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064
19 de
maio de 2002
são
paulo curitiba rio de janeiro lagarto
>>>
n
e s t a e d i ç ã o:
palavras
que deveriam existir jogo do currículo faca,
hímens e irquízias mais virunduns roy & godzilla
debussy em azul colombo e a galinha
cpf no céu star
trash II sem adeus
>>>
editorial
Reza
a lenda que os colonizadores ingleses, ao chegarem à Austrália, ficaram
espantados em encontrar um estranho animal com uma bolsa na barriga que
se locomovia dando largos pulos. O Capitão Cook mandou chamar um nativo
e perguntou-lhe, usando gestos, qual era o nome daquele bicho. O aborígene
respondeu: - Khan ghu ru, khan gu ru! Anos mais tarde, outros exploradores
teriam descoberto o verdadeiro significado daquelas palavras. O índio,
ao ver os sinais que lhe faziam os ingleses, teria dado uma resposta digna
da Leka do primeiro Big Brother: - Não estou entendendo (ou seja, "khan
ghu ru" no dialeto local).
Não
é por nada não, mas esta história é engraçada demais para ser verídica,
e me soa a lenda urbana. De qualquer modo, serve para ilustrar um assunto
que sempre me interessou: etimologia, a ciência que estuda a origem das
palavras. Por que chamamos o hipopótamo de "hipopótamo"? De
onde cargas d'água surgiram vernáculos como "capicua", "ornitorrinco"
e "vernáculo"?
Shakespeare,
para variar, foi brilhante ao tergiversar sobre o assunto: "O que
há em um nome?/ Pois aquilo que chamamos de rosa/ Por qualquer outro nome/
Exalaria o mesmo doce perfume". Quem já estudou lingüística sabe
que palavras não passam de signos lingüísticos previamente convencionados
por um sistema de sinais. Ou seja, partem de uma relação semelhante
à dos sinais de trânsito, cuja lógica arbitrária faz com que vermelho
signifique "pare" e verde, "prossiga" (a não ser que
você seja daltônico).
Contudo,
cada palavra que utilizamos no dia-a-dia tem a sua história, e reflete
as evoluções culturais sofridas pela sociedade em que vivemos atualmente.
Há quinze anos, quem imaginaria que palavras como "popozuda",
"mouse" e "escanear" existiriam? Do mesmo modo, fico
pensando se daqui a quinze anos meus filhos conhecerão o significado de
substantivos como "vitrola" ou expressões como "futebol-arte".
***
Idiomas
são organismos vivos, que refletem as mudanças do mundo ao seu redor.
Necessitam, pois, incorporar diariamente novos jargões, neologismos e
estrangeirismos ao seu repertório, para que possam sobreviver. Caso contrário,
murcham e morrem, feito o latim e milhares de outras línguas e
dialetos soterrados nestes séculos de civilização. Faz muito bem, pois,
a última flor do Lácio, ao adaptar com ginga os anglicismos que vão sendo
incorporados, pouco a pouco, por seus poucos e fiéis seguidores, nesta
verdadeira bacanal lingüística: é assim que "whisky" virou uísque,
e "Whoop! There It Is" (refrão de uma música do grupo americano
Tag Team) se metamorfoseou no hino de todas as torcidas "uh tererê!".
Há
um ótimo artigo
da revista Bravo! deste mês que também fala sobre este assunto.
Dentre outras coisas, Sérgio Augusto, em um delicioso texto, cita
algumas palavras que gostaria que fossem adotadas pela língua portuguesa.
Por exemplo: Razbliuto, palavra russa que significa o sentimento
carinhoso que nutrimos por uma pessoa que um dia amamos. Ou Mamihlapinatapei,
vocábulo genial que pertence a um idioma indígena da Terra do Fogo.
E que quer dizer, simplesmente, o "ato de olhar nos olhos do outro,
na esperança de que o outro inicie o que ambos desejam mas nenhum tem
coragem de começar". Depois dessa, só posso dizer uma coisa: uau!
Se
bem que nós, poucos mas fiéis usuários deste quase-dialeto que é a língua
portuguesa, podemos nos ufanar da síntese contida dentro desta pequena
e maravilhosa palavra: saudade.
