SpamZine_________________
075
18 de agosto de 2002
curitiba   são paulo  rio de janeiro   itararé   campos dos goytacazes   goiânia

>>>
 
n e s t a  e d i ç ã o:
 
gerações - arquétipos - desconfortáveis contos - poetagens invernais - um certo quê - palavrório - carta a mozart - a arma do negócio  
 
>>>
editorial
ricardo sabbag  [email protected]
 
Daniel Piza, editor e colunista do Estadão, disse, numa de suas Sinopses, que ao Brasil faltam escritores medianos.
 
Não lembro se o termo que ele usou foi esse, "mediano". Creio que não, porque a palavra tem um certo tom pejorativo. O sentido a que ele se referiu foi o médio: o escritor que se situa acima da média (que, por sua vez está MUITO acima da mediocridade) mas abaixo do gênio.
 
Seriam escritores que poderiam se colocar na mesma estante de Rubem Fonseca, Jô Soares, João Ubaldo, Fernando Sabino e congêneres - claro que há desvios de preferência nessa lista. Você pode gostar muito de uns e muito pouco de outros, mas acho que a idéia está clara.
 
Piza discutiu, em seu artigo, que a falta de escritores médios, que agradassem a um público vasto e produzissem com certa regularidade, cria uma certa crise na literatura contemporânea brasileira. Aqui, há muita gente querendo ser grande, mas pouca que se preocupa com uma literatura de qualidade razoável que atinja um público maior. E, nesse vácuo, criariam-se fenômenos como Paulo Coelho e coisas parecidas.
 
A renovação nesse campo é um terreno ardiloso. Os medalhões estão se esgotando e as editoras têm uma política muito pouco clara no que tange à procura de novos autores. O site da Companhia das Letras, por exemplo, afirma que recebe manuscritos de quem quer que seja. A resposta vem depois de três meses, no mínimo. Não retornam o material, etc. Fico imaginando a quantidade de manuscritos que eles recebem. Como será essa seleção? Qual será o critério? Quem não ganha o leitor no primeiro parágrafo já merece a incineração?
 
Por mais incrível que pareça, selecionar um autor *apenas* pelo seu texto pode ser uma faca de dois gumes. Vide o editor que rejeitou um Machado sem saber de quem vinha o manuscrito.
 
Na minha parca experiência como resenhista de livros, percebi que o histórico do autor também tem importância na hora de se "criticar" sua obra. Há muito em jogo. Sua formação, o que outras pessoas já disseram a respeito dele, o que ele pensa sobre as coisas da vida... Bobagem? Não creio. O julgamento, seja do resenhista ou da equipe que analisa manuscritos na editora, é extremamente limitado pelo(s) seu(s) referencial(is) próprio(s). O ponto de vista alheio pode sempre render um segundo olhar, agregando ou desagregando valor à obra desconhecida.
 
Nesse ponto as grandes editoras tateiam no escuro em busca de novos autores. Não se tem notícia de alguma que se vanglorie de ter descoberto um ou outro. Elas não procuram nos lugares certos - se é que procuram - e parece quem se preocupam muito pouco com a renovação de seus criadores. Quando um jovem autor consegue publicação - com direito a distribuição, publicidade e etc -, é porque penou demais até convencer algum engravatado ou teve a sorte de encontrar um "padrinho" no mundo literário que lhe mostrou o caminho das pedras.
 
Falou-se nos últimos dias de uma tal "geração 00" ou "geração da internet" de novos escritores. O assunto rendeu belas tergiversações em blogs web afora. Penso que a maioria dos próprios "novos autores" renegue esse tipo de rótulo, que sempre vem cheio de lugares-comuns e constatações de ignorância ímpar. Culpa dos jornalistas.
 
Acontece que, de um jeito ou de outro, o assunto começa a tomar corpo nas discussões "intelectuais". O que talvez provoque, em um futuro breve, as grandes editoras a abrir os olhos para novos talentos que despontam nos lugares mais ermos.
 
>>>
 
Quando o Spam Zine foi fundado tínhamos a intenção de publicar textos de qualidade e investir em novos autores, incitando a participação do público e proporcionando uma experiência minimamente válida em termos literários. Claro que para nós esse caminho é mais fácil, visto que podemos errar de vez em quando sem maiores preocupações - nenhum grande investidor vai nos abandonar e o projeto acabar por causa disso.
 
