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063
12 de maio de 2002
curitiba   são paulo   goiânia   graubünden   joão pessoa   campo dos goytacazes   rio de janeiro
 
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n e s t a  e d i ç ã o:
 
vergonha em vermelho   pãozinho imbolorável   sessão onânica   sol professor   brevidade silenciosa   manual para festas, bailes e afins   pequeno desespero   eta, vampeta
 
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editorial
ricardo sabbag  [email protected]
 
João acordou cedo no domingo para ver a corrida, como sempre faz quando tem prova. Era fã dedicado do Senna e, meio resignado, continuou acompanhando ano a ano o campeonato. Entusiasta do Rubinho, nunca foi. Mas era ele quem estava lá correndo e, por mais promissores que pareçam, os jovens pilotos nunca iriam disputar as primeiras posições. Não fariam os melhores tempos e não dariam a João a falsa impressão de que seria possível ganhar uma das corridas do ano.
 
Uma vez ele já tinha visto Rubinho deixar Schumacher passar para vencer a corrida em seu lugar. Ficou meio assustado com a atitude, mas até que entendeu. Ele estava pressionado. Época de dificuldades com a Ferrari, se saísse dali poderia pegar o boné e pedir carona para uma daquelas novas categorias que surgem nos Estados Unidos a cada dia. Ficou imaginando João o coitado levando bronca no ponto enquanto se esforçava para manter a cabeça no lugar devido à força da coluna de ar. Perdoou-o no fim das contas.
 
Mas João não acreditava que Rubinho fosse capaz de fazer a mesma coisa novamente. A decepção era abusrda após ver seu compatriota andar o tempo todo na frente e, nas últimas curvas, tirar o carro para deixar o alemão passar. Foi como se João tivesse pego seu herói de infância fazendo conchavos com o vilão. Era impossível acreditar que aquela cena novamente se repetira.
 
Naquela manhã, João, que precisava tirar uma soneca a mais antes que a castigadora semana recomeçasse, chorou ainda com os olhos remelentos. Chorou de raiva. Não simplesmente por se sentir derrotado. Mas por se sentir humilhado em ser um entre os milhões que presenciaram a cena patética. "Como eu sou idiota", pensou o trabalhador.
 
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A história de João é fictícia, mas baseada em fatos reais. Por sorte, ele ainda vai poder caçoar do piloto brasileiro na manhã de segunda, quando chegar ao trabalho. Rubinho não terá a mesma sorte. Desde que se levantou de seu cockpit ao final da prova, precisa encarar todos os olhares inquisidores: torcida, imprensa, colegas, mecânicos. Terá de desviar seu olhar de vergonha até mesmo do faxineiro que limpa as privadas do circo da Fórmula 1.
 
Que não se engane: Rubinho provou que pode ser o piloto mais rápido de quando em vez. Simplesmente seguiu regras que seus patrões lhe sopraram ao ouvido. Pensou, provavelmente, no recém assinado contrato milionário de dois anos. Como quando eu e você quando somos obrigados a acatar ordens idiotas de nossos superiores. É ridículo, mas são eles quem nos pagam nossos salários. Se seu orgulho é maior que isso, a porta da rua é serventia da casa.
 
Acontece que nossos empregos não dependem de audiência. Digo, em alguns casos, até dependem. Mas não sobrevivem necessariamente devido a uma relação passional com o público como é o caso da indústria esportiva. Você assiste aos jogos de futebol porque torce. Se seu time perde, xinga a todos. Depois, aos poucos, vai retomando a paixão, conforme for o desempenho da equipe. Com a Fórmula 1 não é diferente. Aos fãs que sobreviveram à morte de Senna, ver Rubinho nas cabeças de vez em quando fazia renascer a emoção que se sentia ao ver nossos pilotos - sempre campeões - vencendo provas e campeonatos.
 