***
Palavras
são misteriosas, palavras são esquivas. Principalmente aquelas que não
existem, mas deveriam. Nunca sei o que dizer, por exemplo, a um amigo
que sofreu uma pessoa querida: "sinto muito" me soa muito distante
e vago. E o que dizer sobre aquele frio na barriga que surge na primeira
vez em que vemos uma pessoa que entorpece nossa língua, tolda nossos sentidos,
faz nossos ouvidos zumbirem e os olhos se boquiabrirem?
Há
palavras e expressões que perderam o sentido de tanto serem repetidas.
Um exemplo: existe frase mais banalizada do que "eu te amo"?
Oras, Roberto Carlos diz isso à bola antes de uma cobrança de falta;
Schumacher, ao Rubinho depois de uma marmelada ferrarista; Ozzy Osbourne,
ao rock n' roll em cada episódio de seu reality-show; Jade, aos seus maridos
e todos os personagens interpretados pelo Murilo Benício na novela das
oito. Sábios eram os gregos, que possuíam quatro verbos para dizer amar:
"erao", ligado estritamente ao amor erótico; "filéo",
o amor de amizade, de querer bem ao outro, de gostar; "agapao", o
amor ligado à satisfação de um desejo; e, finalmente, "stergo",
o amor cujo impulso básico é a proteção do outro. Um amor como a dos pais
por seus filhos; galinha protegendo pintinhos sob suas asas.
***
Recomendo,
a quem encontrar, um livro intitulado "O Desejo". Um volume
que compila diversas conferências sobre o assunto do título, organizado
pelo filósofo Adauto Novaes e publicado pela Companhia das Letras. Todos
os textos são fascinantes, mas há um em especial que me marcou desde a
primeira leitura, e que gerou em mim o interesse pela etimologia. É "Os
Caminhos do Desejo", escrito pelo filólogo Flavio Di Giorgi; um artigo
delicioso e muitíssimo bem-humorado, no qual ele relata as origens etimológicas
da palavra "desejo". Que é proveniente do verbo latino desiderare,
que por sua vez descende da palavra sidus, "estrela".
Segundo a explicação de Di Giorgi, desiderare vem da linguagem
dos adivinhos que tentavam interpretar o futuro em Roma. Que observavam
os astros e tentavam decifrar o que iam acontecer. O ato de contemplar
os astros chamava-se considerare, de onde veio o português considerar
(ou seja, observar as estrelas e a partir delas extrair uma conclusão
sobre os eventos futuros).
No
entanto, e pra quem está desesperado de tudo, feito eu depois que vejo
meu extrato bancário? Aí os romanos falavam para o pobre coitado vislumbrar
as estrelas em busca de algum alento, Mas o sujeito, desanimado da vida,
dizia: "não adianta, estou perdido". Isso era desiderare,
"desistir dos astros", isso é desejar: ter a certeza
da ausência. Não tenho o que quero ou preciso, e por isso desisto
de especular sobre o futuro. Tenho a consciência de que não possuo o que
quero, e passo a tomar a atitude que me resta: desejar, porque passo a
ter a certeza da ausência daquilo que não tenho. Reconheço a ausência,
desencano de ficar mirando os astros, e sonho com a busca daquilo que
me falta. Orbito, portanto, sob a esfera do desejo.
Fala
sério: depois de uma explicação tão bonita, dá ou não vontade de passar
a vida inteira estudando etimologia em busca de respostas como essas?
>>>
o
jogo do currículo
Quando eu trabalhava em turismo, às vezes, enquanto redigíamos no computador,
eu e o cara que sentava do meu lado, costumávamos brincar de uma coisa.
Se fosse dar um nome a essa brincadeira, chamaria de Jogo do Currículo.
Era assim: De repente ele dizia "Já fui pra cama com uma francesa".
