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11 de agosto de 2002
são paulo  itararé  campos de goytacazes  fortaleza  curitiba

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n e s t a  e d i ç ã o:
 
estranheza do mundo - amor e outros absurdos - epifania no metrô - eu sou mesmo um zé geraldo - poemetos do silas - garoto juca jr. - mendigo chique - dia da marmota - esperança que cansa
 
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editorial
alexandre inagaki  [email protected]
 
Este mundo é muito esdrúxulo. Escrevo estas linhas após assistir alguns trechos do programa "Ilha da Sedução", novo reality-show do SBT que, grosseiramente resumindo, pode ser definido como "reality chifre". Quatro casais viajam para o Caribe, são separados e confinados em hotéis localizados em lados opostos de uma ilha paradisíaca. Em cada hotel, dezenas de modelos solteiros tentam seduzir os incautos a fim de testar a fidelidade de cada "pombinho", em meio a festas, bebedeiras e mergulhos em alto mar. Bom programa para reunir a família depois do jantar de domingo.
 
Enquanto isso, nos Estados Unidos, aproximadamente 4 milhões de telespectadores se reuniram em frente da TV para acompanhar o primeiro episódio do "Anna Nicole Show". São 30 minutos de câmeras invadindo o cotidiano de uma loiraça ex-stripper e ex-coelhinha da Playboy, que causou escândalo ao se casar com um bilionário texano, J. Howard Marshall, que tinha 90 anos de idade (mas com corpinho de 89) e morreu pouco depois, legando à moçoila a singela bagatela de US$ 88 milhões. Ah, os estranhos desígnios do amor.
 
Vem mais por aí. A decadente atriz Liza Minnelli e seu marido David Gest já gravaram os primeiros episódios de seu reality-show. Uma declaração de Gest dá o tom do nível do programa: "acho que já fui para a cama com tudo, menos uma zebra". Enquanto isso, a rede ABC publicou um anúncio convocando interessados para participarem de "Ultimate Makeover", programa que dará a seus três participantes a chance de mudarem completarem suas aparências físicas, incluindo uma cirurgia plástica.
 
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Este mundo anda por demais bizarro. A eleição de Paulo Coelho para a Academia Brasileira de Letras é café pequeno, comparada com a carreira literária (sic) de Dave Pelzer, cujos três primeiros livros estiveram por 448 semanas na lista dos mais vendidos de não-ficção do New York Times. Sua primeira obra, "A Child Called 'It'", é a biografia de uma criança cuja mãe queima seu braço no fogão da cozinha, depois o faz vomitar e comer seu próprio vômito, e o deixa sem comer durante dez dias. Todas essas desgraças, descritas em ricos detalhes, são pontuadas por lições de auto-ajuda, do tipo "não esmoreça diante das dificuldades", ou "saiba que nem sempre a vida é justa". Os fãs de Dave Pelzer são apaixonados pelo autor, e sentem-se inspirados por sua recuperação após tantos horrores sofridos. Alguns deles já compraram seu DNA para uso futuro. Para quê, não ouso especular.
 
Mas existe coisa pior no mundo literário. Ou você sabia que Saddam Hussein, presidente do Iraque, é autor de dois romances consagradíssimos pela crítica do seu país? E ai de quem duvidar da real autoria de seus livros, que vêm, inclusive, com a redundante declaração declarativa em sua capa: "Um livro escrito por seu autor". O primeiro romance de Hussein, "Zabibah e o Rei", descreve a relação entre um político sensível e uma belíssima mulher tornada escrava por seu marido, um ocidental que a violentou no dia 17 de janeiro ("coincidentemente", o dia em que os Estados Unidos bombardearam Bagdá durante a Guerra do Kuwait). A obra virou musical e bateu recordes de vendas (no Iraque, é claro).
 
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Este mundo despirocou de vez. Karyn, uma novaiorquina que afirma trabalhar em uma emissora de TV, criou um site pedindo ajuda dos internautas para pagar uma dívida de US$ 20 mil junto ao seu cartão de crédito. A mulher, com tremenda cara-de-pau, admitiu que os débitos foram contraídos comprando roupas de grife e besteiras na Internet. Mesmo assim, o site (http://www.savekaryn.com) recebeu mais de 200.000 page views, e ela já arrecadou cerca de US$ 2.700 em doações.
 