Mas nesse domingo, definitivamente, Rubinho traiu a confiança de seu público. Optou por assegurar seus milhõezinhos por mais algum tempo e renegar definitivamente o carinho que a torcida sentia por ele. Não que ele, pessoalmente, devesse a qualquer um de nós satisfações pelo seu trabalho. Não fomos nós que o colocamos lá - foi a condição financeira de sua família, e, no máximo, o empurrão de alguns dirigentes. Mas Rubinho, repetindo a façanha anterior, exibiu de forma nua e crua que aquele circo só está ali para movimentar aquela montanha de dinheiro e não para pôr em prática uma competição que é a paixão de milhões de pessoas. E o dinheiro, infelizmente, é dado por essas mesmas milhões de pessoas, indiretamente, quando (novamente) depoistamos nossa confiança nos seus patrocinadores. Em última instância, Rubinho cuspiu no prato que comeu.
 
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Só os mais ingênuos ainda acreditavam que esporte era coisa de apaixonados. Não é. Virou um negócio. E se é um negócio, nós, como consumidores, deveríamos fazer valer nossos direitos.
 
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A edição de hoje não tem propriamente a ver com a Fórmula 1. A única referência distante é a de Ricardo Garrido, que comenta a importância da convocação de Vampeta para a Copa do Mundo. Ademais, vamos também de knäckebrots, com Ellen Aprobato escrevendo direto da Suíça (Graubünden), e dos Minicontos do Desconforto do carioca André Machado.
 
Há ainda outras contribuições não menos valiosas. E aguardem: em breve, o especial FUTIBA, comandado por nosso co-editor Orlando Tosetto Jr.
 
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o hospital
(arlã() [email protected] 

Eu moro perto de uma estação aonde chegam e partem pessoas todos os dias. É um hospital imenso.

Às vezes, à noite, olho pela janela, acordado que estou ao lado da minha inseparável companheira insônia, e vejo tanta movimentação no seu interior com todas aquelas luzes meio opacas, que não é difícil imaginar que ali alguém está morrendo, ou nascendo.

É um hospital público e o seu expediente é único e muito corrido. Na sua maioria são movimentações de vidas que entram na fila para se extinguirem, pois, tão carentes de médicos, quando vêm até um hospital é porque a saúde já suportou de tudo e finalmente sucumbiu e, já aconteceu, abandonam seu corpo debilitado ali mesmo nas suas dependências, porque morrer não espera. Há as vidas que entram na fila para darem à luz outras vidas. Algumas prorrompem sua presença nos corredores, porque nascer não espera.

Invariavelmente percebo crianças nas janelas esboçando um tchauzinho, entre um sorriso e um muxoxo, inocentes das coisas que acontecem, como se estivessem no banco traseiro de um carro a passeio ou simplesmente indo para a escola.

Há momentos em que pressinto algo incomum, quando os quartos estão vazios e dando a impressão de que a qualquer momento alguém ali vai chegar para definitivamente partir. Poucos entram nos quartos e saem pela mesma porta que entraram. Muitos partem madrugada afora pelas janelas, pelos vãos dos prédios, leves e tranqüilos e talvez até me olhem envolvidos n'algum mistério que não posso ver.

Serão somente pessoas todos aqueles seres de branco que observo? Serão apenas doentes ou enfermeiros que andam pra lá e pra cá, alguns tão levemente, outros tão pesadamente, mas todos correndo tanto num mesmo lugar? Ademais, flutuarão perto da minha janela as alminhas encantadas de bebês que aportam ali tão cheias de esperanças? Subirão almas de pessoas que deixaram a sua história para trás, bebendo o espaço numa outra dimensão, pois estaria certo Fernando Pessoa quando escreveu: "A vida é uma estrada. Só porque você fez uma curva e ninguém mais o vê não quer dizer que você deixou de existir"?

A partir de hoje colocarei flores na minha janela.
 
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knäckebrot
ellen aprobato  [email protected] 

Knäckebrot: pão de criação sueca, à base de farinha integral e sal, sem água e sem gordura que dura meses. Não embolora, não endurece, não estraga, não precisa congelar: está sempre fresquinho e crocante. Não precisa nem guardar num pote hermético, igual bolacha, deixe-o ali em cima da mesa, uns dois, três anos e ele vai estar igual a quando foi comprado. Maravilhoso. Igual ao "Quando florescem os Ipês", de Ganimedes José, um livro que, segundo o autor, ficou quarenta anos guardado e quando decidiram editá-lo era increditavelmente atual. Fresquinho. E lindo.