Nesse tempo, temos dado alguns tiros certos, também. Destaco, nessa edição, a estréia neste zine de Fábio Fernandes, jornalista que você pode ler aquiaqui, aqui e aqui. E, claro, aqui, no Spam.
 
Em seguida, mais da já célebre série de André Machado, os Minicontos do Desconforto. E ainda: Ione Moraes, Silas Corrêa Leite, Jules Rimet, (arlã() e o retorno de Pedro Vitiello.
 
>>>
 
Spam Zine. Multiculturalismo, concisão e discos velhos.
   
>>>
 
pequeno dicionário dos arquétipos de massa
fábio fernandes  [email protected]
  

pós-holocausto (ou: depois do fim do mundo)

 

Tá lá o corpo estendido no chão. Mas não há nenhuma janela aberta de frente pro crime, e esse é todo o problema, porque a vitima ainda respira.

 

E como dói.

 

Ela está tão fraca que não consegue mover um músculo. Respirar dói tanto que algo dentro dela a alerta de que deve ter algumas costelas quebradas, mas esse algo é tão distante neste momento que no instante seguinte ela não se lembra mais.

 

Só a dor permanece.

 

Por fora, é só a dor. Por dentro, o corpo queima. A cabeça arde. A vagina parece cauterizada. Por entre as tiras da saia e o que restou da calcinha enrolada no tornozelo direito, ela ainda consegue sentir, muito lentamente, o esperma percorrer o caminho que vai dos grandes lábios à nadega, para pingar no chão molhado e sujo.

 

A boca está tão seca que ela mal consegue abri-la. E se a abrisse, que diferença faria? A primeira coisa que um dos estupradores fez (porque foram vários) foi lhe dar uma gravata bem aplicada no pescoço.

 

Tenta se levantar. E então percebe que não está sentindo nem os braços nem as pernas. Parece o fim do mundo. O problema é que o mundo nunca chega ao fim. Sempre há um depois, e para ela também haverá.

 

>>>

 

a múmia

 

Deitada em sua cama, a múmia observa. Apenas observa: há muito não faz outra coisa.

 

Seu único consolo é que ninguém sabe o que ela pensa. Às vezes nem ela própria. Basta-lhe ouvir as pessoas entrando e saindo do seu quarto, o chocalhar dos vidros de remédio e o pingar incessante do soro ao lado da cama. Às vezes a múmia pensa que pode ouvir as próprias rugas se formando na pele encarquilhada. Como anéis e marcas em troncos de árvores. A múmia acha que leu alguma coisa a respeito em algum lugar. Mas já faz muito tempo.

 

Ninguém sabe quantos anos a Múmia tem. Nem ela mesma.

 

Deitada em sua cama, como se embalsamada fosse, a múmia espera sua hora.

 

>>>

 

alienígenas

 

1944. Uma vala arde ao longe na noite. Os olhos de Moshe acompanham impotentes e silenciosos o cortejo que segue até a beira da pira. Ele tem dezoito anos, e está em Auschwitz.

 

Subitamente, a imagem se fecha num zoom sobre a vala, e então Moshe consegue ver com nitidez o que está queimando nela: crianças e velhos.

 

Moshe se sente sufocar. Quer gritar de terror, mas não consegue.

 

Então seus olhos se voltam para uma figura quase ao seu lado à beira da vala. É um louro alto de queixo quadrado e monóculo. Usa o uniforme da SS.

 

O que mais aterroriza Moshe - e ele se sente culpado por isso, para sempre se sentirá - é a expressão no rosto do nazista que supervisiona a operação de descarga dos cadáveres. O oficial da SS não parece muito mais velho que ele, e no entanto como são diferentes: o alemão olha para os judeus como se eles não existissem. Não, pior, como se os judeus fossem coisas, e não seres vivos. A expressão no rosto do nazista é de indiferença clínica.

 

O silêncio acaba neste instante. Moshe grita.

 

E acorda. No bairro do Brooklyn, Nova York, 1996. Ele tem 70 anos, e está na América. Neva lá fora, mas em no peito e na alma de Moshe as valas com as crianças e os velhos arderão para sempre.

 

Não consegue dormir. Apalpa a mesinha de cabeceira à procura do controle remoto e liga a TV. Na reprise de um talk show famoso, uma mulher com cara de maluca viciada afirma categoricamente ter sido seqüestrada por um disco voador e submetida a experiências pelos alienígenas.

 

Com um suspiro dolorido, Moshe levanta o braço e olha fixo o azul esmaecido do número tatuado. Os alienígenas dele foram piores.

