SpamZine_________________
057
24 de março de 2002
rio
de janeiro são paulo curitiba são carlos campos
>>>
n
e s t a e d i ç ã o:
boteco à guisa de aula sunga
e honra resposta do silêncio
por-enquantos tristinho &
tristonho verdade de souza
maldita cebola muletas voláteis
minha bisavó janete cléia
relatório alfa homem-picolé x dr. k-daver filmes
pra morar bisús
Putaqueospario
é aquela ó
Invadir, pilhar, tomar o que é nosso.
Roubei o Spam Zine! Colaboradora bissexta, sempre quis saber como era
editar isso aqui. Eu achava que o Inagaki e o Sabbag chegavam doidões de alguma
birosca, olhavam os textos enviados pelos leitores dançando na tela do computador
desordenados, multiplicando-se - “por que as pessoas mandam cada texto duas
vezes?” “sei lá, bicho, esse pessoal é estranho.” - e jogavam tudo aleatoriamente
num e-mail gigante. A oportunidade de conferir que não era (bem) assim coincidiu
com dias complicados para mim.
Estou me formando em jornalismo. Uma formatura que é mera formalidade, no
sentido em que a universidade ainda vai tentar protelar o quanto puder minha
saída. Na época de defender monografia, todo formando sempre se vê implorando
na última hora por notas que desaparecem, de matérias que a universidade alega
que não ele cursou e isso deve atrasar um pouco também a colação de grau.
Minha formação, na verdade, pula o muro da faculdade e acaba sendo um resultado
de perguntar tanto o óbvio quanto o bizarro pro Paulo Pires, pro ~ Matias
e pro Emersong, observar a cara-de-pau do Matias Maxx e fazer todo frila que
pinta, além de ler o que a faculdade geralmente não manda a gente ler. Em
quatro anos, estudei uma única disciplina totalmente relevante, que me abriu
perspectivas que a faculdade geralmente negligencia de propósito (ou por ignorância?)
e oferecia coisas que meus orientadores e desorientadores de fora da Escola
não comentavam: Jornalismo Literário. Ela desencadeou o tema da minha monografia.
Mas... peraí, lá em cima eu disse “defender” a monografia? O termo nunca pareceu
tão apropriado quanto agora. No meu caso, pelos comentários um dia depois
da entrega do trabalho, vai ser quase a inquisição. Meu texto cita um monte
de drogado inventando novidade pra escrever: é um tal de Hunter Thompson,
Lester Bangs, silibrina pra cá, silibrina pra lá, perfil de Sinatra por Gay
Talese, de Roberto Carlos por Roberto Freire... Neguinho olha enviesado porque
é a mesma faculdade que ainda oferece resistência em alguns departamentos
à diagramação feita em computadores. Se a analogia não te diz nada, esquece.
Mas... Técnicas literárias em jornalismo, que merda, hein? Porque eu não escolhi
falar de, sei lá, qualquer coisa do jornal O Globo? Todo mundo que fala do
Globo tem uma defesa tranqüila, porque comentar O Globo é onde está uma discussão
de nível. Há exceções nessa regra: O Márvio dos Anjos, que comparece
aqui com sua poesia, vai defender monografia na mesma faculdade agora sobre
jornalismo esportivo na Rede Globo: e aí a coisa muda de figura. É Globo mas
ele propõe uma coisa nova na conclusão do trabalho. A coisa nova é
a criação (iiih) de uma matéria (iiiiiiiiih) na faculdade. Não interessa o
que ele propõe; interessa é que propõe e é novo e é uma crítica à universidade
então, ó. Já sabe. “Nada novo. Não pode, não deve, não mexam nisso que tá
aí.” O recado é bem claro, só que a gente é surdo quando quer. Tem a história
de um formado lá que escreveu sobre jornalismo online e ouviu essa na defesa:
“Jornalismo online? Eu não acesso a Internet.” Manja?
Bem, minha defesa foi remarcada (porque a banca não havia sido avisada pelo
departamento responsável sobre a primeira data) para o dia 1º
de abril. A escolha da data é minha piada interna com o orientador, um risinho
amargo e cúmplice diante da pilhéria geral das greves que duram cinco meses
(foram três greves ao longo do curso), da arbitrariedade das bancas,
da politicagem no meio acadêmico, da falta de material, da estrutura mambembe,
do currículo mumificado. Quero todo mundo lá nesse dia (vocês sabem quem são)
fazendo torcida e vaiando as objeções ao esquema supimpa de jornalismo que
proponho, urú.
Quanto ao trabalho escrito, a monografia, fiz o meu melhor e não é um melhor
de eu passar a mãozinha na minha cabeça sem auto-crítica. Tem erros de digitação,
o que não é tão grave quanto argumentação furada ou falta de idéias. Meu pusta
mestre aprovou e isso me basta. Quem acompanhou o desenvolvimento do tema
e os trechinhos de pesquisa que eu ia publicando no <www.exquisite.com.br/gonzo>
deu sinais de que não tava uma merda - os e-mails mais empolgados que recebi
vinham sempre depois de eu postar algum trecho da monografia no blog. Porra,
cheguei a pensar em ser professora depois de falar tanto de jornalismo literário
e gonzo pra quem me escrevia, saquei que gosto disso. Dar aula nem deve ser
tão ruim. Prometo levar todo mundo pro cinema (às vezes, só os calouros gostosinhos),
caçar raridades na biblioteca da ABI e do CCBB e discutir tudo com os alunos
num boteco à guisa de aula vez em quando.
Olha, eu tava uma pilha. UMA PILHA. Ontem ainda. Daí bebi uns chopps, vi uns
cineminha-marginal no CCBB e fiquei nova em folha pra editar o Spam. Mas não
deu pra poupar vocês do desabafo. Eu sei, é só uma monografia. Depois vem
o mestrado (em outra universidade) e outros ares. Talvez o clima do momento
esteja refletido nos textos que selecionei para esta edição. Alguns são melancólicos
e nervosos, outros são como aquela gargalhada que explode em meio a situações
de tensão. Eu tinha pedido aos escribas textos com o tema “Toda a verdade
sobre...”. Alguns dos escolhidos levam esse mote ao pé da letra, como o trio
dos mais radicais espécimes walter-khourianos da escrevinhação internética,
Carlos Jazzmo, João Paulo Cuenca e Márvio dos Anjos; o Ricardo Sabbag (tá
me devendo uma visita) investigando a sórdida verdade por trás das aparentemente
inocentes cebolas; o Jorge Rocha, do <www.maounica.cjb.net>,
sendo vigiado pelo CIA, pelo FBI e por quem mais tiver aparato tecnológico
pra persegui-lo pela web; a pedra no sapato da revista Trip, Eduardo Fernandes,
entrevistando a própria Verdade. Outros desviam dela para acertar a gente
na cabeça com textos mais pessoais ainda, como a adorável Suzi Hong, o Pedro
Vitiello, a jornalista Joana Ribeiro, o Marcel Novaes... Mas todos estão aqui
por pulsarem com uma característica comum: parecem VIVOS. Longe dos cabeçalhos
repetidos pelos bruce-willis-no-sexto-sentido que já morreram e não sabem,
escrevem dalém túmulo coisas frias e decentíssimas.
Acho que vocês também vão sentir esses textos respirando.
