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072
28 de julho de 2002
são paulo joão pessoa florianópolis rio de janeiro
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n
e s t a e d i ç ã o:
escaras
- o verme - virunduns, viriguiduns - baiacu
- infinitologia
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editorial
orlando
tosetto junior orlando@spamzine.net
Eu tenho um RG, que diz quem eu sou, quem são meus pais, onde e quando nasci,
e como era minha cara na ocasião em que o tirei. Tenho também um CIC, que
me identifica como contribuinte da Receita Federal (contribuinte ocasional:
contribuo quando o salário deixa). Tenho um PIS, Programa de Integração Social,
que não sei bem o que seja, mas tem dinheiro lá. E um PASEP, que é a mesma
coisa, mas é diferente. Tenho um Título de Eleitor, que me identifica como
votante e é de extrema embora obscura utilidade em caso de financiamento em
banco público. Tenho uma Carteira de Trabalho e Previdência Social, que me
identifica como trabalhador. Tenho um Certificado de Dispensa de Incorporação,
que me põe quite com minhas chamadas "obrigações militares" (no caso, nenhuma:
me dispensaram, ora, ora!). Tenho passaporte, que demonstra minha inequívoca,
minha evidente, esfuziante brasilidade, mais até do que uma penca de bananas
e abacaxis no cocoruto. Não tenho, mas deveria ter, uma Carteira Nacional
de Habilitação, que me identificaria como possível motorista.
Oito documentos. Oito diferentes maneiras de provar quem sou e o que posso
fazer (ou já faço), dependendo de a quem e para quê eu deva provar cada coisa.
E olha que nem estou falando dos muitos "cadastros", "fichas" e "prontuários"
que andam pela aí com meu santo nome neles. Estou falando só dos, para usar
um termo em voga, "básicos".
Agora, o possível estrangeiro que me lê engana-se se pensa que basta tirar
os documentos e pronto. Há toda uma manutenção envolvida. Dá trabalho a gente
se manter em dia. Porque o CIC é revalidado anualmente, com as declarações
de renda ou de isenção. A cada eleição, um novo comprovante é agregado à nossa
situação eleitoral, regularizando-a ou não. A cada cinco anos, a carta de
motorista é (ou não é) revalidada. O passaporte eu renovo de dez em dez anos.
E, à medida que envelheço, é de bom alvitre ir tirando novas vias do RG, pra
atualizar a cara (eu, que era moço e bonito em 1982, fiquei velho e feio em
2002; em 2022, uma bela caveira sorrirá). Dá trabalho a gente ser um cidadão
"em ordem".
Eu me dei ao trabalho de fazer essa cansativa enumeração, bem conhecida de
todos, não só para ilustração e conveniência dos nossos leitores portugueses,
mas também porque acabo de ler no jornal que o ministro do interior inglês
está querendo instituir lá uma espécie de RG. Meu primeiro espanto foi justamente
esse: "Quê?! Não tem RG?!". Não, não tem RG na Inglaterra. Se você disser
numa repartição pública que se chama Engelbert Pickwick, ninguém pedirá comprovação
do fato. Dirão: "Oi, Engelbert". Ou: "Sente-se ali, Engelbert". Ou: "What
a bloody marvelous day, isn't it, Bertie?". Mas não dirão: "RG, por favor".
Bestificante. Mas mais bestificante ainda é saber que o povo inglês reagiu
com fúria à simples proposta de um documento assim. Segundo eles, a versão
inglesa do RG é uma "violação das liberdades individuais". Como assim?!? "Liberdade
individual" não é só o tal direito de ir e vir? O sigilo da correspondência
não era assim uma espécie de gratificação e pronto?
Pros ingleses, não. Eles já bufam com os cartões de crédito e as cartas de
motoristas, que alguns acham excessivas. Nâo têm nem Título de Eleitor, meu
Deus! Cumé que eles impedem os coronés lá deles de cabrestar um monte de votos?
Ah, num tem coroné? Mas... ah, nem o voto é obrigatório? Então tá. Esqueçam.
* * *
Tem vezes em que, putz. É muito comprido, mas leiam com toda a atenção o texto
de Erasmo Júnior que abre esta edição (e pega quase metade dela). Não é todo
dia, meus queridos. E saudemos o retorno do grande Pedro Ivo Resende, cujo
natal mistura Cortázar e Luís Fernando Veríssimo.
No mais, como sempre, Ella é quem manda: but the age of miracles hadn't pass
- for suddenly I saw you there, and thru foggy London town the sun was shining
ev'ywhere.
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abrindo
escaras
erasmo
júnior [email protected]
I'm singing for the lonely
Keep 'em in your minds
I'm singing for the ones
We've left behind
Lost in space and time.
- Song for the Lonely, Drugstore -
O começo eu lembro bem, quarenta e sete dias sofrendo com aquele velho
dentro do hospital universitário caindo aos pedaços, com os estudantes metendo
o dedo no cu dele todo santo dia, medindo pressão, furando os braços e nada
de melhorar, nada de melhorar. Eu via meu pai definhando e implorando por
um fim decente e o melhor que pude escutar dos professores doutores foi: a
doença dele é grave, queremos melhorar o sofrimento, a esta altura do campeonato
a doença já espalhou para outros lugares do corpo, blábláblá.
Sofrimento melhora?
Eu sei que depois desse tempo todo, no dia em que morreu já fazia bem uns
cinco dias que ele não defecava e o cirurgião queria abrir. Eu não sabia mais
se pedia consolo para meus orixás ou se chorava, quando queria fazer um acabava
fazendo o outro e me atrapalhava todo. Me botaram para fora do colégio dizendo
que o atestado que tinham me dado não valia para nada, eu não sabia mais o
que valia ou o que era completamente inútil na vida. Não tinha mais ninguém.
Só o velho. Não tinha irmãos, nem dinheiro, nem nada, era eu e ele a vida
toda. Antes de ir para o hospital, ele vendeu o dente de ouro e comprou uma
cadeira de rodas velha da vizinha da rua de trás, porque não conseguia mais
andar. É claro que ele fez isso sem me avisar e quando eu fiquei sabendo,
o negocio já tinha sido feito.
Não agüentava mais dormir na cadeira de acompanhante, do lado da cama dele,
com mais três doentes dentro do mesmo quarto, impregnados com um cheiro de
urina medonho, comendo pela sonda. Tinha um cartaz bem grande na recepção
do hospital falando sobre humanização de atendimento ou algo parecido, parecia
mais uma piada de mau gosto. Outra delas foi um vendedor escroto vir me oferecer
no elevador um espaço no cemitério Parque das Orquídeas, bem na hora em que
tinham me chamado dizendo que meu pai tinha parado e que estavam tentando
reanimar. Meti a mão na cara do desgraçado, ele caiu dentro do elevador cheio
de gente e eu o chutei ali mesmo no meio das costelas e na costura do saco,
infeliz, como podiam se aproveitar daquele jeito de uma pessoa, todo mundo
mandando eu parar, enfermeiros, estudantes, sei lá, me segurando pedindo calma.
Cai no choro, vomitei em cima do puto e desmaiei.
Acordei em um quarto vazio na mesma enfermaria que colocaram meu pai, com
uma dor de cabeça do inferno, a camisa molhada de suor e suja com o vômito.