Ponto pra ele. "Nunca dormi ao relento". Se eu rebatia dizendo
"eu já", era ponto pra mim. Ele então dizia: "Já tive
uma banda". Como eu nunca tive, ponto pra ele. E assim vai. É bastante
divertido e não impede que você pare o que está fazendo. Baseado nesse
jogo...
já dormi num sleeping bag
nunca beijei um ator de tv
já fui na casa do Chico Buarque
nunca namorei um cara estrangeiro
nunca fui expulsa da escola
nunca roubei nas lojas americanas
nunca dancei tango
nunca vivi um romance em alto mar
já tomei absinto
já vi o Hugh Grant na rua
nunca dei um tapa na cara de alguém
já beijei numa roda-gigante
nunca plantei uma árvore
nunca fiz strip-tease
já me perdi em paris
nunca andei de helicóptero
nunca comi camarão
uma vez pulei a roleta do metrô de NY e um policial me segurou pelo
braço
nunca matei um animal (inseto não conta)
já catuquei o Roberto carlos sem saber que era ele
nunca fui a primeira da classe
já viajei de primeira classe
nunca acampei
nunca fui parar na delegacia
já tive uma horta
já andei de trem bala, trem de prata e navio
já nadei no oceano pacífico
Na verdade o Jogo do Currículo não tem fim. Faça sua lista também :)
P.S.
DO EDITOR: Faça o seu curriculum vitae você também, e participe deste
delicioso jogo. Ah, e aproveite para visitar o blog dos currículos:
http://curriculo.blogspot.com.
>>>
conto
Estou
pensando numa cordilheira de fracassos, numa lesma com asas, numa faca
dupla com empunhadura de seda, numa caixa de música, na escassez do tempo,
num corte supurado, numa menina judia no porta-malas de um Chevrolet,
numa rua cujo nome não diz, numa borboleta tatuada na coxa de uma bailarina,
numa construção funerária, num cheque descontado, numa vagina cujo fundo
escuro é o amanhecer de Tirésias, numa espingarda de repetição, num montículo
de cocaína, nos dezessete tipos de hímens, num afogamento azul-rósea,
num copo de excremento, num amor recém-conquistado, num senhor chamado
Isaac Babel executado na prisão de Lubyanka no dia 15 de janeiro de 1940,
numa prostituta bebendo gim tônica, num filme, num livro, numa obturação,
numa estrela, numa vela acesa, numa fatia de queijo, num cheiro vermelho,
numa eventualidade trágica, numa corda de aço, numa ilusão de ótica, numa
metafísica paraconsistente, num nariz grego, numa aporia, numa piscina,
numa atrofia óssea, num cardume de merluzas, num cinismo reservado, numa
cabana em chamas, num pote de irquízias, numa cortina estampada, num espancamento
de cinto até que se urine, num golpe de ar, numa bonomia endomingada,
num laço de seda ao qual se amarra faca dupla à empunhadura e se o arroja
a uma cordilheira de fracassos: e isso tudo me lembra de algo que nunca
importou.
>>>
v
i r u n d u n s
Você também
cantava "virundum ipiranga às margens plácidas"? "Mire-se
no exemplo das mulheres de antenas"? "Trocando de biquíni sem
parar"? "Scooby-Doo dos sete mares"? Mande suas (re)interpretações
para [email protected].
Sobre as letras mal
entendidas..
A PRAÇA - Quando pequeno
eu cantava afoitamente "Sentei naquele banco lá pra cima só porque..."
ao invés do correto "Sentei naquele banco na pracinha só porque..."
Ainda pequeno, o jovem
Gugu cantava acompanhado de seu mini-violão, em Melô do Marinheiro dos Paralamas:
"Entlei de gaiato no navio.. entlei ... entlei ... entlei formigão (!!!)".
Agora um pouco mais
velho: "Todas vez que que vejo, as baleias no oceano"... em vez
de "totalmente beautiful, as baleias no oceano", dos Mamonas.
Em Píntura
Íntima, do Kid Abelha, eu cantava "larga logo desse espelho/ não
reparou que eu tô até sem jeito", em vez de "vermelho".
>>>
roy
buchanan empurra godzilla pelo beco
Roy foi pro céu em 88, em circunstâncias suspeitíssimas. Preso numa blitz
porque dirigia bêbado e cheirado, arrastaram ele pruma delegacia em Washington,
onde supostamente ele cometeu suicídio enforcando-se com o próprio cinto.
