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060
21 de abril de 2002
são paulo  recife  porto alegre  itararé  goiânia  rio de janeiro
 
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n e s t a   e d i ç ã o:
 
ambulatório  star trash  o final  picles  como voar  riotesão  mais virunduns 

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editorial
orlando tosetto junior  [email protected]
 
Na quarta feira, empatamos com Portugal. Sexta feira foi o dia do índio. Hoje, é de Tiradentes. Amanhã, a nação sopra 502 velinhas. Me sinto rodeado de Brasil por todos os lados.
 
O que não é muito comum aqui pelas bandas da net. Nunca fiz estatística, vou de orelhada, mas o fato é que quase não vejo Brasil no que os brasileiros, este e-zine incluído, escrevem Internet afora. Sei lá se é da "condição sócio-econômica" dos "com net"; o fato é que o pessoal tem esquecido nossa exuberância, nosso quase pavoneamento comportamental, e se concentrado em bergmanianos interiores.
 
* * *
 
Quinta à noite. No banco ao lado do meu, no metrô, o camarada tremendamente bêbado se senta. Traz nas mãos um jornal esportivo com uma manchete sobre nosso empate com Portugal. Eu estou lendo, mas ele não se importa: está bêbado e, além disso, tem uma tese: seremos campeões.
 
"Ronaldinho garantiu", diz ele, sacudindo-se, "e o cara é dez, o cara é ponta firme, o cara é foda, quando fala ele faz mesmo."
 
E agita-se, abre os braços, balança. Como se, ali sentado, também ele fosse capaz de gingar e driblar todos os argentinos que existem.
 
* * *
 
Eu falo e falo, mas a verdade é que nunca vi um índio de perto. Um amigo meu tem um amigo que é índio, e isso foi o mais perto que já cheguei deles: através de uma relação social de anedota. Não sei onde estão, quem são, como vivem; e é duvidoso que, se fosse apresentado a um, sequer percebesse sua "indianidade".
 
Também não sei dizer se isso é bom ou mau.
 
* * *
 
Tiradentes queria mesmo é libertar Minas Gerais.
 
* * *
 
Um bolo onde cabem 502 velas há de ser grande. Tivemos um ministro que disse que, antes de dividir o bolo, era preciso fazê-lo crescer. A declaração pegou mal; aliás, afora exceções como "independência ou morte", "vae victis" ou "sangue, suor e lágrimas", declaração de autoridade quase sempre pega mal.
 
Nos 30 anos que nos separam dessa declaração, o bolo cresceu. O número de bocas também. Então, talvez o resultado da divisão ainda seja o mesmo de 30 anos atrás. Parafraseando jocundo adágio: as migalhas não vão dar pra todos.
 
O que não impede que o bolo seja devidamente fatiado.
 
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manhã de ambulatório
cristiane bezerra  www.mundissa.com/lagartazul
 
Outra manhã, a penúltima manhã de ambulatório. Todas as crianças com coisinhas de cartolina na cabeça fazendo as vezes de orelhas do coelho da páscoa. Na verdade eu gosto muito de crianças, preciso admitir isso, paciência. Gosto tanto que às vezes penso que nunca vou ter filhos. Crianças merecem mães decentes.
 
Mas hoje não é dia de drama, eu já tava atrasada e bora lá. A ficha dizia Abraão, então fui eu chamar Abraão. Depois da quarta vez (entre pausas), lá vem a mulher. Como não tava "portando" nenhuma criança, nenhum Abraão, achei que nem era comigo. Chamei de novo.
 
- Sou eu!
 
- Abraão?
 
- É.
 
Olho em volta, nenhum Abraão. Nem nada parecido com o que poderia ser um Abraão. A mulher, sozinha.
 
- Mas e Abraão, cadê?
 
- Abraão?
 
Calma, calma, respira fundo.
 
- Sim, eu chamei Abraão... A senhora é a mãe?
 