 
>>>
 
minicontos do desconforto
 

.10.

 

Sentiu o cheiro do mar na brisa. As folhas dos flamboyants tremelicavam no fiapinho de sol da tarde, que ia adiantada. Sentada à beira da piscina, uma taça de vinho quase vazia na mão, teve uma leve epifania olfativa. Não viu, nem ouviu o paraíso: apenas sentiu seu cheiro exuberante e estupefaciente. Depois dormiu, serena e apaziguada.

 

Tempos depois, no dia em que recebeu de um amigo um ramo de rosas vermelhas (daqueles cinematográficos) e não conseguiu aspirar o frescor das flores, finalmente se deu conta de que, para o resto da vida, nenhum cheiro deste mundo seria capaz de satisfazê-la. Com o tempo isso foi minando também seu paladar, já que, sem sentir aquele perfume maravilhoso da comida, perdia o apetite com freqüência. E ela foi sumindo aos poucos diante dos que a amavam, até morrer, sequinha, numa tarde exatamente como aquela à beira da piscina. Ascendeu, e São Pedro a recebeu emocionado, pedindo desculpas pelo karma que tão ferozmente a consumira. E advertiu: "nenhuma dimensão é perfeita. Aqui, você não sentirá nenhum dos odores terrestres, exceto um, que terá a liberdade de escolher".

 

Embora inspirasse com força e sentisse todos os perfumes do Éden entrando em seus pulmões, ela olhou tristemente para ele.

 

"Como pode me pedir isso?", exclamou. "Eu não me lembro de nenhum há anos!"

E foi assim que Ingrid conheceu a Suprema Ironia de Deus.

  

.11.

 

A raiva foi subindo pescoço acima até turvar sua visão. Ficou tudo vermelho. Chutou um balde e ele se desfez em dezenas de cacos de plástico. Tirou da parede o relógio enguiçado e esmigalhou-o sob o pé. Gritou. Finalmente, tonto, caiu sentado no chão, ofegante. A pausa fê-lo recuperar a razão. Tomou um banho frio, bem demorado, vestiu-se, pegou a guitarra e foi para o bar. Confraternizou com os companheiros, bebeu várias taças de brandy e, quando o show começou, transmitiu toda a sua raiva para o instrumento. Qual não foi sua supresa quando a guitarra se soltou de sua mão, arrancou-se da alça e começou a espancar sua cara impiedosamente, agitando-se no ar como um inseto gigante e descontrolado. No fim, ela levitou por alguns segundos e explodiu, vaporizando-se como por mágica.

 

O público aplaudiu durante meia hora. De pé.

 

.12.

 

Ele falava entusiasmadamente com ela quando a flagrou com aquele olhar maroto que antecede uma travessura. Ela o interrompeu uma fração de segundo depois dando-lhe um beijo de leve na boca e abraçando-o com genuína ternura. Ele não soube como reagir; teve ânsias de deitá-la no chão do bar lotado e possuí-la ali mesmo. Mas conteve-se. Sabia que ela confiava nele, e aqueles selinhos não eram incomuns entre os dois.

 

Ela o olhou falando rápido como uma metralhadora, como de hábito, e sua alma tremeu. Pensou "que diabos, por que ele não me beija?". Logo começou a sorrir com os olhos e decidiu tomar a iniciativa. Queria calá-lo com um amasso poderoso, mas conteve-se. Saiu um beijo de amiga e um abraço de irmã. Ficou puta consigo mesma ao perceber que o deixara sem ação.

 

Foi o mais perto que chegaram de um romance.

 
>>>
 
poemetos de inverno
silas corrêa leite  [email protected]
  
refis
(poema querendo ser letra de rock)


Somos todos Canibais
Comendo a mesma ração
Restos de animais
Em decomposição

Com instintos tribais
Valoramos a irrazão
Bestas siderais
Gente, cavalo, gato, cão

Somos todos instintais
O vírus-homo além da dimensão
Promovendo currais
Muito ouro e pouco pão

Somos todos letais
Entre a fome e o lixão
Os poderosos têm mais
Aos pobres o mísero chão

Somos todos Canibais
Irmão comendo irmão
(Naves em dobras celestiais
Já anunciam a extinção)
 
>>>

amar é...

Anti-clímax da separação:

Amar é...

