082
11 de novembro de 2002
são paulo rio de janeiro
graubünden itararé porto alegre
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n e s t a e d i ç ã
o:
morte é
vida - mais desconfortos - lingüiça
alemã - o invisível e o escritor
- solitude - pra quê rimar amor e dor?
- ex-mulheres - garoto juca jr. -
paradise motel
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"Fulano passou desta para melhor". "Sicrana bateu as botas". "O gato subiu
no telhado". Por que usamos tantos eufemismos para se referir a um fato
inevitável à vida de todos nós, a morte? Será que a tememos tanto a ponto de o
simples fato de citá-la nominalmente precisar ser evitado?
Não há consenso sobre o que ela seja. Pode ser o fim de tudo, ou,
simplesmente, um novo começo, o primeiro passo para um novo estágio de nossa
existência no universo. Absurdo inaceitável, condenação aterradora, mistério
indecifrável, tabu. O fato é que não gostamos de falar "nela". Ao mesmo tempo,
nutrimos um fascínio que pode ser adjetivado como "mórbido". Manchetes e mais
manchetes de jornais anunciam que filhos matam pais, ídolos morrem no
auge, serial killers atacam misteriosamente, tragédias vitimam
centenas. A morte nos interessa profundamente, a morte faz parte intrínseca da
vida. No entanto, somos incapazes de encará-la de frente. O que se passa?
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Nossa relação com a morte é decidida por nossas raízes culturais. No mundo
ocidental, ela é tabu. Tudo que possa recordá-la nos é afastado da vista: idosos
são recolhidos em asilos e doentes morrem longe de nossos olhos, em UTIs
distantes de seus lares. A morte é vista como nosso adversário-mor; de capa
negra, rosto cadavérico e foice negra na mão, é a própria personificação do
Medo.
Do outro lado do mundo, os brâmanes hindus a encaram como uma transição
semelhante àquela que transforma uma lagarta em borboleta. Já em algumas tribos
indígenas brasileiras, os velhos se deitavam na rede e simplesmente aguardavam
pela hora de partir. Não comiam, nem bebiam; apenas aceitavam que sua hora tinha
chegado, e se curvavam frente ao imponderável. Enquanto isso, fundamentalistas
muçulmanos realizam missões suicidas, transformando-se em homens-bomba ou
jogando aviões contra arranha-céus simplesmente porque crêem, piamente, que ao
cumprir sua missão na "guerra santa" (a maior das contradições em termos)
receberão passaportes para a sonhada Terra Prometida.
Para nós, ocidentais, a coisa é bem diferente. Cada vez mais relutamos em
aceitar a tal "Indesejada das Gentes", e o imaginário hollywoodiano é bastante
ilustrativo sobre esse assunto. Mesmo quando a morte se sobrepõe, há sempre um
modo de inventar um final feliz - o casal do filme Titanic
"ressuscita" no final, e o par romântico de Ghost vive um amor que
perdurará mesmo no "outro lado da vida".
Esse fenômeno de edulcoração da morte é relativamente recente. Prova
inconteste é a modificação dos finais dos contos de fada. O francês Charles
Perrault (1628-1703), e os irmãos alemães Jacob e Wilhelm Grimm (cujo
primeiro livro saiu em 1812) foram os pioneiros a recontar em papel relatos que
passavam de geração a geração, como as histórias de Chapeuzinho Vermelho, O Gato
de Botas, O Pequeno Polegar e Cinderela. Na época, esses contos infantis
eram vistos como uma forma de educar as crianças para os fatos da vida, e finais
tristes, obviamente, faziam-se necessários. Walt Disney, ao transpor tais
relatos para a tela cinematográfica, preferiu dar a seus espectadores happy
ends devidamente domesticados.