- É, sou a mãe dele.
 
- Certo, oquei, mas ele? Cadê?
 
- Ele?
 
Muita calma. Respira.
 
- Sim, minha senhora... Ele!
 
- Ele num veio não.
 
!
 
- Não veio? Mas e a senhora veio por quê então, se a consulta era pra ele? Aqui é ambulatório de Pediatria, minha senhora... Tem que trazer o menino!
 
- É porque ele tá doente.
 
!!!
 
- Mas é justamente por isso que as pessoas vêm aqui no hospital, a senhora me entende? As pessoas doentes vêm pro hospital porque estão do-en-tes. Serve pra isso mesmo!
 
- Mas eu sei... É porque eu moro longe e tive que chegar aqui de três horas e fiquei com pena de trazer ele.
 
- Mas minha senhora... Que coisa... Ômeudeus...
 
Tem essas vezes que nem dá pra dizer mais nada.
 
"27/03/02, 07:10h. Genitora veio para consulta da criança SEM A CRIANÇA. Orientada para retornar ao serviço amanhã, dessa vez COM A CRIANÇA."
 
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star trash - missão a bolfogrameidos
pedro vitiello  [email protected]

Diário de Bordo - 33.530.736/9 - Missão a Bolfogrameidos.
 
Dia 1:
Aqui é o Comandante Estelar Shultz e sua tripulação, a bordo da SS. Cacilda Becker. Estou em uma importante missão em direção à constelação de Bolfogrameidos, durante 2 anos, para conhecer o universo e além. A tripulação está preparada, bem disposta e, se Deus quiser, teremos uma boa missão e obteremos um bom resultado.
 
Estamos confiantes em nossos técnicos, que apesar de serem uns tapados estão incentivados em não nos deixar morrer estupidamente no espaço (morreremos de um modo inteligente, portanto), em nossa Central de Inteligência e Comunicação e Apoio (CICA). Aqueles sortudos que ficaram em segurança na Terra, assim como minha esposa (que jura de pés juntos que aquele colega inca-venusiano com quem ela sai para conversar e volta de cabelo molhado de vez em quando é apenas um bom amigo).
 
Estamos principalmente confiantes de que o fato de termos sido obrigados pelo governo a sair nessa lata velha é sinal de que algo nesse governo democrático não cheira bem (e não são só os malditos incas venusianos).
 
Estamos indo aonde nenhum homem jamais esteve, já que é preciso ser muito macho para ir a um zilhão de anos-luz da terra numa nave estelar "semi-nova" como esta.
 
Dia 2:
Para desestressar o ambiente, a Tenente Ripley resolveu nos fazer um show de striptease em que mostrava... Tudo! A coisa foi bem até a hora que ela incluiu nesse "tudo" uma chapa 3d de seu alien no cérebro. Alguns tripulantes ainda não se recuperaram totalmente. Estou com ânsia. Nunca mais quero pensar em sexo. Pelo menos com mulheres com cérebro.
 
Dia 3:
Estamos em dobra espacial, velocidade ESTUPENDA. Em termos matemáticos, isso significa que eu cabulei a aula de leitura de instrumentos na academia e não tenho a menor idéia de quão rápidos estamos. Só sei que é rápido para cassete.
 
Meus auxiliares diretos nesta missão são: a tenente Ripley (já apelidada de Horripley), o capitão Floquinhos (especialista em crises capilares e caspa, um problema em gravidade zero), o andróide sociopata 3-OITAO, os especialistas em relações extraterrenas e em Paranóia Avançada Fax Modden e Donna Scanner (gêmeos siameses, mas de pais diferentes), o gerente de Jogos e Contabilidade, Don Casmurro, e nosso especialista em lógica, o Inca Venusiano Zen Zimp Afluoso (seja lá o que isso signifique). Eles me enchem o saco. Odeio eles.
 
Começo a achar que essa missão é uma sacanagem da CICA. Começo a ter certeza, aliás. Eles são um bando de incas venusianos.
        
