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062B
05 de maio de 2002
são paulo  rio de janeiro  curitiba  caraguatatuba
 
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n e s t a  e d i ç ã o:
 
hey ho, let's go!
 
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editorial
alexandre inagaki  [email protected]
 
Curto e grosso, feito uma canção dos Ramones: o tema MÚSICA suscitou tantos textos que fui obrigado a preparar uma edição extra só com as (excelentes) B-sides recebidas. E se preparem: talvez eu seja obrigado a lançar um novo volume, composto por sobras de estúdio, takes alternativos e versões ao vivo. Coisa fina, só para os fãs que sabem que esses álbuns reservam surpresas tão boas (ou até melhores) que os discos oficiais.
 
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bette, vanguardista
b. f. carvalho  [email protected]
 
Todas as expectativas foram contrariadas de uma só vez quando Bette tomou o palco com o baixo emprestado do ex-namorado, acompanhada de sua troupe de marmanjos. Um esquisito na bateria, um estranho na guitarra, Bette no baixo. O povo silencioso mamava seus drinks esperando por algo default. Uma enrolaçãozinha antes da grande atração da noite.

Bette testou o microfone, tap tap tap, alô som. "oi, nós somos Os The. UM DOIS TRÊS QUATRO!". Era o sinal. A música ficou gravada na cabeça daquele pessoal para sempre: "Você é feio mas chupa bem".
 
Mãe natureza sabe o que faz
Se cobra tivesse asa não sobrava ninguém
Olha só que surpresa gozei três vez
Você é feio mas chupa bem
 
Queixos caíram na platéia. O som era distorcido por completo, uma massa amorfa que arrepiava os pêlos da nuca, uma beleza que poucos era capazes de perceber por baixo da crueza daquilo tudo. E o corinho:
 
Você é feio mas chupa bem
Você é feio mas chupa bem
É uma pena que você não coma ninguém
Você é feio mas chupa bem
 
E fim. Estrofe-refrão-estrofe-refrão-estrofe-refrão, três acordes. Sem solo. Sem nada. Uns já ouviram coisa igual em discos importados. Outros não entenderam, mas acharam melhor ficarem calados.
 
Tocaram uma música, rápido, e deram lugar ao ato da noite, uma banda de rock progressivo instrumental. Verdade seja dita, todos tiveram dificuldade de acompanhar o show. Bette e sua troupe se encostaram no bar e mamaram cervejas até as quatro da manhã. Todos se seguraram, ninguém conversou com eles. Levava um tempo para digerir. Deixaram o local, entraram no Corcel e foram atingidos por uma carreta. Pá-pum.
 
Morreram os três.
 
Foi em uma cidade qualquer do Brasil, o ano era 1979. Bette era uma vanguardista.
 
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ed, um cara legal
ricardo sabbag  
[email protected]

Nice Guy Eddie
Sleeper


so I'll admit that it all started as a scam
'cos every girl wanted you and a year round tan
we know you're old but you're kind
you're rich and your heart is dicky
yes I knew that you wanted me


De modo que eu te olhava por entre as brechas que dava, quando você ia jogar futebol e eu ensaiava com as meninas. Jogando meus pompons para cima e sacudindo meus peitos, todos eles me olhavam mas era pra você que eu sorria.

Garoto de sorriso besta, aquele cabelo empastado de gel. O peito marombado escondido pelo agasalho da escola. Barbinha já feita, era maior que a de todos porque você repetiu três anos. Voltava de carro alemão para casa e renegava os óculos escuros só para ver me ver te ver.

and he said

hey love how are you fixed
we'll meet at ten past now it's quarter to six
we'll spend the whole night making love on the sofa
it may sound funny but he wasn't supposed to


Nem perdeu muito tempo quando te deixei a deixa na saída. Veio com aquela conversa de machinho garanhão já me ganhando "vamos passar a noite toda fazendo amor no sofá". Eu sou lá mulher de fazer amor num sofá? sei lá, acho que sou. Vamos fazer mas não vamos contar pra ninguém. Eu acho graça e você diz que não sabe de quê, bestalhão.

and then we both settled down to our favourite meal
d'you fancy veal parmesan and a case of warm Chianti
pass my bag I picked up that bra you fancied
yes I knew that you wanted me

Não custa muito pra te deixar babão. Um par de lingerie branquinha de algodão, algumas gotas de perfume em locais específicos, os pelos se arrepiam de sentir a ponta do teu nariz gelado.

Você tira minha roupa e gosta de sentir o cheiro da minha pele branquinha de nunca tomar sol. Já deve ter feito isso zilhões de vezes, eu sei, mas é que não me importa. No fim você veste aquele short de boxeador de seda!? que deixa tua cobra aparecendo, como se você não soubesse. Daí lasca umas comidas importadas em uma bandeja na cama, me fazendo parecer importante. Você sabe, você sabe que eu adoro.

Oh we knew it couldn't last
and we should have left it long before
one great year and one for luck
and like all good things you soon wanted more
you were always so polite
I think I loved you

Mas que pena, que pena, a gente fazia um casal tão bonito desfilando pelos gramados. Lembro de quando a gente ganhou o concurso de rei e rainha do baile, ai, tão previsível que era, você de smoking branco e eu de tomara-que-caia rosa. Você sabe o que é um tomara-que-caia, Ed? É aquilo que você quase arrancou com os dentes no banco de trás do Cadillac.

