacazes? Nunca ouvi falar... Isso é perto de quê?
- Você conhece Macaé? - perguntou o Espantalho.
- Claro!
- Então, é pertinho...
- Hum... O povo das plataformas... Sei... Quer saber? Já tô de saco cheio desse lugar. Como é que me mando daqui?
- Onde você mora? - perguntou o Espantalho.
- Sabonete...
- Xiiiiiiii... - exclamaram novamente os três.
- Só tem uma pessoa que pode te mandar de volta... - começou o Espantalho.
- Quem?
- A pessoa mais poderosa de Oz... - continuou o Homem de Aço Inoxidável.
- Quem? Quem?
- O Mágico de Ozzy. - finalizou o Rei Leão de língua presa, igual ao Lula.
- Quem? - perguntou Dorotí incrédula.
- O mágico de Ozzy.
- Ozzy Osbourne mora aqui?
- Não, ele quis dizer Oz.
- Claro, Ozzy Osborne nunca viveria num lugar tão chinfrim... Mas esse Mágico é tão poderoso assim? Ele é discípulo de Paulo Coelho?
- Não, dizem que ele está envolvido em negócios de importação e exportação, se é que você me entende...
- Além da promoção de eventos de grande porte... Você entendeu...
- Claro... Então vamos logo!
- Pra onde, criatura? - perguntou o Espantalho.
- Pra casa desse Mágico, ora.
- Cê tá louca? - indagou o Homem de Aço Inoxidável - Não queremos saber de bruxaria, muito menos de política. Se quiser, que vá sozinha.
- Se vocês não forem, eu mando minha fera-assassina-disfarçada-de-poodle-toy-chamada-Totó acabar com vocês!

E lá se foram os três, seguindo o aceiro de palhas amarelas, rumo a "Casa Rosada". Que fique registrado que os três só concordaram porque precisavam de um cérebro para o Espantalho, um coração para o Homem de Aço Inoxidável e coragem para o Rei Leão, e não por causa da ameaça da tal Dorotí, como muitos poderiam pensar...

Chegando na "Casa Rosada", centro do poder de Oz e residência oficial do Mágico, encontraram uma tabuleta na porta que dizia: "Por decorrência de problemas relacionados à distribuição dos royalties do petróleo, viajei para o Farol de São Thomé. O atendimento ficará para ocasião de meu regresso. Ass.: O Todo Poderoso Mágico de Oz, Eu. E tenho dito, digo, escrito!".

Nossos aventureiros ficaram muito decepcionados e, num ato de insanidade temporária, arrombaram a casa do Mágico. Aí tiveram a segunda decepção do dia: o Mágico tinha mudado sua casa de local. Mas para não perderem a viagem, roubaram tudo que puderam carregar. Com o dinheiro Dorotí e sua fera-assassina-disfarçada-de-poodle-toy-chamada-Totó alugaram um ônibus com ar-condicionado e voltaram para Sabonete; o Espantalho contratou um professor particular e está aumentando seu, até então, parco intelecto; o Rei Leão contratou o Mike Tyson para ser seu guarda-costas e nunca mais teve medo de nada, e o Homem de Aço Inoxidável subornou um médico passando para o primeiro lugar da fila de transplantes cardíacos. E todos viveram felizes para sempre.
 
Pelo menos quase todos, pois, quando o Mágico voltou das férias, digo, dos compromissos no Farol de São Thomé, encontrou a "Casa Rosada" destruída, tendo que mudar as atividades, que ninguém sabe ao certo quais são, que eram realizadas na tal casa para um quartinho na pensão da Dona Carochinha. Mas tudo bem. A Pensão de dona Carochinha é conhecida como "Pensão do Coração"... Sempre cabendo mais um... Um inquérito já foi aberto para descobrir os meliantes...
>>>
 
rio sem porto e sem cais
quésia francisco  [email protected]

Esse rio aqui corta a cidade ao meio. Ele não tem porto; não tem nem cais. Tem apenas três pontes que unem duas partes divididas de uma mesma cidade. Parece que o povo do lado de cá não gosta muito do povo do lado de lá.