Você já viu de tudo na Web? É claro que não. Em http://www.geocities.com/acpgm, você encontra o sensacional sítio "AOL CD Preservation Guild & Museum". É isso mesmo: um museu dedicado à conservação daqueles CD's da America On Line que você cansou de receber pelo correio, como "brinde" em revistas, ou entregues pelo funcionário do banco onde você tem conta. Mas o mais inusitado de tudo é isto -
 
 
A versão "4.0/ 250 horas grátis" daquele CD que você cansou de receber & jogar fora é avaliada pelos webmasters deste site como valendo QUINZE DÓLARES (!!!).
 
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Este mundo é inverossímil. É por isso que resolvi imitar os personagens do filme "Men In Black", e adotei o tablóide Weekly World News (http://www.weeklyworldnews.com) como meu informativo oficial. As manchetes do dia são: "Coreanos famintos caçam lobisomens para comer" e "Homem cutuca o nariz e encontra uma pérola". São notícias bem mais razoáveis do que imagens de santas aparecendo em janelas, jabutis cariocas sendo atingidos por balas perdidas, Collor, Maluf e ACM liderando pesquisas eleitorais, ou judeus e palestinos se aniquilando sem sentido.
 
Chega de verdade.
 
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Desintoxiquemos os neurônios. Para começar, com a verve afiada de Fabio Danesi Rossi, responsável pelo weblog de obrigatória visita diária FDR, discorrendo a respeito do motivo-mor para a balbúrdia do mundo: o amor. Em seguida, temos a estréia de Marcelo Barbão, jornalista doido por literatura, e responsável por dois sites voltados à distribuição gratuita de e-books: Ciberfil e Biblioteca Pública. Nosso homem em Itararé, Silas Corrêa Leite, comparece mais uma vez, assim como Jules Rimet, a.k.a. Chapeleiro Maluco, e Beatriz Singer, jornalista e exímia nadadora. Last but not least, dois estreantes de SZ: Ricardo Ramos Leite, nostálgico telespectador do Bozo, cuja prosa amalgama Bakunin e Veríssimo; e Bárbara Castelo Branco, uma estudante de psicologia que sabe, tão bem quanto eu, que pensar enlouquece.
 
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Você já conhece?
 
Burburinho           http://www.burburinho.com
 cine, livros, música, tv, foto, hq, internet
pensamentos despenteados para dias de vendaval
   
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de amor e outras coisas absurdas
fabio danesi rossi  [email protected]
  
Me apaixonei à primeira vista por uma garota. Consegui convencê-la a sair comigo e num momento de arrebatamento disse que a amava. Ela retrucou, "é impossível amar quem você não conhece". Engraçado. Acho impossível amar quem eu conheço.
 
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Ira Gershwin, grande sujeito, escreveu a que talvez seja a mais perfeita letra de música romântica que já ouvi. Veja só:
 
"Blah, blah, blah, blah, moon,
Blah, blah, blah, above;
Blah, blah, blah, blah, croon.
Blah, blah, blah, blah, love.
Tra la la la, tra la la la la, merry month of May;
Tra la la la, tra la la la la, 'neath the clouds of grey.
Blah, blah, blah, your hair,
Blah, blah, blah, your eyes;
Blah, blah, blah, blah, care,
Blah, blah, blah, blah, skies.
Tra la la la, tra la la la la, cottage for two -
Tra la la la, tra la la la la, darling, with you."
 
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Eu me amo. O diabo é que não sou correspondido.
 
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Mulheres sem coração e homens sem cérebro, eis as grandes desgraças do mundo!
 
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Tenho um amigo que está firmemente convencido da possibilidade de se entortar colheres e girar ventiladores apenas com o poder da mente. Outro acredita que discos voadores venham vez ou outra bisbilhotar o nosso adorável planeta (“Às vezes eu penso que o sinal mais claro de que há vida inteligente em algum outro lugar do universo é que até agora ninguém tentou entrar em contato com a gente.” Woody Allen). E outros há que têm certeza da existência de espíritos vagando por aí.
 