O doutor residente me contou tudo, seu pai teve uma parada, estava com o intestino
obstruído, o coração não agüentava mais, ele descansou, foi melhor assim do
que continuar sofrendo. Ladainha infeliz essa, pior que a ladainha do casal
de crentes que tinha visitado o quarto na primeira semana de internação. Um
negão suado de gravata com a bíblia embaixo do sovaco e uma menina magrela
com uma camiseta escrito Evangelização Já - movimento Jesus no coração. Falaram
coisas bonitas para mim e para o meu pai por uns quinze minutos, tudo decorado,
muitos gestos, expressões fortes, palavras de consolo e alívio travestidas
em um chamado divino em nome de uma igreja falida, podre, ridícula e demente.
Os outros doentes ficavam olhando, de olhos fechados, balbuciando amém, e
meu pai nem abria os olhos. Quando acabaram com o grande discurso, me entregaram
um papelzinho com uma oração, um desenho do todo poderoso segurando uma pomba
branca com um endereço logo abaixo. Olhei pro negão e falei, vá se foder.
Pega a tua bíblia e enfia no, daí a menina falou para mim antes que eu completasse,
a gente entende o seu sofrimento, que jesus te abençoe e toque o seu coração
com a paz divina, e saíram da enfermaria. Não voltaram mais, graças a deus.
Tinha que enterrar o velho e não tinha nem um tostão furado no bolso, o salário
do colégio já era. Tinha ganhado melhor como pipoqueiro do que como porteiro
daquela escola estúpida e, se eu tivesse uma arma em casa, ia voltar lá um
dia e dar um tiro no meio da cara do diretor que me colocou para fora. Todo
mundo gostava de mim, eu cuidava das crianças do jardim e da alfabetização
como se fossem meus filhos, eu sempre adorei crianças. Não era justo, mas
eu tinha que arrumar dinheiro e enterrar o meu pai, ao menos o caixão. Já
bastava ter visto minha mãe e tios indo pra baixo da terra dentro de rede.
Vendi a cadeira de rodas, me valeu um caixão empoeirado e roído. Esperei um
mongolóide lavar e pintar o velho, e agüentei pouco tempo no velório porque,
quando as rezadeiras e conhecidos do terreiro vieram me dar os pêsames, eu
comecei a rir descontroladamente. Ri de gargalhar, quase mijando nas calças,
como podia aquilo, eu rindo e meu pai dentro do caixão, com o nariz cheio
de algodão e com a boca pintada, faltando o dente de ouro. Quando todos já
estavam estarrecidos e indignados com as minhas gargalhadas, comecei a engasgar,
ele morreu porque não conseguia cagar, não conseguia mais, todos os médicos
ficavam cutucando e querendo abrir e ele morreu, soluço, soluço e caí em um
choro convulsivo, incontrolado. Não há mais ninguém. Tomei um chá, me levaram
quase desmaiado pra longe do corpo e nunca mais vi o velho de novo.
* * *
A casa parecia ter sido esquecida para sempre. Comida estragada na geladeira,
baratas pelo chão, teias de aranha do tamanho de gente, ratos, parasitas,
vaso sanitário sem dar descarga, televisão cheirando queimado e sem querer
ligar, contas vencidas no chão. A ultima vez que eu tinha estado ali foi para
buscar uma toalha para o velho se enxugar, no primeiro dia, porque a que deram
no hospital estava com um aspecto horrível. No mesmo dia eu tinha passado
no terreiro e avisado que não ia mais porque não queria ser cavalo nem queria
viver dentro de religião nenhuma.
Nem passou pela minha cabeça começar uma faxina ou lavar prato. Deitei na
cama e apaguei pelo tempo que fosse preciso. Os dias se passaram, um, dois,
três, uma semana, duas, e eu não tinha coragem de colocar a cara para fora,
nem de tomar banho, fazer a barba, não tinha coragem nem de levantar para
fazer xixi ou beber água. As moscas da cozinha tinham invadido a sala e já
entravam no meu quarto, pousando em tudo que era de quina, colocando seus
ovos e procriando na imundície. O cheiro se tornava cada vez mais pungente.
Toda noite era um tormento para eu dormir. Lembrava do velho no caixão, com
a boca torta, as mãos no peito rodeado de flores, vai em paz, homem. Vai em
paz. Sonhei que ele estava doente do mesmo jeito, todo velho e corcunda, bem
velhinho mesmo, dentro do caixão, e que eu ia buscá-lo no cemitério. Daí o
tempo passava e ele ia melhorando, ficando mais jovem, mais e mais jovem,
como se os instantes se desfizessem, de trás para frente, ele ficando tão
jovem que de repente tinha menos idade do que eu, de repente era um adolescente
cheio de espinhas, de repente era uma criança adorável, como nos retratos
que eu via dele quando criança, no colo da mãe com os nove irmãos, ele brincando
no pátio do colégio em que eu trabalhava, com o uniforme suado, correndo e
chamando a minha atenção, rolando na grama, de repente desaprendendo a ler,
desaprendendo a andar, a falar, balbuciando apenas a primeira sílaba do meu
nome, seus dentes entrando para dentro da gengiva, o cabelo ficando ralo,
andando de colo em colo, cada vez menor e menor. Quando achava que não o perderia
jamais, eu o entreguei para a minha avó, que o amamentou uma ultima vez antes
de voltar para dentro dela para morrer.
Acordei então com batidas na porta de casa, o cheiro devia ter tomado proporções
maiores do que eu esperava e os vizinhos deviam estar com raiva de mim. O
luto para eles já tinha passado. Era a vizinha da rua de trás, com um dos
seus filhos, um moleque com a metade da minha idade e o dobro do meu tamanho,
uma mão enorme, calejada. A porra do dente, ele falou, ela nem olhava na minha
cara, a porra do dente que seu pai trocou com a gente era falso, cadê a cadeira?
Me lasquei. A cadeira já era, falei. Vendi para pagar o caixão do meu pai.
Para quem, ela perguntou sem ainda olhar na minha cara, você vai ter que se
virar porque já tem gente interessada na cadeira, se ela não aparecer vai
ter confusão. Confusão nada. Eu não sabia que o dente era falso, pombas, como
eu ia saber? A boca era do meu pai, se brincar nem ele sabia disso.
Não vai devolver não, é? Moleque durão, fechava os dedos estalando as juntas,
quase esfregando o osso na minha cara, então vai ter que pagar. Pagar com
o quê, meu chapa, eu não tenho nada, estou desempregado, perdi a única pessoa
que me fazia companhia na vida e vocês ainda vêm fazer uma sacanagem dessas
comigo? Sacanagem é o que você fez comigo, seu caloteiro filho da puta, os
olhos da mulher finalmente encontraram os meus, cheia de ódio, me fez pagar
o maior mico do mundo com esse dente falso.
Já tinha gente na rua olhando. Não posso pagar nem vou te dar nada em troca,
falei. Não tenho condições para nada no momento, por favor, sumam da minha
frente e não me procurem nem tão cedo - pou, o moleque me acertou no ouvido,
cai para o lado contra a porta e ele veio para cima de mim, meteu um soco
nas costas, no rim, me arrebentei no chão e ele entrou na sala, pegou a televisão
com antena e tudo e atirou contra mim enquanto tentava me levantar, completamente
desorientado. Me atingiu em cheio abrindo o supercílio e fazendo um barulho
de que algo havia se quebrado completamente. Minhas pernas estavam tremendo,
não tinha força nos braços e a vista ficou fechada com o sangue.