Todos nós temos os nossos pães crocantes integrais: amassamos, furamos com o garfo, assamos e colocamos no armário - na gaveta? Na parede? Aquele quadro lá, de casinhas, feito com tinta-óleo no curso por correspondência; aquelas fotos que seu namorado tirou de uns passarinhos, pra fazer o calendário de 1987; o livro de recordações do ginásio (do grupo, diria minha mãe), o teatrinho de fantoches da Bela Adormecida. Não só pedaços de inspiração, mas também sentimentos, momentos cheios de saudade, outros ares, outro ponto de vista. E, que quando revistos, apreciados, lidos, mostram que não morreram, atravessarão gerações agradando. Nosso passado sempre atual.

Tenho os meus. Agradeço à Martha Medeiros - conhece? "Quando recusei o seio ao toque/ ao primeiro homem que amei/ ele perguntou se dava choque/ e eu deixei", pela poesia. Monteiro Lobato - ninguém tem tanto jogo de cintura como ele com as letras - agradeço pelo magnetismo dos textos, minha gramática e minha sintaxe nasceram dele. Tantos outros,  o Jorge que correu comigo nas areias da Bahia, o Eça que me ensinou a trair e chantagear homens, o Antoine do planeta pequenino. Um pedaço de vocês, com certeza, estará nestas linhas. Imortais.

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s p a m  c i n e
Lembra daquele filme muito louco que você pegou na madrugada depois que chegou do festerê? Aquele que tava passando no SBT, dublado pela turma do Chaves, com cortes incríveis? Então... aproveite a sua veia literária e faça sua peça crítica. Vale qualquer coisa. Quanto mais interessante, melhor.
 
a extensão do domínio de luta
thiago medeiros [email protected] 
 
Estava numa dessas madrugadas zapeando pelos canais da minha TV a cabo quando finalmente sintonizei em algo que me pareceu interessante. Era um filme francês (mas você não precisa ser intelectual para vê-lo e entedê-lo) chamado A Extensão do Domínio de Luta, adaptado do livro homônimo do também francês Michel Houellebecq, que agora está sendo lançado aqui na Brasil (inclusive saiu uma matéria sobre este autor e suas obras na VEJA de 24/04).
 
O filme é simplesmente uma genial abordagem dramática da punheta, sob uma perspectiva sociológica. Não que o autor só fale sobre bronha. O tema central do filme é, na verdade, a solidão do protagonista, um programador de computadores que entra numa crônica crise de meia-idade e se vê sozinho no mundo por não conseguir manter relações sociais de maior profundidade. A crise dele não é por qualquer motivo: o cara está há mais de dois anos sem "dar umazinha" e a coisa mais próxima que ele chega de foder são os chats eróticos. Bem contemporâneo. O único amigo dele é um colega de trabalho, também fracassado sexualmente. Na verdade, este colega tem 28 anos e ainda é virgem, cabaço. Em uma viagem, o programador incentiva o colega a estuprar uma garota, como forma de vingança por toda a rejeição que ambos sofriam por parte das mulheres. No final das contas, o crime não acontece porque o cara "amarela" e depois sofre um acidente de carro, morrendo sem nunca provar o sabor de uma xoxotinha.
 
Em diversos momentos do filme, o protagonista se masturba como forma de alíviar seu fiasco sexual e incentiva seu amigo a fazer o mesmo. O narrador aproveita para fazer ataques ao Liberalismo econômico, culpando-o pelo atual estágio de degradação das relações humanas. O autor do livro do qual foi adaptado o filme, Houellebecq, é claramente de esquerda. Segundo ele, "atualmente, o valor de um ser humano é medido pela sua eficácia econômica e seu potencial erótico". O que não deixa de ser verdade, triste verdade.
 