Que se pode fazer? Eu também acredito numa porção de coisas absurdas: mundo melhor, felicidade, mulheres sinceras, etc.
 
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Há uma frase, uma pequena frase de duas pequenas palavras que, quando dita por mulheres, tem um efeito devastador em mim. Ela é: eu também. Sim, eu também. A última garota por quem me apaixonei vivia repetindo essa frase. Eu nem a considerava particularmente atraente ou charmosa. Muito menos inteligente. Mas um dia lhe disse que meu sonho, quando pequeno, era ser desenhista. Um sonho meio estúpido, as crianças normalmente querem ser sorveteiros, astronautas ou alguma outra coisa igualmente excêntrica. Ela me respondeu apenas: eu também. Considerei que, apesar da minha vontade, nunca havia conseguido desenhar corretamente um simples homenzinho-palito. E ela: eu também! Depois falei que Bergman era meu cineasta predileto. E ela: eu também. Disse que tinha sinusite crônica desde os seis anos. E ela: eu também. Comentei que sempre me apaixono por quem diz eu também. E ela, rindo: eu também.
 
Claro, me apaixonei. Disse que a amava. Esperei o eu também. Estou esperando até hoje.
 
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dancing in the streets
marcelo barbão  [email protected]
 
Eu nem havia reparado no caminho. Depois que entrei no metrô, não prestei mais atenção em nada. Era sempre a mesma coisa. Eu entrava no metrô na Paulista e descia no Carrão. Fazia todas as baldeações automaticamente. Fazia isso todo santo dia, duas vezes por dia, há uns 10 anos. E foi por causa dessa rotina massacrante que eu estava mergulhado nos meus pensamentos. Isto precisava acabar e acabaria quando eu ganhasse aquela promoção merecida. Eram 10 anos de trabalho duro e dedicado para chegar até esse ponto. Vários projetos aprovados, gerando lucros absurdos. Este último, então, havia sido um fabuloso sucesso, tudo havia saído perfeito.

Era muito bom ouvir do chefe aquele muito obrigado, mas a reunião marcada para segunda-feira pela manhã era ainda melhor. Ele sempre dá promoções e aumentos na segunda-feira, e demite nas sextas. Essa era a política do dono da firma. Quando ele ligou na minha mesa, pouco antes do fim do dia, eu quase gritei de emoção. Claro que eu podia fazer uma reunião com o senhor na segunda. Com todo o prazer, era o que tinha respondido. Todo o prazer? Que coisa estranha para se falar. Logo depois, todos meus colegas me cumprimentavam. Foi demais. Era tudo o que eu queria. Logo eu poderia vender esta casa velha perto do metrô Carrão, herança de família e mudar para um apê perto da Paulista. Que sonho!

E eu acordei deste sonho já descendo as escadas rolantes do metrô Carrão. Foi um pouco estranho no princípio: “Caralho, eu já estou aqui?”. E eu comecei a ouvir uma estranha cantoria no fim da escada. Para quem nunca esteve neste lado da cidade, as escadas levam para a rua, para um terminal de ônibus. Eu ainda não conseguia ver de onde vinha esta voz mas já era possível entender o que ela falava. “Aqui/ tem/cartão telefônico”, repetindo estas poucas palavras como se fosse um mantra, um homem baixo e de bigode vendia seu produto para os que desciam as escadas. No ritmo da música, ele apontava para os cartões que segurava.

Inicialmente, eu pensei que era uma forma original de vender e me perguntei se era a primeira vez que ele estava ali ou se eu andava tão distraído que havia passado por ali sem reparar.

Mas estes pensamentos não duraram muito. Incontrolavelmente, minha perna direita começou a balançar ao ritmo das palavras do homem. Eu olhei assustado para minha perna que se movia num impulso. Tentei segurá-la com a mão livre mas foi pior. Minha mão começou a marcar o ritmo inebriante que o senhor de bigode mantinha sem reparar em mim. Neste ponto, eu estava chegando ao fim da escada e já podia ver bem o vendedor de cartões telefônicos. Minha cabeça começou a se chacoalhar da esquerda para a direita como nos programas de TV onde as modelos fingem que dançam. Nisto eu comecei a perceber que as pessoas se afastavam curiosas com aquele doido engravatado. Quando a escada acabou, eu caminhei para o vendedor que continuava sua cantoria encostado num dos pilares da estação.