Isso é pra você aprender a não enganar os outros, caloteiro, falou, não sei
se ele ou se a mulher. Pegaram meu passa-disco e foram embora.
* * *
Difícil mesmo foi fazer o supercílio parar de sangrar na base da acetona.
Levava uns dois pontos mas eu decidi resolver tudo com um esparadrapo bem
colocado, nem sentia a testa direito. No outro dia, cortaram a luz elétrica
por falta de pagamento. O meu celular já estava sem cartão há muito tempo,
ligação só a cobrar. Meu estômago doía de fome e eu não tinha coragem de olhar
a minha cara no espelho, sentia apenas a barba arranhar e coçar como se estivesse
infestada. E agora? E agora, meu chapa, era pegar uma corda, amarrar no pescoço
e se jogar da cadeira, ou da ponte, ou no meio de um carro. Numa hora daquelas,
se não fosse a doença e a morte do velho, eu estaria no colégio, recebendo
as turmas da tarde, dando bom-dia aos pais e garantindo que nenhum dos pequenos
sairia do colégio sem estar acompanhado por um parente ou pessoa autorizada.
Ainda sabia os nomes, de todos eles, maternal, jardim um, turma A e B, falei
para mim mesmo os nomes em voz alta e senti os meus olhos ficando cheios d'água.
Nem uma arma eu tinha em casa, não para matar o diretor desgraçado, mas para
dar um fim na minha vida miserável. Eu não sabia fazer mais nada, não sabia
fazer porra nenhuma além de tomar conta de crianças em colégio. Sem criatividade
para pensar em um fim digno para um perdedor como eu, peguei a camisa vomitada,
que era a única limpa que eu tinha, e vesti para sair, dar uma volta. Foi
quando caiu um papelzinho todo amassado do bolso.
* * *
Era engraçado entrar naquele lugar, cheio de cadeiras, um altar cafona adiante
com uma bateria e uma caixa amplificada do lado dos vasos de flores. Na hora
em que eu coloquei os pés lá dentro não tinha mais do que umas cinco pessoas
esparramadas no galpão. Os dizeres da entrada indicavam que o próximo culto
ia começar em uma hora, pare do sofrer, tinha escrito bem grande na porta,
letras em itálico.
A princípio nenhum dos crentes tinha me notado ali, mas o negócio foi enchendo
tanto que eu tive a impressão de que a cadeira onde tinha me sentado tinha
um dono que ia chegar a qualquer momento. Que palhaçada, meu deus, quem diria
que eu ia parar em um lugar daqueles e me meter em uma fria. Eu podia ter
começado a contar as coisas dessa parte, mas a morte do velho serviu como
um ponto de partida melhor. Começar com um fim, estranho isso. Quando não
tinha mais espaço para gente entrar, ou quando eu já me sentia sufocado e
arrependido com tanta gente feia e demente, o negão que eu mandei se foder
entrou, aplaudido, e subiu no altar, com a mesma bíblia e com o mesmo halo
de suor no sovaco, um cara tocando a bateria e outro no violão amplificado.
Foi difícil encarar algo tão irritante, tão leviano. Houve orações em voz
alta, piripaques, choradeiras, gritarias, santos jogados no chão e chutados,
canções, sacolas para dízimos, almas salvas do inferno e a minha esquecida
para sempre, indagando como eu podia ter ido parar em uma espelunca daquela,
no meio de fanáticos. Eu era porteiro mas não era demente, fui batizado na
umbanda e não acreditava nem em papai noel, precisei renegar tudo para me
sentir menos infeliz. Só o desespero mesmo para chegar a um ponto daqueles,
entrar em um lugar sem a mínima noção do que se estava fazendo. No final do
culto, enquanto todos cantavam e o pastor se retirava, uma meia dúzia de fiéis
distribuía pedaços de pão simbolizando o corpo do cristo. Corri para cima
de um desses entregadores, meti a mão e puxei bem uns quatro pedaços para
meter na boca de uma vez. Olhei na cara da pessoa com o cesto cheio e era
a menina magrela sorrindo para mim, pegue mais, irmão, você está com fome
e eu estou muito feliz em ver que jesus cristo todo poderoso entrou no seu
coração e o fez esquecer a dor e o ódio.
Amém, peguei mais pães.
* * *
Passei a ir todo dia no culto e, com menos de uma semana, todo mundo já me
conhecia e me chamava pelo nome. Limpei minha casa, lavei os pratos, joguei
a televisão quebrada no lixo, puxei um gato do poste e tive luz elétrica novamente.
Fiz a barba, lavei as camisas, estava me lixando para os crentes, para as
intenções religiosas deles, para a salvação de minha alma e o diabo no inferno,
porque meu único motivo ali dentro passou a ser não um ato desesperado de
um desgraçado que não tinha mais ninguém no mundo, mas uma tentativa em ter
a menina magrela nos meus braços. Engraçado que eu nem tinha notado aquele
dia no hospital, acho que por causa da camiseta estúpida, ou por causa da
doença, ou por causa do suor do negão, que era pai dela, pai adotivo, ela
disse. Ela era feia, mas era bonita. Ela era linda.
Olhos fundos no rosto, um nariz diferente, cabelo sempre preso, eu queria
muito vê-la soltando o cabelo, um corpo esguio escondido em roupas de crente.
Tinha um sabor de proibição com segredos, um pudor meio obcecado, tentando
fugir de mim quando notou as minhas intenções. Cheguei e falei, no outro dia
depois dos pães, você é linda, eu vim de novo hoje e vou ficar vindo todo
dia só para olhar para você. Ela se fez de doida e saiu para uma das cadeiras
da frente, onde eu não conseguia enxergar direito, de costas e distante. Acabou
o culto, uma tonelada de besteira igual ao dia anterior e a todo dia despejada
no cérebro dos crentes e eu fui atrás dela repetir, você é linda e eu não
tenho mais nada no mundo, se não tivesse entrado aqui ontem e te encontrado,
eu já estaria morto, sabia? Ela falou, foi deus quem te colocou aqui, não
fui eu, deus salvou a sua vida e abriu o seu coração para jesus, e agora vai
curar o seu pai. Dei uma risada e falei, menina, meu pai morreu faz três semanas
e ela emendou, ele foi curado e agora passou para o reino dos céus ao lado
de nosso senhor jesus cristo. Puta que pariu. Amém. Para de falar em deus
e vamos dar uma volta. Eu quero passear com você e conversar.
Passei uns cinco dias cozinhando, pensando nela, insistindo, agüentando os
cultos e as esquivas federais. Eu amava o cabelo, a camiseta, o cheiro de
alfazema, a presilha de cabelo dela. O rosto encovado. O negão, o pai dela,
veio falar comigo no culto, era a primeira vez que me dirigia a palavra desde
o dia em que eu tinha mandado ele se foder, meu filho, disse, com os braços
abertos já me abraçando, fedendo a suor, você acha que eu tenho uma gota de
raiva por aquelas palavras, saiba que eu sou incapaz disso porque nosso senhor
pregou que o ódio é a arma do diabo, e aquele dia o satanás te tentou e o
fez pensar naquelas coisas e dizer para mim, mas você é forte, tão forte que
encontrou a salvação. Aqui você vai ver, a sua vida vai mudar completamente.