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lições do sol
lau siqueira  [email protected]
 
toda manhã
é um pouco mais
que o sol
 
              um tanto além
              da luz que entra

              pela fresta da
                             
janela
 
porque toda manhã
guarda uma conferência
de pássaros e outros vivos
 
enunciados
do porque tudo
acontece
 
e todavia
é justo a lição
que toda manhã
toda gente esquece
 
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meu revólver tem silenciador
julio césar andolini  [email protected]
 
A porta não estava trancada. Este povo é descuidado. Entrei, procurei a dona da casa e quando a encontrei, tirei o revólver do bolso. Ela não gritou, pelo contrário, parecia já esperar por isso, só não achava que o momento chegaria tão rápido.

Dei dois tiros. Certeiros. No peito. Meu revólver tem silenciador, os vizinhos nunca ouvem nada. Antes de sair dei mais um na cabeça, só para garantir. Fui embora. Ninguém notou minha presença no prédio. Ninguém nunca nota. Apenas a sarjeta, mas não podem convocar a sarjeta para testemunhar.

Chegando em casa, fui logo dormir o sono dos justos. Não entendo como as outras pessoas são capazes de dormir sem matar alguém.
 
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p e r g u n t a r   n ã o   o f e n d e
"Weblogs: moda passageira ou não?"
 
andre lopes  [email protected]
Mesmo sendo um formato interessante, já passou.
 
demoniaca666  http://sad_loved_girl.blig.ig.com.br
NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO!!!!!!!!! aliás... deve ser por isso que a minha vida virtual não deve ter muita visita então...
 
ana maria tomei  [email protected]
Acredito que não. Os blogs continuaram, mas em menor número, e com mais qualidade, ou seja, só histórias interessantes. Eu tenho um blog, mas é pq eu naum seu como fazer páginas de internet. E eu naum escrevo mais nada da minha vida pq é muito chato, e tem certos detalhes que naum tem como serem escritos, aqueles olhares que trocamos entre amigas (para tirar sarro de alguém), essas coisas. Lá eu escrevo, ou melhor, colo notícias sobre Foo Fighters e outras notícias.
 
valério alex [email protected]
O que é isso??? Doença, Vício, Hemorróidas ou N.D.A.
 
Caramba, faz menos de um mês que descobri o que era um "weblog". Não tinha a mínima idéia do que era, até que... fui contagiado pela doença. Talvez eu seja o único que venha entrando todos os dias no meu blog, escrevendo matérias e coisa e tal, pois até hoje só vi um comentário e nada mais. Minto, ontem outra pessoa fez um comentário que não tinha nada haver com o assunto.... mas tudo bem. Agora, como todas as doenças do tipo dengue, resfriado, tuberculose e outras do tipo, o tal do webloger um dia há de passar.
 
A não ser que ela passe do estágio de doença e se torne um vício. Mas como eu não entendo nada de saúde pública e coisas a fim, deixo para os especialistas responderem. A minha única preocupação com isso é de o Ministério da Saúda baixar uma lei obrigando os blogueiros a colocarem uma foto com pessoas doentes (é aquelas coisas horrendas dos cigarros) com os dizeres "O Ministério da Saúde Adverte: Blogar causa males à sua saúde" A propósito, visitem o meu blog http://collorido.weblogger.com.br (ele não é prejudicial, ainda).
 
É sem graça, mas tudo bem, o que vale é participar.
 
edney soares de souza  http://www.interney.net
O conceito de weblogs sempre existiu, faltava-lhe um nome, junto com o nome veio o modismo e diversos mecanismos para facilitarem sua publicação, modismos sempre passam, porém o conceito que já existia permanecerá e dessa vez fortalecido pelas ferramentas que vieram junto com a moda mas não eram perecíveis.

[]'s!:)
 
pergunta da próxima semana:
"Se Colombo botou o ovo em pé, o que diabos faz a galinha?"
Não deixe nosso próximo editor sem uma resposta à altura. Capriche e solte o verbo: [email protected].
 