Depositei meu notebook aos pés do homem e comecei a dançar ao seu redor. Já não era capaz de discernir muita coisa. Rodava ao redor do homem como numa daquelas danças indígenas fajutas de faroeste americano. Eu acredito que o homem deve ter parado de cantar neste momento. É o mais coerente no meio desta cena. Mas, eu não sei, acho que me desconectei completamente da realidade, sei lá. O que sei é que eu continuava a ouvir a música como se o homem continuasse a cantar. Aos poucos fui arrancando o terno e a gravata. Sentia um tremendo calor que vinha da música. Vinha do ritmo alucinante. Vinha da voz rouca e da mão do homem que apontava compassadamente para os cartões enquanto cantava.

O calor era tão avassalador que comecei a arrancar a camisa, eu precisava de ar mas não podia parar de dançar.

- Nossa, acho melhor a gente chamar a segurança do metrô.

Segurança, caralho, que merda eu estou fazendo? Peguei minha roupa rapidamente e meu notebook. Não sabia muito bem o que fazer. Liguei o piloto automático novamente e encontrei o caminho de casa. Merda, não posso perder tempo. Na segunda-feira minha vida vai mudar completamente.
 
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v i r u n d u n s
Atire o primeiro microfone quem nunca cometeu um "virundum Ipiranga às margens plácidas", "tocando Gipsy Kings sem parar", "Scubidu dos sete mares"... Virundeie você também: [email protected].
   
mariana de lucca  [email protected]
Naquela música do Lulu Santos, Sereia, clássico de reuniões dançantes da minha 5ª série, eu cantava "será mais linda miragem do lago". O certo é "Será magia, miragem, milagre", mas eu ainda prefiro a mais linda miragem do lago, muito mais poético.

Mais uma do Alagados, a música recorde de virunduns... depois de "Uzbekistão (!), renrau...". Eu cantava: "Alagados, CENTRAL, na beira da maré". Só agora fiquei sabendo que é favela da maré! (nossa, que nadavê)

Essa já é famosa. Em Exagerado, do Cazuza, meu irmão, que é fã do Barão Vermelho desde pequenininho cantava: "Um Zé Geraldo, jogado aos seus pés, eu sou mesmo um Zé Geraldo." Pobre Zé Geraldo...

Três versões para Malandragem, da Cássia Eller:
Quem sabe o príncipe virou...
(a) ... um saco
(b) ...um chato
(c) ...um sapo

A pior de todos os tempos: na música do Queen "We Will Rock You", uma amiga minha cantava WIRROUW WIRROUW RROQUENROU. BAH!!!
 
Lembrei de quando meu irmão ficava ouvindo direto uma daquelas baladinhas escrotas do AeroShit, Hole in My Soul, e eu avacalhava chamando de A Rola Amassou, hehe!
 
Minha sobrinha quando tinha 5 anos, além de inventar algumas palavras, como ALEGRIADA (quando tava feliz demais), DEMORAÇÃO (quando a viagem era muito longa), TENQUE (mãe, você tenque ir agora mesmo, tenque?), me fez a seguinte pergunta: "Tia, o que é oratão? ". Quando perguntei onde ela ouviu aquela estranha palavra ela respondeu: "naquela música da novela Cambalacho - Uma hora tão por cima, outra hora tão por baixo..."
 
luciane chiovitti  [email protected]
Descobri outro dia um feio que cometia até há pouco tempo. Naquela música do Toquinho que eu acho que chama Aquarela, lá pelas tantas ele canta "entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená" e eu cantava mesmo sem entender o que ele estava querendo dizer: "um lindo avião rosa a engrenar".
 