Nunca ter que pedir Pensão

>>>

elite real

ELES
NÃO
SABEM
O QUE
FEZES
  
>>>
 
o quê
ione moraes  [email protected]
 

Todo mundo se defende sem nem saber do quê. O "quê" responde pela denominação científica de desconhecido (cuja formação tem origens latinas, que se encontram em cognoscere). Refiro-me à palavra, por óbvio, não ao próprio desconhecido entendido como quase entidade palpável que é. Se não podemos apalpar, ao menos podemos ver, a densidade é impressionante. As origens desta ­- refiro-me à entidade, claro está, não à palavra que usamos para designar o objeto no mundo -, ainda permanecem desconhecidas - impossível evitar o pobre trocadilho - pela ciência humana moderna. No campo da mera especulação, deve estar ali, onde tudo foi formado, na força motriz de que se fala em filosofia, ou em Deus para quem se fia em crer, embora para Este nada haja que desconheça e nada impeça que guarde lá os seus segredos, como nós fazemos à imagem e semelhança.

 

Se seguirmos a linha de classificação dos seres animais e vegetais, anolagamente aplicada (frise-se) ao caso ora exposto que se pretende analisar com algum rigor científico, qual seja reino, filo, classe, gênero, espécie - e não acaba aí a linha de classificação -, está o desconhecido enquadrado em gênero, mas nada impediria que desse logo o nome a todo um reino, porque o adjetivo de desconhecido poderia qualificar qualquer dos substantivos desse mundo: existentes ou ainda por existir, concretos ou abstratos (vide comentários sobre a origem do desconhecido no parágrafo acima).

 

Com uma lupa, que microscópios são aparelhos de valor altíssimo que meus parcos recursos para pesquisa não comportam: máxima aproximação - a do olhar à imagem, não a de quem olha ao objeto do estudo, mantém-se distância aparentemente segura para o observador. Através da lente, parece, assim, inofensivo. Trata-se de pequeno aglomerado de substância etérea, que no imaginário popular se costuma comparar a uma nuvenzinha singela, nem clara nem escura, cujo tom se vai alterando em proporção direta ao nível de inquisição do sujeito que pretende lançar olhos ao futuro. Por força da atuação de ondas telepáticas enviadas em sua direção, provocam-se reações químico-oníricas que logo transformam o pequeno aglomerado em algo muito maior, indefinível, indescritível e nunca captado por lentes de qualquer câmera ou por qualquer outro meio de reprodução gráfica ou digital de imagem, reações essas que causam sensações de opressão nos músculos cardíacos do observador mais desatento (não importa se em momento de sístole ou diástole), a que o povo ordinariamente chama de "aperto no peito" ou "coração apertado".

Nisso, há de se concordar que o objeto de nossa análise se comporta em adequação com aquilo que se imagina ser e que se continuará a imaginar, já que, como já pode ver, os estudos foram inconclusivos a respeito de natureza, origem, destino ou composição atômica do aglomerado mencionado. A mente mais cartesiana não pode perceber o que seja o desconhecido. E como relativamente ao que se não conhece alimentamos (os humanos) terror, aí está, ao menos, uma explicação minimamente plausível para a sensação que nos causa a todos. Para os mais crentes, nada disso tem sentido e o desconhecido é chamado simplesmente de vontade de Deus, e todos sabem que o futuro a Deus pertence. De minha parte, prefiro seguir acreditando que o futuro pertence a cada um, a cada um o seu, e a alguns ou todos o que lhes for comum, se cada um tiver coragem suficiente para tomá-lo para si.
   
>>>
 
n a v e g a r  i m p r e c i s o
o mapa náutico de alexandre inagaki para quem se aventura na web
 
pop brasileiro em inglês
É isso mesmo. Os caras do Charges.com.br fizeram uma série com os clássicos da música pop brasileira. Cantadas em inglês. Sandy and Junior, Bruno e Browne, Kelly Chave e It's the Tchan. Imperdível.
 
tabela periódica do funk
Pessoas que levam a sério o conceito de "química musical".
 
gatas e cervejas
Porque comerciais de cervejas são babacas, mas estão recheados de gostosas.
 
tintin para sempre
O melhor site sobre o simpático personagem de Hérge. Excelente utilização de recursos em flash.
 
popozões
Alguém levou a sério demais a expressão "vai tomar no cu".
 
o que deve ser construído no lugar do world trade center
A CNN fez a enquete. Confira as sugestões. Algumas um tanto esdrúxulas.
 
>>>
 
milhor...
jules rimet  [email protected]
 

“A 'razão' da linguagem: oh! Velha prostituta enganadora!

Temo que não nos libertaremos de Deus, porque ainda acreditamos na gramática...”