E o ano seguinte chegou, com as coisas não sendo mais tão coloridas quanto eram antes. Meus remelexos já não serviam a você e tampouco seu físico de atleta de fim de semana fazia qualquer diferença no lugar em que você foi morar. Mas eu lembro que você sempre foi tão gentil, tão gentil e que hoje eu acho que te amei antes.

and I said

hey love I'm making it easy on us
I'll leave, and a few of our dreams turn to dust
all night making love on your sofa
and it may sound funny but he wasn't supposed to
summer '92 I remember is clearly
when he choked on the olive in his dry martini
there was dismay from friends he was close to
and it may sound funny but it wasn't supposed to be


Eu sei, fui eu, você vai contar pra todos seus amigos carecas sempre que ficar bêbado. Vai dizer como poderiam ter sido anos de felicidade e como nossos filhos seriam lindos. A noite toda fazendo amor no sofá. Isso não vira em felicidade, Ed. No fim seríamos um casal gordo e cansado morando em uma casa de classe média no subúrbio e ninguém faria nada até que um de nós tivesse um caso (provavelmente você) e o outro pedisse divórcio.

Amores como esses a gente deixa no passado. Prefiro viver em você como uma lembrança inesquecível do que como um fantasma presente. E larga dessa cara de choro logo, porque é claro que eu vou lembrar de tudo. Essa gravata te deixa engraçado. Não liga. Você sempre foi um cara legal.
 
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r á p i d a s   r a s t e i r a s
 
"Essa vai para aquela mulher que sabe cruzar as pernas no momento certo e descruzar na hora exata".
(Wando, sempre ele, ao dedicar uma de suas singelas canções em seu mais recente show, intitulado "Romântico Brasileiro", no qual ele interpreta músicas Cazuza, Gonzaguinha e Lulu Santos)
 
"E este Thom Yorke reclama tanto da vida chata dele que qualquer dia ele vai cometer suicidio cortando os pulsos com uma faquinha de rocambole. Pra mim, dignidade indie é ser como o saudoso Richie do Manic Street Preachers, que sumiu sem deixar rastro, completamente glamouroso. Tá com depressão, santa?? Sua vida é um tédio?? Faz assim: enfia um pepino pelo cu e tenta pegar ele com uma agulha através do buraco da orelha, sua gazela reumática e peidorrenta!!"
(Alisson Gothz, o blogueiro mais desbocado e irreverente de todos os tempos da última semana, do imperdível Meu Cu Minhas Tetas - http://www.alissongothz.kit.net/blog)
 
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o rock? tá aqui, ó
kamille viola  www.euteamoblog.blogspot.com
 
Quantas vezes você já ouviu que o rock já morreu? Ou que ele está velho e ultrapassado? Que o jazz ou o samba ou sei lá que estilo é mais “rock” que ele? Ou que não se produz nada de novo? Ou ainda: que no Brasil o rock não produz nada de novo?

Com certeza quem diz esse tipo de coisa não tem ido a festivais. Aí você pode pensar no Rock in Rio 3, com sua escalação bizarra e o som baixo, ou no Free Jazz, com público que muitas vezes não está nem aí pras atrações, e achar que eu estou louca. Mas não, não é desses festivais que eu estou falando: é dos festivais independentes.

Eles são feitos por gente que se criou no rock, gente que não está preocupada só com dinheiro – que quer ganhar dinheiro, sim, mas sem prejudicar a qualidade por isso. Gente que tem amor à coisa. Que estava cansada de ver sempre shows das mesmas bandas. Ou de não ver show nenhum em sua cidade. Gente que queria tocar com uma boa estrutura. Ou seja: gente que não estava satisfeita com o que existia e resolveu fazer do próprio jeito.

Não à toa existe uma legião de pessoas viciadas em festivais, que viajam pelo Brasil afora em busca do roque. Para mim, particularmente, o ano decisivo foi 2001. Abril pro Rock, em ano de escalação privilegiada. É claro que eu já havia ido a diversos outros festivais fora os (saudosos) Hollywood Rocks da vida. Como os finados Expo Alternative (o primeiro a que assisti, em 1995) e Super Demo, marcos na cena independente carioca e até nacional. E também a um Abril pro Rock, em 1998. Mas o de 2001 foi diferente.
 
Vários fatores contribuíram para que eu tomasse gosto pela coisa definitivamente. Primeiro, a escalação primorosa, com Asian Dub Foundation, Jon Spencer, O Rappa, Nação Zumbi, entre outros. Depois: oito pessoas dos mais diversos lugares do país, reunidas num apartamento perto da praia de Boa Viagem, em Recife, credenciamento para o festival (circular entre os artistas do festival era o momento Quase famosos), textos escritos sob o efeito da empolgação, muito improviso e a gente fazendo o que gostava. Parecia sonho.
Desde então, fui a todos os festivais independentes que pude: a edição do Circadélica (em Sorocaba, SP), Goiânia Noise e Upload (São Paulo), e este ano aos cariocas Humaitá Pra Peixe (já consagrado) e Ruído.

Obviamente, não é barato fazer essa peregrinação pelos festivais. A solução dos sonhos para alguém como eu seria arrumar um emprego de repórter num veículo que mandasse cobrir os eventos. Mas como não se acha nem emprego nem na área que eu gosto nem em qualquer outra do jornalismo, o jeito é se virar.

As passagens da Gol e da Fly (em SP tem a Nacional) costumam ser mais baratas que as das outras empresas – que, aliás, muitas vezes têm tarifas promocionais, ainda mais comprando com antecedência. Dá pra parcelar as passagens no cartão de crédito. Distâncias menores (como Rio–São Paulo) podem ser percorridas de ônibus tranqüilamente. Convencendo um amigo a ir de carro, sai mais barato ainda – vocês podem dividir a gasolina e o pedágio, e ainda vão ter a comodidade de estar de carro na cidade. Tendo amigos na cidade do festival, já é menos um gasto: hospedagem. Mas na falta, o jeito é apelar pra pensões ou hotéis chulés (afinal, ninguém vai pra outra cidade pra ficar enfurnado no hotel).

