SpamZine_________________
078
17 de setembro de 2002
copacabana  são paulo  rio de janeiro  goiânia

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n e s t a  e d i ç ã o:
 
11/09
 
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editorial
josé vicente  [email protected]

Esta edição do Spam Zine demorou a sair porque, dentre outros acontecimentos improváveis, estava ocupado desviando do cabo de vassoura com que meu pai tentava acertar minha cara. Creio que meu genitor estivesse particularmente irritado com a voz de prisão que lhe havia dado momentos antes. E isso porque ele tentara eletrocutar nosso cachorrinho pinscher como recurso pedagógico. (O cachorro teima em entrar na cozinha. Daí meu pai colocou um fio desencapado na porta.) Desnecessário dizer que sobrou para minha mãe, que deslocou o dedo mindinho. Enfim: problemas comuns a famílias cujo monoparentalismo divorcista ainda não deu o ar de sua graça, transformando aquela gloriosa abusividade cotidiana em autodestruição solitária.

Mas, como você não tem nada a ver com isso, tratarei de empulhá-lo por algumas linhas. O tema desta edição é o 11 de setembro. Como este assunto já rendeu o que tinha que render, deixo maiores desenvolvimentos para os textos que você vai ler a seguir. Limito-me a ressaltar dois pontos.

Em primeiro lugar, faz-se necessária uma remodelação da estrutura coercitiva da sociedade internacional. A corrente majoritária dos estudos de relações internacionais entende que o sistema é anárquico. Manda quem pode, obedece quem tem juízo. Neste passo, a Organização das Nações Unidas possui papel quase simbólico. Certo, o Conselho de Segurança já atuou em diversas e importantes questões, e, em alguns desses casos, seus resultados são significativos. Contudo, quando o interesse de um Estado poderoso se choca com o entendimento da ONU - pior para a ONU. Não deveria ser assim.

Entidades normativas multilaterais, ao menos no plano lógico, existem para serem respeitadas. Como adquirir respeito? Dinheiro. Força bélica. Posicionamento independente. Quem quer ordenar tem que ter como impor. A ONU não tem como impor. A lógica de funcionamento de alguns de seus órgãos - e o exemplo de nomeada é o mecanismo do veto dentro do Conselho de Segurança - sequer faz com que queira impor o que quer que seja. É a suposição do consenso gerando a ficção do resultado.

Segundo aspecto: a dúvida sobre universalismo versus relativismo dos direitos fundamentais. Em que medida, por exemplo, a intervenção bélica ocidental nos países muçulmanos, em nome dos direitos fundamentais, estaria acobertando, por via transversa, imperialismo cultural, haja vista que o temário 'direitos fundamentais' não lhes é fruta nativa? Boa pergunta. As respostas têm sido péssimas. Muito embora sinta-se que não há respeito pela diversidade cultural que possa legitimar um barbarismo como a extirpação de clitóris, a verdade é que falta clareza aos limites entre amor à diversidade e leniência criminosa.
 
Mas há direitos fundamentais que se devem exercer mesmo contra a vontade de seus titulares. Exemplo histórico é o do anão voador. Na França, certo clube oferecia como jogo a modalidade do arremesso de anão: quem arrojasse o sujeitinho mais longe ganhava. A municipalidade proibiu a diversão. Curiosamente, o clube e o anão entraram em juízo contra a Prefeitura, alegando, dentre outras coisas, direito ao trabalho. Perderam. A dignidade da pessoa humana impedia que o anão se tornasse objeto de arremesso - mesmo se quisesse sê-lo. Pois aí está: há casos em que o relativismo cultural, tão prezado por pessoas tão arejadas e civilizadas e pós-modernas como nós, deve abrir caminho para princípios maiores. Porque há princípios maiores. E a dignidade humana é o maior deles.

Assim, unificando os dois pontos, é dizer: precisamos de um sistema internacional interventivo, cuja legitimidade decorra da força do argumento e não do argumento da força. De resto, esta adesão racional deveria estabelecer patamares além dos quais o universalismo jurídico fosse mandatório.

Mas eu, como cientista social, sou muito melhor levando vassourada.