- minha versão pra alagados era "alagados, FREISTAL, favela DO AVARÉ(??)". ainda bem que ninguém nunca pegou, seria terrível pra mim. :)
- rita lee, nem luxo nem lixo: "não acredito em nada não, até duvido da fé"... e eu cantava "até NO OUVIDO da fé".
- queen, i want to break free: "i want UM REFRI!".
- caetano veloso, tropicália: "viva a banda da da, carmem miranda da da..." e eu "DAVI MIRANDA DA DA DA".
- paralamas, trac trac, tinha um refrão incompreensível. eu cantava assim "TALENTO AMOR, SOLTO AMOR" e alguém me disse esses dias que era "dá me tu amor, soy tu amor". seria isso mesmo, alguém confirma?
- meu primo, na escola, deveria escrever o hino nacional num papel e entregar para a professora como dever de casa. no papel, estava escrito: "dos filhos deste SOLESMÃE gentil, pátria amada, Brasil".
 
P.S. DO EDITOR: leia no final desta edição as explicações de Renata Parpolov para a palavra "Trenchtown", cantada por Herbert Vianna na controvertida letra de "Alagados".
 
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poemetos de inverno
silas corrêa leite  [email protected]
  
fé cega e bêbada

Nem católica
Nem Corinthiana
Mas boêmia e hilária

Ela é da Igreja Universal
Do Reino da Bavária
 
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galã da barra funda (instantâneo)

limpava o vão rançoso da unha
encravada do dedão do pé esquerdo

com a mesma tampinha amarela
da velha canetinha Bic

que palitava o fiapo de carne de sol
na antiga dentadura dupla
 
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jovem, guarda
 
Debaixo dos caracóis
Dos seus cabelos
Cingapuras - de lêndeas
 
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love story (the end)

o amor realmente acaba
quando a mulher amada
diz, toda escancarada

que o traste do marido é
bananeira que já deu goiaba
 
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o mundo anárquico do garoto juca jr.
ricardo ramos leite  [email protected]
 
Saudações, mortais. E aos imortais, banana pra vocês. Quem fala aqui é Garoto Juca Jr., filho do renomado Garoto Juca, atração dos programas do palhaço Bozo. Estarei daqui em diante contribuindo para a SPAMZINE com meus pensamentos, meus fatos corriqueiros, com as fofocas que chegam aos meus ouvidos, e com as novidades do mundo anarquista.

Sim, meus caros leitores, sou um anarquista. Sigo a doutrina bizarro-anarquista, fundada por meu mestre e doutrinador, o glorioso Mestre Enéias. Eu sigo sua palavra como o filho segue a palavra do pai. Comprei todos os livros dele, que chegam aos milhares, e os leio avidamente, procurando sempre me aprofundar nos seus ensinamentos. Seus livros estão repletos de experimentos anárquicos, que são experiências criadas pelo Mestre Enéias para testar a insanidade da sociedade e a força de vontade de seus discípulos.

Vou descrever então, rapidamente, um experimento anárquico por mim realizado, que foi sugerido por Mestre Enéias em seu livro "Líderes devem comer farelo". Como todo bom anarquista bizarro, odeio toda e qualquer forma de liderança e autoridade, seja ela comunista, socialista, monarquista, parlamentarista... Odeio até mesmo bandeirinha de jogo de futebol. E quem é o maior líder dessa nação? O excelentíssimo senhor presidente da república! E ele foi o alvo do experimento.

Primeiro consegui uma credencial de jornalista, roubada por mim do apresentador mala Zeca Camargo. Ele não sentirá falta da credencial, ele nunca foi jornalista mesmo... Depois, fui até a residência oficial do presidente, em Brasília, onde encontrei o tal bebendo água de coco e cantando versos da música "meu iáiá, meu iôiô...".

Qual é a melhor forma de desestimular um líder? Provando a sua incompetência mental. E qual é a melhor forma de se fazer isso? Promovendo uma disputa de trivia de cinema! Cheguei próximo do presidente e falei "Senhor presidente, desafio o senhor a uma partida de trivia de cinema!"

Ele se assustou e prontamente gritou, chamando os seguranças. Depois que eu ameacei usar da violência física ele aceitou meu desafio, mas relutava em fazê-lo, e olhava para os lados, procurando por um machado ou uma arma. Comecei então a perguntar: "Presidente, que filme ganhou o Oscar de melhor filme no ano de 1944?". "Casablanca", prontamente
respondeu o presidente, "Hã... Certo. É, está certo. Mas que filme levou o Oscar de melhor filme de 1973?", tentei novamente eu. "Foi O Poderoso Chefão", respondeu novamente o presidente.