Um exemplo? A última frase de Perrault em sua versão da história de
Chapeuzinho Vermelho acaba assim: "O malvado lobo atirou-se sobre Chapeuzinho e
a comeu". Seja sincero: você nunca achou uma tremenda forçação de barra um
caçador ouvir os gritos da menina, salvá-la e ainda abrir a barriga do lobo para
tirar a vovozinha ainda viva de lá? Fala sério... Quer outro exemplo? Na
história dos irmãos Grimm, a madrasta da Branca de Neve não caiu do penhasco
(como no desenho da Disney): na versão alemã, ela foi obrigada a dançar com um
par de chinelos de ferro em brasa, até cair morta, em plena festa de casamento
da princesa!
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Pesquisa realizada pelo psicólogo americano Lisl Goodman, publicada no
livro "Death and the Creative Life", de 1981, mostra que o medo de morrer está
fortemente ligado a uma frustração perante a vida. Entrevistas realizadas com
centenas de pessoas entre 17 e 70 anos revelaram que as mais temerosas da morte
eram justamente as que não haviam concretizado seus projetos. Segundo Goodman,
"para esses a vida tinha sabor de uma obra inacabada".
Contudo, como nos ensinaram os Rolling Stones, "I can't get no
satisfaction". Na falta do que fazer, sempre arranjamos algum motivo para nos
apegar à vida. Eu quero ver o pôr-do-sol de amanhã, sentir a brisa de cada manhã
no rosto, chupar jabuticaba, correr descalço pela grama, dançar em frente ao
espelho, beijar outros lábios, nutrir novos sonhos e esperanças. Enfim,
viver.
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A ciência avança. Os progressos da medicina, os estudos do Projeto Genoma e
os novos remédios que prometem retardar o envelhecimento fazem com que deixemos
de pensar em nossa finitude. E, se ela vier enfim, há quem se creia na criogenia
como um meio de sobreviver à própria morte.
Robert Ettinger, professor de física da Universidade de Michigan, escreveu
em 1964 um livro intitulado "A Perspectiva de Imortalidade". A obra lançava um
conceito polêmico: se, logo após a morte de uma pessoa, seu cadáver fosse imerso
em nitrogênio líquido interrompendo-se o processo da decomposição), seu corpo
poderia ser mantido até um futuro em que seja desenvolvida uma tecnologia capaz
de reanimá-lo para a vida. Crentes nessa técnica popularmente conhecida
como criogenia, cerca de 130 pessoas estão congeladas dentro de cápsulas de
aço, de cabeça para baixo e mantidas em nitrogênio a uma temperatura de 196
graus negativos (especula-se que, olha ele aí novamente, Walt Disney seja
uma delas). Contudo, esta opção é para poucos: o custo para o congelamento e
manutenção de um corpo é de 120 mil dólares.
Mas sobreviver à própria morte não necessariamente requer fortunas. Mesmo
porque ninguém (com poucas exceções, como a do ex-presidente João
Figueiredo) deseja ser esquecido, e passar a eternidade em uma lápide empoeirada
e sem flores no dia de Finados. Através da arte, poetas, pintores, escultores e
cineastas alimentam o vão desejo de permanecer para além da vida, criando obras
que possam sobreviver a suas mortes físicas, assim como há aqueles que
criam instituições ou museus perpetuando seus nomes (vide Alfred Nobel e John
Rockfeller). A luta contra o olvido post-mortem faz parte da
condição humana.
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Talvez tudo fosse mais fácil se agíssemos como certas ordens católicas em
que os monges, ao se encontrarem nos corredores de um mosteiro, cumprimentam-se
com a expressão "memento mori". Que significa, em latim, "lembre-se de
que você vai morrer". A saudação, longe de ser pessimista, funciona como um
exercício espiritual de aceitação da própria morte. Mais do que isso: é um
lembrete para investir na vida.
"É preciso viver cada dia como se fosse o último". O clichê é verdadeiro:
aceitar a morte significa aprender a valorizar cada momento presente. Talvez o
exemplo maior tenha sido dado pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. Que,
consciente da proximidade de seu fim físico, soube viver com muito mais
intensidade e generosidade.
Mais do que a morte, é preciso dissipar em nós o medo de viver. Recordo
aqui as palavras de Oscar Wilde: "São poucas as pessoas que realmente vivem; a
maioria delas apenas existe".
