Conhecia aquela mulher perfeitamente, sua sinuosidade era-lhe familiar,
aquela pele macia, plúmbea. Começou a despi-la, peça por peça. Tirando-lhe os
sapatos, as meias e assim deparando-se com os pés numero 32 que ele já havia
beijado tantas vezes. Quantas recordações aquele par de pernas o traziam.
Quantas vezes, num ato feroz, agarrou aquelas pernas com tanta força que parecia
querer arranca-las do corpo e assim telas só para ele, para sempre. Aquelas
recordações invadiam sua mente como relâmpagos invadem um céu em dia de
tempestade. Deu um tempo, foi a sala ao lado da que estava e tomou mais uma dose
de Conhaque, desta vez direto na garrafa. Tomava como se fosse um remédio,
aquilo o encorajava.
Voltou a sala, ela o estava esperando do jeito que ele deixara, como se
estivesse a desafiar-lhe, como se estive a desconfiar de sua coragem, do seu ato
de ir até o final. Aquele olhar o deixava louco, dava-lhe uma impressão de que
ela estava achando que ele não conseguiria. Dizia-lhe: “Agora que começou,
termine. Não tem mais volta, se você for se ferrar por isso, já está ferrado,
então venha para cá e termine”.
Ele foi. Com as mãos trêmulas começou a despi-la novamente. Os raios em
sua cabeça aumentavam de intensidade cada vez mais, mas dessa vez ele não parou,
era algo que tinha que ser feito. Era questão de honra agora.
Ela estava usando um vestido de peça única vermelho, parecia ser
confortável e fácil de tirar, pensou em vesti-lo depois que tivesse tirado da
mulher, era o efeito do Conhaque. - Sabe, quando você pensa em coisas que nunca
faria mas mesmo assim pensa - . Num súbito movimento tirou o vestido, com um
pouco de dificuldade, pois a mulher enfim entregara-se por completo. Ele a
comandava agora. Aquele olhar desafiador não o assustava mais.
Renda preta, ela estava usando renda preta por debaixo daquele vestido
vermelho. Muito previsível – ele pensou –. De fato realmente era, e isso lhe
trouxe um certo nojo inexplicável, acho que pela comunidade que aquele par de
peças trazia, isso o fez refletir de novo se valia pena. Ela era uma mulher
comum, que usa sempre as mesmas roupas “para deixar um homem louco”, isso tirava
completamente sua excitação, e aumentava seu medo. Claro que não foi por mal,
com certeza a infeliz queria causar-lhe um apetite maior. Perca de tempo. Ele
preferia as calcinhas brancas de algodão, elas davam um ar de “Lolita”, e isso
sim o deixava louco.
Começou pelo sutiã. Levantou-a de modo que ficasse de costas para ele,
jogou para frente os longos cachos ruivos de modo que dava para ver o zíper e
assim devagar poder abri-lo. Esse cabelo foi o motivo pelo qual ela foi a
escolhida. Ele poderia ter outras, mas uma ruiva não se encontra todo dia, e a
sua curiosidade sobre a cor dos pelos pubianos da moça também era grande.
“Será que eram também ruivos?” Foi a primeira coisa que lhe veio à cabeça e que
só fez com que ele fortalecesse sua escolha.
Tirou o sutiã, já solto, devagar e o jogou longe. Logo em seguida
pôs-se de frente à ela, contemplou por um instante os seus seios brancos como
leite antes de envolve-los com sua língua quente e molhada. Deu atenção especial
a seus mamilos dotados de uma cor rosada que o hipnotizava. Mordeu-os com
cuidado, para não deixar marcas. E nesse jogo ficou por tempo indeterminado, até
sua primeira ereção.
Mesmo assim, mesmo com aquela estafa que a ereção proporcionou, ele
continuou. Deitou-a, deu alguns passos para trás de modo que desse para vê-la
por completo e ficou lá, nu, estático, sem pensar em nada, apenas olhando. E ela
sem dizer nada, totalmente submissa.
Chegou perto dela, esticou suas pernas, que antes estavam
semilevantadas, e lentamente começou a tirar sua calcinha. Sua expectativa sobre
os pêlos aumentava, dentro de alguns segundos ele saberia se tinha valido a sua
escolha. Hesitou por um instante e num movimento brusco arrancou a calcinha que
chegou a rasgar devido a força.
A sua decepção foi tamanha, não eram ruivos os pêlos. Ela, aquela vaca,
com certeza pintara o cabelo, e ele nem percebeu. Mas não havia tempo a perder,
com seu membro já ereto penetrou-a sem qualquer invólucro. Movimentou-se para
frente e para trás em staccato, ele de pé e ela deitada na beira da mesa. Não
havia tempo para qualquer coisa oral que numa situação menos “apertada” seria um
prazer.
Não parou um só momento até sua segunda ereção chegar, essa não foi tão
repentina como a outra. Vestiu-se o mais rápido possível, e começou a procurar
as roupas da infeliz. A adrenalina subia-lhe a cada segundo que passava.
Cada segundo procurando uma peça de roupa era um segundo a menos para vesti-a,
cada segundo a menos para vesti-la era um segundo a menos que ele tinha para
maquia-la, aliás, era para isso que ele estava lá, para maquiá-la.
Seu serviço era famoso entre as pessoas do ramo. Maquiara muitas
celebridades, tanto homens como mulheres, essas lhe davam mais prazer claro.
Costumavam dizer que ele às deixavam como vivas, sorrindo, e que isso era
bom. Perguntaram seus métodos várias vezes, mas ele negou, não disse uma
palavra sobre o assunto.
Rapidamente terminou de maquiá-la. Foi o tempo dos familiares do
defunto chegarem para ver como estava indo o trabalho.
“O trabalho está terminado”. Disse ao pai da moça. A tristeza do pai
diminui perceptivelmente ao ver um leve sorriso no rosto do corpo estirado na
mesa fria de mármore. Ela estava com o vestido vermelho que tanto gostava.
Estava com uma aparência boa.
Contudo que não olhassem as roupas de baixo da moça tudo estava
perfeito. Apenas os cortes e o sangue que antes havia foi limpo. Seu rosto,
antes desfigurado, até parecia aquele de antes do acidente.
Uma perda lastimável.