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055
10 de março de 2002
copacabana  são paulo  porto alegre  curitiba  graubünden  florianópolis  lisboa
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n e s t a   e d i ç ã o:
 
estuprada pelo amigo: 'era um negócio grande, sabe?'. três rapazes fazem meinha - 'podíamos ficar pelados'. suicida quer carinho. lançada a campanha contra os tomates. assassinado na frente do filho: 'papai dormiu de sapato.' pela involução do brasil. cegos sem assunto viram crônica sem palavra. duas moças e vários homens. a função da crítica. o câncer de testículo. por que usuários de macintosh são veados? hoje. aqui. no. seu. spamzine.
 
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editorial
josé vicente [email protected]
 
A verdadeira crítica é arrogante, cruel, desnecessária, freqüentemente equivocada e tantas vezes porca. O exercício crítico é um contínuo desvelamento do engano: até o momento em que a crítica se olha a si própria e se considera o mais ridículo dentre os tantos objetos apontados. Mas aqui se trata da verdadeira crítica. A crítica do amigão - o amigão que escreve a orelha do livro do amigão: o amigão que resenha apologeticamente o amigão: o amigão que celebra e publica o amigão: e os amigões que festejam o mundo de mediocridade que criaram para que seus egos dancem uma umbigada em paz - não vale o papel jornal em que foi escrita ou a tinta tóxica em que foi impressa.
 
A crítica soi disant 'construtiva' é risível oxímoro. Quase como um prêmio de consolação no programa da Xuxa. Quase como aquelas palmadas que se leva na infância - 'é para seu bem'. Mas as palmadas fazem bem é à mamãe, agredindo o papai alcoólatra e desmazelado na pele da fina flor do seu rebento. Para que se forme um crítico basta algum conhecimento, infinita prepotência e inexcedível ódio. Críticos nascem do mesmo estrume de que brotam os gênios. Os artistas imaginam que suas obras mudarão o mundo. Os críticos têm certeza de que seus textos mudarão o mundo dos artistas. Justiça poética.
 
Para isso é que é preciso que se não abra espaço à cooptação vagabunda. A imparcialidade é solitária. Quando você escreve algo profundamente agressivo, a primeira reação é o pasmo. Depois se começa a reelaborar o texto: 'não é comigo'. E você vira um cara ceticamente legal. Caras ceticamente legais merecem 'espaço'. É tudo sedução. Alguma coisa neste sentido aparece no filme 'Almoust Famous'. Querem que você seja relevante e legal e moderno e - num estágio terminal - já o tomam por amigão. Besteira. Não são seus amigões. Eles gostam de você da mesma forma que gostariam de um cão policial, a quem se coloca uma focinheira e se secam os testículos.
 
Críticos humildes e amigões são vítimas emasculadas da vontade de aceitação.
 
É preciso ser muito corajoso e muito arrogante e muito burro para se criticar com estilo.
 
Com tais qualidades, a aproximação é perfeita: todo crítico é um artista.
  
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Nesta edição, temos dois belos textos escritos por duas moças. Indigo Girl é uma das melhores participações de que o Spamzine dispõe. Ellen Aprobato é uma brasileira que mora na Suíça e contribuiu com um texto bastante interessante. Em ambos os contos identifiquei algo como um 'romantismo seco'. Bem melhor do que muitos web-autores reconhecidos, cujo romantismo ginasiano demandaria um daqueles chupetões de carnaval. Orlando Tosseto entrou com um longo diálogo pós-infantil. O texto é digno de nota pela oralidade exemplar. Sabbag traz-nos um violento depoimento policial. Daniela Abade, como sempre, é a voz ácida que destoa do coro dos contentes. E é também o toque político dessa edição. Chico Barney foi descoberto após criticar o Spamzine em seu blog. E o Spamzine o cooptou para que - democraticamente - também viesse a ser objeto de crítica. Seu texto - um manifesto contra os tomates - lembra-nos dos tempos em que os blogs, à conta do Pedro Ivo e seu 'Loser', eram tidos como a ponta de lança do humorismo surreal: mas isto foi antes de se tornarem veículos de múltiplas e anônimas egotrips desinteressantes.  Marcelo Firpo contrasta a inocência com a violência: o resultado é correto. Ricardo Nishizaki mostra que a concisão é invejável virtude, especialmente quando se trata de ler texto pelo monitor. Quanto ao Cid, seu sentimentalismo e seu chororô devem ser analisados levando-se em conta que o autor é vítima constante de horrenda depressão, a qual poderá levá-lo a explodir os miolos após concluir - acertadamente, diga-se - que a vida é uma merda. É um texto sincero. Leia antes que tudo se acabe.
 