Penso hoje diferente do jeito que pensava quando entrei em contato primeiro
com a turma do Spam. Este é meu mea culpa: hoje, acho que texto é literatura
quando está vivo. O resto que se foda.
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Ouvindo => Xenical Brothers + um disco maravilhoso que ganhei da Billie
Holiday (não, não foi ela que me deu) + porra, tinha esquecido como Beastie
Boys é foda + OTTO CONDOMBLACK + pills primal scream + HEY LADIEEEEEESSSSS
+ lendo: Millôr definitivo: a bília do caos + hakim bey (www.editoraconrad.com.br)
+ minha própria monografia (palhaça otária)
Um minuto pro comercial:
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toda a verdade sobre idiossincrasias
carlos jazzmo [email protected]
O cara chega na festa todo orgulhoso porque foi malandro e levou sunga para
cair na piscina. Já reparou que quem é malandro e lembra de levar sunga fica
todo orgulhoso, contando vantagem? É sempre assim. Mas aí o cara está todo
orgulhoso, dizendo para todo mundo: "O quê? Você não trouxe sunga? Putz...
eu vou dar um mergulho nessa piscina de qualquer jeito. Eu trouxe sunga".
Mas o papo está ótimo, a hora vai passando, e o cara ainda não trocou de roupa.
Ele VAI cair na piscina, porque aquilo vira uma questão de honra. Firmar a
vantagem de ter levado sunga vira uma questão de honra. Sempre vira. Aí as
horas vão passando, o tempo vai fechando, ficando nublado, e o cara está ali,
conversando.
De vez em quando ele ameaça: "vou botar minha sunga". Aí passa a
mão por baixo da camisa, respira fundo, com cara de satisfeito. E o tempo
fechando, as horas correndo. Até que começa a ficar foda alguém cair na piscina.
Já está meio frio, está choviscando... nada a ver. Bem, mas o cara conversa,
algumas pessoas estão saindo da piscina, outras ainda aproveitam um pouco
mais, e realmente começa a chover. Chover muito. Chover pra caralho mesmo.
O mundo caindo, neguinho comentando "é muita água!", aquelas coisas
clássicas. E a cada minuto que passa, fica mais inconcebível alguém ir para
a piscina; ainda mais que o papo está ótimo.
Começa a cair uma névoa veneno de serra, e o cara começa começa a ficar com
medo da obrigação auto-imposta. Mas ele agora precisa ir. Senão todo mundo
que não levou sunga e se sentiu inferiorizado por isso vai cair em cima do
cara, no dia seguinte. "É! Levou sunga, levou sunga? Eu vi o levou sunga!
Eu já sabia que ia chover, mas o mané levou sunga". As pessoas sempre
fazem isso. Ele precisa cair na piscina. De qualquer jeito. Aí aquele tempo
fechado, frio da caralha, ninguém vê mais nada, a área coberta já toda alagada
por causa do temporal, um vento de desarrumar madame, e o cara abaixa a cabeça,
bate no braço da cadeira e anuncia: "vou meter minha sunga, cara".
Neguinho nem acredita, mas tudo bem.
O cara sai correndo encolhidinho até o banheiro, de olhinho fechadinho, tomando
água na lata, e some lá dentro. Depois aparece branco, de sunguinha, dando
aquela corridinha descalça - sabe qualé?, aquela de bater o pé inteiro no
chão - e você quase nem consegue ver o cara, no meio daquela neblina toda.
Frio da porra. Aí o cara dá a corridinha, chega na borda, e pula em pé, dentro
d`água. Trovão e o caramba, e o cara ali, nadando cachorrinho, sozinho. Neguinho
"cara... é muita água MESMO", e o cara ali dentro. Ele nem olha
diretamente para as pessoas, nem comenta que a água está boa. Apenas vira
o rosto parcialmente para a platéia e sorri, para que saquem que está tudo
bem com ele, e que ele está se divertindo. Ele não olha nem comenta nada.
Faz todo tipo de coisa na água. Mergulha, dá cambalhota, tira água do rosto,
passa a mão no cabelo... Aí você pára de prestar atenção. Quando você olha
de novo, está lá o cara, lá em cima, se preparando para pular do trampolim.
Eu nunca vi um tempo mais escroto na vida, e o cara no trampolim, pensando
que, no dia seguinte, neguinho vai olhar para ele com outros olhos.
Ele levou sunga e realmente caiu na piscina. Ele é foda mesmo. Aí o cara pula
do trampolim e tal. Neguinho sorri e continua conversando. O cara sobe no
escorrega, desliza sentado, desliza de peito, o cara está realmente que é
só curtição. Não precisa de mais nada.
Dali a um tempo o barulho da chuva é ensurdecedor de tão alto, e você se toca
que o cara está na piscina. Aí alguém dá uma corridinha até o banheiro e passa
olhando para a água, de lado. Tá lá o cara boiando. Morto.
Dá uns vinte minutos e o tempo abre. Você consegue um short emprestado do
dono da casa e cai na água, usa o trampolim, e todo mundo comenta: "O
cara é malandro. Bem arrumou um short pra ele". E depois você pode comentar
que a piscina estava sensacional, e que todo mundo perdeu isso. Você pode
dizer que foi a melhor piscina da sua vida. E todo mundo acredita. Uma amiga
sua ainda lança um "pô... tá bonito mesmo...".
O uso da expressão "eu costumo dizer que" para coisas nada-a-ver.
"Eu costumo dizer que eu sou um cara ou oito ou oitenta".
O instinto básico de se concordar com o outro, mesmo quando você discorda.
"-- Ai, eu não entendo religião...
-- Ah, tem gente que precisa...
-- Ah, sim... você dizendo assim, eu concordo".
Aí tem aquele amigo que some. Um dia, quando reaparece, para poupar perguntas
como "você tá legal?", ele fica com um ar todo alegrinho e artificialmente
próspero. Quando o cara ressurge das cinzas, ele aparece com cara de quem
acabou de voltar de uma viagem para a Europa. Cheio dos encantos pessoais.
Uma mulher sendo paquerada, comentando "discretamente" com a amiga
do lado que o cara está olhando. Sim, porque quando você é paquerada, você
faz aquela cabecinha dura para o lado da amiga, fala sem mexer os lábios,
mas tá óbvio que você tá comentando aquilo. Até porque você pega no braço
da amiga e arregala os olhos. Não mexe a boca, mas arregala os olhos. É ótimo.
Gente que fica na ponta dos pés mordendo as unhas, nervosinha, esperando você
aparecer naquela brechinha do portão de desembarque do aeroporto. Aí, quando
você aparece, a pessoa tenta dar um tchauzinho naquele micronésimo de segundo.
Aquele tchauzinho é tudo. Quando a porta fecha de novo, rolam os comentários
animados sobre você. Aí a porta abre de novo, rapidinho, para outra pessoa,
e todo fica de novo na ponta dos pés e roendo as unhas, tentando olhar por
cima da multidão. Mais: quando alguém te espera no portão de desembarque,
te confunde com QUALQUER pessoa que apareça ali. Todo mundo que sai pode ser
você. "Pai, não é o Lucas. Aquilo é uma velha, pô!"