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roteiro para festinhas de aniversário em geral
hassen arbeithier  http://www.aindanaocomi.hpg.ig.com.br

Primeiro de tudo, parece óbvio, mas muitas pessoas se esquecem desse detalhe: precisamos de um aniversariante. Alguns dias antes da festa, mamãe, vovó ou titia têm que cuidar de encomendar o bolo, os salgadinhos e os docinhos. Dá pra comprar em alguns mercados, mas os melhores bolos/salgadinhos/doces geralmente são feitos pela cunhada da sua vizinha, a famosa senhora que faz doce pra fora.

Uma dica: ninguém gosta de empadinha de palmito, então pra sua festa ser um sucesso e todo mundo elogiar, vá mesmo de coxinha e bolinho de queijo que não tem erro. Nos doces, evite aquelas bolinhas amarelas com uma ameixa seca, que é a pior iguaria desde que inventaram o bife de fígado. Brigadeiro e beijinho não podem faltar. O bolo tem que ser, claro, Floresta Negra. Embora sua composição seja mais secreta que a fórmula da Coca-Cola, todo mundo acaba comendo de qualquer jeito.

O espaço físico é importante. O negócio é pedir emprestado pro seu vizinho aquela lona pra cobrir a entrada da garagem. Privacidade é tudo hoje em dia. Aproveite e pegue a furadeira e a churrasqueira, mesmo que você não use na festa em si. São coisas sempre úteis.

Começa a festa. Sempre tem um mala que chega bem antes dos outros convidados. Quando ele chega, geralmente você ainda nem tomou banho. Nesse caso, mande a mamãe fazer sala pro apressadinho, deixando bem claro que a comida só será servida no horário oficial da festança.

Todo mundo lá no quintal, e aí com certeza vai chegar a sua tia solteirona que mora com a sua vó. Como já são senhoras de certa idade e você não quer essas peças de museu reclamando da música, ligue a TV na sala, coloque na novela ou em algum programa de calouros. Logo, todos os velhos e velhas irão se aglutinar em fronte ao aparelho, liberando importante espaço lá fora.

Como tratar o primo gordinho? O primo gordinho é o menino chato que fica fazendo palhaçadas bem na sua frente. É fácil se livrar dele. Basta levá-lo pro seu quarto e ligar o videogame. Logo todos os primos adolescentes gordinhos irão se aglutinar em frente ao aparelho, liberando importante espaço lá fora.

Quando saber a hora de cortar o bolo? Quando a sua tia solteirona se levanta e diz que sua vó precisa ir embora. Aí alguém tem que falar: “Vamos cortar o bolo e cantar parabéns porque a vovó precisa ir embora.”

Depois que a velha cai fora, a festa pode prosseguir normalmente, com as tias conversando, sua mãe limpando a cozinha, os convidados comendo brigadeiro e as crianças correndo e gritando. Alguns momentos depois, todos irão embora, não se preocupe.

Quanto todos tiverem ido, você vai olhar para a pia da cozinha e se arrepender de não ter comprado pratos e copos descartáveis, e deixar a limpeza pro dia seguinte.
 
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minicontos do desconforto - 5
andré machado  http://amachado.blogspot.com

A nevasca seguia virulenta lá fora; dentro, o troar dos aplausos era inesgotável, irreprimível. Chamado ao palco, os gritos de "O autor! O autor!" transformando-o num títere gigante, postou-se no proscênio, como fizera nos últimos anos, impecavelmente elegante na capa Inverness e tirando da cigarreira dourada um dos incontáveis cigarros que o acompanhavam após os jantares no Savoy.

Ao dar a primeira tragada, viu na quarta fileira a Desgraça aplaudindo de pé, num longo vestido negro adornado por um único rubi cor de sangue. Naquela noite, decidiu: deixaria a vida de dissipação e recolher-se-ia num mosteiro, onde escreveria suas melhores obras, frutos da reflexão de que tanto precisava.