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Spamzine. A literatura de hoje. O delete de amanhã.
 
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girassóis
indigo girl  [email protected]
 
O paquistanês virou pó. Um belo dia sumiu. Deixou o computador ligado, livros abertos, cama desarrumada e louças sujas na pia do banheiro. Freqüentávamos restaurantes diversos, onde ele pagava com cartões de crédito. Não repetia restaurante ou cartão. Tinha passagem por oitenta por cento dos hotéis da cidade. Preferia os mais baratos, por serem mais caseiros. Dispensava o serviço de arrumadeira a fim de cultivar aquela baguncinha boa de casa. Imran mantinha um diário onde escrevia todos os segredos que lhe eram contados. Para cada pessoa criava um capítulo em que registrava os desabafos alheios. Anos depois do seu desaparecimento, alguém o viu trabalhando numa locadora de filmes pornográficos em Nova York.
 
Julian, o espanhol, era minúsculo. Em momentos de grande afeto quase o coloquei no colo. Seus olhos eram azuis como a água de uma lagoa funda, embora a nossa fosse a Lagoa de Prata. Sentados na beirinha da ponte, com os pés tocando a água, atirávamos pedras e galhos nos patos canadenses, que, chateados com a brincadeira, corriam para o lado dos americanos. Seu passado era melodramático, com pai muquirana em Barcelona e desejo frustrado de ser bailarino. Com Julian nunca entrei num restaurante. Ele sempre morou em casa de velhos solitários que alugavam quartos para estudantes. Os velhos tinham cachorros que levávamos em nossos passeios. Julian era pró-ativo. De todos os velhos com quem já passou tardes assistindo jogos de baseball na TV, um voltará em forma de companhia quando chegar sua vez.
 
O dentista americano tirou uma foto do meu sorriso e a pendurou na recepção do seu consultório. Sua casa, na beira do lago, era decorada com objetos de Zimbabwe. Ele tinha coisas. Muitas coisas. A BMW, a Cherokee, o jet-ski, a lancha, os salmões, a adega, os cds, as passagens. Não dizia muito, até que um dia falou em casamento. A proposta era vantajosa. Incluía casa montada, sem risco de filhos e um greencard de lambuja. Tudo isso embrulhado numa declaração de amor aparentemente sincera. Take it or leave it. Eu disse o grande Não durante uma tempestade de gelo. A Cherokee deixou um rastro que a neve logo cobriu. Bye bye baby.
 
O Italiano era fetiche visual. Depois que foi para a Força Aérea Italiana passou a me escrever muitas cartas. A paixão repentina me pegou de surpresa, mas, como todo soldado tem direito a uma namorada, fui uma fiel correspondente. Li todas elas e as guardei numa caixa de sapato, amarradas com uma fita amarela, cada uma dentro do seu envelope. Não respondi todas, mas, quando respondia, assinava: Io ti amo, Franciesco. Numa delas ele mandou sua foto, fardado. Vestia uma pavorosa expressão genérica. Tive medo. Falava em voltar para mim. Trocamos mais duas cartas, ele voltou para Milão e nunca mais tive notícias suas.
 
Com o mexicano procurava ambientes públicos e, quando no carro, mantinha a mão maçaneta, pronta para me atirar. Esteticamente ele parecia o demônio. As sobrancelhas eram arqueadas como um v de ponta-cabeça, o cabelo preto e liso, as costeletas grossas, o bigode fino e um cavanhaque pontiagudo, perfeitamente delineados. A boca se movimentava muito, pelas quantidade de palavras pronunciadas. Os olhos, apesar de avermelhados, eram astutos, como se prestar atenção em mim fosse um jogo de cartas. No nosso primeiro encontro trouxe uma única rosa vermelha, com espinhos. Roubada. Sugou as gotinhas de sangue que brotaram do meu dedo. Passou a língua sobre o lábio superior e uivou.
 