Mudou mesmo. Continuei sem emprego, sem dinheiro. Não tinha mais o que comer
e minha refeição era praticamente o pão servido no culto. Vendi a minha geladeira,
a cama que era do meu pai, o ferro de passar roupas. Fui secando minha casa
para ter mais espaço para meu desespero em amar a crente.
Estava sufocado do mesmo jeito. Passaram um jornalzinho que tinha um retrato
dela do lado do pai com as mãos dadas e os braços levantados no meio dos fiéis
e eu batia punheta para aquele retrato, toda noite antes de dormir e quando
acordava. Sonhava com ela, brincando nos pátios do colégio com uniforme, nem
ligava para mim, eu chamando o nome dela mas sem ser escutado.
Ainda não tinha esquecido do meu pai, a dor da perda era um pedaço de mim
que não parava de sangrar. Então, depois de um tempo nessa agonia, cheguei
um dia bem cedo no culto e ela estava sozinha varrendo o galpão perto da bateria;
olhou pra mim e assustou quando me viu entrando, teu pai está aqui, perguntei,
ela falou que não, pois é com você mesmo que eu vim falar. Se você não quer
saber de mim, fala de uma vez que eu vou embora e mais nunca volto nessa merda
de culto. Não fale assim, ela choramingou, não fale assim, falo do jeito que
eu quiser e pára de me enrolar, eu estou sofrendo.
Ela chegou perto virando os olhos e resmungando umas rezas e eu agarrei e
meti um beijo nela, de língua, que ela se derreteu todinha e abriu a boca,
morrendo de medo de mim, ou morrendo de tesão. Não sei dizer. Depois dessa,
eu já estava envolvido até o pescoço. Todo dia, quando acabava o culto, eu
dava umas dez voltas no quarteirão, esperava os crentes irem embora e o pai
dela se recolher para retiro e voltava, pegava ela no galpão mesmo e ficava
agarrando, eu te amo, eu falava para ela, fala que me ama, repete, repete,
beijava desesperado, eu só tenho você agora na minha vida, como eu fui cego
naquele dia no hospital. Ela nem falava nada, ficava gemendo baixo, recebendo
meu desespero, o sangue de cristo tem poder. Não dava para saber se gostava
de mim ou se era uma fanática que se fazia de doida para um desgraçado. Mas
a coisa ia esquentando de um jeito que com pouco tempo eu já colocava a mão
nos peitos dela, agarrava, tentava colocar os dedos por dentro do sutiã, beijava
o colo, tentava levantar a camisa mesmo que ela resistisse o tempo todo, no
fundo aceitando. Quando eu chegava em casa, com o pau doendo de tão duro,
batia umas três punhetas seguidas para o retrato do jornalzinho. Eu tinha
rasgado a foto separando o negão e os fiéis para poder me concentrar nela.
Era um desejo, um amor que crescia dentro das minhas tripas, retorcendo tudo
por dentro, eu tinha vontade de chegar para o pai dela e para os crentes no
meio do culto e me declarar, vou leva-la embora daqui, vocês nunca mais vão
ver a gente.
A essa altura, a sala de casa estava completamente vazia. Vendi armário, sapatos,
criado-mudo, gaiola velha, panela de inox. Passei umas quatro vezes na frente
do colégio, meio que por acaso, para ver se alguém se lembrava de mim. Ninguém.
Nem um oi, tio, nem um boa tarde, absolutamente nada. Eu até perdôo as crianças,
porque realmente devia ser difícil de lembrar de uma cara tão comum como a
minha, mas os pais, sinceramente, me dava nojo ver aqueles putos passarem
na minha frente e me ignorarem, quando meses atrás chegavam buzinando na porta
do colégio para eu chamar seus filhos.
Quando eu já estava começando a ficar desesperado de novo com a passividade
dela, comecei a meter a mão na sacola que passava para doar dízimos fazendo
que colocava uma nota de um real e pegando um monte amassada entre os dedos.
Achei que ninguém estava notando até o pai dela vir falar comigo uns dias
depois, antes do culto começar. Meu filho, falou colocando a mão no meu ombro,
já suando, eu sei que você tem passado muita dificuldade e, nesse momento
difícil, tem cometido delitos diários. Não quero lhe ver assim, nessa angústia,
fazendo uma coisa dessas, uma coisa impensada. Se você quiser trabalhar aqui
dentro, de porteiro, limpando o galpão e cuidando do lugar, eu te pago um
dinheiro digno, do jeito que jesus cristo abençoou o pão dos trabalhadores,
blábláblá.
Parei de vender minhas coisas porque só tinha sobrado o ventilador e meu colchão.
Passei a cuidar do galpão e assim ficava com ela mais vezes. Ela deitava no
chão comigo, levantava o sutiã para eu lamber o bico dos seios e pegava no
meu pau duro atrás do altar. Eu gozava nas calças e voltava para casa todo
melado, atordoado, cada dia mais agoniado tentando pensar aonde aquilo ia
dar, mas adiando para depois. Ela quase não falava comigo, me ignorava na
frente dos crentes e do pai e, quando a procurava, eu ficava em dúvida se
o meu desejo era maior que o tesão dela, que se espremia toda, rezando.
Uma vez, quando fui vender umas cortinas no centro, encontrei dois conhecidos
da umbanda, que me esnobaram. No mesmo dia fui falar com a mãe-de-santo que
eu costumava visitar e ela falou, meu filho, tome cuidado para não se perder,
do jeito que a sua vida está, a coisa vai engrossar. Ela chamou o preto velho
e ele me escutou uns dez minutos, fumando o pito fedorento e escarrando no
chão. Soltou o risinho fino algumas vezes e me aconselhou a parar para pensar,
o que tem de ser vai ser, filho, e escarrava. Mandou eu tomar três banhos
do pescoço pra baixo com raiz, sexta-feira não podia, e me mandou ir para
o cemitério repetir uns versos. Tomei o banho mas não tive coragem de ir para
o cemitério, nem de voltar para o terreiro, nem de porra nenhuma mais.
* * *
A coisa toda foi assim, desse jeito mais ou menos.
Hoje de tarde eu acho que acabei de me ferrar, confirmando tudo de ruim que
me falaram e que eu vinha sentindo, mesmo que eu me sinta mal o tempo todo
há muito tempo. Bem antes do culto começar, quando eu estava sozinho cuidando
do galpão, um crente com jeito de veado que eu nunca tinha notado antes veio
falar comigo, perguntando um monte de merda que ele fazia de conta que não
sabia. Insistente. O que você quer, meu chapa, joguei, quer falar com alguém,
se perdeu? Ele continuou a enrolar, enrolar e perguntou da menina. Não sei,
vem só na hora do culto, respondi grosso e dando as costas, daí ele cutucou,
não sabe mas quer comer ela, né? Eu nem respondi porque se falasse qualquer
coisa ia meter a mão na cara dele, virei de volta, que história é essa. Eu
sei de tudo, disse, sou amigo dela muito antes de você aparecer por aqui perturbando.