Este ano não pude ir a nenhuma das duas edições do Abril Pro Rock (que, aliás, completou 10 anos), mas já assisti a dois festivais aqui no Rio e estou me preparando pra mais. Próximas paradas: Super Noites do Senhor F, em Brasília, e Bananada, em Goiânia (as escalações estão em www.senhorf.com.br e www.monstrodiscos.com.br, respectivamente).
Ah, sim, e os festivais são excelentes pra as bandas, claro. É uma ótima oportunidade de tocar para públicos maiores (quem vai pra ver uma banda acaba vendo as demais, e tem quem vá só pelo evento em si, disposto a ver tudo) e em condições geralmente melhores que as dos shows comuns (em termos de local e equipamento, por exemplo).

Dos diversos festivais que já aconteceram, alguns são periódicos, e vale muito a pena tentar ser escalado para eles. Atualmente, além das duas edições do Abril Pro Rock (Recife e São Paulo), que mistura bandas independentes e consagradas, existem o Rec Beat (também na capital pernambucana), o Humaitá Pra Peixe (Rio de Janeiro), Cabrón Festival (Floripa), Bananada e Goiânia Noise (em Goiânia), Noites do Senhor F (Brasília), Campeonato Mineiro de Surfe (Belo Horizonte), o MADA (Música Alimento da Alma, em Natal), só de cabeça. Provavelmente eu esqueci de algum.

Ah, e também vai rolar na zona da mata de Minas Gerais um festival numa fazenda, o Green Rock. Parece bem legal. Mais informações no (0xx21) 2610 8596 ou [email protected], e pra mandar material é: Rio de Janeiro – Avenida Rio Branco, 185/1418, Centro, Rio de Janeiro, RJ, Cep 20040-007, ou Minas Gerais – Avenida Rio Branco, 2370/610, Centro, Juiz de Fora, MG, Cep 36016-310.

Então é isso. Vá a festivais, participando, organizando ou assistindo. E da próxima vez que alguém perguntar cadê o rock, cadê o espírito do rock, cadê a atitude no rock, cadê a renovação do rock nacional, você já sabe onde está.
 
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n a v e g a r   i m p r e c i s o
 
Music Sounds Better With You
http://director-file.com/gondry/contents.html
Site dedicado à obra de Michel Gondry, diretor de alguns dos melhores videoclipes de todos os tempos. Exemplos: Sugar Water (Cibo Matto), Like a Rolling Stone (Rolling Stones), Everlong (Foo Fighters), Let Forever Be (Chemical Brothers) e Human Behaviour (Björk). E preparem-se: Gondry estréia no cinema dirigindo um roteiro escrito por Charlie Kaufman, o mesmo de "Quero Ser John Malkovich" (de outra fera dos videoclipes, Spike Jonze).
 
Pensamentos Felinos
http://www.geocities.com/CollegePark/Hall/3340/tomleao.html
Tom Leão, o mesmo responsável pelo Rio Fanzine no jornal O Globo, escreveu aqui uma coluna sobre um tópico primordial dentro do assunto homens & mulheres: a arte de se gravar uma fita para uma garota.
 
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o grito e o mito
alberto muniz   [email protected]
 
Dificilmente alguma outra manifestação estética carrega em si o cerne de uma aspiração juvenil coletiva tanto quanto o roque. Desde sua inclusão do gênero na categoria dos itens para consumo e adjacências, o filho bastardo de um preto velho com uma branquela nada mais foi que uma espécie de galinha dos ovos de ouro para a indústria durante um bom tempo. Mas talvez não seja mais aquele filão forever young, PeterPans em moto contínuo, como o tic-tac de uma máquina registradora gigantesca. Igual àquelas que as instituições bancárias utilizavam quando eu era criança e me enchiam os olhos, televisão de cachorro para um moleque com imaginação fértil.
 
Carranquices à parte, o gênero ainda tem influência muito maior que a de uma mera futilidade. Roque é mito! Roque é grito! Não é só jingle de reclame de creme dental, de cigarros, de refrigerante ou de alguma comédia boboca qualquer. Não importa a pose do malaco lá, em cima do palco ou na tela da Tv, cagando goma em plena ribalta. Como bem definiu o veterano bluesmen Sugar Blue naquele álbum de uma banda indie oitentista. "Se você quer moleza, então deveria trabalhar em um banco! Música não é coisa para preguiçosos, cabotinos ou lunáticos. É um negócio sério, que reflete os esforços humanos para nos tornarmos o que almejamos quando nos manifestamos. O resto é conversa fiada!". CASCA!
 
Mas na verdade, o que rola por aí é justamente o contrário. Infelizmente!
 
Pouco importa se bem ou mal pagas, boa parte de pessoas que caem na bobice de "militar" pelo roque simplesmente são tão afetadas quanto os roquestrelas de ocasião. Um narcisismo cu-oculista disseminado em larga escala, muita estrela pra constelação de menos, como apregoou outro velho casca.
 
Pelo lado bom, podemos até fazer uma analogia maldosa com aquela premissa atribuída ao panque. Ahahah! Agora não existe mais separação entre estrelas em cima do palco e admirador devoto na platéia. Todo mundo é estrela, até prova em contrário. Todos possuem verdades absolutas do tamanho de seus próprios umbigos munidos daquele caricato piercing pendurado. Uma gracinha em algumas delas, mas broxante no caso de uma bruaca qualquer.
 
A onda que roqueiro médio ostenta é, de modo geral, uma tremenda babaquice. Marra típica de personagem da novela das sete, daquelas bem afetadas. É nego que não tem base pra falar sobre porra nenhuma, então incorpora algumas características de um personagem do Angeli e se apropria daquela rebeldia sem causa caricata de personagens incorporados por aquelas bichas hollywoodianas, das quais adolescentes descebradas inventam turbinar suas genitálias como uma tiete burrona qualquer. Na boa, não vejo grande diferença entre um torcedor desdentado do Flamengo e um babaquinha chinfrim afetando ares de cosmopolita, depois de copiar modelitos fashion de revista gringa da irmãzinha. Uma tremenda palhaçada!
 