Lembra Herzog, né não? Pois vejam, isso também acontece nos Estêites. O
corpo dele permaneceu congelado num freezer por uns dez anos enquanto corria
um processo criminal movido pela sua mulher contra a polícia, pois ela não
se convencia com a versão oficial. Sabia que o marido, apesar de louco,
não era burro, e não ia enfiar o pescoço no laço do cinto e ficar sufocando
até morrer. O processo deu em nada (pois vejam, isso também acontece nos
Estêites) e Roy acabou sendo enterrado dez anos após a sua morte, como um
maldito peixe congelado.
"When a Guitar Plays the Blues" é o álbum dele que eu mais gosto,
e recomendo. Todas as músicas são excelentes. Existem coisas, neste CD,
que assustam. Não à toa, Jeff Beck é fã de Buchanan - e isso, sejamos francos,
não é pouca coisa. Examinemos "Sneaking Godzilla Thru The Alley":
o piano começa em uníssono com o contrabaixo, num lento mantra que sugere
uma criatura pesada caminhando. A guitarra de Roy geme, como um gato de
beco, soltando longos lamentos oscilantes. O tempo passa e a situação começa
a ficar mais séria. A guitarra deixa de ser o animal dócil que iniciou a
música; agora entramos no perigoso terreno da insanidade. Uivos pavorosos,
gritos, ecos, o caos e algo além. No fim, misericordiosamente, Roy alivia
a mão e voltam os gemidos da guitarra, magoada depois de tanta pancadaria.
CORTA!
Karen me falou, baixando os olhos, que faria o que eu quisesse. Bastava
pedir. Estávamos sozinhos no apartamento. Mamãe havia saído.Pedi, encostando
a boca no seu ouvido. Enquanto ela tirava a roupa, revelando a brancura
tóxica daquela pele tenra, coloquei "Sneaking Godzilla Thru The Alley"
para tocar. Os gemidos da guitarra se confundiram com os gemidos dela, que
me disse, olhando para trás: "dói, mas não pára". Naquela tarde
de outubro, Roy empurrou Godzilla pelo beco. E eu segui seu exemplo.
>>>
A
coisa mais bonita que ele já fez pra mim foi ouvir Debussy. Ele nem conhecia
Debussy, nem sabia que a música dele era tão azul. Mas sabia que a minha
cor preferida era azul e por isso quis ouvir também.
A
noite de estréia estava calma. Daquelas em que você abre a janela e está
fazendo um silêncio e o barulho o faz lembrar do interior, ainda
mais quando você olha os sobradinhos da rua de trás do seu prédio. Tudo
fazia você lembrar de que São Paulo é ainda uma cidade que tem esperança.
A noite estava preta-escura. Havia brisa. E se você olhasse pra cima,
e imaginasse tudo quanto era luz apagada e parasse de querer inventar
histórias pra todas as luzes que via acesas nas casas e nos prédios, conseguia
até imaginar as estrelas.
Aí
ele colocou o disco pra tocar na vitrola. Eu tinha dito há muito tempo
que era mais bonito escutar Debussy se tivesse ruído das ranhuras do disco.
E tirou da pasta uma carta minha, de muito tempo atrás, quando eu ainda
gostava profundamente dele. Eu a tinha escrito em papel de partitura.
Achava lindo escrever cartas em papel com pauta de música. Ele leu a partitura,
sem conhecer qualquer das notas, sem nem saber a diferença do bemol para
o sustenido, nem da clave de fá pra clave de sol. Nunca tinha ouvido falar
em compasso três por quatro. Mas entendeu tudo e passou a achar que Debussy
era o seu compositor predileto, mesmo sem conhecer qualquer coisa de música
erudita.
Ele
nunca escreveu de volta e eu nunca soube de nada disso.
>>>
p
e r g u n t a r n ã o o f e n d e
"Se
Colombo botou o ovo em pé, o que diabos faz a galinha?"
