Vamos
lá.
>A Montanha
>Humberto Gessinger
Aqui o cantor estava se referindo simplesmente a aquelas formações,
rochosas ou não, é preciso que se esclareça, do período cretáceo, da
era mesozóica, que alguns estranhos seres de nosso planeta costumam
ter o hábito de escalar, o que quer dizer andar sobre sua inclinação
angular no sentido ascendente e em direção ao cume.
Para estudo ou mera contemplação destas elevações
é necessário apenas que o indivíduo disso desejoso se dirija a localidades
mais ermas, o que quer dizer sair do espaço urbano em direção ao campo,
levando geralmente consigo a família ou amigos mais desavisados, sob
o pretexto de respirar ar puro. Ao falar em montanha, o cantor pode
também subliminarmente querer se referir a si próprio em um momento
de auto-afirmação, (ou não) e, ignorando um famoso provérbio do livro
bíblico que costuma dizer que ao menos a fé remove as montanhas, ele
tentava dizer para os ouvintes da Transamérica algo como:
-
Daqui eu não saio! Daqui ninguém me tira, tá?
Simples,
como você pode ver.
>nem tão longe que eu não possa ver
Aqui a interpretação também é bastante simples.
Nesse momento, ele estava em frente à Torre Eiffel,
com sua namorada (ou variações) e, estando ela muito próximo da máquina
fotográfica, de modo que seu nariz ocupava todo o espaço de foco, ele
pediu para que ela se afastasse um pouco. Ouvindo isso, ela caminhou
alguns passos para trás e ele dizendo mais e ela para trás e ele repetindo
mais e mais e mais. Quando ela virou uma formiguinha ou um ponto indistinguível
da própria torre, ele gritou:
- Pô, tchê! Nem tão longe que eu não possa ver...
>nem tão perto que eu possa tocar
Aqui, infelizmente temos o registro de um momento dramático na vida
do cantor: sabe-se que ele era um viciado em chocolates Batom da Garoto,
tendo inclusive o hábito comum, mas não menos estranho, de contornar
os lábios com o chocolate meio derretido para depois lamber tudo e rir
sozinho (!).
Obrigado a fazer uma dieta pelo produtor do conjunto,
no entanto, chegando este último, inclusive, a ameaçar a integridade
moral do cantor com frases do tipo: - ou o garoto ou eu! (Ou variações),
Humberto decidiu jogar fora todos os chocolates que tinha, doar, vender,
esconder, enfim: tirar do seu alcance. Dois meses de abstinência, ele
parecia outro já. Então, veio o momento culminante e discreto do tratamento
em que o produtor, seguido pelos outros integrantes da banda, familiares,
pela imprensa em geral, inclusive vj's da mtv, adentrava no palco com
um... adivinha o quê?? adivinha o quê??
Exatamente. Um Batom nas mãos. E erguendo o chocolate
em direção ao Humberto, disse: - quer um taco? E Gessinger disse não.
Não satisfeito ainda, o produtor aproximou bem perto do cantor e repetiu:
- quer um taco?
O que daí fez o Humberto reclamar:
-
Pô, tchê, covardia! Nem tão perto que eu possa tocar...
>nem tão longe que eu não possa crer
>que um dia chego lá
Humberto, andarilho, tinha um sonho. Ele já tinha ouvido falar em um
lugar, um lugar de paz, cheio de flores do campo e borboletas coloridas
sobrevoando-as. E acreditou neste sonho. Uma amiga sua, muito próxima,
muito querida, muito dez ela, gente que fazia e fazia bem, já havia
estado lá. Humberto ao saber disso, fez:
-
Hã??
Boquiaberto.
Abismado.
Tomado de surpresa e espanto, ele mal podia acreditar.
-
Então é verdade, Claudinete?? Você jura?? Jura! Jura! Diz que você não
está mentindo, por favoooooor...
Rompendo
em lágrimas.
E
ela disse:
-
Tipo assim, existir existe, mas é longe à paca...
- Mas eu não vou de paca, Clau, vou de avião. Onde é?? Diz para mim,
vai... Diz...
- Tipo assim, você não entendeu nada, mas tudo bem e não sei quê não
sei que lá não sei que não sei quê lá....
Com
voz de homem, então:
-
DIZ LOGO, CLAUDINETE!! E SE ENROLAR ME APANHA!
- Tipo assim, eu vou dizer, mas é longe...
Ao
que Humberto respondeu:
-
Nem tão longe que eu não possa crer que um dia chego lá!
>nem tão perto que eu possa acreditar
>que o dia já chegou
Aqui podemos notar a fixação já talvez patológica do cantor com advérbios
de lugar. Perto... Longe... Perto... Longe... Isto é possivelmente apenas
uma tentativa do cantor de impor um novo vocabulário para aquela brincadeirinha
que as criancinhas e mais raramente os adultos costumam brincar, por
razões amplamente diferentes, claro, repetindo inexplicavelmente as
palavras quente, frio, frio, quente, por ocasião de aproximação ou afastamento
de objeto propositadamente escondido, respectivamente. Inexplicavelmente,
nunca se foi esclarecido o porquê de ser necessariamente "quente"
e "frio". Uma explicação para este fato é a de ser esta brincadeira
apenas mais uma importada do unáitedesteitis e que foi mal traduzida.
Enfim. Acho a sugestão do Humberto bem pertinente.