(Nietzsche – Crepúsculo dos Deuses)

 

Que fique bem claro: algumas palavras que uso podem parecer estranhas à primeira vista, mas não são erros de português. A opção pelo uso delas está bem fundamentada historicamente, filologicamente, poeticamente e desvairadamente.

 

Exemplo? A palavra-título desse texto.

 

A primeira vez que li, em artigo de jornal de Mário de Andrade, pensei comigo "erro... donde o copidesque?" As outras vezes que li em poemas de Mário fiquei intrigado. Fui pesquisar. No século XV usava-se a expressão mjlhor, dando milhores no século XVI. A etimologia latina diz melior, ainda no século XI, mas chegou ao XVI daquela forma. Agora, como diabus o milhor virou melhor (e quando), isso escapa de minha alçada.

 

Além do mais, fica mais bonito. Falamos milhor, escrevemos melhor? Experimente falar melhor com o e enfatizado. Fica pior (ou seria peor?).

 

Outro exemplo? O nome dessa terra onde vivo: Campos dos Goitacases. Erros reiterados e transformados em lei. Porque a lei diz que o nome da cidade é Campos dos Goytacazes.

Primeiramente, a cidade recebeu esse nome em virtude da existência, nestas paragens, da tribo goitacá. Ora, o plural de goitacá é goitacás. Então, esses eram os campos dos goitacás.

 

É isso mesmo que vocês estão lendo: pluralizaram o plural! Além disso, usar o y é grafia mais que antiga. Prefiro usar o i e, no lugar do z, usar s. Assim ficaria: Campos dos Goitacases. Mas o bom mesmo seria Campos dos Goitacás.

 

Tomam-me por preciosista? Fujo da macaqueação. A sintaxe lusitana não é a nossa.

Aliás, já não é sem tempo de publicarem uma gramática da língua brasileira. Basta de gramáticas da língua portuguesa! Não são gramáticas, são gramatiquices!

 

Não estou pregando a caça aos estrangeirismos. Há palavras já enraizadas na nossa língua que, como toda língua, é dinâmica e mutante. Prego menos apego às gramáticas, porque como disse Mário de Andrade, sobejamente correto, "as gramáticas vieram depois que todas as línguas já estavam organizadas". O que atrapalha é essa "organizadas". Existe língua organizada? O diabu da gramática é querer nos prender em regras, nos cerrar em grades, pretendendo estagnar a língua.

 

Prego a desorganização da língua.

 

Há algum tempo que encasquetei com o verbo transar (sem brincadeiras com trocadilhos fáceis!). Isso porque eu comparava o verbo transar com o verbo cansar.

 

Por que num o s  tem som de e, noutro, som de cê-cedilha? Fiquei ruminando. Perguntei daqui, perguntei dali. Ninguém sabia explicar. Se um s entre duas vogais tem som de ; se o fonema do verbo cansar é cãsar, deveríamos lê-lo canzar. Mas e se esse caso for uma exceção ao uso dos fonemas, valorizando-se o n de transar e cansar? Aí poderíamos usar a tradicional regra: "um s entre duas vogais tem som de ", logo, cansar (som de cê-cedilha) está certo. Mas... e transar (som de zê)?

 

Procurei, então, o sempre prestimoso Houaiss. Está lá: etimologia latina de campsõ da linguagem náutica, etc... E diz mais, que Antenor Nascentes remonta a campsãre, do grego kámptõ. No século XIII, camssar; no séc. XIV, cãssar.

 

Explicação aceita. O s de cansar tem som de cê-cedilha por motivo histórico. Mas, cá entre nós: canssar, com dois ss, não fica mais malemolente? Não fica mais que uma palavra, parecendo uma onomatopéia?

 

Prego a subversão da língua.

 

E parodiando Mário (de novo ele!): Fora! Fú! Fora o gramatiquês!

Porque acabamos não falando o português nem o brasileiro. O que falamos, em verdade, é o gramatiquês.

 

Por essas e por outras que não fiz faculdade de letras. Odeio as regras gramaticais. Odeio profunda e perenemente.

 

Pregar a subversão de uma língua não é pregar o uso de erros, a ignorância. E acho milhor parar por aqui porque começo a ficar canssado. 