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Para a feitura desta edição contribuíram Suzi Hong, Marcelo Barbão, Fábio Fernandes e Márvio dos Anjos. A Suzi Hong é mulher moderna, advogada conflituosa, sofisticada como um vaso grego, delicada como um creme para assaduras de bebê. Seu texto é o de sempre, o que talvez signifique segurança no mundo cambiante. Obrigado, Suzi Hong. Marcelo Barbão contribuiu com um simpático diálogo. Obrigado, Marcelo, a casa é sua. Fábio Fernandes trouxe alguns fragmentos do seu Dicionário dos Arquétipos de Massa. Obrigado, Fábio. Márvio dos Anjos apresenta poema de versos brancos e agressividade latente. Obrigado, Márvio, a casa é sua. Mas, por favor, fique longe das mulheres.

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Spam Zine. Piadas internas extremamente engraçadas.
   
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piazzolla e o arrebatamento
suzi hong  [email protected]

Achava sua vida um grande drama barato, porém de absoluta importância estética.

 

Imitava as mulheres que usavam grandes chapéus negros, sentadas de pernas cruzadas e envoltas por meias finas de seda preta, sobre saltos altíssimos. Pintava a boca com cor de vinho e fumava cigarros envoltos em longas unhas pintadas de vermelho, sempre escondida atrás de uma mesa no canto direito do coffee shop. Queria ser esquizofrênica para realmente achar que era uma personagem de um filme noir. Mas, dolorosa e enervantemente, vivia no limbo entre sua  consciência lúcida e dolorosa e o paraíso redentor de seus surtos de loucura e autodestruição.

 

Chamou o garçom e pediu que fechasse as cortinas. O dia claro e ensolarado, de céus azuis e nuvens cute, não combinava com o mise-en-scène de uma futura divorciada. Apenas uma futura divorciada, sem ressentimentos ou sentimentos de autocomiseração, não tinha raiva de Anne, a amante de seu marido, executiva workaholic do mercado de capitais, sempre vestida em tailleurs bem cortados e cheirando a alfazema.

 

Era cedo ainda, seu futuro ex-marido deveria estar chegando em meia-hora. Estava com fome e lembrou que só tinha engolido alguns ansiolíticos com vinho tinto no dia anterior. Lembrou de como se apaixonou por seu marido naquele mesmo coffee shop, e de como sujou a mesa, logo em um dos primeiros encontros, com o açúcar que cobria inteiramente sua rosquinha de leite e teimava em cair contra sua vontade e para seu embaraço. Sorriu e pela primeira vez em semanas sentiu fome de verdade.

 

Chamou novamente o garçom, e entre uma baforada de cigarro e outra, pediu duas rosquinhas de leite e uma taça grande de Merlot, contrariando todos os livros de como apreciar um bom vinho.

 

Sua vida precisava de mais doçura, mais açúcar, pensou. E imaginou-se dançando um tango de Piazzolla com o homem que lhe salvaria do limbo, um tango pontuado por fortes guinadas de acordeom, dramático e ensurdecedor, onipresente e inconveniente, capaz de ocupar cada canto daquele velho coffee shop e fazê-la acordar de seu estado uterino, para rodopiar insana dentro da película de um filme muito colorido e kitsch, como num musical de Hollywood, porque cansara da fumaça noir do cenário de vários anos de sua vida.

 

Ouviu um grande estrondo e um tremor que vinha de todos os cantos, enquanto o garçom desequilibrado, porém delicadamente, punha sobre a mesa um cesto de palha com duas rosquinhas cobertas de açúcar e uma taça de Merlot que logo cairia sobre o chão.

 

Todas as janelas do escuro coffee shop explodiram, ferindo-lhe os olhos com feixes irrefreáveis de luzes vermelhas, rasgando-lhe a pele com cacos de vidro. Viu pedaços das velhas cortinas esvoaçando em milhares de pequenos retalhos, como se de repente estivesse em meio a um desfile de 4 de Julho na Quinta Avenida.