Podre
galinha... pare pra pensar na quantidade de corações de galinha que comemos,
na quantidade de nuggets que estão nas prateleiras dos mercados, na quantidade
de McChickens que o McDonalds prepara, na galinhas de padaria (televisão de
cachorro), enfim... são granjas enormes onde os bichinhos ficam confinados
só comendo e defecando. As luzes ficam acesas à noite para que elas não durmam,
comam mais, engordem mais... a galinha é quase uma peça em uma indústria...
pobre galinha... PS: Adoro peito assado.
Nesse
caso, a galinha é eminência parda esperando pra virar "eminência
ao molho pardo"
A galinha
utiliza o meio mais cômodo...
Ora
bolas, Colombo botou o ovo em pé, mas a galinha o faz deitada...
Ela
trepa com o galo e faz ovos, sentadinha. E ela também serve para ser fritada,
com óleo quente, para virar nuggets, ou "frango a passarinho", ou
frango a milanesa, ou...
A
galinha?????? A galinha ficou com Colombo, ficou com meu ex e vai ficar com
você... porque é isso que galinhas fazem....
Colombo
foi apenas o testa de ferro!
Colombo
não passa de um grande filho da puta! Pronto... falei mesmo!
pergunta
da próxima semana:
"Que
time é teu?"
Orlando
Tosetto Júnior, editor do Spam especial FUTIBA, sempre respeitando
o adversário e seguindo as orientações do professor, aguarda por
seu peteleco: [email protected].
miniconto
do desconforto - 6
Em
seus mais horrendos pesadelos pecuniários, ele morria exatamente como
Poe, encontrado na sarjeta, sonhando com uns trocados para tomar a saideira.
A vida inteira o dinheiro fugira de suas mãos como se fosse um leitão
a caminho do abate. Estava a um passo da mendicância, morando de favor
num canto da lavanderia do sítio da ex-sogra, que apesar de tudo gostava
dele. Uma noite, pensou nos filhos, agora vivendo em Rondonópolis, e derramou
amargas lágrimas. Prostrou-se e fez uma prece a Santa Edwiges, soluçando,
pedindo um milagre, prometendo entregar a alma ao jugo de Roma. O milagre
aconteceu dois dias depois, quando teve um derrame em meio ao sono e,
como disseram, passou desta para a melhor.
A melhor até descobrir
que para entrar no céu era preciso RG da alma, CPF (Cadastro de Plasma
Funéreo), comprovante de consciência e certidão negativa de pecados.
>>>
star
trash II - missão a bolfogrameidos - capítulo 2
pedro
vitiello [email protected]
No capítulo anterior:
Em nosso último capítulo havíamos acabado de descobrir que nosso herói se
encontrava em "um problema classe alfa, com prioridade ômega, uma
improbalística neutrônica causada por causa do reator atômico numero 3,
que estava apresentando aumentos na emissão de neutrinos e, portanto, em
vias de explodir "(ufa). Ou seja, um pepino realmente cabeludo.
Seguimos com o relato
do Comandante Estelar Shultz para maior fidedignidade desta heróica missão:
Dia 8 - continuação:
Estávamos com um
pobrema. Alias, um pobremão (não confundir com "poblema". Pobrema"
é da vida e "poblema" é de matemática): um motor prestes a explodir,
um tripulante gravemente ferido na ponte de comando e um pusta azarado para
resolver isso: EU! E eu sei cientificamente porque isso estava acontecendo:
fui escoteiro em minha outra encarnação. Só sendo uma coisa assim para merecer
tanto sofrimento. Odeio escoteiros (tive um trauma horrivel com um grupo
deles... era uma noite escura e eles falaram "tio, tio... quer atravessar
a rua?" e puxaram um canivete para mim). Essa gangue de pivetes tem
de ser detida. Todos os dias milhares de pessoas são obrigados a atravessar
as ruas, mesmo que não queiram ir naquela direção, por crianças vestidas
como idiotas (ou por seus lideres, que são idiotas vestidos como crianças),
mesmo que não queiram atravessar...! Horrivel. Vou mandar colocar um adesivo
no vidro traseiro da nave "Eu atropelo Escoteiros".