Dia 4:
Disse à tripulação que precisava tomar algumas decisões e fiquei aqui na cabine. Sozinho.
Alguns membros da tripulação me perguntaram qual era o nosso destino. Disse que era segredo militar e que se eles perguntassem de novo ia ter que atirar neles. Isso deve me dar um certo ar de autoridade. E fazer eles me deixarem sozinho. Meu plano é dormir até estourar e ver se acordo deste pesadelo.
 
Ontem à noite tivemos dobradinha com jiló em CÁPSULAS. O filme escolhido foi "O Retorno do Neto de E.T. parte 5, a hora da vingança continua". Quero morrer!
 
Bateram na minha porta a pouco. Dei dois tiros com minha Azimov 5000 que furaram a porta. Ouvi um barulho de corpo caindo no chão. Pelo menos agora sabem que estou falando sério. Tenho que ter autoridade e respeito por aqui.
 
Dia 8:
Eu sei que é minha obrigação escrever relatórios diários, mas já que a CICA só vai ler isso quando a gente voltar, e SE a gente voltar, foda-se.
 
Resolvi sair da cabine hoje. Acabou meu estoque de cream cracker e minha tubaína Galática. Meu vaso entupiu e estou fedendo. Precisava sair. E de um banho.
 
A tripulação me olha meio de lado, como se eu estivesse endoidando. Expliquei para eles que a minha atitude não era loucura, mas sim que uma entidade cósmica tinha se apossado do meu corpo e por isso fiquei esquisito uns dias. Agora estava bem. Não sei se eles engoliram.
 
Chegando na ponte notei certa preocupação do pessoal. Diria pânico, pois ninguém sabia o que fazer. Todos berravam muito e se aproximavam de mim aos prantos me agarrando e passando germes. Usando minha voz de comando mandei todos se acalmarem. Funcionou melhor quando repeti a frase com a arma em punho.
 
Daí me explicaram:

- Senhor, temos um problema classe alfa, com prioridade ômega. Trata-se de uma improbalística neutrônica, uma vez que o reator atômico numero 3 está apresentando aumentos de neutrinos acusados pela central de forma que a hembiônica de ajuste está em desparidade com a análise funcional...
 
- Rapaz - disse, olhando para o tagarelazinho. Era o tal Zen Flatuloso ou algo assim. - Cale-se. Vamos fazer um teste: Quero ver se você é capaz de me explicar como se eu tivesse a mente de uma criança de 5 anos...
 
- Não será difícil imaginar isso, senhor... hum, digo, sim senhor!

- Me responda com huhum (sim) ou hu-hum (não), é um problema biológico?

- Hummm .... hu-hum (não).

- É mecânico?

- Huhum (sim).

- É muito sério?

- Huhum (sim).

- Em termos técnicos, estamos fodidos?

- Huhum (sim).

- Muito ou pouco?

- Muitíssimo, senhor! Um problema classe alfa, com prioridade ômega, uma improbalistica nêutron...

- Pare!!! - disse delicadamente acenando com a minha pistola Asimov 2.000. Ele se calou. - Em termos menos técnicos, por obséquio.
 
- Extremamente fodidos, senhor.

- Huummm... Ok, nada de pânico. Por que estamos fodidos?

- Bem... disse o maldito verme, olhando para os lados... é que, em termos bem básicos... o motor pode explodir, gerando um efeito que pode nos transportar dimensionalmente através do espaço, causando-nos uma onda de dor e agonia que durará toda a eternidade...
 
- Como???!!

- O Motor vai dessa pra melhor e vai nos levar junto, senhor...

- Ah... Nada de pânico! Temos como evacuar?

- Não senhor, já checamos isso, mas não. - Aquilo era sério: Milhares de pessoas na tripulação dependendo de uma decisão minha. E nenhuma saída de emergência funcionando para eu escapar de mansinho. Tsc tsc.
 