E o pior é saber que neguinho entra numa de defender sua classe com unhas e dentes, que nem briga de maricas. Uma puxando a peruca da outra, para depois se solidarizarem como duas comadres pela tristeza de uma unha quebrada. Chuif! Todo mundo imitando vestimenta de peça publicitária pra vender música, como todas aquelas criancinhas que copiaram a suposta "atitude" de uma banda como o Sonic Youth, se fantasiando de clones dos novaiorquinos. Agora vai conversar com esses idiotas sobre a estética e o discurso da banda! Essa cambada toda não passa de um bando de consumistas de merda, uma corja de desgraçados que ficam por aí cheio de afliceta com sorrisinhos armados, inconscientemente roubados de alguma propaganda de fixadores de dentadura. "Nofssa, você está tão in hoje, corega! Que xique!" Na verdade, é justamente como dizia o Lennon com apropriado conhecimento de causa: "and you think you're so clever and classless and free. But you're still fucking peasants as far as I can see". E você ainda vem me falar daquelas bichices do brit pop como se fosse coisa do filho do padeiro da esquina. Vai catar uma enxada, em vez de se incomodar com a roupa fora-de-moda do teu colega.
 
Mas isso não é culpa da molecada, é incutido na cabecinha oca dela como algo necessário para inserção social. Culpa de boa parte de formadores de opiniões que não passa de caga-paus subservientes aos ditames dos coleguinhas estrangeiros. Tudo bem, concordo, os gringos possuem toda uma tradição... Mas havemos de convir que, ao tratarmos de uma manifestação propagada para boa parte do mundo desde os 50, se nos portarmos apenas como massa de manobra, isso seria no mínimo negação de nossa própria existência. É muita falta de auto-estima pro meu gosto! Algo como desonrar aquela calça fora-moda hooor-riiií-veeeel que vosmecê, brasileiro comum, veste. "Curuzes! Sai pra lá, ô mocréia. Esse top não está combinando com essa saia! Afffe!"
 
Ressaltei essa babaquice, cortesia minha, porque boa parte dos jornalistas especializados em música roque contribui para tudo isso, e cabe em algumas poucas categorias. No momento, só me lembro de algumas delas. Ou são uma cambada de féladaputas céticos, sem um traço de paixão pelo que fazem e que ainda ficam afetando certo ar blasé de quem já viu e já viveu tudo. Ou então são aqueles Peter Pans que ainda estão presos ao passado e às bandas que adoravam na tenra idade. Mesmo que as rugas e a calvície proeminente não lhes neguem os 40 e tantos poucos anos cronológicos, que lhe impingem a ditadura de que o tempo passa mesmo. "Get it while u can"! Aí fica todo mundo lá, com álbum de fotografias que nem presidente de fã-clube do novo atorzinho de Malhação ou do programa da Sandy. Na boa, não vejo muita diferença. No final das contas, sou mais as meninas com Pokemon estampado nas calcinhas encharcadas na adoração de seus galãzinhos, do que a atitude dessa cambada de galalaus que você pode encontrar facilmente por aí, roqueiros muntcho lôcos.
 
O pior é que essa cambada de babacas cuzões têm lá as suas razões. O mico é só uma abstração momentânea, um rápido lapso de razão em homenagem ao Olimpo do roque. Pouco importa se já nem lembramos do último lançamento digno de nota do nosso adorado dinossauro, a onda é se portar que nem personagem roqueiro hollywodiano. Roqueiro é mesmo tudo um bando de imbecis, néam? Então, vamos lá! Nós todos, afetados que nem locutor de rádio roque, animados com a última novidade que rola no toca-discos do roqueiro de final de semana. Aqueles mesmos idiotas que gritam "urru, roquenrrou", acendem isqueirinhos pra viagem ficar muntcho lôca, e giram camisetas que batem involuntariamente nos seus olhos em dias de festival patrocinado por alguma multinacional qualquer. "Que merda, quem mandou ser roqueiro"?
 
Você deve estar achando uma tremenda perda de tempo eu falar isso, né? Um baita amadorismo, né ô babaca! Você é um sujeito malandro, um cara ixperto que sabe muito bem que paixão jornalística pelo que se faz é coisa de menina-moça de redação. O lance é fazer aqueles textos frios baseados em press-releases, ou dados que só interessam a algum desavisado ou viciado em almanaque e sua cultura inútil. Uau! Confesso pra vocês que o que mais quero é cair na vida, rodar bolsinha geral e putar gostoso. Mas acho que não tenho talento! Chato isso!
 
Jornalistas especializados em música e há não muito tempo consolidados em grandes redações, em sua grande maioria, não passam de um bando de precoces velhotes cagões. Não muito diferentes daqueles coroas cachaceiros que passam o dia enchendo a cara em boteco, cagando goma sobre o quão cascudos eles foram nos bons tempos, e fazendo chacotas sobre a vida alheia, discursos os quais não têm saúde nem coragem de falar na cara, já que não passam de um bando de covardes que descolaram uma teta pra mamar e vão ficar ali saboreando até não poder mais. As exceções que me desculpem, todos somos humanos, mas vocês sabem discernir o que está na lente de aumento e o que é real.
 
E isso é uma merda porque o que existe de cena rock no Brasil hoje é um negócio meio rabo preso, incestuoso demais como dizem por aí. Atores sociais na canastrice cotidiana legitimando aquela tal atitude prostituta já ressaltada por alguns. O foda é que a falta de atrito torna a manifestação uma coisa previsível, muito boboca, cria limo. Muita gente bem-intencionada atola ao seguir as regras... Tanto é que rola até uma estéril norma de conduta para não se criar "caflito", confusão - sob a ameaça de o meliante em questão se tornar persona non grata no playground onde a roqueirada brinca e come a merenda na hora do recreio... Mas fale o quiser, tem muito visionário falindo por aê. "Saipralá, espírito de porco"!
 