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Literatura viva, inquieta e pulsante: eis o que nos oferece André Machado,
autor de uma das séries mais celebradas do Spam Zine, "Minicontos do
Desconforto", e responsável pelo imperdível blog
Comentários e Versos do Cadafalso,
que completou um ano dia 6 de novembro. Para fazer companhia ao grande André,
temos: Ellen Aprobato, nossa leitora radicada na Suíça, trazendo deliciosas
indagações de ordem etimológica; o inquieto
Fábio Fernandes, com mais dois verbetes do
irretocável Pequeno Dicionário dos Arquétipos de Massa; Silas Corrêa Leite,
nosso homem em Itararé, versejando sobre as agruras de um divorciado; Ricardo
Ramos Leite, saciando as saudades do finado blog
O Mundo Anárquico do Garoto Juca
Jr.; e a estreante Camila Dalbem, nossa correspondente em Porto
Alegre.
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minicontos do desconforto
- 16 -
"Você não deve se envolver com uma mulher misteriosa de olhos
negros", disse a cartomante. E ele, sempre supersticioso, assentiu. Ao deixar a
tenda, tropeçou nela. Miúda, sorriso franco e olhos verdes. Gostaram-se de cara.
Saíram dali para o primeiro drinque. Acabaram fazendo amor no elevador, a
caminho do apartamento dela.
Ele sentia o peito explodir de felicidade e prazer.
Sentou-se no sofá, pensando em como aquilo era refrescante, diferente de tudo
que já vivenciara. Então ela voltou lá de dentro.
E seus olhos eram agora negros como
azeviche.
Ele soltou um grito e fugiu espavorido, deixando mudo na boca
da companheira o comentário sobre as lentes de contato.
- 17 -
Ficou olhando para o revólver em cima da cama. O palácio
estava silencioso.
Entendeu que, cedo ou tarde, os militares tomariam o poder. Só
podia adiar o inevitável.
Que fosse tarde, ora diabos.
Mas estava com medo. Merda, pensou, por que fui nascer numa
época em que só existem presidentes? Se fosse imperador, teria um escravo que
não hesitaria em ajudá-lo a se matar. Aí lembrou-se de Nero. "Covardão, precisou
que alguém lhe empurrasse o punhal garganta adentro..."
Não, sua decisão seria solitária.
Deu a última tragada no charuto. Ia sentir falta disso. Pegou
a arma, apontou-a para o peito, como o amigo lhe
ensinara.
Então teve uma visão. Afrodite surgiu diante de si, em todo o
seu esplendor. Instou com ele que poupasse a própria vida, mostrou-lhe imagens
de um futuro brilhante à frente, após aquela crise de pouca monta se comparada
com as que viriam no fim do século.
Ele titubeou. Pensou alguns instantes. Foi o suficiente para
se lembrar do pouco de mitologia que aprendera. Afrodite, aquela beldade à sua
frente, havia sido amante de Ares. O deus da guerra. Um milico
safado!
Olhou para a deusa e viu que seus lábios, perfeitos, tremiam.
Os olhos se moviam rapidamente. Ela suspirou e ele viu uma nova deidade se
formando perto da escrivaninha. Usava um elmo e portava uma
lança.
Atirou no próprio peito, não sem antes sorrir. Morreu
gargalhando ante a inépcia olímpica.
- 18 -
Jurou que era a última vez que ouvia aquele disco. A capa já
estava até meio comida pelas traças, o vinil com alguns tec-tecs que ele
conhecia de cor no meio das músicas. Deitou a agulha sobre a bolacha e jogou-se
no sofá. O show começou, pegou embalo e logo ele batucava e cantarolava junto
com a banda. Abriu a garrafa de conhaque e bebeu pelo gargalo.
Chovia.
Quando pôs para tocar o último lado do segundo Lp, quase
chorou. Não ia mais ouvir as piadas do cantor entre as músicas, nem aquele solo
improvisado do guitarrista com uma canção de ninar no meio. Mas era preciso. O
disco ia acabar furando.