- Quanto tempo temos antes deste problema ficar pior?

- Dois dias, senhor. Ah, e não chamamos o senhor antes porque... Bem, não achamos que pudesse ajudar.
 
Aquilo doeu. Eu, um profissional preocupado, centrado, ser acusado assim, na frente de outros membros da tripulação. Tive uma atitude centrada. Atirei nele à queima-roupa (o desgramado sobreviveu).
 
- Bem... disse calmamente para meus subordinados... AGORA é hora de pânico!
 
Como sobrevivemos? Aliás, sobrevivemos? Aguardem o próximo emocionante capítulo da emocionante saga  "Missão à Bolfogrameidos - Cap 2 - O Ninho de Mafolgagalfos".
 
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p e r g u n t a r  n ã o  o f e n d e
"Gordo na bunda sua?"
 
renato cortez  [email protected]
"Sua!!! Assim como jacaré no seco anda."
 
ítalo gusso  [email protected]
"Talvez... eu acho que gordo na bunda sua sempre que alguém pergunta."
 
zex  [email protected]
"se gordo na bunda sua eu não sei... Mas convenhamos: neste calor como a bunda sua!"
 
pedro gonzalez  [email protected]
"Não, na minha não. Nem magro."
 
edney soares de souza  [email protected]
"Eu acho que cabelo no peito meu."
 
aline  www.sad_loved_girl.blig.ig.com.br
"Tenho duas respostas para isso:
1. Não, obrigada...
2. Sim! Por favor..."
 
silvia devereaux  [email protected]
"Meu caro: não. Mas convém não esquecer que cão que late n'água late em terra, né? A propósito: que time é teu?"
 
pergunta da próxima semana:
"Amor sem sexo ou sexo sem amor? Escolha uma opção e justifique".
Ajude Suzi Hong a resolver tal dilema: [email protected].
 
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petit finale
joão perassolo  http://jotape.blogspot.com
 
Morto. Enterrado. Sepultado. Duas rosas em cima do caixão e fotos da família na lápide de mármore. E agora que eu já matei o personagem, o que você faz?
 
Mas tu é um puto mesmo. Como assim matou o personagem? Tu tem noção da bomba que tu passou pra mim?
 
E agora, José?
 
E o que é pior: tu matou o personagem com luxo. Não foi uma morte assim atropelado por um fusca, nem foi morte de verme na barriga. Tu sepultou, colocou duas rosas em cima do caixão e a lápide onde estão as fotos é de mármore. Már-mo-re. Caro pra caralho.
 
Se fosse morte de gente pobre porém honesta ou negra porém limpinha teria toda uma vida a ser explorada, uma história a ser contada:
 
Severino de Jesus - de Jesus é sobrenome de quem não tem sobrenome -, retirante nordestino que migrou para Porto Alegre (Hah. Achou que eu ia dizer sudeste? São Paulo? Rio? Não, não. Já to trabalhando com o clichê do nordestino, se eu disser que ele foi pra "Sum Paulo tentar a vida" o leitor jogaria longe esse pedaço de papel porque de clichês a vida já está cheia) em busca de melhores condições de vida...
 
Possibilidades:
 
Pára, pára. Momento para reflexão: eu disse que de clichês a vida já está cheia. Acontece que a literatura e a arte em geral imitam a vida. Sendo assim, a arte também vai estar repleta de lugares-comuns. Tu vê, matar o personagem é um lugar-comum, tanto que tu matou o personagem no primeiro parágrafo e eu me desesperei pra continuar a história. Mas não devia ser assim. Não mesmo. A arte, pelo menos a arte, teria que ser diferente da vida um pouco, ser menos clichê que a vida, apresentar uma visão no mínimo curiosa da realidade. Tipo musse de chocolate com batata-frita, ou então um cão chupando manga, saca? Ao invés de matar o personagem no fim do texto. Enfim, continuando.
 