 

Em seu delírio, arrancou o grande chapéu preto e deixou seu cabelo longo desmanchar-se sobre seus ombros. Sentiu que o limbo que a envolvia iniciara a tão esperada grande rebelião, e juntamente rebelando-se ao compasso de Piazzolla, ajoelhou-se sobre o chão de mármore do coffee shop esperando pelo momento de seu arrebatamento, quando finalmente seria chamada para viver na tranqüilidade redentora de seu paraíso.

 

Um mar de cinzas vindas do céu começou a cair sobre seu corpo. Emocionada, chorou, e de braços erguidos para o alto, agradeceu a Deus pelo açúcar que desabava sobre as suas rosquinhas de leite. Sua vida já não precisava de tanta doçura.


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um dia bundando
marcelo barbão  [email protected]

O despertador tocava como um louco. Mais uma manhã, quando me virei para olhar para o relógio, uma pontada na cabeça me fez fechar os olhos. Era 5 da manhã e eu estava com uma dor de cabeça assassina. Arrastei-me até o banheiro, depois para a cozinha. Eu estava mal, muito mal. Na noite anterior, a gripe já começava a me atacar. E, pela manhã, eu já estava totalmente dominado.

Liguei para a redação:

- Alô.
- Quem fala?
- Márcio.
- Fala, Márcio, sou eu.
- Opa, e aí? Tá com a voz diferente.
- Estou com uma gripe fodida.
- Estou vendo.
- Avisa o Sandro que eu vou ficar em casa hoje. Talvez passe por aí à tarde.
- Tudo bem.
- Já começou a fazer as pautas?
- Já. Num tem muita coisa não. Só continuamos com a matéria sobre a morte do Toninho de Campinas. Acho que hoje vai ser parado.
- Então avisa o cara que eu vou ficar por aqui.
- Beleza, te cuida.

Quando desliguei, senti que estava ardendo em febre. Tomei uns remédios e deitei novamente. Eu sabia que logo ia desmaiar. Remédios fortes, dão muito sono. Antes tomei uma atitude radical. Já era quase um mês que eu trabalhava sem folga. Sábado e domingo. Três anos e nenhum dia de férias. Ah, que se dane. E tirei o telefone da tomada. Nada de notícias por hoje, não quero nem saber.

Acordei às 4 da tarde. Tinha dormido quase 12 horas. Ainda estava um pouco tonto, a garganta doía. Instintivamente procurei o controle remoto. Eu sempre vivi de notícias. Mas me controlei. Nada de notícias. Não vou acessar a Internet, não vou ligar o rádio e não vou reconectar o telefone. Peguei um livro. Dom Quixote. Nunca mais tive tempo de ler os clássicos. Continuei na cama até a fome me arrastar. Fiz uma sopa. Li até umas 10 da noite e resolvi dormir de novo.

No dia seguinte, acordei na hora certa e, mesmo com sono, fui até a porta. Precisava ler o jornal, parecia um viciado em processo de abstinência. Estava com a consciência culpada por ter ficado em casa bundando o dia inteiro. Antes de abrir a porta, pensei: “Mas que droga, hoje é 12 de setembro, que merda pode ter acontecido ontem? Uma tragédia que mudou a história da humanidade? Deixa de ser paranóico!”.
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da série: "pequeno dicionário dos arquétipos de massa"
fábio fernandes  [email protected]
 
Efeito colateral (para Marcelo Mirisola)
 
Parei de tomar o remédio tem dois dias. Antes do remédio, insônia, angústia, ansiedade, vontade de chorar, vontade de dar porrada, de cortar os pulsos, de tomar alguma coisa só pra poder simplesmente descansar, dormir e não acordar mais, você entende? Não era pra me matar.
 
Depois do remédio, gordo, gordo, gordo, engordei, fiquei cheio de espinhas, perebinhas, a caspa aumentou, tem seborréia até na sobrancelha, semana passada descobri uma poeirinha esquisita nos cílios.
 
Foda-se a calma. Parei com o remédio tem dois dias. A vontade de cortar os pulsos já voltou, mas pelo menos as espinhas sumiram.
 