Você sai de casa levando apenas o necessário. Chaves, celular, dois maços
de cigarro, chicletes, algum dinheiro. Antes você precisa passar na casa de
um amigo. Vocês vão juntos a uma festa. Aí você chega, se senta, abre uma
cerveja, e o cara diz que precisa pegar um lance para a mãe na farmácia, antes.
Você se levanta, confere os bolsos, manda aquele "tá tudo aí" e
ameaça sair. Mas o cara diz: "a gente volta pra cá ainda". Aí você,
o que faz? Tira alguma coisa do bolso e deixa em cima da mesa do cara. Pode
ser uma chave, um dos maços... Já que você vai voltar, você deixa alguma coisa
lá. Você quer marcar seu território na casa dele, e mais: quer ter a impressão
de que foi malandro. "Armei um esquema esperto. Saí, voltei, e nem precisei
levar minhas chaves".
Você vai a uma churrascaria. Está duro, mas vai. Sabe quanto vai custar. Você
come, bebe, e vem a conta. Exatamente o valor que você imaginava. Mas você
fica puto ainda assim. Paga, e passa pela porta. No caminho, encontra uma
cesta cheia de balinhas. Você pega uma? Não; você pega 40, só de revolta,
e sai resmungando: "ah, num fode! Vou levar tudo também. `Má no cu, porra!..."
Instruções sendo dadas por telefone. Quanto mais complexo é o caminho entre
aquele que recebe as informações e o objeto a ser localizado, mais escrota
é a maneira que você passa os comandos. "Pega minha carteira em cima
da cama?". Isso você diz assim, tranqüilo. Mas "Entra no meu quarto.
Entrou? Tem uma pra-te-lei-ra bran-ca. Isso. Bran-ca. Agora olha à ESQUERDA.
Es-quer-da". Você separa as sílabas e fala tudo mais alto. Parece que
está ditando uma fórmula a um oligofrênico. E à medida que os comandos ficam
mais específicos, você grita. "Olhou? Agora PE-GA UMA CAI-XA PRE-TA.
PRETA. ISSO. CAIXA PRETA! Ih, nãotemcaixapreta? Desiste então. Eu pego quando
chegar em casa".
>>>
“From: Luciana M. <[email protected]>
To: João Paulo Cuenca <[email protected]>
Subject: Re:
Tá vendo esse “Re:” aí em cima? É a resposta do e-mail que você nunca me mandou.
É a resposta do silêncio, o recibo assinado. Meu velho, cansei de deixar meus
pensamentos passarem ao largo contigo. Não me agüento mais assim. O que eu
tiver que falar, você vai escutar. Esse seu joguinho de sumiços e peças roubadas,
isso me enoja... O que você pretende com isso tudo? Qual é a sua, cara? Será
que em nenhum momento você parou pra pensar nas conseqüências do que você
germina? Você parou pra pensar? Não parou. Você prefere se perder nesse orgulho
autocelebrado. Como um personagem de si mesmo. Só que você não é um bom autor
como imagina. Você não é original, seu texto não flui. Então seu personagem
barato é ruim, inconsistente. Você vive em função do que você pretende ficcionar.
Mas você acaba só friccionando, gatinho. Você só escreve fricção. Não sei
porque perco tempo contigo e com suas pistas erradas que não levam a nenhum
lugar. Talvez nem você saiba onde quer chegar. Ou talvez você seja completamente
vazio mesmo, sabe? Talvez não haja lugar pra você. Talvez você seja pura entropia.
E talvez você seja mesmo um grande filho da puta que manipula emoções de mulheres
carentes em prol de fodas gratuitas e historinhas de bar. É muito fácil fazer
isso, qual é o mérito? Quando é que você vai parar com isso e virar um homem
de verdade? Um adulto? Será que esse é o seu modelo de gente grande? Encher
a cara e enfiar o dedo em rabos empinados de meninas de quatro? Sim, elas
se apaixonam por você, caem na sua fácil. Você é um idiota talentoso, do pior
gênero, número e grau. Não digo que você seja perigoso, porque você vai levar
isso como um elogio. Mas não é elogioso, é só patético. Você quer se sentir
sujo e mau. E você não é nada disso, é só um menino perdidinho que não sabe
direito o que quer. Mas você não vai me levar pros seus labirintos borgeanos.
Eu não. Esse e-mail é pra dizer que eu to fora. Não me procura mais, me esquece,
não quero te ver, não quero porra nenhuma de você. Pra uma foda interessante
você encheu demais. O pior é que você podia ter sido realmente grande pra
mim, sabe? Você me fez ver coisas que eu nunca... E eu te vi de uma forma
diferente, como nunca vi outra pessoa. E eu sentia que você podia mudar a
minha vida, tirar o melhor de mim. Soa e é brega mesmo, mas eu via um futuro
pra nós dois. De uma forma prática, eu podia enxergar você agindo em mim,
passo a passo. Sem romantismos, sacando exatamente o que cada um de nós poderia
dar ao outro, você entende? O que eu senti por você foi importante demais.
E vendo por esse lado, tenho uma tendência a gostar de você somente pelo que
você me fez sentir, sabe? Esse conforto subjetivo, essa possibilidade... Isso
me ninou por noites e noites a fio. E só isso ficou de bom. De alguma forma
você conseguiu despertar uma coisa bonita em mim. E uma confiança de que eu
tenho isso aqui comigo, pronto pra brotar novamente.
Mas com alguém que mereça.
O triste dessa história toda é que eu não sei quem é o responsável, quem criou
quem, a quem eu devo mandar a conta ou quem eu devo crucificar. Você ou o
personagem. Sei lá. Eu acho que você nunca existiu. Eu conheci um cara fruto
da nossa imaginação. E isso me esvazia o peito. E a alma...
Não me procura mais, tá? Por favor, nunca mais...
Luciana”
>>>
lição
márvio
dos anjos www.nobrefarsa.blogspot.com
Das pessoas, aprendi que um dia vão-se;
Todos os dias, milhares de adeuses não são ditos,
Todos as horas são tarde demais,
As portas batem sem aviso, os dias não mais voltam,
Somem segredos, esquecem-se carinhos em gavetas,
Recordações de ouro se perdem nos caixões de madeira.
Telefones ocupados, secretárias eletrônicas,
Cartas sem destino, por-enquantos sem presente,
Desaparecemos na rotina dos ônibus e dos sinais de trânsito.
Por onde ando? De quem já desapareci?
Abandonei-te, sei, mas me buscaste? Ou deixaste simplesmente
Que eu me permitisse prescindir da tua despedida?
Ai, amor, eu queria tanto ser eterno,
Mas não sei se agüentaria ser sempre abandonado...
Porque dos outros, eu sei que um dia vão-se,
Sem querer, sem pedir, sem saber.
Não é da nossa vocação o estarmos juntos,
Não temos o talento pro convívio...
Fracassamos, e ninguém mais nos acha.
A perfeição de Deus está na Sua permanência,
Onde quer que Ele de nós se ausente.
Dos outros, eu só sei que hão de ir embora.
De ti, só sei que já te foste
Daquele, que abandono aqui.
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l i s t a s a b o b r o l
5 bandas
que tocam só na minha cabeça
Tristinho
& Tristonho
- dupla sertaneja com letras fortemente inspiradas pela literatura
pop, responsável pelos sucessos "Sexo Com Amor Só Com Você"
e "Vou Criar Um Blog Pra Dizer Que Te Amo".