Possibilidades:    
 
1)... e conseguiu. Arrumou um empreguinho numa metalúrgica e foi crescendo dentro da fábrica até chegar a chefe do departamento de ferragem. O que era bom, considerando que se tratava de gente pobre porém honesta. Comprou uma casinha no Partenon, montou família, e deu educação "pros fio", que agora se papai-do-céu-virge-maria quiserem vão ser "dotô".
 
2) ... e se fudeu. Fodido e mal pago. (E foda é bom, lógico."Foda e deixe foder", já dizia minha tia. Mas não nesse texto. Agora que tu matou o personagem, quem tem que remendar e convencer o leitor sou eu. Portanto, no meu texto, Severino não só não é pago, como também se dá mal. Se fode). Não conseguiu emprego e acabou como vendedor de despertadores na Rua da Praia. Bi-bi-bi-bi, bi-bi-bi-bi, essa era a trilha sonora de sua vida. Ao chegar em casa, de noite, ligava na Globo e comia o resto do marmitex do almoço, só que requentado. Sua mulher, Judicreusa, já tinha ido dormir - ela ia dormir com as galinhas.
 
E agora? O que o leitor ganhou com toda essa enrolação? Por quê, nobre leitor que dedicou seu tempo a um texto que tem a pretensão de ser literatura, eu te fiz ler até aqui?
 
Pra nada, oras. O personagem já tá morto mesmo. E, de mais a mais, quem disse que literatura sempre tem que ter um "gran finale"?
 
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d i á l o g o s   i n e s q u e c í v e i s
 
Rua cheia. Pessoas com velas nas mãos, ladainha, sofrimento.
Clarice: Quiéisso?
Eu: Procissão. Vamos andar depressa.
Andamos depressa, nos metemos no meio das beatas, ultrapassamos.
Clarice: Espero nunca mais passar pela prostituição.
Eu: PROCISSÃO, menina!
 
(cena da vida real deste vosso editor -- ser pai é acampar na porta do paraíso.)
 
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picles
silas correa leite  [email protected]
 
Colabore com as autoridades. Cometa um crime perfeito.
 
Em terra de ACM, Barbalho, Lalau, Sarney, Maluf, Naya, Agnaldo Timóteo, Hildebrando Paschoal e Pitta, para chegar a ser um FHC tem que ter muitas mãos nas cumbucas.
 
Sonhava em comer o Pão de Açúcar, mesmo tendo pedra nos rins e sendo diábético.
 
O problema, em 1500, não eram as vergonhas saradinhas das índias. Era o pau brasil dos índios.
 
Acompanhe a maioria. Ande sozinho.
 
Ame um gordo. Contém mais homem.
 
No Rio de Janeiro, a expressão "dar com os burros n’água" era usada quando a comitiva do ex-governador Garotinho caía na Lagoa Rodrigo de Freitas.
 
A Roseana Sarney é tão babaquara que já tentou se enforcar com uma faca.
 
Partido Liberal no Brasil é como festa junina: antes de se legalizar, tem que formar quadrilha.
 
Na lua-de-mel, não atingiu a meta. Casou, mas foi um apagão.
 
Toda mulher tem um futuro duro pela frente.
 
Fimose e hérnia lado a lado: ereção estéril.
 
É um professor de lógica tão ortodoxo, que na sua aula nem Coca Cola.

A carne é fraca, o osso é duro de roer, mas a pelanca dá pra se salvar com uma boa lipoaspiração.
 
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s p a m   c i n e
Viu filme e quer contar? Pues, envie o seu comentário crítico, o seu pitaco pelicular para [email protected]. Os melhores e mais desaforados sempre têm vez.
 
les veadôs
silvia devereaux  [email protected]
 
Então: eu preciso dizer que esses filmes franceses são todos esquisitos. Não sei o que é: ritmo, roteiro, mão. Parece que eles gastam um tempão pensando, pensando, pensando. Ou então a França é a Polônia, e esqueceram de nos contar.
 