Bom, relatava eu
que estavam todos em pânico. Uma situação absolutamente normal, aliás, para
qualquer tripulação sob meus cuidados. A Comandante Ripley saiu para tomar
analgésicos para o alien em sua cabeça; o robô-de-assassinato-em-massa-tortura-e-jardinagem,
3/Oitão, continuava desligado para nossa felicidade. Apenas o Capitão Floquinhos
(especialista em crises capilares em zero-g) contribuiu para acalmar a moçada,
distribuindo sachês de shampoo anti-caspa. Não funcionava, mas era pelo
menos uma tentativa.
Então tive a idéia
da minha vida. Empolgado, assumi a voz de comando e comuniquei para a tripulação:
- Muito bem, macacada! Acabou o problema! Que tal se nós... (fiquei em silencio,
criando aquele clima de suspense antes dos urros de saudação da equipe)
... desligarmos essa porcaria desse motor??? - disse com um ar de triunfo!
Muxuxos na tripulação.
Não era o entusiasmo que esperava. Pena, a idéia parecia tão boa...
- Ok, putsgrila,
por que esse desânimo, gente? - disse sentando desanimado em minha poltrona
e me preparando para puxar a alavanca de trava. - Só porque estamos
com um motor em super aquecimento, prestes a implodir e a bordo de uma lata
velha, indo aonde nenhum homem jamais quis perder o tempo de ir??
- Bem, senhor (era
Don Casmurro, meu especialista em jogos e apostas)... como o senhor CERTAMENTE
já sabe - disse com uma inexplicavel crise de pigarro - desligar um motor
assim é uma situação de risco, pois as chances de religar o motor são de
49,07%, o que pode nos deixar perdidos no espaço, nos forçando a
uma jornada nas estrelas que pode nos levar a inúmero conflitos.
Já imaginou uma guerra nas estrelas? O comandante Buck Rogers,
no século XXV, disse ...
- Tá, chega de referências
inúteis. Outra opção?
- Sim... Tem o senhor!
- Eu?
- Como autoridade máxima, pela cláusula 275/65 da CICA, cabe ao senhor assumir
o risco de vida pela tripulação, arrumando manualmente o motor em uma sala
cheia de radioatividade (P.S: li depois a tal cláusula e ela só diz que
cabe ao membro mais inútil da tripulação este tipo de coisa. Um engano de
interpretação de Don Casmurro, sem dúvida).
- Aaaahhhh booommm!
Sendo assim ....TRACK! - disse eu puxando violentamente a "Trava Operacional
Padrão de Tecnologia Originada por Perigo TOPTOP!
Já viram uma nave interespacial dar um cavalo de pau? Nem eu, estava preocupado
demais enjoando e vomitando. Ao menos a gravidade artificial estava funcionando.
Paramos na órbita
de um planeta, classificado como Mafolgagalfos IV (diga depressa três vezes),
o que era estranho por dois motivos:
1) O Computador sabia
o nome do planeta, o que significava que ele não era um monte de fios inúteis
como eu imaginava;
2) Contrariava as
leis de Newton de continuidade de movimentação, mas isso é um detalhe irrelevante
para a história, e é mais legal acabar a história assim do que com um monte
de neguinhos indo em super velocidade ao grande nada ad eternum...
PS DO EDITOR:
confira a emocionante parte I desta singela aventura no Spam Zine 060 (pedidos
de edições anteriores para [email protected]).
>>>
in
perfeição
Numa tarde tranqüila, ele foi-se embora sem dizer mais que um adeus. Ou melhor,
disse muito, mas disse antes, antes da hora final, entre as coisas que não
fazem sentido e todo o resto do universo que suplica explicações. Falou muito
durante toda noite, mas ninguém, nem mesmo quem o amava, soube compreender
que a próxima atitude seria muito mais que palavras insanas, metáforas e metonímias.