Japagode
- cinco japas com os cabelos oxigenadamente loiros cantando crossovers
entre Jorge Aragão e Ryuchi Sakamoto.
Coisinha
de Jesus & Mary Chain
- shoegazers que fazem coreografias esquisitonas no palco enquanto
tocam covers de Ivo Meirelles e Neil Young.
Pink Freud
- grupo de rock progressivo responsável pelo ambicioso e modorrento álbum
conceitual "Dark Side of the Mind", composto por três faixas com
24 minutos de duração cada: "Id", "Ego" e "Superego".
New Kids
on the Blog
- boy band fazendo um tecnopop oitentista com influências de Kraftwerk,
Menudo e Cora Ronái.
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entrevista
com a verdade
eduardo fernandes http://www.eduf.com.br
Não foi fácil, mas encontrei a Verdade. Segundo meu informante, ela faz
ponto perto da Universidade de SP (USP). Reservada e desconfiada, só atende
a um seleto grupo de clientes. Tudo estava combinado, eu pagaria caro,
mas poderia entrevistá-la. Desde que não a filmasse e nem revelasse exatamente
seu local de trabalho.
A Verdade é alta, nordestina e tem silicone nos peitos, bochecha e glúteos.
Faz questão de ser chamada por pronomes femininos, mas basta um olhar
para entender: a Verdade é um transformista castigado pela idade. Somos
apresentados e caminhamos até um ponto de taxi, local escolhido para a
entrevista. Cético, pedi para olhar sua carteira de identidade. Ela riu:
"Nunca peça para um traveco mostrar o documento". Um sorriso
amarelo depois,
ela retirou o papel da bolsa. Confirmado: seu nome é realmente Verdade.
Verdade de Souza.
"Tá vendo? Já nasci com o nome certo: dá pra falar O Verdade? Seu
Verdade? Tio Verdade?", diverte-se. "Meus pais já sabiam que
eu seria uma rainha". Sentamos e começamos a entrevista.
Eduf.com: De onde vem a Verdade?
Verdade: De Recife, sou Pernambucana.
Eduf.com: Você, algum dia, perguntou para os seus pais por que eles lhe
deram esse nome?
Verdade: Meu pai era um homem muito religioso. E gostava de um pedaço
da Bíblia que dizia "Eu sou a verdade, o caminho e a vida".
Além de mim, tenho um irmão chamado Caminho e uma irmã chamada Vida.
Eduf.com: Tiravam muito sarro da sua cara quando você era criança?
Verdade: Tiram mais hoje em dia.
Eduf.com: Como assim?
Verdade: Os meus clientes, entende? Tem uns professores da faculdade aí
em frente que toda sexta mexem comigo: dizem que vão foder a verdade.
Mas eu não ligo. Tá cheio de gente que diz que me ofende e que me defende.
Mas quero que neguinho me deixe em paz.
Eduf.com: São professores da USP?
Verdade: Não sou cagueta. Fico na minha. Mas sempre me enchem o saco.
Por isso eu não quero que você diga onde é meu ponto e nem que tire fotos.
Eduf.com: Por que não
usa pseudônimo?
Verdade: Tenho vários deles. Mas tem cara que descobre. Por que não vão cuidar
da vida deles? Querem trepar? Vem cá que eu dou, sou profissional. Mas não
me venham com conversa.
Eduf.com: Que tipo de coisa lhe dizem?
Verdade: Que eu não existo. Dessa parte eu gosto. Acho que é elogio. Mas tem
um sujeito que pede que eu o enrabe e diga que está, como é que ele diz?,
"sendo subjugado pela verdade". Que diabo é isso?
Eduf.com: Você não sabe?
Verdade: Não. Sou semi-analfabeta. Mal sei assinar o meu nome.
Eduf.com: Subjugar é dominar.
Verdade: Ah, nisso eu sou boa. Antes de vir para São Paulo eu lutava boxe.
Mas tinha muito preconceito.
Eduf.com: Há quanto tempo você está na rua?
Verdade: Sei lá. Acho que desde...
A Verdade teve de calar. Uma viatura se aproximava e, pelos faróis altos,
não estava na folha de pagamento. "Eles sempre mandam carne nova para
tirar grana da gente", disse o traveco, enquanto se levantava, apressado.
Um taxista gritava: "sai fora, mano, vai sujar para gente também".
Corremos uns três quarteirões e nos encostamos num muro. Baixei a cabeça,
tentando respirar. E, quando dei por mim, a Verdade tinha sumido. Como a minha
bolsa, meu dinheiro e equipamentos. Sentei e olhei a madrugada, me sentindo
um idiota. Como poderia provar a alguém que, por alguns minutos, vi toda a
Verdade?
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pela extinção da cebola
ricardo
sabbag [email protected]
A verdade sobre a cebola é que ela não deveria existir. Todo cozinheiro reclama,
e diz que a cebola é indispensável para o bom tempero culinário. Mentira.
Ela simplesmente altera o gosto natural do alimento com aquele seu fedor impossível.
O maior problema da cebola é que os que gostam dela insistem em obrigar os
que não gostam a gostar da propriamente dita. No pastel de carne, por exemplo,
indispensável lanche de feiras e fins de tarde, normalmente o recheio vem
lotado de cebolas, quando não do indefectível ovo cozido. E aí a desculpa
não é outra senão ocupar o espaço da carne com as malditas peletas esbranquiçadas.
Um abuso!, certamente.
Grandes pratos da culinária podem ser estragados graças à cebola. Um belo
camarão à thermidor, disfarçado sob uma saborosa camada de queijo e molho
branco, tornar-se-á péssima lembrança após se sentir a escamosa entre os dentes.
A cebola, picadinha em espaços inseparáveis, destrói o sabor natural do esmerado
prato.
Há também as cebolas assadas em churrasco, que enganam o cristão com aquele
cheiro defumado gostoso que se mistura ao da picanha. Com uma casca crocante,
ludibria o esfomeado, como que se fosse encontrar uma polpa saborosa em seu
interior. Novo engano da natureza. As camadas surgem gosmentas, e a única
coisa boa são as pontinhas queimadas, que praticamente nem mais lembram o
gosto da maldita.
A cebola deve ser extinta da humanidade. Não há necessidade de se cultivar
um vegetal que faz o homem chorar quando o manuseia. Pior que isso, faz o
homem chorar de temor ao encontrá-la escondida por entre comidas muito melhores.
Vamos começar uma campanha visando o extermínio da cebola de nossos dias.
Estamos cansados de separar cada fiapo da maldita raiz, tubérculo ou caule?
(não interessa) no prato. Muitos relacionamentos promissores já foram estragados
quando se obrigou a comer cebola na casa da mãe. Vamos dizer NÃO à cebola!
Mas, ora essa, cada regra tem sua exceção. Há uma e apenas uma ocasião em
que a existência cebolar deva ser mantida. Mas apenas nesse caso e em nenhum
outro sequer. E somente se o governo mantiver um controle expresso sobre o
asqueroso vegetal entregando quotas específicas destinadas apenas e tão somente
à utilidade que se presta. É quando a cebola é frita em pedacinhos no shoyu
e posta sobre uma generosa camada de queijo cheddar que recheia o hambúrguer.