Mas, observando a situação sob um prisma microcósmico, cabe aqui uma pergunta: você teria peito pra falar q a banda do seu amigo não é lá uma Brastemp? Talvez você até não tenha parâmetros para fazer alguma avaliação, tudo bem! Mas não sei bem ao certo, pois conheço muita gente boa que não faz isso, que legitima na base da falsidade uma relação condescendente e nada-nada produtiva para com os colegas de cena roque. Vale lembrar que muitos incautos se baseiam na opinião alheia para forjar as suas próprias tiradas. Algo absolutamente natural, principalmente até o momento em que vc se considera com massa crítica e maturidade intelectual suficientes para começar a trilhar o seu próprio caminho. Fazendo as coisas ao seu jeito, conforme aquela canção do Sinatra. "And now, much more than thiiiiis..."
 
Mas não, fica todo mundo brincando com a sua turminha no seu quarteirão, que nem um montão de criancinhas bunitinhas... Pior que é tudo matuto velho, brincando de existir. Carregando aquela alegria caricata, que nem de passista de escola de samba quando vê câmera de Tv. SALVE TIÃO MACALÉ!
 
Agora, o que mais se pode falar sobre esse lance de música segmentada, compartimentada em pequenos guetos, tribinhos de merdas, de muitos caciques pra pouco índio? "Porra, eu sei lá?". Qualquer amarra é mesmo uma merda, apesar de ser impossível se livrar delas - mesmo que pela via da escrotização de se fazer uma música supostamente atonal, louca e por aí vai. Ou fazer mesmo uma música pretensamente comercial, de acordo com as regras do mercado... "O lance é ganhar dinheiro, meu camarada..." Ah, deixa pra lá!
 
Todo mundo sabe que essas porras só funcionam na teoria. Sabe por quê? Falta víscera! Mas isso não quer dizer chorumela confessional, em absoluto. Sinceridade, meu caro! Não a caricatura que vemos por aí de roquestrelas que abrem as pernas e depois posam por aê como ex-pop stars no retiro dos artistas. Na verdade, tenho uma certa impressão - leia-se certeza modesta - de que isso deixa um rastro danoso pra quem chega depois, que acaba se vendo "forçado" a gostar de uma determinada manifestação musical somente pelo fato de sua imagem ser ousada por fugir dos padrões comuns da época. Todo mundo dando uma de roqueiro no Xuxa Parque, que nem o SL Jegue & cia. Roqueirinhos que só servem pra animar festa de condomínio.
 
Você bem sabe que, em se tratando de um gênero tão amplo e recheado de subdivisões como o roque, fica fácil a criação de factóides de última hora, embustes da última moda. Duram muito tempo? Não sei, a caatinga decorrente do prazo de validade vencido geralmente se dá aos poucos e você nem percebe que a sua banda pop preferida acabou... Ainda mais em se tratando de roquinho asséptico, essas porras não devem nem suar debaixo do suvaco de tão arrumadinhos que são, tudo bibelô de madame. Além do mais, afinal de contas, quem vai ser otário de levar uma bobagem a sério durante muito tempo? Que idiota juraria inocência em um platô condenado? Pausa para a propaganda de desodorante anti-transpirante e politicamente correto, pois não deteriora a camada de ozônio. Mas o teu bolso, sim! Ô, zé mané!
 
Sem contar que as vertentes mais radicais do gênero são sempre associadas à histeria juvenil, onde a pessoa associa aquilo a uma fase débil de sua vida, depois amadurece e vira burocrata. Sem falar que pega até mal ser radical depois de velho! Pô, a atitude roqueira é bordão humorístico, motivo de chacota! "Roqueiro, eu? Saravá!"
 
Então, já que é assim, por que não partir pra sinceridade? Artefato utópico e sempre apropriado de forma caricata pelos formadores de opinião a fim de desprovê-la de sua validade ou pertinência no que diz respeito a argumentos. Só que tem uma coisa: o que é real não necessita prioritariamente do aval alheio, persiste por si só. Uma auto-suficiência econômica em relação a um feedback quantitativo... O que interessa é novidade, dialogar com gente inteligente.
 
E vejo que muita gente caga pra cabecismos como se o discurso também não fizesse parte integrante de uma manifestação em formato rock. Tudo bem, vale importar o cabecismo do genial Lou Reed e macaquear por aqui - como se ele levasse muito a sério ainda hoje suas peripécias com o Velvet Underground. Você não se lembra que ele mesmo bradou que amadurecia em público lá pelos 70, um velado renegar do passado? Ah, tudo bem! Então o negócio é ser roqueiro que nem a Adriana Riemer (quem?) era... Uau, sô radical! Radical Xique! Porra, vá caçar marido! Vai arrumar um tanque de roupa pra lavar, ora bolas.
 
Falam isso como se roque não fosse antes de tudo um desrecalque, uma quebra de paradigmas, uma bobagem com o nome de "atitude", diluída pela indústria. Tudo bem, let the music do the talking! Mas aí levar a parada só pra um lado, contextualizar parcialmente um lance que mexe particularmente com a vida de várias pessoas, das mais variadas castas sociais, origens, comportamentos adquiridos...? Aí é você sacanear com a ingenuidade da molecada, e também com a sua própria.
 
Tudo bem, rock não foi feito pra durar, pra ser levado a sério - ainda mais aqui no Brasil. Então por que não entrarmos numa de levar o velhote mestiço a sério? Mas numa boa, acho que todo mundo que realmente se interessa por esta merda deveria botar a mão na massa, refletir um pouco, escrever um pouco... em vez de ficar esperando a próxima teta pra mamar. Não basta apenas ser fantoche, macaquear videoclipe gringo afetando ares londrinos como se a merda lá fosse mais cheirosa que aqui. Tampouco fazer macumba pra turista desavisado! Sinceridade, porra! Dê a sua cara à tapa! O tranco não é tão barra pesada assim de aturar...
 