Ele todo era uma figura de linguagem, com seu jeito extremamente perfeito
que chegava a incomodar. É do tipo do cara do filme, em que se é tão perfeito,
que ninguém consegue ter um relacionamento, porque nunca se perdoaria magoar
alguém assim. Sem hipérboles. O dia-a-dia não tirava o tesão, a mesma comida
todo dia nunca tinha um sabor igual, e sempre comiam pizza aos sábados e dançavam
até se dar conta que era domingo de manhã e estavam na beira da praia sentados
na areia. Sem mais, num dia tranqüilo, foi arrumando as coisas, separando
algumas sacolas, tentando discernir quais era os seus CD’s e livros. Costumava
discutir baixo, mas falar muito. A palavra certa é irritar, porque ninguém
em sã consciência, no auge do stress consegue ficar calmo com a outra pessoa
em tom de padre rezando missa em latim, e medindo palavras. “Xinga, esse caralho,
pô! Vem pra cima com tudo, vem! Quero ver se tu é bom de briga mesmo...” mas
não. Quando brigava, enrugava a testa, ia até a geladeira e tomava um copo
de leite desnatado, e quem quisesse que cuidasse do próprio fígado, porque
o dele, o ódio não comia nem na cova. Quando estava muito irritado, ouvia
Enya. Quando a calma e o marasmo tomavam conta daquela alma, ouvia The Velvet
Underground, Led Zepellin e Billy Holliday. E sempre sorrindo, até na hora
que se foi, carregando as mochilas religiosamente fechadas, já podendo-se
imaginar a arrumação meticulosa, as coisas pesadas embaixo, as leves de lado,
as de maior uso em cima, coisas sem utilidade na parte de trás. Com certeza,
uma prova de fogo aos que se irritam com zumbidos de mosquito às três da manhã
no ouvido. Vontade de voar no pescoço daquele cara e mandar ele tomar alguma
atitude, mas nada que o levasse embora. Nesse dia, não ouviu-se nada no som.
O café estava um pouco mais açucarado, e não foi preciso fazer o almoço, pois
o sustento foi à base de cream cracker com café, talvez para agitar um pouco
mais os nervos. Então, ele recolheu as sacolas num canto, e numas poucas palavras
disse que “não, não perdi o tesão por você. Eu sinto tesão por você. Acho
que perdi o tesão pela vida. Ela está perfeita demais.” Talvez um dia volte,
quando souber dizer palavrões, se irritar, reclamar do arroz grudado demais
e da telefonista da operadora do celular, para aí sim, a vida tornar-se perfeita.
Ainda pôde-se vê-lo caminhando, sem rumo certo, e do lado de cá do portão
branco e sem ferrugem, nada mais que uma lágrima da possível saudade daqui
a alguns segundos, na casa vazia e no vazio da alma. “A vida era mesmo imperfeita,
de tão perfeita. Quem sabe agora eu consiga chorar.”
>>>
f
a l a q u e e u t e e s c
u t o
Ninguém
aqui na redação é um barrichello da vida, mas damos todo o espaço para
que você passe pela gente deixando conosco seus desabafos, confissões,
reclamações... Nosso mailbox não tem jogo de equipe, confira: [email protected].
----- Original
Message -----
Sent: Sunday,
May 12, 2002 10:37 PM
Subject: [Conteudo
Negado]
-----------------------------------------------------------------------
Mail-Info
From:
"[S p a m Z i n e]" <[email protected]>
To:
<Undisclosed-Recipient:@traven10.uol.com.br;>
Rec.: [email protected]
Date: 12/05/2002
23:00:20
Subject: [S p a m Z i
n e] - edição 063
-----------------------------------------------------------------------
Seu e-mail não foi entregue para o destinatário, pois foi encontrado palavras
de conteúdo proibido.
'esporte' found in ' ***
Só os mais ingênuos ainda acreditavam
que esporte era coisa de apaixonados. ' !
'cabaço' found in ' Na verdade, este colega
tem 28 anos e ainda é
virgem, cabaço. ' !
'vingança' found in ' Em uma viagem, o
programador incentiva o colega
a estuprar uma garota, como forma de vingança por toda a rejeição que
ambos
sofriam por parte das mulheres. ' !
'sexual' found in ' Em diversos
momentos do filme, o protagonista
se masturba como forma de alíviar seu fiasco sexual e incentiva seu amigo
a
fazer o mesmo. ' !
'sexo' found in ' Esse site levará o nome
da minha ex-banda: Sexo
Acústico. ' !