Nesse caso, e somente nesse, a cebola é necessária ao ser humano.
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Ouvindo Miles Davis e tomando um vinho tinto. Assim tem sido minha vida de
desempregada. Estou bebendo mais e fumando mais, pequenos luxos que me dou,
mesmo com a grana contadinha para as próximas duas semanas. Depois, só Deus
sabe de onde vou tirar um dinheirinho para ir ao cinema e abastecer o carro.
Sobrevivo graças aos remédios que ainda posso comprar e ao pouco que restou
intacto de meu ego.
É duro sofrer de depressão e esquizotimia (prima pobre e mais calma da esquizofrenia)
neste país. O plano de saúde não cobre o tratamento, o remédio é caro, perde-se
o emprego e fica difícil de achar outro.
Isso quando as pessoas que eu julgava serem amigas não somem. Isso quando
minha própria família precisa de um sermão do meu psiquiatra para me tratar
decentemente e não como a mais miserável das perdedoras.
E pior: existem momentos em que eu mesma não me agüento: não adianta brigar
com a crise vindoura, esganiçar em frente ao espelho, odiar a desesperança
e o desânimo arrebatador que me circundam: tudo é mais forte do que eu.
Por vezes, eu me confundo e não sei distinguir se eu sou real quando estou
bem ou se as minhas crises refletem quem eu realmente sou. Pergunto-me se
existe mesmo uma essência intrínseca e imutável em todo ser humano e deparo-me
com a ausência de minha essência, ou pior, a minha essência multifacetada.
Tenho que ouvir, nas entrelinhas de frases soltas ditas por aí ao meu respeito,
que minha condição é nada mais do que falta de caráter, preguiça, personalidade
fraca, fraqueza de espírito, ausência de Deus. Não é nada disso. (Se você
tiver um parente ou amigo deprimido ou esquizotímico, não o julgue débil mental
ou porco de espírito ou fraco de caráter).
O que muitos não sabem é que por trás do meu “problema” existe uma história
fodida, que não convém contar-lhes aqui e agora. O que muitos não enxergam,
e neste grupo incluem-se pessoas próximas a mim, é que a doença é involuntária
e que eu, mais do que ninguém, desejo com urgência e paixão livrar-me dela.
Para voltar a viver sem a paranóia de que um dia posso não acordar porque
uma crise se abateu sobre mim, ficar livre do desejo de acabar com tudo pulando
do 20º andar do meu quarto, voltar a ter um emprego, amigos, um namorado,
um pai e uma mãe e irmãos que se orgulhem de mim e me vejam como realmente
eu gostaria de ser.
Doente, como eu estou, de nada me adiantam um diploma de advogada; na verdade
muitas coisas mostram-se inúteis para amenizar o que eu sinto desesperadamente.
Consola-me que ainda sou capaz de escrever; confortam-me minhas sessões de
psicoterapia; anestesiam-me os remédios controlados que ainda tomo.
Mas dói-me não poder viver com a pureza de sentimentos e a espontaneidade
de raciocínio que os medicamentos maculam. Perde-se um pouco de tudo, sobretudo
o sentir profundo e o pensar livre; perde-se a auto-estima, ganha-se culpa;
perde-se a insônia, ganham-se alguns quilos a mais. Evita-se ler Clarice Lispector
e assistir a filmes do Lars Von Trier. Bebe-se em casa para não sair com o
carro embriagada em direção ao primeiro poste da rua.
O mais penoso, entretanto, não é perder de algo, é a impotência diante de
uma doença invisível e odiosamente subjetiva, é o não poder abrir-se a mente
numa cirurgia e retirar a causa da maldita. Vive-se num estado constante de
alerta, à espreita de uma possível crise depressiva ou esquizotímica que pode
se abater sem aviso prévio. Nesse processo de alerta, muitas situações são
vividas com cautela, sem paixão. Porque paixão excessiva pode desencadear
uma teia de sentimentos confusos e auto-destrutivos, vontades mórbidas e desejos
obscuros. Vive-se com parcimônia de sentimentos, por medo de se envolver demais
em determinadas circunstâncias a ponto de usa-las como muletas escamoteadas
e voláteis, temor de ser abandonada por mostrar-se demais a determinadas pessoas.
Porém, por graça divina não se perde a esperança e a teimosia em se buscar
a cura. E assim tenho me equilibrado na corda bamba de meu humor. Porque o
desejo de se viver, viver bem, sem niilismos pomposos e abstrações estapafúrdias,
é o mais precioso anticorpo para minha doença.
>>>
tudo de bom
marcel novaes [email protected]
Me lembro das festas em família da minha infância. Aniversários, Natal, Páscoa.
Iam todos para a casa da minha avó ou de algum outro parente. Alguns vinham
de São Paulo. Eram esperados, festejados. As crianças haviam crescido, estavam
lindas. A avó não se cansava de passar as mãos nos seus cabelos e apertar-lhes
as bochechas. As crianças se resignavam, de pés juntos e mãos para trás, os
dedinhos enroscados, um sorriso congelado. Deviam detestar o ritual de visita
aos parentes do interior. Outro momento constrangedor era o encontro dos primos.
Totais desconhecidos, esperavam que fossem amigos do peito. Camisas e calças
ásperas, recém-lavadas, às vezes sapatos novos. O primo de São Paulo com gel
no cabelo. Um achava o outro metido a besta, o outro achava o um infantil.
O pais os incentivavam a brincar juntos, a conversar se forem um pouco mais
velhos. “Seu primo foi no show daquela banda que você gosta”. “Não gosto mais”.
Eventualmente a estranheza passava, resolviam enfrentar lado a lado os suplícios
de roupas novas e adultos velhos.
As crianças estando
encaminhadas, os adultos começavam a encher a cara. A maioria de cerveja,
alguns de uísque. Um tio em particular chamava a atenção rapidamente. Bracelete
dourado no pulso direito, colar com crucifixo também dourado. Era um cara
grande com uma boca grande. Falava palavrões que deixavam as tias constrangidas
e se dobrava de rir. Ficava todo vermelho e apertava o joelho da esposa. Me
lembro como contava estórias. “Tempo bom era quando eu ia pro Rio. Gastava
dinheiro a rodo. Ainda não era casado com esta aqui”. A esposa dele era magrinha,
sempre de saia de couro e salto agulha e muita maquiagem. Tingia os cabelos
de louro mas estava sempre com enormes raízes pretas. Fazia uma figura uma
tanto desajeitada. “Passava o dia todo na praia, era só estender a toalha
que a peruada já ficava de olho aberto. De noite ia prum cassino ou prum pute--
prum passeio, passeio na beira do mar...”. E se matava de rir. Era um cara
legal.
Na cozinha ficava a
avó, com algumas tias. Faziam maioneses, tortas, arroz de forno, cuzcuz, o
diabo. A avó era baixinha, cabelos todos brancos, de avental. Me lembro que
ela sempre assava as coisas no fogo médio, eu me perguntava porque os fabricantes
de fogão não faziam os fornos sempre com fogo médio. Tinha um narizinho curvo
e sobrancelhas carregadas. De certo modo, lembrava um pouco uma tartaruga.