Não cheguei perto porque queria ver onde ia dar, mas eu sei que você mexe
com macumba e que é um caloteiro, ela me disse tudo, disse que você mandou
o pai dela se foder no hospital, que veio aqui morrendo de fome e que encheu
o saco para que ela te desse atenção.
Continuei calado, escutando, a raiva comendo tudo por dentro. Foi o diabo
que te mandou aqui, seu safado, vai aparecendo na vida dos outros e atrapalha
tudo, ela não agüenta mais você por perto. Aonde você quer chegar, perguntei
trincando os dentes, com as mãos fechadas, as unhas rasgando a palma para
o sangue escorrer. Eu, eu não quero chegar em canto nenhum, mas você vai ter
que dar o fora daqui, senão vai preso. Ela ia contar hoje para o pai que você
anda mexendo com ela, mas antes ia dar queixa sua na polícia porque ficou
sabendo que você foi despedido porque andava tarando criancinha no colégio
em que trabalhava. O diabo que te mandou, seu macumbeiro do inferno.
Agarrei o desgraçado pela camisa, levantei meio palmo do chão, ele era leve
e afeminado, menor do que eu. Lava a boca para falar de mim, seu crente filho
da puta, você pode morrer de mentir a meu respeito mas não me chama de macumbeiro,
nem de tarado, nem de sacana porque eu não sou nada disso, ele afinou na hora,
calma, calma, jesus nosso senhor, e começou a rezar, afasta o demônio desse
homem. Empurrei ele contra as cadeiras mas ele resistia a cair. Quando ele
se agarrou na minha camisa, eu girei a mão no ouvido dele, que soltou um grito
seco, e com um impulso não sei de onde, atirei em cima da bateria, que virou
toda com um ruído infernal. O desgraçado ficou caído, saindo sangue pelo ouvido
e massageando a perna rezando em voz alta, afasta o demônio desse homem, sangue
de cristo tem poder. Eu vou quebrar o seu pescoço, seu filho da puta, se você
não falar que estava mentindo, eu não fiz nada dessas coisas. Você sabe que
eu não sou doido, eu sou uma pessoa descente e você apareceu aqui para desgraçar
a minha vida mais ainda, quando me dei conta já estava segurando a garganta
dele, que virava os olhos engolindo as rezas, meu senhor, meu senhor.
Quando ele estava parando de respirar, soltei e me levantei, com vontade de
chorar. Não deu tempo nem dos meus olhos se encherem d'água para ouvir um
estouro da entrada, bam, e sentir minhas costas amortecendo. Olhei para lá
e o negão estava com um trinta e oito enfumaçado na mão, rodeado por um bando
de crentes e nada dela. Tinham as bíblias em mãos, sagrado é o sangue de nosso
senhor jesus cristo, saia desse templo, filho do demônio, pervertido, herege,
blábláblá. Quando puxei o fôlego para sair correndo pelos fundos, engasguei
e senti um negócio solto no pulmão. A minha camisa estava emplastada de sangue
do tiro das costas. O pai dela disparou de novo e errou, pegou no crucifixo
gigante do meu lado e eu comecei a mancar, com a respiração toda atrapalhada,
em direção da saída de trás. O crente veado me deu um calço e quase me esborracho
no chão, puta que pariu. Eu estava chorando e nem tinha notado as lágrimas
misturadas com sangue e com o catarro que escorria do meu nariz. Alcancei
a porta e ouvi outro estouro, pronto, pensei, pegou em mim de novo e agora
ele me lascou, mas o negão era ruim de mira. Pastor pistoleiro, deus me livre
disso.
Saí me arrastando pela rua dos fundos, dobrando tudo que era de esquina para
não me seguirem. Eu acho que ninguém veio atrás, e acho também que ela não
estava lá. Acho que ela não falou aquelas coisas para o veado porque são mentiras,
como ela ia falar uma coisa daquelas se ela nem comigo conversava? Como ela
ia conversar logo com um imbecil daqueles, se era eu quem a amava? Não dava
para saber mais de nada.
Estou em casa, esperando o sol sangrar a manhã. O ventilador ligado, o colchão
cheio com o meu sangue, olho para o teto encardido, de pintura descascada
que eu nunca tive coragem de arrumar mesmo quando meu pai estava vivo porque
quando eu chegava do colégio vinha muito cansado. Me chamar de macumbeiro
não doeu tanto, mas de tarado, chamar de tarado, falar que eu tinha feito
coisa ruim com criança, eu devia ter matado aquele crente. Está difícil respirar
porque dói muito dentro do peito, parece que o pulmão não está mais enchendo
com ar, chorar faz doer mais ainda, mas eu nem ligo tanto porque chorando
eu me sinto mais aliviado, menos angustiado.
Será que foi ela quem falou aquelas coisas, ficava vindo na minha cabeça,
misturando com sonhos embalados, posso vê-los, manchas no teto passando para
diminuir o meu sofrimento, mas sofrimento, agora eu sei, sofrimento não melhora,
e não há mais ninguém para mim, e nunca houve, e eu vou esperar aqui assim
mesmo, até chegar.
>>>
o
verme
aleph
ozuas [email protected]
o grande verme
rastejava por trás da camada de reboco. não sabia há quanto tempo estava
lá. rastejava muito devagar, era verdade. às vezes passava dias em um mesmo
lugar, soltando um cheiro fétido que escapava pelas frestas do reboco velho.
tinha o formato de um losango alongado com as duas pontas abertas: o ânus
de um lado e a boca do outro. nunca havia visto aquela criatura nojenta,
mas podia imaginá-la cada vez que ouvia o seu corpo raspando os velhos tijolos
de barro dentro da parede. logo o verme poderia ser o causador de minha
morte, fazendo desmoronar minha casa, por isso eu não ousava incomodá-lo.
sentado em minha poltrona com uma cerveja na mão eu olhava atentamente para
a parede descascada cheia de mofo e infiltrações, com uma única vela iluminando
o silêncio do ambiente. quando então ouvia um ruído como o de passar a barba
mal aparada nas costas da mão. era o verme abrindo suas galerias nas paredes
de minha casa; comendo os tijolos úmidos e transformando-os em dejetos.
já tinha me acostumado com o fedor de suas fezes.
era nos meus sonhos o local preferido da criatura. aparecia de formas variadas
então. como um grande pedaço de carne podre a rastejar, coberto por vermes;
como um órgão de meu próprio corpo que criara vida e devorava minhas entranhas
enquanto eu berrava em uma cama suja de fezes, vômito, urina e suor que
jorrava do meu corpo magro e nu; por vezes ele aparecia como uma criança
sem braços nem pernas, careca e com os olhos e boca costuradas, que ficava
a meus pés a gemer e soltar uma espuma purulenta através do cordão preto
que lhe juntava os lábios. e de tantas outras formas horríveis que a simples
lembrança delas já me causava enjôos. tornou-se comum acordar durante a
noite todo mijado e correr para o banheiro tentando segurar o vômito. compreendia
o vômito, mas não o mijo. devo confessar que o vômito era bem mais freqüente
e reconfortante, a não ser quando vomitava na própria cama, com os olhos
semicerrados, e acordava no dia seguinte sem saber se ainda estava dentro
do sonho.