Por essas e outras, me lembrei de uma das primeiras entrevistas que fiz, assim que comecei a escrever sobre rock, com uma figura que possui conhecimento de causa teórico e prático. Hoje um amigo meu, distante mas amigo, ele me falou que não valia a pena mexer com roque de uma forma idônea. Como me disse várias vezes, "é muita integridade para uma cena que é corrupta demais". Se você sabe disso e não faz nada, por que ainda posa de roqueiro? Vai capinar um pouco, meu chapa. Tira essa touca! Entrevistando a galera, pude notar vários comportamentos recorrentes em pessoas distintas entre si. Algumas inventavam mentiras e eu me fingia de bobo, botava lá ipsis litteris o que o canastra falou. Na real, a verdadeira piada é um babaquara qualquer ter que apelar pra certo tipo de argumentos...
 
Mas é assim mesmo, daí pra pior. Você vê, rock no Brasil é muito influenciado pelo discurso publicitário. Qualquer idiota é capaz de se fantasiar de roqueiro, com pinta surrupiada de algum rockstar gringo, pular igual a um macaco, grunhir e dizer que é rocker. Tomar no cu, vai! Quando não fazem coro com a unanimidade burra dos roqueiros de fim-de-semana, crias das rádios rock fajutas, nego fica num narcisismo do olho do cu de ficar exaltando a própria panelinha, como se a segmentação de nichos mercadológicos propagada por aí não fosse sinônimo de limitação de idéias, falta de articulação de massa crítica ou mesmo um umbiguismo estéril e tão boboca quanto um personagem excêntrico de sessão da tarde fazendo careta a fim de despertar o riso alheio. Quando rimos, é da nossa própria imagem refletida no espelho. Estagnação!
 
Vale lembrar que música não pertence a ninguém, tampouco uma idéia musical ao cara que a concebeu. Tudo é roubável, transformável! É matemática, é sentimento, intuição, uma cacetada de coisas que te leva a curtir uma música. O bom gosto da audiência é cíclico, pois varia conforme as manipulações dos formadores de opinão e dos "articulistas" das grandes corporações vinculadas ao entretenimento.
 
Então... Roquenrol é uma palhaçada, Teenage Wildlife formatada pra consumo, seu bobo! Um mundo povoado por covardes! Mas se liga antes de tudo, esse papo aqui nada tem a ver com heróis. Você bem sabe que todos podem, nem que seja apenas por um dia. Exemplo grotesco disso aí seriam esses programas de tv que catapultam emergentes a artistas rumo ao estrelato estéril, que não frutifica posto que é fake. Falo isso porque o mito é uma imagem cristalizada, desprovida de alma. E a alma só existe enquanto as coisas podem ainda florescer. Humo que ainda pode resplandecer! Mesmo com limitado prazo de validade. Como o Muggiati escreveu nos 70, rock é grito, rock é mito. Se está na tua hora, grite também! Pelo menos, você dorme com a cabeça levinha no travesseiro.
 
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p e r g u n t a r   n ã o   o f e n d e
 
domi  http://sotp.blogspot.com
"Olá! Na verdade não tenho uma música que resuma a história da minha vida. Mas... existe uma música que é muito importante, mas muito importante mesmo pra mim. Serve? A música é o Homem Velho, do Caetano Veloso.
 
O Homem Velho
 
O homem velho deixa a vida e morte para trás
Cabeça a prumo, segue rumo e nunca, nunca mais
O grande espelho que é o mundo ousaria refletir os seus sinais
O homem velho é o rei dos animais
A solidão agora é sólida, uma pedra ao sol
As linhas do destino nas mãos a mão apagou
Ele já tem a alma saturada de poesia, soul e rock'n'roll
As coisas migram e ele serve de farol
A carne, a arte arde, a tarde cai
No abismo das esquinas
A brisa leve traz o olor fugaz
Do sexo das meninas
Luz fria, seus cabelos têm tristeza de néon
Belezas, dores e alegrias passam sem um som
Eu vejo o homem velho rindo numa curva do caminho de Hebron
E a seu olhar tudo o que é cor muda de tom
Os filhos, filmes, livros, ditos como um vendaval
Espalham-no além da ilusão do seu ser pessoal
Mas ele dói e brilha único, indivíduo, maravilha sem igual
Já tem coragem de saber que é imortal.
 
Ela é tão importante porque sempre que a ouço meu coração se inunda de lembranças do meu velho pai (que já se foi, retornou ao Caldeirão da Deusa no final de dezembro de 2000, aos 84 anos). Mas, não são lembranças tristes, daquelas que dão um nó no peito e fazem a gente ter vontade de chorar de tristeza não. Nem é o sentimento de perda que me acompanhou por um bom tempo. São  lembranças doces, dessas gostosas de sentir. É mais ou menos como se ele estivesse aqui do meu lado. Não o espírito ou a alma dele, mas a essência do que ele foi, percebem?

Às vezes, ouvindo essa música, paro e fico vendo uma foto do véio que está aqui na mesa do meu micro, e as lembranças que vêm e enchem meu ser, são doces, meigas, profundas e sentidas.