Num canto da cozinha, quase cega e um pouco surda, ficava uma figura que inspirava
nas crianças temor e compaixão. Ali estava, branquíssima, enrugadíssima, a
bisavó.
A certa altura vinha
uma menina se debruçar sobre o colo da mãe, atingida que fora pelo primo mais
velho. Chamavam o primo, faziam-no se desculpar. Se não fosse velho demais,
dava um beijinho na prima. A prima não desculpava, dava-lhe um tapa na cara.
Acodiam as mães, as duas querendo matar a menina. Os pais davam risada e bebiam
cerveja. Estavam discutindo a respeito de automóveis. “O meu é muito econômico”.
“O meu também, é uma maravilha. Mas já estou querendo trocar”. Discutiam tipos
de pneu, preços de peças, quem tinha o mecânico mais honesto. Contavam também
piadas. Um senhor muito velho tinha uma quantidade infinita delas. Quase nenhuma
era engraçada. Sua marca registrada era o modo como as contava: uma vez em
voz alta, com uma grande gargalhada, e outra vez em voz baixa, para quem estava
ao lado, e um riso meio contido. De vez em quando, quando achava que a piada
era realmente boa, contava uma terceira vez, mas então repetia apenas o final.
Era constrangedor quando ele contava a piada olhando diretamente para você,
pois aí você tinha que dar um riso forçado e se ele percebesse que você não
estava rindo, concluía que não tinha entendido e te explicava. Os adultos
podem ser mesmo ridículos.
Era um alívio quando
minha avó vinha até a sala avisar que a comida estava pronta. Para as crianças
não fazia muita diferença, pois já haviam beliscado de tudo por baixo do braço
da avó, que fingia que não percebia. Os adultos se levantavam e iam se sentar
na cozinha. Aí começava um tilintar de copos e talheres e um murmúrio de vozes
que eram sempre os mesmos. Estavam sempre se oferecendo para servir uns aos
outros e sempre tinham de insistir com minha avó para que viesse se sentar
e deixasse a louça em paz. Aqueles que estavam ao lado da bisavó cuidavam
de servi-la e repetir pra ela os trechos mais importantes da conversa. Se
a deixavam muito tempo sem novidade ela pegava no braço da pessoa ao lado,
um pouco ansiosa, e ao ouvir qualquer coisa apenas balançava a cabeça afirmativamente,
como para dizer que sim, que aquilo estava bem. Assim prosseguia o almoço.
Alguns pais controlavam rigidamente a quantidade de refrigerante ingerida
pelos filhos. Sempre havia uma criança que havia chegado emburrada e na hora
do almoço não queria comer. A mãe insistia, ele não queria. A mãe passava
para o pai, que franzia o cenho e olhava meio de lado. O garoto cruzava os
braços. O pai olha duro pra ele, espia em volta para ver se os outros percebem
a pequena discórdia familiar, todos percebem mas fingem que não, o garoto
saca que vai ouvir quando chegar em casa e aceita engolir um pedaço de lombo
ou coisa que o valha.
Quanto todo mundo terminava,
a avó se apressava em ir lavar a louça, precisavam contê-la novamente. Ela
então se ocupa em servir a sobremesa. Todos reclamam que estão cheios, mas
aceitam “um pedacinho”. “Pra experimentar”. Os moleques atacavam tudo, depois
passavam mal. O gel no cabelo do primo paulistano já estava todo derretido.
Na seqüência, os tios iam fumar e as tias lavar a louça. Elas se revezavam
cuidando da bisa. Agora os tios falavam sobre trabalho, reclamavam da crise,
não está fácil, etc. Meia hora depois, bebia-se café. A hora de ir embora
era feita de reclamações. A avó queria que eles ficassem mais um pouco, era
cedo. Os garotos que chegaram emburrados agora já não queriam se largar, haviam
descoberto que eram gente fina e invariavelmente uma das mães tinha que dizer
que não, ele não podia ir dormir na casa do primo porque amanhã bem cedo pegavam
estrada. A outra tia cuidava de embalar a nenê que dormira.
Teve uma vez em particular
que me marcou. Acontece que sempre que alguém finalmente conseguia ir embora,
passava na cozinha para se despedir daqueles com mais de 60 anos. Tinham de
dizer à bisa “fulano já está indo”, e ela respondia “vai com Deus”, ou “tudo
de bom, meu filho”. Nesse dia, quando minha família passou na cozinha, minha
avó resolveu nos acompanhar até o carro e eu aproveitei para mais um gole
de refrigerante. Minha enrugadíssima bisavó não percebeu que tinha ficado
sozinha comigo. Achando que já estava na hora de dizer algo, começou a se
despedir, sem saber com quem falava ou em que direção devia olhar.
Foi uma visão estranha, a da minha bisavó sentada com as mãos sobre os joelhos,
olhos fechados, balançando levemente a cabeça e dizendo “vão com Deus”. A
cozinha diante dela totalmente vazia, apenas os azulejos e eu a observávamos.
“Tchau, tudo de bom”. Ela provavelmente imaginava que alguém lhe respondia,
pois esboçava um sorriso e levantava um pouco a palma da mão esquerda, tornando
a pousá-la no joelho. Eu me sentia um pouco mais ligado a ela naquela hora,
como se aquele fosse um momento de intimidade, mas ela nem sequer podia me
ver e eu fiquei com um pouco de medo que mais alguém entrasse ali e zombasse
da velha. Mas ninguém veio e eu fui embora. Ainda pude ouvi-la dizer algumas
vezes “Até logo, tchau. Tudo de bom”.
>>>
ninguém
merece
joana ribeiro
http://joanar.blogspot.com
"Boa noite, volte sempre". Eu já estava saindo do supermercado quando
reparei no crachá da simpática caixa que me atendia. Janete Cléia! Tive o
ímpeto de perguntar o porquê daquela agressão, mas segurei a língua. O nome,
no entanto, martelou na minha cabeça a noite toda. Janete Cléia? Só pode ser
uma homenagem torta à Janete Clair, claro. Mas que culpa a criança tem se
a louca da mãe ou o inconseqüente do pai é fã da finada novelista? Pior, que
culpa a criança tem se os pais não sabiam falar direito o sobrenome e registraram
Cléia em lugar de Clair? Nós deveríamos ter o direito de processar nossos
progenitores em casos como esses. Mas até que Janete Cléia não é dos piores.
Outro dia, pesquisando qualquer coisa no "Google", achei uma Érika
Suellem. Nossa, 30 anos de detenção sem direito à liberdade condicional!
E quando todos os nomes dos filhos têm que combinar? Começando com A (André,
Adriano, Arthur, Ariovaldo, Aristides...), terminando com "el" (Rafael,
Gabriel, Daniel, Marciel, Ivanoel). Nesses casos, o melhor é ser o filho mais
velho para se livrar do pior. Se bem que às vezes o caçula é que se dá bem.
Vejam o caso da família da minha avó: a filha mais velha se chamava Alfredina,
depois veio Lourivaldina e, finalmente, a minha avó. Cruzvaldina era o nome
mais cotado em todas as bancas de aposta de Niterói, enquanto Aristotelina
corria por fora, mas eis que o pai do trio resolveu inovar e batizou a criança
de Maria de Lourdes (ufa!).