Bom, mas a questão é que fui ver esse filme chamado "Le Placard", que em portuguese ficou "O Closet", porque tem o Gérard Depardieu, que é o único gordo pelo qual tenho tesão confessado e assumido, e porque reconheci o nome do Auteil, que um dos meu ex disse que era bom ator.
 
Olha, o filme é francês, e eu já restringi os franceses no primeiro parágrafo, mas vou ser obrigada a restringi-los de novo. Conta a história de um sujeito insignificante e feio, o tal do Auteil, cuja mulher, linda, o chifrou e o chutou, e de quem o filho, igualmente gracioso, ne veux savoir pas aussi. Ai, que metida, eu. Pois bem: o sujeito vai ser demitido e decide, com a ajuda de um sábio vizinho, bancar o veado e salvar o emprego na base do "não à discriminação".
 
Já dá pra adivinhar que o resto serão "situações", né? Nas quais os "tabus" serão postos por terra, os "estereótipos" devidamente barbarizados e tal. Aí é que o tal do ritmo, da mão dos franceses deixa de funcionar. O filme não explode, as loucuuuuras não se acavalam, e o final, simpatiquinho, deixa gosto de xabu na boca (um gosto que deve ser evitado, se me entendem).
 
Mas o maior erro é este: ninguém liga pra correção política na França. Se querem botar um camarada na rua, botam, e estão cagando pro que ele faz no escurinho. Eu sei, porque já andei por lá, patuléia. Ficou fake, pra continuar no português do título. In-ve-ros-sí-mil. Tá?
 
Mas é filme francês, e aquele seu amigo(a) chato(a) e metido(a) a intelectual foi ver, então vá também, porque, apesar de chato, esse dá pra entender. Eu, vocês já viram, prefiro trufas a Truffaut.
 
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instrução improvisada de vôo
(arlã()  [email protected]
 
voas nos meus sonhos é verdade
mas não vejo com que asas dominas
o vendaval da minha solidão
nem com que plano flutuante pairas
presença catatônica sobre o meu coração
 
qual personagem alada és
e de que época vem teu rosto em mim
só percebo desfigurado ao despertar
tanto e totalmente isento de ti
 
já há tempos habitas o céu bruto dos indiferentes
e sequer deixastes testemunhos das nossas fantasias
mas dizes que asas são essas?
resquícios punitivos da minha própria poesia?
 
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r á p i d a s   r a s t e i r a s
 
"As energias femininas na região estão obscurecidas".
(FERNANDA YOUNG, "explicando" as causas da violência em Israel. Aliás, Golda Meir era homem?)
 
"O falastrão foi embora".
(Manchete venezuelanemente imparcial da VEJA sobre a "queda" de Hugo Chávez.)
 
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um rio entre minhas pernas
beatriz singer  [email protected]
 
Montanhas e vales, intercedidos pela morte. Cristo de braços abertos faz realidade a metáfora mais escancarada de que meu Mutum fica no Rio. A viagem foi um espetáculo. Dez dias. Uma orgia silenciosa como o dia-a-dia. A morte de 2001, o nascimento de 2002. Os pequenos vales e montanhas que já despontaram naquele curto período de fim e começo de algo que não tocamos, não vemos, mas sabemos que existe. Porque acreditamos. O Rio é o meu Mutum.
 
Belos corpos desfilam belos pela praia bela. É muita beleza junta. Chega a sufocar. A areia exala tesão e medo. Tensão. Bocejo. Um movimento errado e o diretor manda recomeçar a filmagem. Na novela da vida real, as coisas são ao vivo. Aí complica. Vencem os espontâneos, ficam os inseguros. O Rio é belo como uma novela ao vivo. Se você chegar bem perto, mas bem perto mesmo de um carioca, é capaz de ouvir a trilha sonora que estará em breve numa loja próxima a quase qualquer brasileiro.
 