 
Utopia
 
Vejam este mundo: as ruas das cidades são retas e limpas, não se vê traço de poluição no ar límpido, nem outros ruídos que não o som de um bicho ocasional. Este é um mundo tranqüilo e silencioso.
 
Este é o sonho de um utopista. Um dia, ele sonhou com um mundo perfeito , onde as doenças e a guerra fossem de vez erradicadas e todos compartilhassem de lucro e felicidade.
 
Todos, entenda-se, os que merecessem.
 
Os primeiros a morrer foram os negros. Seguidos de perto pelos judeus. Os asiáticos levaram muito mais tempo.
 
O processo todo durou décadas. Mas a utopia era persistente.
 
Quando todas as raças ditas impuras haviam sido erradicadas, o restante da raça humana cabia numa ilha do tamanho da Inglaterra.
 
E então começou o extermínio.
 
Primeiro a classe operária caiu; depois os funcionários públicos, e em seguida a classe média.
 
O que sobrou da elite não daria para encher um estádio de futebol. Mas eles se mataram mesmo assim.
 
Vejam este mundo: as ruas das cidades são retas e limpas, não se vê traço de poluição no ar límpido, nem outros ruídos que não o som de um bicho ocasional.
 
A utopia é um mundo desabitado.

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paranóia
márvio dos anjos  [email protected]
 
No alto daquele prédio,
Naquela calçada,
Fitando da janela,
Estão todos, todos
Contra mim.
Unidos sob um sólido ideal, repetem meu nome em sórdidas tramóias,
Sou seu mais digno alvo, última coluna a derrubar.
 
Na mesa daquele restaurante,
Na escadarias do Municipal,
Nas estações do metrô,
Todo e qualquer instante é pouco para eles, eles todos, todos contra mim.
 
Eles e seus malditos códigos, sinais,
Criptografias, isso que atravessa a mente e mente e mente e mente,
Esse calvário diariamente entre o que já não sei se é
E o que simplesmente é.
 
Eles me dizem em silêncio as coisas que não ouço
E você no meu lugar talvez nem entendesse.
 
É verdade é sério é de verdade e eu juro que é
Acredito na minha intuição
Tanto quanto em minha imaginação.
 
Atrás de você,
Ao nosso redor,
Diante da sombra trêmula que vela por nós dois,
Eles conspiram, eles querem sua ajuda,
Eles e você, sim,
São talvez vocês todos, juntos,
Todos contra mim.
 
Eles querem me matar porque eu os fiz viver e posso assassiná-los
E você no meu lugar talvez sobrevivesse.
Só que eu nem posso estar no seu lugar.
 
(O horizonte se afasta lentamente de mim enquanto
Um sopro gélido de vento pousa a mão sobre o meu ombro e some.)
 
No elevador,
No túmulo,
No Céu,
Eles, você e eu, Ele, enfim,
Todos juntos, vamos, todos nós agora
Contra mim.
 
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um outro 11 de setembro
alexandre inagaki  [email protected]
 
Semana passada todos nós fomos bombardeados com as imagens, repetidas ad nauseam, dos trágicos atentados que inscreveram na História os nomes de Rudolph Giuliani, Osama Bin Laden e Bush Baby Jr. Mas, de tudo que eu li, vi e ouvi, nada me foi tão impactante quanto o artigo que o cientista político Emir Sader escreveu em sua coluna de domingo no Jornal do Brasil. Sader descreveu assim as agruras de um povo após certo dia 11 de setembro: "Aquele país e aquele povo nunca mais foram os mesmos (...). Mães ficaram sem filhos, filhos sem pais, mulheres sem marido, maridos sem esposa, a lista das vítimas não parava de aumentar, diante dos olhares atônitos de todo o mundo. A grande maioria dos governos se solidarizava com aquele povo e suas vítimas, embora alguns tivessem participado na montagem daquela tragédia, até financiassem os responsáveis diretos por ela".
 
Esse país é o Chile. Em 11 de setembro de 1973, um golpe militar liderado pelo general Augusto Pinochet, articulado com a ajuda decisiva do governo norte-americano, derrubou o presidente socialista Salvador Allende. Devido a esse golpe, dezenas de milhares de chilenos foram presos, torturados, assassinados. De modelo de democracia, o Chile passou a ser sinônimo de tirania, repressão, terror, com a cumplicidade dos Estados Unidos.
 