 
>>>
 
p a p o - a r a n h a 
O guia moderno da cantada virtual. Ressuscitado depois de centenas de milhares de pedidos. De casamento, claro. Quer encontrar sua cara-metade? [email protected].
 
busco uma relação harmoniosa a três
louise
 
Talvez extravagante, mas não sórdido. Amoral seria uma palavra mais correta... pois eu busco respeito e admiração não somente em um único homem, mas em dois homens distintos - e perfeitamente conscientes de tal propósito. Sou uma mulher nada banal, inteligente, jovem, curiosa e sedenta de viver. Sou bela sem soar óbvia. Padeço de uma fragilidade tão vigorosa quanto à força que cada vez mais se faz presente em mim. Anseio por desejo e por fascínio... e mentes livres. Eu me dedicarei como amante, como ouvinte, como inspiradora e como amiga. Unidos, que possamos nos entregar, dispostos à paixão e à troca. Enfim, uma relação de honestidade e experiência ímpar. Homens com qualidades e afinidades acima descritas, que não se incomodem ou não temam tal proposição, unam-se a mim. Não serão os rótulos "homo","hetero" ou "bissexual" tão relevantes quanto pareçam ser. Mas eu os desejo ao meu lado.
 
Nota do editor: Certo, dona Louise. Mas precisa se candidatar em dupla, já?
 
>>>
 
fantasia sobre mozart
 
Caro Wolfgang, senhor,
 
Cheguei hoje ao Brasil, após terríveis noites naquele navio umedecido. Todo o mal tempo da Europa pareceu ter me acompanhado até o Rio de Janeiro e ainda ecoa, gélido, nos meus ossos.
Durante a jornada de volta apenas suas partituras me mantinham preso a algo bonito, aliás angelical, como a última tarde que passamos juntos eu, o senhor e madame Constanze, nos arredores de Salszburg.
Não sei se poderei voltar no verão. Entenda-me, senhor. Temo não ter conseguido terminar minha sinfonia até lá.

Gostei muito das suas idéias sobre uma cidade menina no coração do Brasil, devotada totalmente à música. O planalto central, pouco conhecido, guarda tesouros mil. Penso muito em transferir-me para lá e iniciar estudos sobre a música indígena. O Brasil é muito musical, senhor. Com as influências dos negros vindos da África, os tons melodiosos do fado português e a presença sempre bem humorada do brasileiro, creio que em breve o país terá um tipo de música que será elogiada mundo afora. Além do mais, senhor, tudo que aqui chega é bem recebido e assimilado. A calma e a curiosidade do povo brasileiro espocam nas mais diversas formas de criatividade, que são vistas em todas as esferas culturais.
Vejo o futuro do Brasil com muito bons olhos.

Os filhos da pátria, mesmo sendo hoje netos e bisnetos de hordas bárbaras que aqui aportaram desde o descobrimento, gerarão bons homens, que saberão amar o país e cuidar da sua política, pois o Brasil é uma terra riquíssima, em todos os aspectos, senhor. Imagino que daqui a alguns séculos o Brasil proverá o mundo com suas jazidas inesgotáveis de alimentos e recursos naturais, ditando rumos para uma humanidade igualitária e feliz.
Tenho certeza que também teremos alcançado a perfeição musical, a qual já nasceu velha no seu grande coração, senhor.
 
Afetuosos abraços do seu criado,
 
Carlos Edu
Rio de Janeiro, 1.790
 
>>>
 
v i r u n d u n s
A eterna troca de letrinhas continua. Valem também músicas em inglês. Nesta edição, a continuação da saga Trenchtown e ainda virundum com nome de remédio.
 
fábio/curitiba  [email protected]
Fiquei muito confuso quando assisti o clipe de 'Alagados', dos Paralamas do Sucesso.

A letra falava: "Alagados flintstown, favela da maré..." e nada de "Bedrock" aparecer no clipe !!
 
marcela marques  [email protected]
Até um dia desses eu cantava assim aquela música do 14Bis: "Maravilhaaa, juventude, pobre de mim, pobre de nós, vira-lataaa!" O certo é Via Láctea (eu acho). E a minha filha cantava assim a música do Erasmo Carlos que a Marina gravou: "você precisa é de um homem pra chamar de seu, menos que esse homem suje eu. (o certo é mesmo que esse homem seja eu)" Agora ela já aprendeu a cantar certo... que pena...
E tem um clássico que até acho que já saiu no Spm, mas é tão clássico que merece ser relembrado: "mas é você que é mal-passado e que não vê, é você que é mal-passado e que não vê!" O certo é "ama o passado", mas eu não me conformo, me recuso terminantemente a cantar assim.
 
silvia perazzetta  [email protected]
Meu filho Flávio de 4 anos, muito animadinho canta: ... e vai rolar a festa, vai rolar... o povo do jeito mandou avisar...
 
charles chaves da silva  [email protected]
Um amigo meu disse que nos idos de mil novecentos e alguma coisa, havia um remédio homeopático que ele conhecia por FICO PUTO CUM MURRO NAS COSTA.... era phytofucus com musgo da córsega.
 