Chegou o momento. "If you wanna a little bit of rocknroll,
shout it out loud", gritou o vocalista. Era a senha para o encore final. A
música rolou uma vez mais. Fim. O volume dos aplausos foi diminuindo. E... de
repente aumentou de novo! Houve um segundo bis. E um terceiro. Nada disso estava
no disco. Até agora.
Ele se sentou no sofá, olhou para a vitrola. Que porra era
aquela? A agulha flutuava acima do vinil. A banda parecia estar ali, a turba
ensandecida vociferando à sua volta. Deve ser o conhaque, pensou. De repente, do
nada eles estavam ali. Um show na sala do conjugado.
Ele se juntou à banda até o décimo-quinto bis, quando por fim
diluiu-se no ar e foi sugado pelo disco negro e reluzente. E viveu ali, na ponta
da agulha, o resto de seus dias, no meio daquela multidão, assistindo àquele
show até o dia em que seu filho, transido de saudade, quebrou a bolacha sem
jamais saber que estava mandando seu pai para o limbo.
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Bati o olho no refrigerador do
supermercado e gelei. Não porque estava frio demais, um calor do caramba, mas
por que eu vi uma guloseima que eu procurava há mais de dois anos: a lingüiça.
Meu marido não tinha nem idéia de como chama em alemão, ele dizia o nome geral,
Wurst, e com este nome existem só na região onde moro mais de 200
tipos. Quando eu olhei o nome em alemão eu dei risada: Luganigha.
Lugano é a capital de Ticino, Cantão suíço que fala italiano, fronteira com o
norte da Itália. Portanto, calabresa em alemão é Luganica. Será que
alguém aí percebeu a semelhança com o nome Lingüiça? Ainda com a pulga atrás da
orelha comecei a investigar e descobri que, em Portugal, chamam a língua de
porco salgada de lingüiça...
Foi então que eu comecei a ver a quantidade de
palavras que a língua "abrasileirou". Tem a expressão cabra macho. Bem, cabra
macho pra mim é bode, faz bé-é-é. Mas macho em dialeto suíço-alemão é
Bock. Será que alguém aí pensou na cerveja? (Bingo!). Existe um animal,
descendente da cabra sim, com chifres muuuuuuito compridos, que mora nos Alpes
grichas (no cantão da Graubünden) chamado Steinbock. Ele quase não se alimenta,
vive pulando de um penhasco a outro, por isso o Stein (pedra). Imagino
que alguns imigrantes diziam que eram valentes como essa cabra.
E, voltando ao Bock. Kaiser Bock, velha
companheira de manguaça. Kaiser é imperador, Kaiser Bock é imperador macho (vai
saber quantos homossexuais estiveram no impérios austríaco, prussiano,
alemão...)
Tem aquela música da Marina. Fullgás. Sabe o que é
Vollgaz em dialeto suíço alemão? Pé na tábua! E, se não foi desta
expressão mal entendida, me expliquem então de onde ela foi tirar essa
palavra...
Pois é. E sobre as palavras que não se traduzem, as
palavras que a pronúncia latina mudou completamente, as palavras e os sons que
não existem? Os sentimentos que não se traduzem, não se explicam, saudade,
banzo, gostar, e outras tantas, e as piadas?
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O Homem Invisível
Esta é óbvia, você
dirá. Todo mundo se sente invisível de vez em quando.
Mas sempre, o tempo
todo, não.
O rapaz era... como
era mesmo o rapaz? Pergunte a qualquer um, e todos lhe darão a mesma resposta.
Não sei, sei lá. É um rapaz como outro qualquer.
Mas como é um outro
qualquer?
Aliás, quem é mesmo
esse rapaz?
Ninguém sabe.
Ninguém vê esse rapaz.
Até poderiam, se
quisessem. Se soubessem que ele estava lá, do lado deles, quieto, mexendo seu
café com a colherinha sem fazer barulho. E ainda que fizesse, quem
ouviria?
Ninguém. Porque
ninguém ouve esse rapaz.