Mas a manhã surgiu magnífica, sem uma nuvem no céu, e lhe trouxe agradável companhia. Sentia-se novo, e saiu para passear em seu cabriolé de plantão. Anos depois, na prisão, falido, recordaria: fora a Beleza que o lançara ao abismo.
 
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vampeta, uma questão de tempo
ricardo garrido  [email protected]
 
O nome do momento é Vampeta. Porque, agora mesmo, enquanto o leitor está saindo de uma reunião ou voltando de um almoço, enquanto minha namorada se emburrece por ainda não ter recebido um telefonema meu, enquanto me dedico a escrever estas linhas, o volante corinthiano saboreia sua convocação para uma Copa do Mundo. É, provavelmente, o momento maior da sua vida. E Vampeta mereceu, como mereceu!, essa convocação.
 
Durante os últimos 4 anos, vimos Vampeta vir para o Corinthians, compondo um timaço e um meio-de-campo memorável, ao lado de Rincón, Marcelinho e Ricardinho. Vimos esse time ganhar 2 campeonatos brasileiros e o Mundial de Clubes da FIFA. Vimos ninguém menos do que o Rei Pelé eleger o volante como o grande jogador brasileiro da atualidade. Vimos Vampeta freqüentar assiduamente o time titular da seleção brasileira. Durante os últimos 4 anos, tivemos em Vampeta o melhor volante do Brasil.
 
Isso seria incontestável se, nos últimos 18 meses, o jogador não tivesse tido uma insignificante passagem pelo futebol estrangeiro;  se a seleção - com ele em campo - não tivesse passado por momentos tão bizarros; ou se Vampeta simplesmente não tivesse jogado tão mal como andou fazendo. Pior para ele: surgiram novidades. Gilberto Silva, do Atlético Mineiro, apareceu como uma promessa e ganhou a simpatia de Felipão, de Galvão Bueno e, por conseqüência, dos torcedores. Kleberson, campeão brasileiro pelo Atlético Paranaense, fez uma boa estréia na seleção e ajudou a colocar Vampeta na geladeira. Com esses jogadores e sem o corinthiano, o time de Scolari classificou-se para a Copa do Mundo e disputou os principais amistosos de preparação para a competição. Há algumas semanas, nem a mãe de Vampeta apostaria na sua convocação.
 
Mas a subida do Corinthians de Parreira surpreendeu a todos, colocando o time em 2 finais e recuperando o futebol dos seu principais jogadores. Vejamos: sob o comando de Parreira, Dida vem fechando o gol, voltou a pegar pênaltis e , surpresa!, aprendeu a sair do gol; Ricardinho voltou a ser o grande meia que dividia o estrelato do Timão com Marcelinho; Kleber tornou-se um dos jogadores mais importantes do time e, hoje, é uma deliciosa promessa para Copas vindouras; até Rogério, com sua seriedade e alguns gols decisivos, chegou a ser cotado para o grupo que vai à Coréia.
 
Já Vampeta, na mão do técnico, voltou a exibir tudo o que sabe (e isso já sabíamos): uma das melhores conduções de bola do país, passes verticais, viradas de jogo perfeitas, boa presença ofensiva - um futebol jogado com cabeça erguida e que sempre vislumbra o companheiro em melhor condição. Na ânsia de sempre jogar para a frente, o jogador arrisca demais e erra alguns passes - além de, vez por outra, incorrer num preciosismo incômodo. Mas, fazendo as contas e noves fora, Vampeta voltou a ser o melhor camisa 5 brasileiro. E é por isso que, mesmo preferindo tipos como Galeano e Argel a Vampeta, Felipão deu o braço a torcer e resolveu levar o volante baiano.
 
Sujeito precavido, esse Felipão. Eu bem que deveria ter percebido que ele jamais levaria para a Copa apenas dois rapazes que, mesmo com boas atuações pelos seus times, não sabem o que é uma semi-final de Libertadores entre Corinthians e Palmeiras, ou o que é um Flamengo e Vasco com Maracanã lotado. Jogadores que nunca enfrentaram um Real Madrid, um Manchester United. Não, Felipão não é de arriscar: na hora H, sabe que a molecada pode tremer - e aí, a presença do calejado Vampeta dará tranqüilidade ao treinador.
 