Rodoviária quente. Sair de perto do ônibus dá um pouco de alívio, mas assusta. O calor todo não vinha do rabo quente dos monstros que nos vomitam após cozinhar-nos por horas, mas do próprio ar carioca. Ar quente que amolece e quase toca. Quase roça. Carinhoca. Susto doce de enfrentar os próximos dez dias sob o hálito afrodisíaco do verão em Copacabana. Não estou acostumada com tanta sensualidade.
 
Que maravilha ser alguém em pé, a pé, descalço e desconhecido, numa rua qualquer do Rio. A cidade puxa meus sentidos, arranca-os a força, mesmo que eu não saia do lugar e feche os olhos e tape o nariz e a boca e os poros. Aos poucos, a aura carioca tira minha roupa. E não há nada que eu possa fazer para evitar.
 
Ali, não conto para ninguém, mas me meteria num bacanal fácil, fácil. Ali eu passaria por forasteira that has nothing to lose. Que chega e sai sem ser notada. Que aproveita o sol e o mar e o cheiro de homem que sai do asfalto e sobe inquietando as saias. Saias escondem e mostram, escondem e mostram. Reforço intermitente, a fórmula da sedução.
 
Coxas molhadas. No Rio todas as coxas são molhadas. E todos os pecados são deveres. E todos os movimentos são notados e comentados. E todas as dores são prazeres.
 
Assim foi. Praia todo dia. Guarda-sol para a loirinha. Mar bravo, tarado, algumas vezes tentou arrancar meu biquini. No começo não conseguiu. Depois foi ficando mais difícil. Cada vez a onda puxava mais forte e me jogava mais longe. E nos outros dias eu meio que fingi não perceber, mas deixava o laço mais frouxo.
 
Então, no décimo dia, ele conseguiu. O mar. O mar arrancou meu biquíni com violência. E eu sorri de leve daquela ousadia premeditada por nós dois. E outras ondas vieram com a freqüência do coito. Até eu gozar olhando a espuma branca que quebrava na praia. No décimo dia transei com o mar. Um estupro consentido.
 
E foi somente ali que consegui olhar de fato para o Cristo redentor. Ele de braços abertos. Eu de pernas abertas. O quebra-cabeça perfeito. O enigma desvelado. Não havia mais culpa, nem mérito. Apenas a submissão à cidade tântrica. Eu de pernas abertas. Ele de braços abertos. Ambos com um sorriso no rosto. Finalmente captei Sua mensagem. Ele dizia: bem-vinda ao Rio.
 
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f a l a  q u e  e u  t e  e s c u t o
fale devagar, fale correndo, fale mansinho aqui no pé da orelha ou saia de trombone a toda por todos os cantos do e-mail: [email protected]. orelhas e olhos atentos sem taxa de urgência, e onde a hora tem mais de 50 minutos.
 
-> algumas respostas ao editorial sobre "virunduns" publicado na edição 058:
 
Maria João Amado  [email protected]
Eu tenho 2 músicas que juropurdeus que ouvia diferente: uma é Como Nossos Pais. Naquela parte do "contando o vil metal", eu entendia "cortando fio dental". :) E a outra é uma música de Luiz Gonzaga que diz: "Luiz respeita Januário.../ Respeita os oito baixos do teu pai". Eu entendia, e cantava: "respeita os 'ovo baixo' do teu pai. KKKKKKKKKKK

Tem uma outra historinha bonitinha de meu irmão mais novo. Um belo dia saímos em família para lanchar na McDonalds recém-inaugurada (isso foi em 87), e Jonga, meu irmãozinho, do alto dos seus 7 anos falava que os Beatles isso, e os Beatles aquilo. Meu Big Brother (irmão mais velho), já de saco cheio da falação, intimou:
 
- Você conhece os Beatles?
- Claro. conheço muito.
- Ah, é? então diga pelo menos 1 música deles.
- Fácil. Tilóptium!
(todos juntos) - O quê?
- Tilóptium!
- E que música é essa?
- Aquela... Tilóptium yeah, yeah, yeah...
 