sim, eu bebia, bebia o suficiente para esquecer meus reais desejos. não
bebia para esquecer os problemas! a bebida era minha companheira, assim
como o verme na parede. havia um respeito recíproco. apenas os sonhos me
incomodavam um pouco. o cheiro, como já falei, também não era mais problema...
como era complicado para mim entender o que se passava...! sempre tentei
explicar as coisas aqui, sentado em minha poltrona, bebendo alguma coisa
e olhando para esta sala velha. então me deparo com esta idéia absurda:
tem um verme rastejando dentro das paredes, comendo minha casa até que ela
desmorone sobre mim. em um primeiro momento eu cheguei a duvidar, negando
com veemência essa possibilidade. mas os ruídos... o fedor... tornaram-se
tão evidentes que não pude mais ignorar os fatos. com o tempo me acostumei
e acreditei que havia sido abençoado. então vieram os sonhos, as noites
de insônia, o mal estar noturno, e o... não, nunca tive medo em verdade.
agora eu penso que terei que matar o verme, e ele já sabe disso. faz dois
dias está parado em uma mesma posição. instintivamente ou conscientemente
ele acha que está invisível, mas eu sinto seu cheiro, e como meu estômago
dói. eu poderia abandonar a casa, mas isso não resolveria o problema. os
sonhos continuariam a me perseguir e o verme sempre estaria lá, a rastejar.
preciso arrancá-lo da parede, vê-lo pela primeira vez fora dos meus sonhos,
pedir desculpas e exterminá-lo para sempre. toda minha vida mudará então.
os pesadelos cessarão, o álcool não será mais necessário, poderei arranjar
mulheres, ter uma vida normal!
fico aqui parado, olhando, talvez esperando algum movimento, mesmo sabendo
onde está o que procuro. talvez não seja mais necessário matá-lo, talvez
já esteja morto.
desenhei em várias folhas minhas idéias sobre o grande verme. ele parece
amigável em algumas dessas representações. mas quem pode avaliar a personalidade
de uma criatura assim? que culpa tem ela se nasceu dessa forma? devo exterminá-la
apenas porque acredito que isso resolverá minha vida? questões precisam
ser resolvidas, e como gosto de complicar as coisas quando a resposta é
uma só: estou com medo de descobrir a verdadeira aparência do verme.
... esfrego o reboco podre com os dedos, o fedor é insuportável, uso um
pano enrolado por trás da cabeça, cobrindo o nariz. nada se movimenta. criei
mentiras para complicar minha vida, está na hora de resolver isso. estou
aqui, cavando com calma esta parede enquanto me concentro nestes pensamentos.
o verme pisca para mim; o verme foge pelas galerias; o verme está morto;
o verme nunca existiu.
estou sentado em minha poltrona, com a vela acessa, olhando para a parede
deteriorada. não comecei a cavar ainda. são três horas da madrugada. tenho
bebida o suficiente no armário e na geladeira para decidir o que fazer.
não posso ficar parado enquanto esse monstro me enlouquece e devora todas
as paredes da minha casa. vou até a parede e olho com atenção, tento ver
através dela, andar pelas suas galerias. vejo um coração pulsando, um coração
vermelho, coberto de sangue; uma criatura única, uma estrutura muscular
altamente complexa; a parede é um grande útero cheio de organismos de todos
os tamanhos e espécies.
e se eu gostar de matar? e se isso tornar-se um vício e roer minha vontade
todos os dias antes do sono? bebo mais um gole e olho para a parede. o grande
verme continua imóvel. apesar da bebida armazenada, saio para comprar cervejas.
tranco a porta e desço vagarosamente a rua em direção ao posto de gasolina
24 horas. pago o cara com um punhado de moedas e saio rápido antes que ele
confira se está certo. ele usa um boné branco sujo e rasgado. eu estou de
sandálias de dedo pretas, minha barba está grande e faz muitos dias que
não tomo banho. penso que talvez, enquanto eu volto para casa, um carro
passe por cima de mim e ninguém nunca descubra que eu estava prestes a cometer
um assassinato. acho atraente esta possibilidade e começo a rir. o pipoqueiro
da esquina me olha apreensivo por um instante, mas depois acena com a cabeça.
subo minha rua contando as lajotas. sei o que preciso fazer agora, não há
mais saída, tenho que agir como um homem. tiro a única chave que tenho no
bolso, meto-a no buraco e viro lentamente para entender a mecânica da fechadura.
então percebo que algo está errado. não consigo mais sentir o cheiro do
verme. olho para a parede, ela está destroçada. em cima da mesa um bilhete
incompreensível.
vejo o velho despertador a corda no chão. são quatro horas da madrugada.
tenho bebida e tempo o suficiente para planejar o que farei agora.
>>>
v
i r u n d u n s
Já lascou
lá seu "virundum Ipiranga às margens plácidas", "o dono do gueto mandô avisá",
"amarelo deserto e seus tremores"? Então seu lugar é aqui: [email protected].
Virundaqui, virundali, virundalém.
aldeir claudio arcanjo silva [email protected]
Quando saiu a música dos Titãs, eu cantava assim: "Alfredo é tarde demais,
pra dizer adeus pra dizer jamais". Sendo que o certo é: "É cedo ou tarde
demais, pra dizer adeus pra dizer jamais". Eu prefiro ainda cantar do meu
jeito, dá um caráter mais pessoal à música.
marilia cb http://divina.blogspot.com
Meu irmão, com uns 5 anos, vivia perguntando o que era "dique". Nenhuma
explicação o satisfazia, até que descobrimos que ele queria entender a letra
da música do Roberto Carlos: "Dique vale o céu azul e o sol sempre a brilhar..."
Mas a melhor é minha, que com a mesma idade inventei o Bat Masterson gay.
Pra quem não sabe, Bat Masterson era o heroi de uma série de TV, e eu cantava
o tema assim:
"No Velho Oeste ele nasceu
E entre bravos se criou
Seu nome Helena (em lenda) se tornou
Bat Masterson, Bat Masterson..."
Mais recente: tinha um amigo que cantava "I shot the Sheriff", do Bob Marley,
assim: "I chop the cherry..."
penelope [email protected]
Nossa, eu tava lendo a edição 71 e descobri que eu cantava muita coisa errada.
Mas tem gente que é pior que eu...
"o meu jardim da vida decepou, morreu..." bem que eu pensei "mas jardim
tem cabeça?" Na música Festa, da Ivete "mãe preta de lá mandu chamar, avisou..."
jamais entenderia liberdade em vez de mãe preta... tem uma que eu não descobri
qual é o certo. Dos Paralamas, nem o nome da música eu sei. "Alagados, (nessa
hora eu canto algo tipo "renrau" pq não dá prá entender mesmo...), favela
da maré, a esperança..." Pombas, alguém cantou usbekistão?! Perá lá, de
renrau prá usbekistão... Mas ainda me pergunto, o que haverá no lugar do
meu renrau...