Lembro dele me perguntando toda vez que eu ia ao Rio e chegava na casa dele: "Não trouxe umas balinhas aí pra mim?" (Ele adorava balas de morango e eu sempre chegava lá com um monte delas).
Lembro dele me perguntando: "Não quer umas batatinhas?" (As batas fritas dele eram as melhores do mundo).
Lembro da gente num restaurante de comida mineira que ele adorava e que tinha um pesca e pague e dele dizendo: "Vou ensinar pra vocês como é que se pesca peixe".
Lembro dele dizendo sempre: "Não, mas então é isso..."
Lembro dele indo pra cozinha fazer um arroz fresquinho pq sabia que eu adorava o arroz dele.
Lembro dele contando os "causos" e "aventuras" de quando era jovem.
Lembro dele brincando com as crianças (ele adorava qualquer criança, sem distinção) da rua onde ele morava.
Lembro dele sentado na esquina, conversando com os coroas da vizinhança.
Lembro dele iniciando as frases com: "Não, mas a questã é..." (É isso mesmo, o véio falava questã, ao invés de questão).
Lembro da gente criança e ele nos levando à praia (sempre no leme ou no leblon), cultivando na gente o amor pelo mar.
Lembro da gente adolescente e ele indo dormir, pra "liberar" a casa pras nossas festas.
Lembro que ele sempre batia e/ou chamava antes de entrar no meu quarto.
Lembro dele não deixando ninguém me acordar (pq eu tinha saído na noite anterior...).
Lembro dele, mesmo sendo católico convicto (daqueles que rezam terço e vão à missa todo domingo), todo orgulhoso e feliz (respeitando, mesmo sem compreender direito) no casamento do Mozart c/a Soraia, que foi uma cerimônia de umbanda.
Lembro dele, aos 80 anos de idade, numa cama de hospital , com as duas pernas engessadas (acreditem se quiser mas o véio, com essa idade, fraturou o fêmur em 6 lugares e, apesar dos médicos dizerem o contrário, voltou a andar na boa) dizendo pro enfermeiro que queria colocar uma sonda nele: "Olha aqui, eu tenho é 80 anos. Não são 8 anos, nem 8 meses e nem 8 dias não. Homem nenhum nunca colocou a mão aí e você não vai ser o primeiro. Tô te avisando rapaz, sai c/esse negócio pra lá senão eu, que nunca briguei com ninguém, vou ser obrigado a te bater". O enfermeiro não levou muita fé no que o véio dizia e tentou colocar a tal da sonda... Resultado? Levou uma gravata bem apertada e tiveram que vir dois enfermeiros pra solta-lo... e, obviamente, nenhuma sonda foi colocada no véio...
Lembro dele indo votar em todas as eleições, mesmo estando liberado da votação por causa da idade.
Lembro dele afirmando que no açude lá do nosso sítio tinha cavalo marinho.
Ele dizia que cavalo marinho era que nem um cavalo normal, só que morava embaixo d'água. E nem adiantava a gente tentar dizer pra ele que cavalo marinho é aquele bichinho pequenininho...
Lembro dele contando histórias do curupira. Contava que ele existia sim, que tinha os pés virados pra trás (pra despistar os caçadores) e que era ele quem protegia a mata e os bichos que lá moravam.
Lembro também dele contado sobre sacis e mulas-sem cabeça (e ai de quem dissesse que eles não existem...).
Lembro dele dizendo que comer manga e depois tomar leite dava "congestã".
Lembro dele saindo com a gente pra passear, vestindo uma bermuda jeans, uma camiseta colorida, um tênis de couro branco, ou uma sandália de couro, e um boné, todo feliz, se sentindo o tal (é isso mesmo, ele era véio, mas se vestia como um garotão...).
 
Enfim, essa música me faz lembrar de tantas coisas que acho que poderia passar a tarde inteira aqui escrevendo...
 
danilo  http://miolomole.weblogger.com.br
"Lembra de Eu Sou Boy, do Magazine? É essa mesmo. Afinal, nestes quase 15 anos de vida-trampo, eu continuo como um office-boy, só mudou a descrição na carteira de trabalho. Mas mesmo assim, me fudendo, ainda me resta o bom humor, até pra cantar sobre essa vida loser".
 
edney soares de souza  http://www.interney.net
"How Will I Laugh Tomorrow When I Can't Even Smile Today - Suicidal Tendencies.

A música possui três versões oficiais e mescla períodos de euforia e depressão, enquanto que eu tenho um distúrbio de múltiplas personalidades além de passar sempre por períodos de euforia e depressão desde que me entendo por gente".
 
pili benito  [email protected]
"Ainda é Cedo, da Legião... ele ainda me diz que é cedo, cedo, cedo..."
 
pergunta da próxima semana:
"Weblogs: moda passageira ou não?"
Sopre sua resposta no ouvido do Sabbag: [email protected].
 
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sexo acústico? a banda, a música, o sexo
sérgio sérvollo  [email protected]

"Conta a Lenda que a Sexo Acústico surgiu em uma noite de lua cheia em uma taberna na Serra da Cantareira, muvucada de fadas ninfomaníacas e gnomos tarados, lá pelos idos de 1990. Nessa noite, todos que estavam presentes na orgia alcoólico-musical foram iniciados nos preceitos básicos dos mantras-kamasutrianos e experimentaram o êxtase sonoro do absinto, vocalizado pelas fadas fornicadoras do norte. O resultado disso está
representado no trabalho dos integrantes da Banda Sexo Acústico! Únicos humanos presentes na lendária orgia".