"Está errado! Errou! Foi Operação França!"

"Que? Você tá louco! Foi O poderoso Chefão! Certeza!"

"Foi Operação França seu idiota!"

"Foi O poderoso Chefão!!!"

"Cala a boca, olha aqui!", disse eu, enquanto mostrava o livro "A Noite do Oscar é uma Farsa", de Mestre Enéias. "Olha aqui! 1973! Operação França!"

"É... você tem razão..."

"Ahá! Admitiu! Agora diga: 'desculpa, meu mestre'"

"Nunca! Nunca direi isso!", berrava ele.

Não preciso nem dizer que fui expulso do local a socos e pontapés. E aparentemente o presidente estava certo, o livro do Mestre Enéias estava errado. Mas tudo bem, pretendo continuar minha peregrinação pela anarquia, custe o que custar! Garoto Juca Jr., direto para o Spamzine!
   
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josia
jules rimet  [email protected]
 
Josia era um mendigo chique. Morava ao relento mas o seu relento incluía exclusivamente os arredores da imponente torre do Sunset Tower, num penhasco que dava a visão dos dois paraísos azuis se encontrando na distância: o céu e o mar.

Por causa de sua residência, aprendeu a degustar as mais finas iguarias. Os restos, certo, mas não menos iguarias.

O seu dia começava com um desjejum composto de iogurte, frutas, pão sírio. Nos dias frios havia chocolate quente. Nas noites frias, consomê e variedades de cremes. O almoço sempre: saladas das mais variadas, filés flambados com amoras, vez por outra uma dose de velve clicquot ou vinho. Ontem ele almoçou simplesmente risoto de alcachofra e batatas rosti, acompanhado de um vinho chileno.

Hoje seu corpo foi encontrado boiando, batendo nas pedras do penhasco abaixo do hotel. Um manobrista disse que o viu passar na tarde anterior, carregando linha e anzol, resmungando algo sobre sashimis e noite japonesa. Foi enterrado como indigente. Mas bem marinado.
 
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r á p i d a s   r a s t e i r a s
 
"Peço desculpas às pessoas por me agüentarem durante tanto tempo".
(Ok, Caetano Veloso, desta vez passa. Desde que você prometa NUNCA MAIS compor versos como "êta êta êta/ é a luz é o sol de Tieta"...)
 
"O 23 é o número do nosso presidente, que, somado ao nosso, 28, é igual a 51. E 51 é uma boa idéia".
(Fernando Collor, candidato ao governo de Alagoas com o número 28, declarando apoio a Ciro Gomes, número 23. Depois dessa, só bebendo mesmo.)
 
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punk lovers
beatriz singer  [email protected]
 
Olha, eu não escolhi assim. Poucas coisas eu escolhi. Graças a deus. O fardo seria muito pesado. Eu simplesmente sou assim. Não tenho culpa se isso é bom ou ruim. Nem mérito. Sei que já disse isso antes. Sei que muitas vezes me repito. Mas, vê, isso é um recurso poético. Eu tenho essa licença, você me dá? Me dá? Hey, you can leave your hat on.

Se você cantar rouco assim até vai dar certo. No exato instante em que o tempo pára, you’ll give me reason to live. Mas depois passa. Passa, baby. And you’ll give me reason to leave. Sou efêmera como as dores da vida. Passo, incomodo, mas vou embora, sim. E aí você volta a ver que era feliz e até sabia, mas preferiu pôr a mão no saco escuro para ver o que tinha dentro. E posso ser efêmera como a anestesia. Tiro-o da dor, do tiro da dor, mas, para não cair nas desgraças do tiro perdido e certeiro de novo, não poderá nunca mais me deixar.

Serei sua menina, estarei em todos os seus agoras. Serei sua droga, sua anfetamina. Você pára de tomar o comprimido e volta a ficar deprimido. And you come to me like positive to negative.

E você precisa mais de mim, e fica mais profundo a cada dia, mais louco e débil. O tempo continua passando e você o sente congelado. Hoje é novamente o Dia da Marmota, se você me escolheu sua droga. Se você me escolheu, sua droga.