Camila Saccomori  [email protected]
O virundum que eu mais gosto é um cometido pela minha vó até hoje - já expliquei 500 mil vezes o termo correto pra minha querida anciã, mas não rola. Ela curte mais a versão esquisita - e original, diga-se de passagem, por ela inventada e ouvida. É uma música do Roberto Carlos e diz assim: "Nos lençóis macios, amantes se dão..."
 
Pois não é que a velha criou a palavra MANTISIDÃO para a segunda frase, como se a mantisidão fosse uma coisa profunda, grande, imensa, que acontece nos lençóis macios? Pensando bem, se a palavra existisse, essa seria a tradução mais legal.
 
Barbara Monte  [email protected]
O pior "virundum" eu não cometi, eu escutei. A minha cunhada, ao cantar aquela melosa música da novela "O Clone" (...pulando o abismo sem olhar pra trás...), insistia em cantar: "Assoprando o apito sem olhar pra trás..." rs*...rs*
 
Nilda Viana  [email protected]
Eu não me recordo de ter cometido nenhum "virundum", mas sei de alguém que o fez com maestria. É o famoso e não menos capaz Noel Rosa, que parodiava o Hino Nacional assim: "Elvira cor de manga, amarga e flácida". ;-))
 
Patricia Sampaio  [email protected]
Tem um amigo meu que cantava Boa Noite do Djavan assim: "minha vida por um televisor, minha vida por um televisor", e, na verdade é assim: "minha vida por inteiro eu lhe dou". E ainda teimava falando que ele é que estava certo. Pode???
 
Ellen Aprobato  [email protected]
A "interpretação" mais legal que já ouvi foi do meu marido (suíço, que aprendeu o básico de português) cantando as musiquinhas de um CD infantil que minha filha ganhou...
"Polegadas, polegadas, onde está? Aqui está, eles se saúde, eles se saúde e se vã"
(Polegares, polegares, onde estão? Aqui estão, eles se saúdam, eles se saúdam, e se vão), e "Pilito que bate-bate, pilito que já bateu..." (Pirulito que bate-bate...)
 
 
>> do blog Surra de Pao Mole (http://surradepaomole.blogspot.com)
 
Dean  [email protected]
(sobre Noite do Prazer, do grupo Brylho) Eu cantava assim antigamente: "tocando Gipsy Kings sem parar". Quando percebi quase morri de vergonha.
 
 
>> do blog 2004 - Uma Odisséia Díptica (http://odisseia2004.blogspot.com)
 
Clarice Maia Scotti  [email protected]
Eu lembrei de dois que eu já cometi:

Oceano, do Djavan:
"Amarelo deserto e seus temores..."

Música Urbana 2, da Legião:
"Os tênis armados e as tropas de choques..."

Paula Guilliod  [email protected]
Tem uma hilária que só de pensar eu choro de rir... era uma amiga do meu amigo que cantava assim enquanto tocava a música da Rita Lee (Desculpe o Auê) no seu violão: "Por você vou roubar os anéis e USAR TUUUDO...". :)
 
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c r é d i t o s  f i n a i s
 
my heart belongs to daddy
Orlando Tosetto Junior > [email protected]
Alexandre Inagaki > [email protected]
Ricardo Sabbag > [email protected]
 
you're getting to be a habit with me
Beatriz Singer > [email protected]
(arlã() > [email protected]
Cristiane Bezerra > [email protected]
João Perassolo > [email protected]
Pedro Vitiello > [email protected]
Silas Correa Leite > [email protected]
Sol Moras > http://sol_moras.blogspot.com
 
making whoopee
Aline > www.sad_loved_girl.blig.ig.com.br
Barbara Monte > [email protected]
Camila Saccomori > [email protected]
Clarice Maia Scotti > [email protected]
Dean > [email protected]
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