Mas acho que o pior nome é aquele que é um adjetivo ou substantivo comum.
Sem saber, os pais condicionam a vida do filho a partir daquele nome. Ai de
quem se chamar Linda e tiver um defeitinho sequer no corpo - e o pior que
isso é o que geralmente acontece, nunca conheci uma Linda que fizesse jus
ao nome. Já conheci uma mulher chamada Maria Pureza, mas digamos que ela não
fosse exatamente o que o nome dizia... Tenho um amigo que tem uma tia chamada
Felicidade. Eu não a conheço, mas segundo ele a velha é o mau humor em pessoa.
Eu não tive grandes problemas com o meu nome, mas nunca consegui ter uma xará.
Queria outra Joana na minha sala para ser chamada de Joana mais o sobrenome,
morria de inveja de todas aquelas Marinas e Fernandas em quantidade. Acho
que virei jornalista por isso, para ter um sobrenome. E acho que esse também
foi o motivo de eu virar uma nomólatra. Gosto de saber o nome de tudo e de
todos (com direito a sobrenome, é claro). Até hoje lembro do nome completo
dos meus coleguinhas do primário. Outro sintoma desta doença é a compulsão
por apelidos, os coloco em todo mundo. Claro que não é nada agressivo, jamais
chamaria alguém de baleia ou Olívia Palito, só faço um joguinho de letras
com o próprio nome da pessoa. Um dos meus apelidos, o mais usado pelos amigos
antigos - foi criado por mim. Resolvi que seria chamada de Jopa. Pegou.
>>>
DOSSIÊ SAMBA DA CAIXA PRETA
jorge
rocha www.maounica.cjb.net
Cecília:
Estava entretido a pensar sobre o que escrever para esta edição, quando o
computador começou a assobiar em fá sustenido, quando o habitual é em si bemol,
avisando que havia mensagem para mim. Isso momentos depois de eu ter acessado
o site do Relatório Alfa. Invoquei São Tomé protetor dos esquizóides paranóicos,
que dá nome ao comando que aciona as defesas do meu computador e fui checar
a mensagem. Fiquei estarrecido com as conjecturas do mail sobre o tal Boeing
que havia caído (ou não ?) no Pentágono e resolvi manda-lo pra você. Reproduzo
integralmente o texto. Publica-lo fica por sua conta e risco. Sugiro que o
leia com fundo musical de “Roswell Landing” ou algo parecido de um FruityLoop
devidamente crackeado.
Um abraço olhando para todos os lados.
JR
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De: Nosotros
Para: Jorge Rocha
Assunto: Ataque ao Pentágono, depois do atentado ao WTC
Você não conhece as pessoas que estão mandando este mail, mas nós sabemos
quem é você. E se sabemos, outras tantas também conhecem seus hábitos. É melhor
se precaver mais. Você acessou o Relatório Alfa e leu a matéria sobre as dúvidas
que giram sobre o ataque ao Pentágono feito por um Boeing e está se perguntando
o que realmente aconteceu. Temos nossas teorias e queremos compartilhá-las
com você. A principal aponta que realmente foi um avião que caiu no Pentágono.
Mas não exatamente um Boeing. Esta hipótese cogita que o estrago causado no
Pentágono foi obra do agora não mais comentado Avião Invisível da Mulher Maravilha.
Não esta das Histórias em Quadrinhos, reformulada à exaustão para ser a versão
pin up de uma Dama de Ferro, mas a Mulher Maravilha do desenho animado que
distraía e “educava” criancinhas nascidas nos anos 70. A que colocava um aquário
na cabeça pra seguir até o espaço sideral, sem qualquer roupa de astronauta.
E que, no espaço, se comunicava com os demais SuperAmigos sem utilizar qualquer
aparelho comunicador.
Por isso não foram encontrados destroços. Mas um senhor visualmente prejudicado
(somos politicamente corretos), acostumado a passar em frente ao Pentágono,
em seu habitual passeio ao cair da noite, declarou que chocou-se com algo
que “parecia uma enorme parede metálica”. Testemunhas que acudiram este senhor
confirmaram que ele havia esbarrado ... em nada! Em seguida, a área foi interditada
pelas autoridades, que se apressaram ainda a levar para o local guinchos e
retroescavadeiras.
Há ainda outras versões e conjecturas. Este é apenas nosso primeiro contato.
Temos agora duas perguntas que não envolvem este caso, mas que gostaríamos
que você pensasse nas respostas. Por que anúncios de exames de DNA são publicados,
de vez em quando, logo abaixo de colunas sociais de jornais de circulação
nacional ? Por que não mais é exibido o último filme da série Rocky, aquele
em que Stallone defenestrava um russo aditivado, cujo papel foi designado
para Dolph Lundgren, feito em um dos momentos de plena efervescência do sentimento
patriótico americano anti-soviético ?
Não nos procure. Nós encontramos você.
Que Luther Blisset nos livre e guarde de Echelon e Carnivore.
>>>
pequeno tratado sobre grandes vilanias
pedro vitiello [email protected]
Na boa, vou confessar uma coisa: queria, quando era criança, ser um super-herói.
Assim, daquele estilo com capa esvoaçante, sorriso colgate, cheio de anabolizante
e apregoando a violência insensata. Hoje em dia, porém, tou achando mais promissora
a carreira de supervilão.
Veja: vilões são importantes, até mais do que os mocinhos. Ninguém leva a
sério um super-herói se ele tiver como arqui-vilão um cara chamado "Souza"
ou "O Contador". O que seria dos Jedis sem o Darth Vader? Qual a
graça de ser um Paladino sem monstros?
Não, não, vilão é fundamental. Somente um cara mau de verdade faz um herói
sem graça parecer alguém legal. E, tal qual um herói, o vilão tem de ter nomes
mais sugestivos, como "Dr. K-Daver", "Garota Pustulenta",
"Hemorróida do Destino" (um inimigo do super "C. de Ferro"),
"Homem-Enéias" ou algo assim meio nojento, genocida e insandecido.
O nome do vilão, além de horrível, também necessita ser algo de impacto rápido,
pois vilão nenhum do mundo pode dar certo se, no meio de um assalto, grita:
"Atenção, isto é um assalto e eu sou o Homem-que-Come-Ranho-Mas-que-Não-Deixa-de-Palitar-o-Dente-Depois",
senão a polícia chega antes de ele acabar. Eu me chamaria "Super-Badalhoca"
(que é aquela sujeirinha que fica na cueca), e seria o vilão do "Dr.
Eggman". Tenho tudo previsto aqui na minha cabeça.
O Dr. Eggman se vestiria de amarelo (óbvio), e fazer comentários sobre sua
roupa seria como pisar em ovos. Ele usaria frases de efeito como "um
ovo só não pára em pé", "temos que deixar a situação às claras"
ou, ainda: "não gema, Dr. Eggman chegou!". Ou, para desgosto dos
nossos leitores: "tenho muita pena de você, Super-Badalhoca". Ele
seria um herói de meia-idade, com pés-de-galinha no rosto (literalmente) e
eu tentaria a cada nova edição armar um plano ardiloso e acabar com ele utilizando
armadilhas complexas e ineficazes.