Minha aposta: Vampeta entra como titular logo contra a Turquia, no dia 3 de junho. Já nos treinos, Gilberto Silva não resistirá às chegadas de Vampeta ao ataque, ajudando os seus velhos conhecidos Edílson e  Luizão a incomodar bastante o time titular. Se isso não acontecer, esteja o leitor certo de que, ao final da 1ª fase, o volante corinthiano estará no time. É uma questão não só de tempo, mas também de futebol. E de presença.
 
Por isso, não causará grandes sustos a imagem de Vampeta entrando em campos coreanos, puxando a fila de jogadores de camisas amarelas, como já vem fazendo há tempos nas entradas de campo do time do Parque São Jorge. É uma questão de presença. E de bom senso.
 
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f a l a   q u e   e u   t e   e s c u t o
Mande seu torpedo, seu SMS, sua mensagem WAP, seu mimo, sua consideração, sua lembrancinha, seu beijo de dia das mães, um alô para minha mãe, meu pai e pra você. Aqui tudo é válido. Só não vale cheque protestado e pedidos de doações. [email protected].
 
----- Original Message -----
From: "sfs10"
To: [email protected]
Subject: resposta da pergunta

" 'Jogue suas mãos para o céu e agradeça se acaso tiver alguém que você gostaria que estivesse sempre com você na rua na chuva na fazenda ou numa casinha de sapê. (...)
não estou disposto a esquecer seu rosto de vez. eu acho tao normal. dizem que sou louco por eu ter um gosto assim... gostar de quem não gosta de mim.'

a musica é do Kid Abelha a primeira vez que eu a ouvi estava na maior dp.

E isso já faz uns 6 anos, e ela continua fazendo parte da minha vida, já tive alguns altos mas sempre vem aquela agonia de menina que só ama mais não é amada.

Vocês não têm um consolo para mim? por favor..."
 
sabbag responde: prezada leitora, canções como essas despertam no âmago dos nossos seres as lembranças mais dolorosas daqueles dias no parque comendo maçã-do-amor, ou daquele abraço na beira da orla... Por isso mesmo é que amor rima com dor. Mas não desista. Tem um monte de garotos por aí que estão cheios de amor pra dar e não encontram sua cara-metade assim como você. Que desperdiçam seus gestos e sentimentos com pessoas vazias que não os valorizam com a devida decência. Então não desanime. Mesmo o Kid Abelha é capaz de te dar a resposta para essas questões: "Já não me lembro bem... da última vez que eu dei". Ou seja, é um contracenso. Abra os olhos, ajeite o topete e deixe o rio correr, como diria a Carole King.
 
----- Original Message -----
From: Sérgio Sérvollo
To: [email protected]

"Olá pessoal.

(...) Sou fã incondicional do Spam Zine e seus colaboradores, tanto é que costumo enviar suas edições pelo e-mail corporativo da empresa e amigos, afinal nunca é demais espalhar um pouco de literatura e diversão pelo mundo. É exatamente isso que admiro nessa idéia, o compartilhamento de... idéias!

Vocês foram os responsáveis por meu retorno aos textos, atividade que havia abandonado desde o fim da banda citada na minha última colaboração, e agora quero prestar uma homenagem dupla: a esses amigos que fizeram parte dessa história e ao Spam Zine, que despertou novamente o Sérgio 'escrevinhador de causos'.

Estou trabalhando em um projeto pessoal que vai reunir pessoas interessadas em divulgar seus trabalhos pela internet, sejam eles textos, fotografias, animações, poesias, músicas, enfim: o tudo! Esse site levará o nome da minha ex-banda: Sexo Acústico. O Spam Zine é desde já, referência básica do projeto.

Apesar de não conhecer nenhum dos colaboradores pessoalmente, me vejo amigo e cúmplice de cada um deles, sempre que leio seus textos e me enxergo claramente em algumas passagens e citações. Como sempre valeu e muito! Espero poder contribuir mais uma vez para uma edição deliciosa e cheia de surpresas. Se não, não tem problema, quando sair o site eu coloco o texto lá e aproveito para emendar uma homenagem ao Spam Zine.