Ele também não faz
força para aparecer. Que ele tem medo até seria óbvio, se alguém o olhasse por
um instante e visse o seu rosto.
Mas como é mesmo o
rosto desse rapaz?
O Escritor Maldito
Caralho, detesto
entrevista. Por quê? Porque vocês jornalistas só fazem perguntas imbecis. O quê?
Ah, se eu tô te ofendendo, foda-se. Você tá aqui porque quer, porta da rua é
serventia da casa.
Você ta me
perguntando quem eu sou? Você estudou filosofia ou é burro mesmo? Não, eu
respondo, tudo bem, é bom mesmo: eu sou um escritor maldito, é o que eu sou. Eu
escrevo as minhas angústias. Eu não quero nem saber se eu sou ou deixo de ser
porta-voz da minha geração. Eu sou mais eu.
Por que é que você
fica olhando tanto pras minhas tatuagens? E o meu cabelo? É roxo, nunca viu? O
que eu escrevo é muito mais importante que isso, porra. Você tem que falar é do
que eu escrevo. Angústia é muito mais importante do que tatuagem ou cor de
cabelo.
Ah, vá se foder. Eu sou é bom.
>>>
p e r g u n
t a r n ã o o f e n d e
"O que será da música
pop quando as palavras 'amor' e 'dor' forem banidas do vocabulário da
humanidade?"
Vai ser terrível (pra eles) o que já é terrível
(pra nós). Mas ainda restará rimar "cabelo ao vento" com "lamento", "solidão"
com "paixão" ou "canção" ou "ilusão" ou "Turcomenistão" e todos os verbos no
intransitivo, gerúndio ou particípio, do tipo "amar" com "cantar", ou "sofrendo"
com "batendo", ou "sofrido" com "pelo amor dos meus ouvidos".
vai ser uma grande catástrofe, mas não tão grande
como seria abolir da língua portuguesa (e da vida do djavan) o acento til:
coraçã, tubarã, leviatã.
Funk.
Em primeiro lugar, uma assepsia musical vai
acontecer, com a exterminação dos "breganejos", fato a ser comemorado com festa
na Paulista e tudo mais. Em segundo lugar, dicionários de rimas para palavras ou
expressões como "afeto ilimitado" ou "aguda sensação nervosa" terão tiragens
jamais vistas na história.
- Teremos uma paz momentânea, porque assim os
pagodeiros e sambistas da moda se suicidarão, sem ter outras palavras para
preencherem suas letras musicais que façam uma rima chimfrim. O programa da Hebe
acabará porque ela não terá mais cantores românticos para tocar nos seus
programas e sentar no sofá ao seu lado. Será uma "gracinha" total não vê-la mais
às segundas a noite.
- Nos sábados a população de baixa renda procurará
algo de útil para fazer porque o Gugu Liberato entrará em colapso nervoso (terá
chiliques homossexuais pra ser mais exato) e não conseguirá apresentar mais o
Sabadão Sertanejo. Morrerá a pseudo-criatividade das propensas duplas musicais.
Ainda restarão bandas fabricadas que possuem refrões indecifráveis como
"acelerê, ahá, ehe", mas somente elas não conseguirão manter a audiência do
programa.
- Morrerá o Domingo Legal, e o Silvio Santos
voltará a apresentar um conjunto de programas o dia inteiro com o microfone do
tempo do guaraná com rolha amarrado no pescoço.
- Falcão voltará a ser arquiteto.
- Reginaldo Rossi terá uma crise existencial, e
seguirá a profissão de garçom para comprovar se a classe realmente ouve
histórias de amor.
- Padre Marcelo Rossi passará mais tempo na Igreja,
exercendo o sacerdócio ao invés de ficar sacolejando em shows.
- E por fim, paz irá durar pouco porque as bandas
de Axé Music estão se preparando para o verão e poucas delas utilizam as
palavras 'amor' e 'dor' nas suas letras, bem como os grupos de
funk.
Seria um espetáculo. A tão esperada extinção do
lixo que assola o país: grupos de pagode baratos, cavanhaques loiros,
declarações de amor fúteis para as grandes massas, tudo isso sumiria em questão
de dias.