>no alto da montanha
>num arranha-céu
Aqui, o cantor notou a fantástica semelhança entre uma montanha e um
arranha-céu.
>se eu pudesse, ao menos
>te contar o que se enxerga lá do alto
Esse trecho, sim, revela-nos uma história comovente. Tendo sido Humberto
abduzido por simpáticos alienígenas, passando ele, inclusive, por todos
aqueles estágios de reconhecimento que, como já é de domínio público
aqui na Terra, é colocado um mini chip via... via... lá no... bem, foi
colocado o retransmissor.
O cantor também foi submetido, como sabemos, a
uma descoloração total de seus cabelos, inclusive de suas sobrancelhas,
onde parte da cor de seus cabelos foi confinada a uma câmara de estudos
supra quiasmáticos da radioatividade capilar terrena. Esse pedaço da
música, refere-se a trechos do relato do artista quando na ocasião de
uma coletiva dada à impressa referindo à viagem de volta.
>com o céu aberto, limpo e claro
Aqui é apenas o início daqueles dizeres, bastante comuns aos comissário
de vôo tanto terráqueos quanto alienígenas, ao que vemos, no qual eles,
depois que todos os passageiros conseguem se controlar e se auto-sugerir
estarem apenas sonhando, ou seja não estarem voando de fato, os tais
comissários insistem em lembrar a todos que eles estão voando, sim,
e que debaixo daquele ilusório soalho do avião só tem vento e nuvem
e anjinho e que qualquer coisa que dê errado muito provavelmente não
será possível contar aos parentes como foi realmente a história.
>ou com os olhos fechados
Aqui é possivelmente o final do mesmo discurso.
- Bom dia, senhores passageiros... Nosso vôo será
tranqüilo e rápido, com o céu aberto, limpo e claro... Já podem retirar
seus cintos, porque eles não servem de nada mesmo aqui em cima. Hahahahahahaha.
Desculpem. Acima de suas cadeiras você poderão encontrar máscara para
oxigenação alternativa em casos de emergência em que o ar se torne raro.
Para casos de queda livre, digo, o avião cair, podem cair rezando com
olhos arregalados ou com os olhos fechados. Hahahahahahahaha. Desculpem
e a todos uma boa viagem.
> se eu pudesse, ao menos
>te levar comigo... lá
Sabem aqueles pesadelos que todo mundo tem, acorda morrendo, gritando,
suado, pulando da cama, "parecendo" um doido? Aconteceu com
Humberto também e ele se refere especificamente a este sonho nesse trecho
da música. Vinha ele por uma estrada deserta... não... por uma ponte
deserta.... ou melhor... um campo florido. Ele vinha cantando um de
seus últimos singles (?) quando de repente surge à sua frente uma figura
bizarra, semelhante a Reginaldo Rossi de espartilho, segurando uma foice
em uma das mãos. Ele disse: - eu sou a morte. Vim lhe buscar. Você morrer.
Hahahahahahaha. Desculpem.
Humberto grita:
- Arrá! Não dessa vez, dona. Tenho um contrato
com a Polygram até 2089. Se você me levar antes disso, significa que
eu não vou poder mais gravar sob os termos do contrato, o que implica
que você terá que arcar com uma multa de oito bilhões quatrocentos e
noventa e sete milhões duzentos e quarenta e três mil quinhentos e noventa
e três dólares e quatrocentos e quinze centes, o que em outras palavras
quer dizer que até lá, vocês vão ter que me engolir!!
-
Em dólar??
- Em dólar!
- Não dá nem pra arredondar?
- Nadinha.
- Nem à vista?
- Cartão ou dinheiro?
- Cartão.
- De qual marca?
- Visa electron de conta bb campus.
- Hahahahahahahaha.
- Pôxa... seria tão bom se eu pudesse, ao menos te levar comigo... lá.
>pr'o alto da montanha
>num arranha-céu
Aqui de novo o cantor percebe a semelhança.
- Não, eu quis dizer que...
- Cala boca, Humberto!
>sem final feliz ou infeliz
Aqui, como podemos claramente ver, o cantor pega-se de um livro de Kafka,
e com luta e dedicação, mordendo a língua e enrugando a testa, eis que
ele conclui a leitura. Pensamentos que se seguem:
- Pô, tchê... história mais louca: sem final feliz
ou infeliz. Será que tem a segunda parte?
>atores sem papel
Essa frase é em solidariedade a todos os atores da globo que entraram
com um processo na justiça contra a mais nova estátua, digo, atriz,
da emissora: a Ivete Semgalo. Sangalo, digo. Indignados, os atores
reclamaram na tv o absurdo da contratação. Humberto assistindo:
- Pô, tchê... coisa mais triste. Atores sem papel...
Sem-terras sem terra... Manteiga sem gordura... Pô, tchê. Triste demais.
Podes crer.
>no alto da montanha
Aqui começa a confusão
>à toa, ao léu
Calma, Humberto...
>nem tão longe, impossível
Amigo... amigo...
>nem tampouco lá... já
Eita.
>no alto da montanha
>num arranha-céu
- Chama os enfermeiros!
>sem final feliz ou infeliz
É. Vai passar, viu? Vai passar....
>atores sem papel
Pronto... Passô... Passô....
> no alto da montanha
> num arranha-céu
- Amarra!