Vestuario também é importante para um vilão. No meu caso ia ser fácil: basta
usar uma cueca sobre a calça e pronto. Se todo super-herói faz isso, não ia
ser nenhuma estranheza. Acho que ter uma risada histerica e insana cairia
bem, assim como tentar dominar o mundo. Além disso, precisaria ter conjunto
de chavões para o Dr. Eggman, no estilo "sua mãe era uma galinha",
ou "você tem complexo de pintinho"... Hum, pensando bem, talvez
não, pois a censura ia cair matando (mas ajudaria a vender mais revistas).
Poderia ser um daqueles vilões que os roteiristas usam quando ficam sem assunto,
e são "emprestados" para outros heróis, como quando o Batman enfrenta
o Lex Luthor. Acho que um herói de segundo escalão para mim seria "Homem-Picolé".
Frases como "você vai entrar numa fria, Capitão-Badalhoca", ou "gele
de medo, nefasto vilão" seriam uma boa. Acho que ele daria um bom herói
de verão, aparecendo nas férias da garotada. Mas esporadicamente, que é pra
dar uma "refrescada" na sua imagem.
O "Homem-Picolé" seria na verdade o pacato Ace Berg, vendedor de
sorvetes de groselha e de ar pouco inteligente, que se transforma, dentro
de seu carrinho de gelo, em um herói daqueles que andam na praia de bermudão,
com ar pouco inteligente e deixando as garotas derretidas (ugh). Meus ataques
contra ele se resumiriam, basicamente, a tentativas de rapto da sua assistente,
a "Garota-Chupa-Chupa". Lucro certo, nem que fosse com a venda dos
direitos autorais para um filme pornô!
Claro que eu infelizmente teria de ter a minha própria personalidade marcante,
como descobrir maneiras de fazer piadas de cuecas e roupas íntimas com duplo
sentido em meus balõezinhos: "Quero ver se aquela heroina tem peito de
me pegar"; ou, "quando usar o gás do riso todos sentirão seus efeitos,
pois até a repórter Lingie Ri..."). Também teria de descobrir (ou revelar)
que era o pai do cachorro de um mocinho, mas isso se as vendas dos gibis caíssem
(mas sem apelar para o desesperador fato de ser pai da pentelha da Carrie
Fischer). Teria de ter um monte de kits maneiros, como o "BadalhoCAR".
Ou um esconderijo secreto (a "BadalhoCASA"), e ajudantes (BadalhoCAPANGAS).
Demais!
Um dia eu me aposentaria, e passaria minhas bugigangas para um novo vilão,
passando meus últimos dias envolvido em alguma atividade ainda mais vil e
chocante: traficante de cocada, fiscal da prefeitura, operador de Telemarketing
ou apresentadora de programa infantil. Quem sabe um dia não faço isso...
>>>
Adoraria morar em “Um
Convidado Muito Trapalhão”. Bagulho, birita, roupas coloridas, banda cool,
piscina com bolhas de sabão. E ainda ia dar mole pro Peter Sellers.
amauri stamboroski jr. [email protected]
Curtindo a Vida Adoidado,
oras. Ferris Buller passa o filme inteiro gazeando aula, passeia de Ferrari,
canta Twist and Shout fazendo todo mundo dançar e agarra aquela gracinha que
é a namorada dele. É o filme mais adolescente de todos os tempos e o dia que
eu escolher outro pra morar é porque eu vou estar velho. E "I hope I
die before I get old".
edney http://www.interney.net
Eu moraria dentro de
Monty Python e o Cálice Sagrado, porque eu gostaria que todos os problemas
da vida fossem uma grande comédia...
p.s.: Eu amo a Cláu!
agua lecter [email protected]
Se eu pudesse morar
dentro de um filme, seria dentro do Hannibal, pois acho o personagem Hannibal
o mais charmoso, sensual e apaixonante de todos os tempos, muito bem interpretado
por Anthony Hopkins, que dá um toque especial, mas na verdade adoro a sutileza
do Dr. Hannibal Lecter, conhece as pessoas com profundidade, sabe seduzi-las,
e tem uma paixão enorme por uma mulher igual a nenhum outro homem possui.
doraria fazer par romântico com ele e viver ali, pelo resto da eternidade,
aprendendo a ser psicopata como ele, aprendendo a entender a mente humana,
a astúcia e inteligência de um ser que deveria ser o vilão e acaba fazendo
com que fiquemos do lado dele, torcendo para que ele se dê bem no filme.
eduardo fernandes www.trip.com.br
e www.eduf.com.br
- MOULIN ROUGE! Achei
essa pergunta boba mas já respondi: MOULIN ROUGE
Spam: PQ, palhaço?
JP: entrevista? perfil do consumidor?
Spam: spam. n me sacrifica, tá? meu computador ta IMPOSSIVEL. demora pra mudar
do word pro browser, pra abrir uma mísera MENSAGEM DEMORA PRA TECLAR.
JP: Já disse... MOULIN ROUGE.
Spam: Tu tá de sacanagem comigo. Tô perguntando POR QUÊ!!!
JP: Porque é as cores são saturadas, as músicas são ótimas e tem a nicole
kidman.
®ÅfæL [email protected]
Blow-up, Depois Daquele
Beijo, de Michelangelo Antonioni: a razão é porque eu viveria numa época efervescente
que foi os anos 60. Além do mais, não perderia o show dos Yardbirds: não sou
louco!
pergunta
da próxima semana:
"Qual
é a pior música de todos os tempos?"
Justifique sua escolha
para [email protected]
e ajude o Inagaki a preparar o próximo Spam.
>>>
f a l a q u e e u
t e e s c u t o
Cartas -> ainda a polêmica sobre a pergunta do iMac:
De: Paulo Zucchi pzucchi@sbcglobal
"Esses comentarios sao tao absurdo quanto a tal pesquiza e essas figuras
que acham que ser homosexual e' ser inferior. A unica diferenca de um Homosexual
e um Heterosexual e' a escolha do parceiro. Homofobia (medo de gay) e' causado
pela falta de conhecimetos, ignorancia ou medo de se descobrir como um. Eu
nao uso o MAC por que a quantidade de software feita pro MAC e' bem inferior
a do PC, senao eu usaria Mac tambem.
Abaixo os cometarios que degridem um ser humano pela cor, raca, religiao,
preferencia sexual, estatura, etc, etc, etc. Obrigado."
ciça informa: Opiniões sobre o barraco sobre quem entende
do assunto (e não chamei ninguém de “entendido”!) no Mário AV <www.marioav.com>.
>>>
c
r é d i t o s f i n a i s
p.
s.
bisús: “O mundo é mágico,
bicho.” Caveira my friend + “O intelectual é a empregada doméstica dos poderosos”
Millôr + “Aqueles que amam e os que são felizes não são os mesmos” Proust
+ "O mau gosto cria muito mais milionários que o bom gosto” Bukowski
+ “Que tempo bom pra se fazer corno!” velho bebendo cerveja na porta do boteco
embaixo do prédio do JP, observando as senhoritas comprometidas que passam
de shortinho em direção à praia + “Tenho que me destituir de qualquer forma
de auto-controle” O underground man de Dostoievski + “Eu tô sempre puto com
alguma coisa” Tom Petty + “Esses jovens que hoje dirigem a UNE e a maioria
dos diretórios acadêmicos têm mais de 70 anos” Fernando Gabeira.