No lugar destes, imagine momentos preciosos: Em
uma tarde de domingo qualquer, o Gugu (isso se ele não sumir junto com a corja)
chamando Frank Jorge ao palco. The Strokes tomando conta da programação baba da
MTV. Manic Street Preachers fazendo turnê mundial com patrocínio da Kaiser
"Music". Um sonho, sim. Mas pelo menos, é digno de ser.
Quanto aos grupos de
pagode, poderíanmos ser mais rígidos, proibindo frases que tenham as palavras
"liga pra mim" "azul da natureza", "minha princesa"... argh. Já estou com
náuseas.
Simplesmente não mais será...
A Shakira já afirmou ter comprado um dicionário de
rimas... todos vão acabar comprando dicionário de sinônimos. E olha quanta
variedade (em inglês, porque português é coisa de tapuia...):
LOVE
- attachment, endearment, affection, adoration, liking, devotion, warmth,
tenderness, friendliness, adore, worship, like, cherish,
fondness
PAIN - twinge, ache, pang, agony, distress, grief,
anguish, throe, paroxysm.
Apesar de vivermos num mundo maluco, há
14 sinônimos listados para LOVE e 9 para PAIN. Será que há luz ao fim do
túnel?
Minha resposta:
A filosofia perderá um ótimo
inquilino.
(inspirado na canção "Mora na Filosofia", de
Lupicínio Rodrigues, eu acho. Mais especificamente no trecho "Mora na filosofia:
pra quê rimar amor e dor?")
Acho que as letras perderiam um pouco do
sentido:
“Beija-flor, que trouxe o meu ????
Voou e foi embora...
Olha só como é lindo meu ???
Estou feliz agora.”
Mas “pop” que é “pop” não se abala com
pouca coisa, logo eles (infelizmente) botam outra coisa no
lugar...
ex-mulheres
silas corrêa leite [email protected] Ex-mulheres são para
sempre
Como hérnia no disco ou pensão alimentícia
Você ainda vai ter uma,
mano
E vai ser difícil esgotar todos os horizontes
Ex-mulheres
ainda respiram
Pelos cotovelos, as tantas desavenças
Algumas querem você
de novo
Outras têm inveja da nova musa-vítima
Ex-mulheres
cheiram sovaco
Ainda no sonho - ou pesadelo-sublimação
Mas o amor passa,
tudo passa
Ficam apenas essas ex-mulheres
Algumas ligam para
você, cobram
Que leve o Júnior para um estágio em casa
Outras querem dar a
saideira
Pois a saudade é um revólver quente
Ex-mulheres são
para sempre
Nos amaram - e nos deixaram, e assim
São infelizes para
sempre
Em braços de outros musos-vítimas
Ex-mulheres
engordam
Têm estrias na alma e no coração
Quando viúvas ou largadas
Nos
telefonam a cobrar no Sabat
Ex-mulheres são como sogras
E
cervejas - bem geladinhas e em cima
Da mesa - flores e velas e filhos
Mais
uma sensação de libertinagem
...................................................
Ex-mulheres
doem no ego
E no bolso, e até, às vezes, pensamos
Nelas como seres, como
humanas
Pois nos deram lições de como não
sermos
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garoto juca jr. nas eleições
Que dia mais louco foi aquele domingo de eleição. Levei meu sobrinho
para um riacho onde costumava ir pescar na adolescência. Mas eu o usei como
isca, pois lá existem várias piranhas assassinas e/ou semi-assassinas, e eu
estava louco para comer carne de piranha. Amarrei ele numa pedra, e o joguei no
riacho, e deixei ele apenas com um canudinho, para que pudesse respirar.
Fiquei lá um tempão, observando as nuvens, ouvindo o barulho do riacho
batendo nas pedras, ouvindo os gritos de horror de meu sobrinho, e o barulho da
carne rasgando e do sangue borbulhando. Foi então que, quando era quase 5 horas,
lembrei-me que hoje era dia de eleição! E se eu não votasse, o presidente do TSE
iria pessoalmente arrancar meu coração com uma espátula de sorvete! Ou, pelo
menos, foi isso que ele disse na TV.