Abraços e que venha mais um!"
 
sabbag responde: Sérgio, para nós é uma honra termos despertado o escrevinhador de causos que estava adormecido em você. Ficamos igualmente emocionados ao sermos lembrados para um projeto desse nível, e esperamos que tudo dê certo. Só lembre, que, acima de tudo, o que vale é o amor livre e gostosinho para todos.
 
----- Original Message -----
From: rachel gusmão
Sent: Monday, May 06, 2002 3:56 PM
Subject: hipnose
 
Em geral ler o Spam Zine me faz um bem danado. E me deixa sempre com a curiosidade sobre o que virá no próximo. Mas desta vez tive uma sensação diferente... A edição 061 não me deixou o gosto da expectativa, foi como tirar os sapatos e beber um copo de água na temperatura perfeita depois de voltar da rua, num dia quente... Foi gostoso, familiar e me preencheu completamente. Seja o que venha na próxima edição (que já recebi, fala de Música) chegará tarde: já fui seduzida.
 
sabbag responde: querida Rachel, os instintos galantes de nossos colaboradores foram aguçados com essa sua mensagem. Aposto que todos eles procurarão se inspirar ainda mais para preencher suas necessidades de leitora seduzida a cada nova edição. Mas esperamos que uma curiosidade que venha de vez em quando também aguce seus sentimentos. Saluts, R.S.
 
----- Original Message -----
From: Marcelo da Cruz Oliveira
To: [email protected]
Sent: Monday, May 06, 2002 11:39 AM
Subject: Eu queria ser um Wilbury...

"Alexandre,
 
Valeu. Consegui entrar no chocante Spam Zine pela terceira vez. Aliás, o especial de música está fantástico. Parabéns. Mas, sabe de uma coisa, na lista no pé do Spam eu gostaria de ter entrado entre os Traveling Wilburys, dos "meus amigos" George Harrison e Roy Orbison, mas como na minha vida é quase tudo sem querer, aceito o B-52's..."
 
inagaki responde: caro Marcelo, entendo a sua reivindicação. No seu lugar, também preferia estar ao lado de Bob Dylan, Jeff Lynne, George Harrison e o MESTRE Roy Orbison. Contudo, a associação foi quase inevitável: ao ver que tinha selecionado duas leitoras e três leitores pro "perguntar não ofende", a primeira banda com esse tipo de formação que me veio à cabeça foram os niu uêives do B52's. Mas até foi uma boa escolha: imagine se eu tivesse te colocado no Genghis Khan ou Ace of Base... Forte amplexo.
 
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c r é d i t o s   f i n a i s
 
Fala sério
Ricardo Sabbag > [email protected]
Alexandre Inagaki > [email protected]
Orlando Tosetto Junior > [email protected]
 
Com certeza...
André Machado > http://amachado.blogspot.com
(arlã() > [email protected]
Ellen Aprobato > [email protected]
Hassen Arbeithier > http://aindanaocomi.hpg.ig.com.br
Julio César Andolini > [email protected]
Lau Siqueira > [email protected]
Ricardo Garrido > [email protected]
Thiago Medeiros > [email protected]
 
Oi?
Ana Maria Tomei > [email protected]
Andre Lopes > [email protected]
Demoniaca 666 > http://sad_loved_girl.blig.ig.com.br
Edney Soares de Souza > [email protected]
Valério Alex > [email protected]
 
 
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Spam Zine - fanzine por e-mail
 
conheça, leia, assine:
http://www.spamzine.net
 
colaborações, sugestões, críticas & propostas indecentes:
[email protected]
 
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p. s.

sabbag: está chegando a hora de todos vivermos sonolentos, com olheiras e, ainda por cima, chateados. É a Copa do Mundo 2002, estrelando Roque Jr., Belletti, Edílson e Luizão! Transmissões diretas bem na hora em que você deveria estar dormindo.