Nota do editor: a expressão "cuspido e escarrado" também tem uma origem pitoresca. Vem das esculturas produzidas com mármore de Carrara, uma cidade italiana - um objeto "esculpido em Carrara", portanto.
 
>>>
  
propaganda, a arma do negócio
pedro vitiello  [email protected]

Talvez algumas pessoas em nosso belo planetinha azul, especializados em marketing, vendas e propaganda, achem que a boa rentabilidade de muitos produtos comercializados hoje em dia representem progresso.  Eu não sei não. Fico imaginando quais estragos este tipo de profissional poderia ter feito se tivessem surgido antes em nossa história:

Og: Olá, senhor, seja bem-vindo à nossa caverna! Em que posso ajuda-lo?

Mog: Uga! Ati-Kará?!!

Og: Ahá! Vejo que o senhor se interessou pelo nosso tacape "Mente Aberta", não é? De fato, ele tem um design muito arrojado, especial para dedos peludos com polegar opositor, é leve, prático e super bonito!

Mog: Ata-ta?

Og: Quanto custa? Bem, como ainda não inventamos a moeda e nem o cheque especial, nossa cotação de escambo do dia é de quatro dentes de marfim, uma pele de urso ou mesmo uma faca de pedra lascada (Nossos analistas acham que objetos de pedra lascada vão estar super "in" nos próximos 20.000 verões). Mas não compre ainda pois você ainda leva esta fita de vídeo sobre como fazer pictogramas nas cavernas e se tornar famoso no futuro.

Mog: Co-rin-tchia!!!!

Og: Ah. pena, o senhor não tem vídeo-cassete, não é? E nem DVD? Temos em DVD se o senhor...

Mog: Atunga-CHIUAUA!!!

Og: Também não tem DVD, não é? Ai-ai... acho que este produto vai encalhar...

Mog: Utu-chira! Utunga-bum...

Og: Não se interessa por ele, então? Bom deixe-me então mostrar alguns de nossos outros produtos, senhor, tenho a certeza que algum vai ser de seu agrado. Este é o nosso lançamento: FOGO!. Bom nome, não, "FOGO"? Este produto é quente! Ele tem mil e uma utilidades: Serve para aquecer você e sua família na próxima era glacial, que em menos de 300 anos já deve começar, serve para aquecer a comida e a carne, para produzir ferramentas e ainda pode iluminar sua caverna
de noite.

Mog: Tchi-bum nagua.

Og: Sim, este é um produto que praticamente se vende sozinho. Alis, cuidado com as imitações, senhor. Nosso fogo é produzido segundo rígidas normas técnicas. A pirataria ilegal de fogo, utilizando sistemas de gravação em gravetos secos é uma máfia, o senhor sabe? Feito sem cuidado nenhum e ainda pode estragar o cabeçote de seu vídeo, derretendo ele e...

Mog: Uhh?

Og: Ah é o senhor não tem um vídeo. Esqueci, desculpe. Mas ainda assim é perigoso. Só

aceite fogo se o graveto tiver a marca "Prometeu".

Mog: Akunte.

Og: Não, não temos crediário para este produto senhor. Sabe como é, as pessoas levam embora prometendo voltar depois e pagar, mas acabam imigrando para outro continente ou sendo atropeladas por tiranossauros e não voltam, de forma que não aceitamos este tipo de negociação. Mas com que o senhor tem ainda pode encontrar algumas pechinchas, como esta coleção de machados de guerra ou este jogo de ossos de macaco para misturar aos seus. É uma forma excelente de pregar peças em paleontólogos. Diversão garantida a você e sua família.

Mog: Uh-tcha?