Imagine só: pensam que são superiores só porque moram à margem direita do rio. Direita ou esquerda ? Depende para onde você estiver indo (ou voltando). O rio sempre sabe para onde ele vai. Todos vão para o mar, desde o dia que nascem. Eu também sei para onde o rio corre, mas isso não adianta muito saber, se ele não tem porto. Só não sei de uma coisa: se rio vem de morro, de onde esse daqui vem se aqui não tem morro nenhum ? Nem montanha e nem uma colinazinha pra soltar pipa. Meu vô diz que ele vem de muito longe. Serra da Bocaína. Nome engraçado! É lá que o nosso rio sem porto nasce.

Acho que tem alguém roubando água dele. Lembra-se como era antigamente? Ninguém lembra. Só meu vô. Ia até aquela escola lá, que antes era a casa do Barão da Lagoa Dourada. Muitos anos se passaram. O rio não é mais o mesmo e nem o porto - que era o mais importante de toda a região - existe mais; foi-se embora com a maior parte do rio. Mas os Barões ainda continuam. Há muitos por aqui.

Ninguém sentiu a falta dos barcos. Só vovô. Quem precisa de barco quando se pode andar de bicicleta ? Aqui todo mundo sabe andar de bicicleta. Não tem morro. Todas as ruas da planície são boas para caminhar. E andar de skate e patins.

Essa semana tem chovido muito. Se continuar dessa forma, o rio não terá mais para onde se espalhar. Esses adultos são engraçados: comprimem as margens do rio e depois o amaldiçoam quando ele derrama água na Avenida. Coitadinho dos moradores da beira do rio. Todo ano, o Barão diz que vai tira-los de lá para não sofrerem as "mazelas" das cheias e nada. Para onde é que se foge quando o rio toma toda a cidade?

- E aí ? Pescaram muito hoje ?
- O rio não tem mais peixe. Foram todos embora em busca de águas melhores.
- Vamos andar de patins ?
- Ih, hoje não dá. Quando sair daqui com meu vô, tenho que terminar o trabalho da escola. Estava quase pronto quando faltou luz - sem aviso prévio como sempre. Perdi tudo.

Vovô conta que essa cidade é a primeira de toda a América Latina a ter luz elétrica.

Ontem, vi o vô chorando de novo. Ele não quis dizer o que era. Mas eu sei que é por causa do Grande Teatro que demoliram para construir mais um banco. É como se com aquela construção tivesse ido embora todo seu passado. Estão destruindo todas as casas antigas que não precisam de ventilador. Elas têm um teto muito alto e as portas e janelas tão grandes que o vento entra e sai livremente. Será que querem vender mais ventilador? Eu acho que é porque as pessoas, para se sentirem maiores, constroem casas mais baixas, mesmo que para isso tenham que comprar ventiladores e aparelhos de ar-condicionado.

- Vamos pra casa vô ? Vai chover. Tenho que terminar meu trabalho. Amanhã a gente pesca mais. Fique triste não, viu, um dia os peixes voltam.

À noite, meu vô havia sumido. Encontrei-o lá na beira do rio onde antigamente havia um cais. Ele gostava de ver a lua refletida logo abaixo da ponte. Ficava horas lá parado, em um mundo que eu conhecia muito bem e ele nem imaginava.
 
>>>
 
c r é d i t o s  f i n a i s
 
nick cave
Jorge Rocha > http://www.maounica.cjb.net
   
bad seeds
Alexandro Chagas Florentino  [email protected]
Jules Rimet > [email protected]
Juliane Nascimento > [email protected]
Julio César Andolini > [email protected]
Quésia Francisco > [email protected]
Venoso > http://www.venoso.blogspot.com
  
>>>
 
Spam Zine - fanzine por e-mail
 
conheça, leia, assine:
http://www.spamzine.net
 
colaborações, sugestões, críticas & propostas indecentes:
[email protected]