Está fadado a viver com um grito dentro dos ouvidos e agulhas furando-lhe os olhos. Mas você acostuma. Eu perturbo, mas também durmo. Como, bebo, sorrio e choro. Será que você agüenta? Será que você agüenta viver com um ser humano? Será que agüenta precisar de alguém para sempre? Será que agüenta não poder nunca mais falar ‘para sempre’? O maior poder que pode ser conferido ao homem é o de ser independente e abdicar disso por amor.

Você vai mesmo acreditar em mim? Minhas frases são deslavadas. Eu não me daria ouvidos. Falo coisas chocantes para efeito poético. Repito coisas. Repito que hoje é o Dia da Marmota, que está fadado a se repetir ad eternum. Alguém abaixe o som dessa merda. Não consigo parar de escrever e as guitarras estão arranhando o vidro da minha escrivaninha. Alguém, façavor, venha aqui e me dê um abraço. E depois mais um. Tire Placebo da vitrola senão eu me mato. Senão eu congelo com o tempo e nunca terei existido.

Eu quero acabar bem o dia. O dia está acabando. Bem? Não, meu bem. Você não sabe com quantos paus se faz uma canoa porque prefere nadar. Eu te acompanho, mas vá devagar. Sou uma lady e não quero molhar meu vestido. Quero chegar bonita para o Dia da Marmota. E se não chegarmos hoje, amanhã será hoje. Então tá bom.

As palavras estão agora pulando na minha cabeça e um simples teclado francamente não dá conta. Eu precisava de um chão de teclas onde as palavras do mundo já estivessem inteiras. Porque as idéias pulam na minha cabeça à velocidade da letra. Cada tecla que aperto equivale a uma palavra. Cada ponto final é um desperdício. Quero um teclado gigante de palavras. Eu sairia pulando de canto a canto dançando um balé grotesco e suando picas, só para fazer sentido. Só para dizer o que a todo momento preciso dizer.

Depois dormiria e não acordaria mais, porque acordaria hoje novamente. Eu já disse que hoje, amanhã e sempre é o Dia da Marmota? Já? Mas eu tenho licença poética, eu tenho licença poética. E anoiteça o dia e amanheça a noite: se nada mudar, sou capaz de escrever isso tudo de novo, na mesma intensidade. Se hoje sempre se repetirá, não vou nunca mais saber quando o sol está nascendo ou se pondo. Vou invejá-lo por viajar e sempre voltar para me visitar na prisão. Não, seu bobo. Prisão do tempo. E não há Dia da Marmota. Há o Dia do Mar e o Dia da Morta. E agora, você sabe com quantos paus se faz uma canoa? Morra nos meus braços, baby, é mais doce.

Não fica assustado com isso tudo, não... Eu te disse que posso ser dor ou anestesia. É só escolher certo. É só não ficar na dúvida.

Porque eu disse que passa, não disse? Não fui eu quem escolheu. Não. Não existe mérito, não existe culpa. Apenas cordas de guitarra e violino que se intercalam confundindo o mundo. Se estou aqui ou longe, não importa. O que importa é que você tem todo o tempo do mundo, porque hoje será hoje para sempre. E eu serei sempre sua.
 
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d i á l o g o s   i n e s q u e c í v e i s
 
Clarice Lispector, em sua compilação de crônicas "A Descoberta do Mundo" (feliz Dia dos Pais!).
 
Pai-cachorro: - Você tem estudado muito?
Filho-cachorro: - Tenho.
Pai-cachorro: - Matemática?
Filho-cachorro: - Não.
Pai-cachorro: - Ciências?
Filho-cachorro: - Não.
Pai-cachorro: - Geografia ou filosofia ou história?
Filho-cachorro: - Não.
Pai-cachorro: - Afinal que é que você tem estudado?
Filho-cachorro: - Línguas estrangeiras.
Pai-cachorro: - E o que você aprendeu em línguas estrangeiras?
Filho-cachorro: - Miau.
 