Não vou nem comentar o caso da batatinha quando nasce. Na verdade, eu realmente
DUVIDO que essa infeliz dessa batata não se esparrame. Bem verdade, por
mais que eu tentasse visualizar (de fato tentei inúmeras vezes...) não conseguia
ver a pobre da batata esparramada. Só quando eu a esquecia cozinhando na
água. Mas não tentem me convencer de que passei minha infancia toda equivocadamente
esparramando a batatinha...
alexandre zanette [email protected]
Na música do Cazuza a parte q ele cantava ...A TUA PISCINA TÁ CHEIA DE RATOS...
eu nos meus 12 anos convicto que já possuia um extenso vocabulário cantava
...A TOXINA TÁ CHEIA DE RATOS...
levi quennehen [email protected]
Eu era um pirralho metido a esperto ainda, quando a música "Alegria, Alegria",
do Caetano, estava fazendo sucesso. Então, num belo dia, cometi o erro de
entoar a referida canção perto das minhas irmãs mais velhas, que não deixavam
passar nada... Erro?! Sim, dos maiores, pois quando cheguei na parte do
"em cardinales bonitas", tasquei a seguinte pérola infantil: "brincar de
naves bonitas"!... Jamais esqueço, elas riram o dia inteiro da minha cara!
Me enfezei, fui para o meu quarto, peguei a vitrolinha do Mickey, coloquei
o LP da novela "Sem Lenço e Sem Documento", onde tinha a bendita música,
e ouvi até altas horas ("altas horas", aqui, está no contexto infantil,
pois meus pais não me deixavam ficar acordado após as 22:00 hrs, a não ser
no Natal e Ano Novo). No dia seguinte, logo pela manhã, na mesa do café,
confiante, ataquei de novo a plenos pulmões: "encartes de naves bonitas"!!!
Uma das megeras se engasgou com o cereal, a outra quase virou a cadeira
pra trás, ambas chorando de tanto gargalhar... Nunca mais cantei perto delas!!!
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todos
os baiacus merecem o céu
pedro ivo resende [email protected]
Meus pais nunca foram normais. Não é esse tipo de gente que você encontra
em anúncios de margarina, reunida de manhã em torno da mesa e sorrindo feito
ajudante de mágico. Mas eles se esforçaram naquele natal. Queriam mostrar
pra toda a família, com a cerimônia, que nós éramos felizes, unidos. Contrataram
inclusive um papai-noel para distribuir os presentes. Mas ele não fez muito
sucesso com as crianças.
- Quem é você?
- Eu sou o Papai-Noel, ora.
- Mas você é negro!
Acostumadas com papai-noel de shopping-center, as crianças estranharam o
nosso bom-velhinho. Eu até que achei o sujeito legal. Tudo bem que ele devia
ter uns 18 anos, era magro e usava calça jeans, com tênis. Meu pai, vendo
aquela confusão, ficou puto, matou o seu copo de whisky num gole só e veio
gritar com a gente.
- Isso é uma licença poética, caralho!!
Eu já estava acostumado com aquilo, mas os meus primos começaram a chorar.
Só pararam quando o papai-noel começou a distribuir os presentes. “Feliz
Natal, há há há”. O Caio ganhando um Nintendo, o Flavinho um autorama do
Piquet. E eu, bem, eu rasguei o meu embrulho, abri a caixa e descobri que
ganhara um baiacu morto. Junto vinha um manual de instruções, com apenas
uma frase: “Produto não comestível”. Também pudera: o bicho já estava podre,
com os olhos brancos. Fedia pra cacete. Não sabia o que fazer com aquilo.
Achei melhor levá-lo até o meu pai e perguntar isso para ele.
- Pai, ganhei um baiacu de natal. O que eu faço?
- Bem, ele está morto?
- Sim.
- Então devemos organizar um funeral apropriado para ele. É o que há de
decente a ser feito.
Meu pai me deu um tapinha nas costas e explicou o propósito do presente.
Segundo ele era algo para me ensinar a lidar com a morte, com a perda. E
sabe, até que não era tão ruim. Enquanto o Flavinho encaixava as pistas
do seu autorama do Piquet, eu montava o caixão do baiacu com tábuas de compensado.
- Pai, existe um céu para os baiacus?
Chamei todos para comparecerem ao meu pequeno funeral, mas a família inteira
estava ocupada demais com a ceia e os presentes. O único que se dispôs a
ir foi o jovem papai-noel, que se sentia meio deslocado na festa. Ele olhou
todos os preparativos e abaixou a cabeça, com pesar. Estava visivelmente
emocionado quando comecei o meu discurso.
- Um sonho interrompido, cortinas que se fecham em meio a um ato. Alguém
que tinha a tanto a oferecer e partiu tão cedo...
O papai-noel resolveu também participar.
- Baiacu honesto, nunca fez mal a ninguém.
- Isso! Sempre que precisávamos de um companheiro, lá estava ele com uma
palavra amiga.
- Bem-humorado, piadista... Era um fanfarrão, mas não mexia com a mulher
dos outros.
- E mesmo assim, partiu. Por que, por quê?!
Ajoelhei-me no chão, fechei os olhos e fingi que estava chorando. Quando
me levantei, vi que o papai-noel tinha retirado o baiacu do caixão e o segurava
pelo rabo. Ele passava os olhos pelo peixe com um olhar curioso.
- Ei, garoto, isso daqui não é um baiacu.
- Como assim?
- É um bacalhau. E está gelado, cheio de tempero... Seu pai deve ter tirado
ele da geladeira.
Jogamos o peixe no mato e voltamos à festa. Nos confraternizamos com os
convidados, comemos, dançamos... Tudo isto com um espírito revigorado. Porque
além do nascimento do Deus menino, tínhamos muito a comemorar naquela noite.
Afinal, o baiacu não morrera.
- Um brinde ao baiacu, aquele peixe maroto.
- Sempre nos pregando uma peça... Tim-tim!
>>>
p
e r g u n t a r n ã o o f e n d e
"Rubens Barrichello: azar, incompetência, mau-humor, má-fama
ou sobrenatural?"
mário r. mendes júnior [email protected]
Azar mesmo. Uma hora é o carro, outra, a pista; depois a chuva... olha,
é um rol de desculpas para justificar somente uma coisa: AZAR! Agora a Márcia,
amiga carioca do Vasconcelos diria : Gatinho, todas as alternativas estão
"correatas", sacou?
sonic records [email protected]
azar: quem mandou entrar na Formula 1 depois do Senna?
incompetência: não não... ele foi o empregado do mês.
mau humor: com essa cara de figo em compota até a minha mãe tem dó.
má fama: com a minha mãe chamando esse cara de figo em compota de coitado,
até o figo tem dó.
sobrenatural: O Senna se contorcendo no túmulo quando tocam a sua musiquinha
uma vez por ano.
ismael alberto schonhorst [email protected]
As coisas que
acontecem com o Rubinho só podem ser sobrenaturais. Depois de chegarem a
esta conclusão, vão investigar, fazer uma matéria, gravar, mandar para o
Fantástico, e depois veremos o Cid Moreira, com aquela voz poderosa, que
já me deu muitos pesadelos quando criança, falando:
- Rubinho, será Alien, será uma maldição, será que ele é o mal, ou
será que o Alemão é a encarnação do Diabo, eu só sei de uma coisa, ISSO
É FANTÁSTICO.