E lá fui eu, correndo, para a
Escola Estadual Charles Bronson, onde voto. Ufa, ainda bem, chegando lá notei
que as bizarras filas do primeiro turno não existiam mais. Mas minha alegria e
meu alívio duraram pouco. Chegando na sala onde voto, lá estava meu bisavô! Ele
tem cento e cacetadas anos, e recentemente virou druida de metrô! E eu sei como
os idosos são lentos para operar máquinas! Eu olhava para o relógio, eram 4:55,
não ia dar tempo! El ele ali, votando, demorando! “Bisavozinho! Sou eu, seu
bisnetinho!”, disse eu, chegando perto e abrindo os braços para abraçá-lo.
“Sai pra lá, bisneto! Ninguém chega perto da urna! Voto é secreto!
Secreto!”, disse ele, empurrando-me para longe. “Mas bisavozinho, só
quero ajudá-lo!”, disse eu.
Meu bisavô sacou uma antiga arma dele,
da época da guerra do Paraguai, e apontou para mim e para os mesários: “Sai
pra lá! Eu tenho título de eleitor desde a proclamação da república, e sempre
garanti que meu voto fosse secreto! E não tenho medo de usar essa belezinha
aqui, não! Ela está cheia de pólvora e enxofre! Quem chegar perto leva bala! Eu
mesmo matei 5 curiosos que queriam ver meu voto em Prudente de Morais nas
eleições de 1894. Naqueles tempos é que as eleições eram boas! Nada de
engenhocas malucas que só servem para perder tempo! Naquele tempo votávamos com
um pedaço de carvão em cima de uma tira de couro de jegue! E quem reclamasse
levava cinco chibatadas do presidente da seção!”.
Eram 4:59! E lá
estava o presidente do TSE, com uma concha de sorvete na mão, olhando para mim,
e olhando para o relógio! Eu resolvi então apelar para a saída dos covardes,
resolvi justificar meu voto... Ajoelhei-me aos pés do presidente do TSE, e
passei a implorar: “Ó, misericordioso presidente do Tribunal Superior
Eleitoral! Peço teu perdão e minha absolvição! Quero... justificar meu
voto!”. “Tolo!”, disse o presidente, “Mil vezes tolo! Estás
perdendo tua chance de exercer tua cidadania! Qual é tua justificativa?! E se
não me convencer, jogarei-te aos crocodilos!”. “Minha justificativa é
aquele velho ali! Ele recusa-se a apertar 4 botões, e concluir sua
escolha!”.
“Mas esses idosos idiotas estão enchendo-me a
paciência!”, berrou o presidente. “De agora em diante, qualquer velho
burro que não saiba apertar uma simples combinação de 4 botões, será proibido de
votar! E se insistir, será levado para a... forca elétrica!”. “Me perdoe,
excelentíssimo senhor, ”, disse eu, “mas não seria a cadeira
elétrica?”. “Nada disso! É a forca elétrica! Inventei agora! Algo
contra?!”. “Não, não, de modo algum! Então agora posso votar... Muito
obrigado! Muito, muito, muito obrigado! Que a glória do Martelo de Hackar,
herdeiro do trono de sangue de Albhergior, venha abençoá-lo e a tuas
crias!”, disse eu, dirigindo-me à urna, enquanto meu bisavô, entoando uma
canção druida, saía da frente da urna.
Feita a minha decisão eleitoral,
voltei para o riacho, para ver como estava meu querido sobrinho. E, para minha
surpresa, no local havia uma ambulância, e 5 paramédicos tentando reanimá-lo, e
vários mergulhadores tentando resgatar pedaços de ossos e de órgãos do fundo do
riacho. Levaram ele para o hospital, para que fosse costurado de volta... E nada
de minhas deliciosas piranhas! Fiquei sem janta! Bem, fico por aqui. Sayonara,
cambada do Spamzine. E aproveitem o Lula!