Mail has not been
delivered!
inagaki
responde: Ok,
vá lá: "cabaço" e "sexual" podem até ser palavras censuráveis
por certos filtros instalados em servidores de empresas. Mas "vingança",
só se for de algum demitido jurando dar uma de Osama Bin Laden em cima do
ex-patrão. E "esporte", seria porque a Selipão Brasileira anda
jogando um futebol de m...? Só quero ver quais serão as palavras censuradas
desta edição.
----- Original Message
-----
From: "Marcelo
da Cruz Oliveira - Redacao Net Brasil - Editora Globo"
Sent: Monday, May 13,
2002 10:16 AM
Subject: Na rua na
chuva na fazenda (casinha de sapê)
"O clássico que
a leitora disse ser do Kid Abelha é do grande cantor brasileiro e guitarrista
de soul music, dos anos 70, Hyldon. Por favor, dêem o devido crédito. O Kid
Abelha fez apenas uma razoável versão da música, inferior à dele por sinal"
----- Original Message
-----
From: "Pedro Gonzalez"
Sent: Wednesday, May
15, 2002 8:30 PM
Subject: a musica nao
eh do kid abelha!
"furo de reportagem: (...) a música não é do kid abelha, provavelmente
o leitor ouviu a versão desta banda. a música é de cassiano e hyldon, compositores
brasileiros do final da década de 70, que além desta, fizeram outras belíssimas
músicas!"
inagaki responde: Nossos atentos leitores Marcelo e
Pedro entraram em contato com a redação do Spam Zine devido a um email da
leitora sfs10 (desconheço o significado) publicado na edição passada, na qual
ela creditava erroneamente a autoria da música "Na rua, na chuva,
na fazenda" ao grupo Kid Abelha. Pedro, valeu pelo email: mas preciso
dizer que o Marcelo deu a informação mais correta: a canção foi composta unicamente
por Hyldon (Cassiano compôs outros sucessos da soul music brasileira como
"A Lua e Eu"), e sua gravação original consta no álbum que Hyldon
lançou em 1975. A propósito: minha cara "sfs10", se você
estiver nos lendo, saiba que o leitor Niqui Lang está querendo trocar idéias
contigo. Mande seu alô para [email protected], ok? Forte
amplexo a todos!
>>>
c r é d i t o s f i n a i s
roda,
roda, roda e avisa...
quem quer
bacalhau??
P.S DO EDITOR: os créditos finais desta edição foram sugeridos pela assinante
Flávia Ballve-Boudou. Valeu, Flá!!
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Spam
Zine - fanzine por e-mail
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p.
s.
inagaki: visitem http://sites.uol.com.br/navirada/index.html e
prestigiem o lançamento do livro "Na Virada do Século - Poesia de Invenção
no Brasil", antologia reunindo 46 poetas brasileiros contemporâneos,
e organizada por Claudio Daniel e Frederico Barbosa. Um motivo especial para
os assinantes do Spam Zine adquirem o livro é que, além da presença de nomes
já consagrados como Glauco Mattoso e Antonio Risério, há um poema do nosso
camarada Lau Siqueira! Que estará, muito provavelmente,
prestigiando o lançamento do livro em João Pessoa, dia 26 de maio, a partir
das 18 horas, no Café Literário da Fundação Espaço Cultural da Paraíba. Dia
26 de junho o lançamento será em São Paulo, no Fnac da Av. Pedroso de Moraes,
858, Pinheiros, a partir das 19 horas.
inagaki:
outra boa pedida é o lançamento do livro "Vidas Cegas", do grande
Marcelo Benvenutti. Quem já teve a oportunidade de conhecer seu trabalho por
meio de projetos como os ezines Folha Mutante e
K Zine está
esfregando as mãos antes de pôr as mãos em seu primeiro livro. Adquiram sua
obra por intermédio do site http://www.livrosdomal.org.
E, para quem estiver em Porto Alegre, não deixe de dar um pulo até o lançamento
oficial do livro, que ocorrerá
no dia 21 de maio, a partir das 19h, no Bar da Esquina (antigo Filé &
Cia), situado na Rua Jerônimo de Ornellas, 431, no bairro de Santana.