 
Og: O que? Aquele objeto redondo cheio de poeira ali do canto? Não, senhor, não posso deixar o senhor levar ele. É um produto que está encalhado, sabe? Como não vendeu muito bem de início (não tivemos tempo para fazer o marketing, e, sinceramente, nenhum de nós da empresa entendeu muito bem para que serve) tentamos engatilhar a idéia a outros produtos, como pulseiras, argolas e anéis, para as vaidosas senhoras de nossa sociedade (A Sra. Lucy, por exemplo), ou um jogo para crianças chamado "bambolê", mas a idéia original, a tal "RODA" nós não achamos que daria certo. Devem devolve-la e destruí-la até semana que vem para livrar espaço.
Mog: Uti-guti!! Blaoam, bam bam!!
Og: Sim, sim, o formato é feio, difícil de arrumar espaço em um canto de seu lar para deixa-lo. Pensamos até em vender como objeto Feng-Shui, mas nossos clintes mais idiotas foram devorados por um velociraptor e ficamos sem opção de venda. Uma perda de energia, se quer saber. Mas por favor, vamos continuar que encontraremos algo para o senhor. Estas são lindíssimas gravatas de ossos, elas vão causar alvoroço entre as mulheres de sua tribo. Veja que bonita! Ela tem as cores...
 
>>>
 
f a l a   q u e   e u   t e   e s c u t o
Não somos CVV mas temos o maior prazer em escutar suas reclamações sobre a vida. Está sem dinheiro? Sua mulher o deixou? Foi despedido? Não tema. Em www.spamzine.net está a solução para os seus problemas.
 
----- Original Message -----
From: "Cronicamente Inviável" <...>
To: <[email protected]>
Subject: ahhhhhhhhh.. e esse papo de eleição? Enoja?

Inagaki e amigos do Spam Zine, tudo bom?

E esse papo de eleição?  Enoja todo mundo??
Todo ano a mesma coisa, tem q sempre ir na bendita urna e oferecer seu voto -obrigatório - democrático para o "bem" do Brasil... E Maluf?  Nussa!  Nem me diga! Se eu continuar, vão falar por aí: "Quem desdenha quer comprar"!

Abraços e como diz o Rabinho: SHALON! hehe
Izzy
 
sabbag responde: Pois é, Izzy. Democracia obrigatória é assim mesmo. Uma vez, o ex-senador Jarbas Passarinho disse: "no Brasil o voto é obrigatório porque não podemos perder o fio da democracia que nos resta". Bonito, né? E ainda tem o negócio do financiamento público de campanha. Já pensou, dinheiro público pagando esse monte de panfleto e cartaz que emporcalha as cidades? Aqui tem candidato com 80% da propaganda irregular. Mas, de resto, acho o horário político divertido. Abratz do sbbg.
 
----- Original Message -----
From: "Antoniel Campos" <...>
Sent: Friday, August 16, 2002 3:09 AM
Subject: Re: [S p a m Z i n e] - edição 074

Caros,
 
cada vez melhor.
vale o quanto rola na tela.
 
Sds,
Antoniel
 
sabbag responde: valeu, Antoniel. Tomara que nossos scrolls sejam os mais valiosos do mercado.
 
>>>
 
c r é d i t o s  f i n a i s
  
geração zero à esquerda
Ricardo Sabbag > [email protected]
Alexandre Inagaki > [email protected]
Orlando Tosetto Junior > [email protected]
José Vicente > [email protected]
 
operários das letras
André Machado > http://amachado.blogspot.com
(arlã() > [email protected]
Fábio Fernandes > http://polis.blogspot.com
Ione Moraes > http://www.didentro.he.com.br
Jules Rimet > http://imagina.blogspot.com
Pedro Vitiello > [email protected]
Silas Corrêa Leite > [email protected]
  
guardiães da flor do lácio
Charles Chaves da Silva > [email protected]
Fábio/Curitiba > [email protected]
Marcus Marçal > [email protected]
Marcela Marques > [email protected]
Silvia Perazzetta > [email protected]
 
>>>
 

Spam Zine - fanzine por e-mail
 
conheça, leia, assine:
 
colaborações, sugestões, críticas & propostas indecentes:

>>>
 
p. s.
 
marcus marçal: Essa eu nao sabia, mas achei engraçada. Principalmente qdo lembro daquela coisa horrível q toca atualmente nas rádios roque: uma musica do Elvis com uma base eletrônica picareta por cima.

Copiada e colada direto do Ronca:

"LONDRES - Mexer com Elvis Presley é garantia de protestos desabusados de seus fãs incondicionais. Pior ainda, nesta sexta feira, dia do 25º aniversário de sua morte. Mas como resistir a contar aqui que, pouco antes de morrer, em Memphis, o artista, bêbado, participou anonimamente de um concurso de imitadores de Elvis e tirou terceiro lugar?".

GOD SAVE THE KING!!!