Assim iniciava o texto de apresentação da minha banda, distribuído em qualquer boteco da região de Guarulhos que tivesse um palco de pelo menos 2 metros, acompanhado de uma fita K7 demo (pois aquilo só podia ser coisa do demo) e um fanzine produzido com máquina datilográfica, colagens e rabiscos, xerocados na prefeitura pelo nosso patrocinador e baterista. Naquela época, cunhamos um termo, que depois foi "roubado" pelo Paulo-RPM-Ricardo, para designar nosso som: RPB, ou seja, Rock Popular Brasileiro. Não é papo não, saiu em jornal local e tudo! Misturávamos rock, baião, reggae, blues e mpb no mesmo caldeirão e acrescentávamos doses maciças de álcool (e outras substâncias alucinógenas não legalizadas). O resultado era algo similar ao que começava a tomar corpo em outros lugares do Brasil e que despontaram posteriormente, vide o movimento Mangue Bit e bandas como o Rappa, Skank, Cidade Negra, Raimundos e outros. Quando perguntavam sobre o nome da banda, gostávamos de dizer que era um som tão bom que se aproximava do sexo, daí o termo: sexo acústico. Claro que havia as brincadeiras: sexo acústico se faz com cotonete? Sexo acústico é falar sacanagem no ouvido? Sexo acústico é cantar enquanto faz um boquete?

Não éramos gênios reinventando a música não! Sentíamos apenas que essas idéias que surgiam estavam boiando no enorme caldo criativo em que o mundo está mergulhado, e que conseguíamos, de vez em quando, beber dessa fonte (principalmente quando estávamos embriagados). Além disso, tínhamos um enorme tesão em tocar e divertir a galera que nos assistia. Para isso apelávamos (no bom sentido) para recursos teatrais e instrumentos inusitados como pratos, panelas e tambores, além de versões viscerais de
clássicos do cancioneiro popular, como Doces Bárbaros, Frevo Mulher e Deus lhe Pague, entre outras.

Cansei de levar bronca em casa por causa das panelas amassadas e pratos que sumiam misteriosamente. Fazíamos delas grande parte dos nossos instrumentos de percussão, utilizando ainda desde volantes de Fusca 69 como base de pedestal até moringas, cabaças velhas e tampinhas de refrigerante. Nosso show incluía, além do repertório próprio, nomes como Red Hot Chili Peppers, Luiz Gonzaga, Zé Ramalho, Lobão, Barão, Rita Lee, Pearl Jam, Chico Buarque, Caetano, Gil, Benjor, Doors e os indefectíveis Titãs e Legião, mas apesar da mistura, cada versão ficava com nossa cara e nosso swing. Com o tempo formamos uma pequena "legião de fãs" (cerca de 20 ou 30) que sempre nos acompanhava em qualquer lugar que fôssemos tocar. Entre eles, algumas figuras locais antológicas e logicamente nada normais, mas que contribuíram para aumentar o burburinho em torno do nome Sexo Acústico. Nossas músicas próprias eram o reflexo da época, retratos 3X4 da juventude "espremida" entre o "fracasso" dos anos oitenta e suas rebeldias sem causa, e a promessa de um cenário novo nos anos noventa e que infelizmente não se realizou.

É, foram dias de muita luz e energia. A música para nós era a maior droga disponível na noite, se bem que outros tipos, principalmente o álcool, eram companheiros inseparáveis. Quando subíamos ao palco, acontecia uma transformação, uma metamorfose. Só quem passou por essa experiência pode saber como é estar diante de uma dezena de pessoas e mostrar algo que você produziu e quer compartilhar. E saber o que é mostrar-se por completo, com suas emoções, frustrações e medos, camuflados pela encenação e pelos sons dos instrumentos... É pura viagem... Claro que videokê não conta.

Fizemos alguns shows "grandes", outros minúsculos. Tocamos uma vez na Praia Grande para cerca de duas mil pessoas, no Sul de Minas em várias cidades, nos bares do Bexiga e em vários botes na periferia... Mas, de repente, o encanto acabou.

Até hoje, quando me reúno com os ex-parceiros de banda, nos perguntamos por que não deu certo. Qual o motivo de, em certo momento, termos perdido o prazer em tocar? Nunca há uma resposta convincente, principalmente porque as várias garrafas de cerveja sobre a mesa confundem ainda mais nosso raciocínio basicamente emocional. Sabíamos que tínhamos alguma chance de seguir adiante e até gravar um primeiro CD (estávamos inclusive tratando disso), tínhamos também a noção de que conseguíamos entreter a galera que porventura ia aos nossos shows... Conhecíamos nosso potencial e principalmente gostávamos pra caralho de música, mas sinceramente nenhum de nós era um artista na essência. Analisando hoje, de forma honesta, percebo que ninguém ali tinha a entrega, a persistência e a abnegação necessária para se sobressair nesse mundo comandado pela mídia.

Contudo, ninguém perdeu nada. Pelo contrário, essa experiência de dois anos e pouco deixou marcas profundas e lembranças deliciosas de amizade, diversão, alegria e comunhão que guardamos até hoje.

Com esta pequena biografia não-autorizada quero prestar uma homenagem a meus parceiros e aos fãs que sempre nos acompanharam por Guarulhos, devidamente embriagados de álcool e entusiasmo pela vida. Valeu Marquinhos, Pinheiro, Alê, Claudião, Rogério e Taberna. A gente ainda se encontra para uma jam... E lembrem-se: não foi Tempo Perdido... Éramos tão jovens... tão jovens...
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inagaki: duas boas opções nas bancas de jornais para os aficcionados por música, cultura pop & afins. A primeira é a revista Frente, tocada por Ricardo Alexandre (ex-editor da última, e boa, fase da finada Showbizz), Emerson Gasperin e Marcelo Ferla. A outra é a Zero, cujo staff é capitaneado por Alexandre Petillo e Luiz Cesar Pimentel. Imperdível, principalmente por causa de entrevistas com Nahim (o rei do "Qual é a Música") e Cameron Crowe, diretor de "Quase Famosos" e "Vanilla Sky".
 
inagaki: aproveitando o ensejo: tá no ar a nova edição da Falaê! (http://www.falae.com.br). Confira algumas das melhores jams litero-anarco-musicais da Web tupiniquim, feitas por gente como o DJ Dodô (responsável pela excelente coluna Mirante) e Elis Marchioni (que em sua coluna Visagens compila o melhor do imaginário popular brasileiro).