marcelo cruz [email protected]
Caros,
Não se iludam. O que aconteceu com o Rubens na França é muito simples. Jogo
de equipe. Só que desta vez "esqueceram" de avisar o cara. Se havia dois
pilotos que podiam estragar a festa do Schumacher, eles eram o Montoya (ah,
esse colombiano também é uma piada) e o Rubens. Já que o Rubens é nosso
(Da Ferrari, entendam o raciocínio), melhor ele não correr. Vocês não acham
isso? Eu acho. O Rubens, depois do Schumacher, é o piloto mais constante
e veloz de 2002. Tem três melhores voltas e venceu uma (duas, seria melhor
dizer) corrida. Nas demais, chegou em segundo e terceiro em todas. De todas
as provas que ele largou e chegou, ele só não pontuou em Mônaco. Agora,
vão dizer que o cara é ruim, não é. Ele é acomodado. Poderia, com seu nível,
tentar uma vaga na Williams ou na McLaren, mas ele prefere ficar na Ferrari,
ganhando US$ 12 milhões por ano. Não tá bom?
Pergunta da Próxima Semana:
"Se a eleição pra ABL fosse direta, em quem você votaria?"
Fãs da ilegível Hilda Hilst, prosélitos da doce Márcia Denser e aquele cara
que diz que lê o Dalton Trevisan e morre de rir: [email protected], às ordens.
>>>
infinitologia
2
ione moraes http://www.didentro.he.com.br
Ah, a sensação revigorante da inutilidade. Só o que posso fazer
é manter essa minha tez de quem já viu tanto, esse fingimento de placidez
que conforta quem observa, essa aura de quem percebe tudo com alguma agudeza
e por isso sabe que o desfecho será aquele que se espera. Que tudo acaba bem
e se acaba bem é porque começa tudo de novo: e que dessa vez seja ele arrebatador.
Tudo que me cabe é a espera da reação, porque a resposta -- ou o caminho para
ela -- depende só e unicamente do outro, por mais que eu desejasse entrar
ouvido adentro de quem sofre e ordenar que siga, como um messias de mil anos
-- "Levanta-te". Tudo pendurado no fio da clareza, da lucidez. Se eu me levantasse
imediatamente dessa cadeira e quisesse tomar a responsabilidade para mim,
como eu gostaria que fosse possível e proveitoso, isso não traria benefício
nem malefício. Sou completamente incapaz de alterar o desequilíbrio do mundo.
Eu só posso ser uma presença, talvez nem isso. E ser uma tentativa de presença
é pouco para o que quero. Tudo o que posso fazer é pedir porfavor, porfavor,
porfavorporfavorporfavorporfavorporfavorporfavor, como um mantra mal improvisado,
com o pouco de fé que ainda faz com que a roda gire, e que espero não seja
agora que venha a minguar.
porfavorporfavorporfavorporfavorporfavorporfavorporfavorporfavorporfavorporfavorporfavorporfavor
>>>
f
a l a q u e e u t e e s c u t o
A gente te escuta em todo lugar. Seja aqui, seja ali, seja acolá:
[email protected].
E ainda dá BLOG pra você comentar: http://www.spamzine.net. CVV à la carte
é isso.
----- Original Message -----
From: "she person" <[email protected]>
Subject: maria da graça x
Caro Seu Spam e Suzi Hong e Rafael Martín e galera interessada:
Isto é um feedback do feedback do Fala Que Eu Te Escuto no qual eu desci a
lenha na dona maria da graça X. Em que pese o meu desapego ao requentado,
vejo-me na contingência de voltar ao assunto, por conta de um mea culpa que
pintou por as pessoas não terem entendido o meu raciocínio sobre o chernobílico
- quando não antrázico - efeito X. É que, longe de comprometer os ágeis cérebros
dos "baixinhos", o elemento X corrompe totalmente as já escalavradas estruturas
dos sélebros dos "altinhos" (ou nem tanto, dado que gabirus), fazendo com
que os mesmos achem lindo, por uns prosaicos reais, uns eletros e - júbilo
máximo! - um conjunto deestofado casas bahia, manter pendurado o totalmente
sem noção retrato da dona X na parede do barraco emergente. Ou: ir lá no pograma
dar um trato no cabelaime. Ou: ir lá no pograma dar uma calfinagem na fachada.
Ou: ir lá no pograma segurar cartaz escrito o absolutamente ainda mais sem
a menor noção "X eu te amo", enquanto num acesso de absurdite vertem lágrimas
... de quê mesmo? vexame, adoração, mãe ói eu aqui, seja o que for, o mico
é escatológico! Então amáveis pessoas que leram o meu comentário e se dignaram
respondê-lo, não era sobre vós que eu falava. Aliás nem poderia, pois o ilustre
Ricardo Pandorga Sabbag, cuja infância pude acompanhar relativamente de perto,
é um bom exemplo de imunidade ao elemento X ( nada a ver, of course,
com o element X das Power Puff Girls). Pensando bem... vejam lá que o Pandorga
deu no que deu... vocês já pararam pra analisar alguma coisa esquisita a respeito
da sua vida que nem o PaunoCoelho explica? Fala sério que eu te escuto!
orlando responde: Minha opinião é um exercício de dicção:
acho a Xuxa chata. Voz estridente, pulação constante, pagodeiros, bordões
surrealistas, aquelas musiquinhas!, tudo ali sempre me bodeou profundamente.
Prefiro cachaça à Xuxa. Birita alegra muito mais, pinguço pula e dança sozinho.
Daí dona Sandra estar cheia de razão quando fala em efeito X nos altinhos:
é começar o ilariê preu sair procurando garrafa, escravo do vício. Cidadãos
responsáveis deviam lançar a SAXA, Superior Associação dos Xuxelentos Anônimos,
pra cuidar de altinho bebão cujo delirium-tremens (e bota tremens nisso) é
a Ivete Sangalo em perpétuo chacoalhar. Tim-tim, dona Sandra, mandemos a Xuxa
e o juízo pro mato, sim? Mas antes explique o que é "calfinagem". Beijabrazzo.
>>>
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colaborações,
sugestões, críticas & propostas indecentes:
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p.
s.
orlando:
claro que o assunto
é Paul Rabbit na ABL, derrotando Ian Black, nosso editor-tampax em "acirrado
pleito". A eleição só choca quem não sabe que a nobre casa de Machado de Assis
abriga, entre outros, vultos imortais como o autor de Brejal dos Guajás, ou
um habilíssimo cirurgião que transformou o retoque nasal em poesia. O caso
do Guimarães Rosa assustou os escritores, gente muito supersticiosa: tomou
posse e morreu em três dias. Daí darem lugar a gente assim. Quem sabe se o
Guima retomasse sua cadeira, via Sra. Gasparetto, as coisas não mudariam...?
orlando:
uma retificação. Publiquei um texto de um Jules Rimet há algumas edições,
e achei que era pseudônimo. Não é; esse é mesmo o nome dele. Mora em Campos
de Goytacazes, cidade do estado do Rio cujo cartório ainda vai virar ponto
turístico, já que lá há registro de gente batizada com nomes mântricos como
Orcalina Kellen, Acilegna, Jackciene e Cíntia Suely.