Mas enfim, nenhuma tragédia se justifica. Disse Gandhi: "olho por olho, e a humanidade acabará cega". Contudo, fica registrado o contraponto: a despeito da tragédia do World Trade Center, o fato é que a ditadura imposta por Pinochet no Chile causou muito mais violência e dor.
 
Não gosto de estatísticas que reduzem pessoas a números. Por isso, quero recordar uma vítima em especial: Victor Jara, cantor, compositor e diretor de teatro, reconhecido até hoje por suas músicas de cunho social. Mal comparando, pode-se dizer que ele foi o Chico Buarque do Chile. Amigo do poeta Pablo Neruda, Victor sempre foi um artista engajado. Participou ativamente da campanha de Salvador Allende à Presidência, cantando em seus comícios e apoiando um governo que, fato inédito na história do mundo, pretendia implantar o Socialismo por vias democráticas, na contramão de regimes como os de Fidel Castro em Cuba e Joséf Stálin na URSS.
 
No entanto, as forças armadas chilenas e a política externa do governo de Richard Nixon não permitiram que essa experiência prosseguisse. No dia 11 de setembro de 1973 Santiago foi bombardeada por aviões da sua própria aeronáutica. O Palácio de la Moneda foi invadido, e Salvador Allende, morto. Neste mesmo dia, militares invadiram residências e universidades, prendendo militantes e simpatizantes da esquerda. Victor Jara foi imediatamente reconhecido pelos golpistas, e pagou caro por sua fama.
 
Milhares de presos foram levados ao Estádio do Chile; poucos foram os que saíram de lá com vida. Victor foi cruelmente torturado: após receber inúmeros socos e pontapés, teve os dedos e os pulsos de suas mãos quebrados pelos militares, um a um, para que ele jamais pudesse voltar a tocar novamente. Depois, deram-lhe um violão, e, entre gargalhadas, ordenaram-lhe: "agora cante"!
 
Jara, incapaz de tocar o violão, começou a cantar à capela um trecho do Hino da Unidade Popular (coligação que elegera Allende):
 
Ay canto que mal me sales!
Quanto tengo que cantar, espanto!
Espanto como el que vivo
Como que muero, espanto
De verme entre tantos y tantos
Momentos del infinito
En que el silencio y el grito
son las metas de este canto
 
Victor Jara (1932-1973) foi metralhado antes de terminar de cantar. Dias depois, seu corpo foi identificado por sua viúva, Joan Jara, no necrotério, graças a um admirador que havia reconhecido Victor em meio a diversos corpos fuzilados. Caso contrário, teria sido enterrado em uma vala comum. O cartunista Henfil, que vivia em Nova York nessa época, comentou os acontecimentos em Santiago em uma carta a um amigo no Brasil:
 
"Parei e dei uma olhada na janela prá retomar o fôlego. E o que vejo, Zé? Os carros passando normalmente, os supermercados cheios, as pessoas desfilando a última moda para o inverno (...). Levei um choque. Quando levantei da mesa e olhei pela janela, esperava que todos na rua estivessem parados, com um nó na garganta, água vindo nos olhos em silêncio. Vivendo a morte de Victor Jara. Parece infantil, mas eu esperava isto. Mas eles não estavam sofrendo comigo. Nem sabem. Engoli o choro (...)  Talvez se eu passasse chorando todos parassem. E, será que se eu sair na Rua 70 chorando, Nova Iorque vai saber que Victor Jara morreu?".
 
Para conhecer mais da vida e obra de Victor:
http://patriagrande.net/chile/victor.jara
http://www.msu.edu/~chapmanb/jara/evida.html
http://www.geocities.com/Broadway/Stage/4472/jara.html
 
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p e r g u n t a r   n ã o   o f e n d e
 
Pergunta enviada pelo assinante Niqui Lang:
"Por que uma menina, no domingo, diz que te ama, que tu és o amor da vida dela, que ela te quer pra sempre, que sem você ela não vive; e na segunda vez, diz que é melhor vocês se separarem??? Cara, pelamordeDeus, me ajuda!!! Tô pirando!!!"
 
rossana fischer  [email protected]
 
Ok Niqui. Isso já aconteceu comigo também, há uns 15 anos atrás. Eu estava namorando e chegou as férias. Cada um viajou pra casa de parentes. Eu, pra casa dos meus pais, em Ribeirão Preto. Ele, pra casa da avó, em Minas.