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a dança
bárbara castelo branco  [email protected]

Há algo nesta tarde branca,
entre cigarrilhas cubanas e tequilas
que ardem em lágrimas, que preciso dizer-te.
Estou cansada, onda que se desdobra
revolvendo areias imersas.
Estou cansada e é a esperança
que me cansa.
O renunciar, o gesto que sempre
nos traz o gosto de volta.
O passo que sempre leva ao seguinte,
a boca seca de repente, mais um passo,
a placa de "Pare" e nos damos mais um passo.
Tranquemos a porta, rasguemos as cartas,
esqueçamos o retrato, esqueçamos que existe mais uma hora,
alguns minutos ou telefone que ainda está por tocar.
Entram flores amarelas pelas cortinas,
pelas cortinas vê-se pessoas, um jovem de tênis vermelho,
dando os passos seguintes...
Escreveremos novas mensagens, desgastadas e renovadas.
Flores amarelas, pétalas que voam através das nossas cortinas.
Estão cansados? Como eu?
Escrevo cartas, folhas e mais folhas para que a esperança se vá.
Ela me desce no entanto com a tequila e se dispersa na dança enovelada da fumaça.
 
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f a l a   q u e   e u   t e   e s c u t o
Agora também na versão BLOG. Escreva para [email protected], ou deixe seus comentários no weblog do nosso site: http://www.spamzine.net. Servimos melhor para servir sempre.
 
----- Original Message -----
From: Angela <..>
Subject: Viruduns de cantor

"Eles também cometem viruduns. Tenho "viruduns" do cantor/ator Leo Jaime. Leia abaixo. Abraço a vocês (...)
 
From: Leo Jaime <..>  
To: Angela <..>  
Sent: Thursday, July 25, 2002 11:31 PM
Subject: Re: (muito engraçado) v i r u n d u n s

Tenho duas: Na madrugada a vitrola rolando um blues, trocando de biquini sem parar...(tocando B.B. King) e Fazer amor de madrugada, amor com jeito de pirada... (Virada). Ah, tem aquela antiga: é você que é mal-passado e que não vê que o novo sempre vem... (você que ama o passado)".

inagaki responde: cara Angela, obrigado pela colaboração e divulgação da nossa seção. Aguardo para a próxima semana relatos de leitores descrevendo os "viruduns", "virunduns" ou "viriguiduns" cometidos com as letras de As Sete Vampiras, A Vida Não Presta, A Fórmula do Amor, Gatinha Manhosa e outros hits do seu distraído amigo. Afinal de contas, errar é humano, e rir dos erros alheios é mais humano ainda. Um abraço!
 
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c r é d i t o s  f i n a i s
 
HEY KIDS! THE MONSTER UNDER YOUR BED IS REAL!
Alexandre Inagaki >
[email protected]
Ricardo Sabbag > [email protected]
Orlando Tosetto Junior > [email protected]
José Vicente > [email protected]

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Bárbara Castelo Branco > [email protected]
Beatriz Singer > [email protected]
Fabio Danesi Rossi > http://fdr.blogspot.com
Jules Rimet > http://www.imagina.blogspot.com
Marcelo Barbão > http://www.ciberfil.hpg.ig.com.br
Ricardo Ramos Leite > http://garotojucajr.blogspot.com
Silas Corrêa Leite > [email protected]
  
LEE HARVEY OSWALD IS ALIVE & LIVING IN RUSSIA!
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Gilvan Tessari > http://sinaesthesya.blogspot.com
Luciane Chiovitti > [email protected]
Mariana De Lucca > [email protected]
Marla C. P. > [email protected]
Paulo Briguet > http://www.scalassara.com.br/artig_paul/acervo.htm
Renata Parpolov > http://www.parpo-glow.kit.net
 
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p. s.
 
renata parpolov: tudo sobre o trenchtown:
- segundo informações próprias, trenchtown é palafita, aquelas casas em cima da água na floresta amazônica;
- segundo informações da minha amiga de infância, a pati, trenchtown é também uma cidade na jamaica;
- segundo informações do denis, meu vizinho, trenchtown é o lugar onde o bob marley nasceu.
 
paulo briguet: amigos do Spam Zine, gostaria de convidá-los para o lançamento do meu livro de crônicas, Repórter das Coisas - Crônicas de Londrina, no dia 15 de agosto (quinta-feira), a partir das 20 horas, na Biblioteca Municipal de Londrina (Av. Rio de Janeiro, 413). O velho que ia de pijama ao bar - e outros personagens - devem aparecer por lá.