Me mandou uma carta dizendo que me amava. Que queria me ver, que ele estava indo pra Brasília pra casa dos pais, se eu podia ir pra lá passar uma semana com ele. Claro que eu fui.

No dia seguinte à minha chegada em Brasília, ele terminou.

Veja, Niqui, o cara me fez ir à Brasília pra terminar comigo, depois de mandar uma carta dizendo que me amava.

Assim como eu e você, outros já passaram por isso. Cruzamos o caminho de um tipo especial de pessoas. Os idiotas. São gente que não sabe o que quer, falam qualquer coisa, sem levar seus sentimentos em consideração. Pessoas indecisas. Confusas. Um dia acham uma coisa, outro dia acham outra. Talvez se arrependam da declaração de amor que fizeram, pelo comprometimento que traz. Talvez no dia seguinte percebam que falaram uma grande mentira. Quem é que vai saber porque as pessoas são incoerentes? O mundo também é bem incoerente. Nós somos incoerentes também. Muitas vezes.

O melhor que você faz é desencanar. Não entra na loucura do outro. Já temos nossa própria loucura pra cuidar. Administrar a loucura de terceiros é inviável.

Boa sorte.
 
mônica maria de oliveira  [email protected]
A resposta é muuuito simples: porque as pessoas MENTEM! Ela mentiu para você. Sei porque já fiz isso.
  
sérgio ricardo c. dos santos  [email protected]
Bom, fazendo uma profunda análise da situação, cheguei à conclusão que domingo não é um dia favorável a atitudes sensatas (senão, por que haveria adesão em massa ao Gugu, Faustão, esportes televisivos ou mesmo aquela manjadérrima combinação de macarrão com frango?), logo devo dizer que no fundo ela nunca te amou, apenas estava delirando...
 
maurício svartman  [email protected]
Caro Niqui Lang, só há uma explicação possível: ela conversou com as amigas no domingo à noite, que, tomadas pela inveja de não possuírem também seus príncipes encantados, a convenceram de que nessa fase da vida é melhor ser solteira... Abraços e pêsames!
 
Porque mulher é foda!
 
charles chaves da silva  [email protected]
A respeito do Niqui Lang... Cara, tô no mesmo barco. Tem espaço?
 
fernando fadini  [email protected]
Por quê? Porque sim.

Suponho que a garota que te fez isso tem a personalidade do tipo sangüíneo. O passatempo preferido desse tipo de gente é dar pé na bunda.

Mesmo sem conhecer vocês dois, tenho certeza de que em uns poucos meses (ou dias) ela vai reaparecer. Mas quando isso acontecer, por favor, nem se empolgue. Tudo que ela quer é usar de novo suas nádegas como bolas de futebol. Ela precisa de sua energia, ela precisa saber que alguém está mal por causa dela. E o pior, essa energia que ela rouba de você, é usada adivinha para quê? Para novas conquistas e novos pés na bunda.

Se quer um conselho de alguém que já ficou anêmico de tanto vampirismo emocional, pegue a primeira carona que encontrar, para bem longe desse relacionamento. Ou se enforque em alguma árvore por aí.
 
Resposta 1
(com base em dados científicos de pesquisa comportamental)

 
Quando uma mulher diz "não", significa "sim"; quando ela diz "talvez", significa "não"; quando ela diz "sim", significa "talvez".
 
Resposta 2
(com base no Velho Testamento, no calendário gregoriano, na poesia de Vinícius de Moraes e no bom funcionamento do aparelho digestivo)

 
Porque hoje é domingo ("descansou no sétimo dia"), ontem foi sábado e amanhã é segunda-feira "braba". Viu o erro que você cometeu? É nestas ocasiões que a gente vê a importância de ficar em casa - sozinho - aos domingos, assistindo TV. Sugestão: assista ao programa do Faustão. Dica: nada de namoro aos domingos. Neste dia, recomendamos, também, desligar o telefone e não tomar bebida alcoólica. O homem precisa de um tempo para exercitar outros prazeres da vida, por exemplo, arrotar e peidar em alto e bom som.
 
Resposta 3
(com base no esporte bretão e na mudança de paradigmas em época de crise)

 
Nosso "Fenômeno" já foi chapeudetoureado por duas Marias-Chuteiras. Quem sabe a sua vocação não seja dentro das quatro linhas? Aí, você fica famoso e cheio da grana. É convidado para o camarote da Brahma. Sai bonito e bem acompanhado na capa da CARAS. Incentiva o crescimento dos esportes radicais emprestando seu corpinho e sua imagem para as alpinistas de plantão. Ou você é discípulo do Tim Maia? Tim Maia, que só queria chocolate, tomava guaraná, suco de caju e goiabada para sobremesa, disse: "não saio com mulheres famosas, porque não pago acima da tabela".
 
Resposta 4
(com base no niilismo nietzchiano ou heideggeriano, à escolha do freguês)

 
Teorema: Tudo é quase nada. Nada é tudo.
Corolário: Tudo junto se escreve separado. Separado se escreve tudo junto.

 
Resposta 5
(com base no Kamasutra, para quem tem alergia ao AAS)

 
Abaixa que a cabeça passa.

 
Resposta 6
(com base no legado de Caetano Veloso)

 
É isto aí. Ou não.
 
pergunta da próxima semana:
"Se você fosse candidato a deputado, qual seria o slogan de sua campanha?"
Mande suas respostas: [email protected].
 
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f a l a   q u e   e u   t e   e s c u t o
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----- Original Message -----
From: Roger Da Silva João
To: [email protected]
Sent: Friday, September 13, 2002 11:08 AM
Subject: what a moron.

Mandei a resposta do Niki Lang e só agora terminei de ler o Spam. No final o Inagaki diz: "semana que vem o Spam Zine vai sair na quarta-feira, dia 11 de setembro. Isto é, salvo imprevistos. Sacumé". Hoje é dia 13/9. Sem chances de publicação da resposta. I´m a moron. Mas pelo visto houve imprevistos.

josé vicente responde: Estavam me batendo com uma vassoura (vide editorial).
 
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PARA OS VIRUNDUNS DAQUELE CARA QUE ME SACANEOU:

josé vicente responde: Adorei o comentário. A verdade é que exerço uma função social específica aqui no Spam Zine. A função de malvadinho. Mas, desde que sou bem pago ao ter acesso às ORGIAS SECRETAS DOS EDITORES DO SPAM ZINE, está valendo. Além disso, como se sabe, cão que ladra não morde. Costuma vigorar, quanto ao texto e à personalidade da pessoa, a regra da inversão. Observe só o Alexandre Inagaki. Seu texto simpático, causador de imediata empatia, esconde uma personalidade profundamente maligna. Não se engane. Alexandre Inagaki. He is evil.
  
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c r é d i t o s  f i n a i s
 
editores
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inagaki: mais uma vez os editores do Spam Zine atropelaram o dead-line e fugiram sem prestar auxílio. Para que você não sofra da síndrome de abstinência da próxima vez que atrasarmos a edição, seguem algumas URL's que poderão lhe ser úteis.
 
- Pensar Enlouquece, Pense Nisto, meu blog pessoal: http://www.inagaki.blogger.com.br.
 
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- Vasto Oceano Vastas Letras, a praia particular de Suzi Hong: http://planeta.terra.com.br/arte/vastoceano.
 
- A Menina do Didentro, de nossa assídua colaboradora Ione Moraes: http://www.didentro.he.com.br.
 
Além, é claro, do blog do Spam Zine, lá em http://www.spamzine.net, onde José Vicente, Sabbag, Dom Tosetto, Suzi e eu postamos esporadicamente algumas coisinhas.