Tranquei todas as portas, janelas e cobri a cabeça com o cobertor. Temia que ele entrasse voando pela janela. Já estava possuída. Dois meses depois nos mudamos para uma casa com girassóis no quintal. Vivemos felizes por um ano e meio.
 
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4 anos
marcelo firpo  [email protected]

Aí o pai convidou eu pra ir no Cinema e eu quis ir no Cinema e a gente saiu e a mãe ficou gritando, acho que era pra botar casaco. Aí a gente desceu a escada e o pai caiu e eu ajudei ele e a gente foi de a pé porque era pertinho. Aí eu achei que a gente ia no Cinema, que eu vi o Tom e Jerry, mas não era o Cinema, era o Capitólio e o pai riu e disse que era a mesma coisa. Aí o pai disse que o Capitólio ficava nos Estados Unidos e eu vi que eu morava nos Estados Unidos porque tinha o Capitólio e não em Roma porque tinha igreja grande com sino. Aí o pai brigou com o moço da porta do Capitólio que não queria deixar eu entrar porque eu era pequeno, mas aí o pai disse que eu era filho dele e o moço baixou a cabeça e fez tsk-tsk e quando ele baixou a cabeça a gente entrou. Aí a gente sentou lá na frente e o pai pegou a garrafa e bebeu no bico, se a mãe pega ele dá umas palmadas na hora. Aí começou o filme e eu gostei, menos da parte que as pessoas viram caveiras. O pai foi no banheiro do Capitólio mais que quatro vezes e eu nem fiquei com medo que eu já sou grande e eu contava o filme pra ele quando ele voltava com cheiro ruim que nem daquela vez que eu comi maionese estragada na casa da Tia Lucinda. Aí os homens jogaram uma bomba nas caveiras e o homem beijou a mulher e terminou o filme e eu quis fazer cocô e o pai ficou esperando e deixou cair a garrafa no chão, sorte que tava vazia. Aí o pai quis ir no bar e eu disse "Ah, não!" igualzinho que nem a mãe faz e ele achou gozado que eu fiz igualzinho. Aí eu comi batata-frita e o pai comeu uísque. Aí o pai começou a cantar no meio do bar que nem nos filmes do Jerry Lewis, só que não tinha música e as pessoas não paravam de falar. Aí veio um gordo e começou a gritar com o pai e eu puxei a mão do pai pedindo pra ir fazer cocô mas eu nem queria. Aí o pai nem viu que eu tava falando e ficou brigando com o gordo e o prato das batatas caiu no chão mas eu não peguei porque não é pra pegar comida no chão e aí deu um estouro que nem quando o Inter fez gol e eu acho que o Inter fez gol de verdade porque todo mundo saiu correndo do bar e ficou eu e o pai, só que o pai tava dormindo de sapato e dormir de sapato a mãe já disse que não pode.
 
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cunversa fiada de dois véio cego
ricardo nishizaki  [email protected]

Sentamos os dois lá na frente, solzinho de final de tarde, bunda na calçada:
 
- Hm.
- É.
- É?
- Hmm.
 
Impressionante como a gente consegue se entender só com o olhar.
 
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violência
ricardo sabbag  [email protected]

- Já tinha passado das dez, é a única coisa que eu me lembro. A gente tinha saído, estávamos em alguma cidade estranha. Era verão, litoral ou alguma coisa assim. Não me lembro direito. Sabe como são essas coisas, a gente vai apagando...

- Sei como é. Mas continue, por favor.

- A gente tinha saído, bebido e tal. A gente tava de saco cheio e queria se divertir um pouco.

- Claro.

- Então, lá pelas dez e pouco eles chegaram, e foram sentar.

- Eram em quantos?

- Quatro ou cinco. Não lembro. Alguns foram embora depois, ficaram só três. Cada um desses três se sentou com a gente. Um com cada uma, quero dizer.

- Ahn-hã.

- Então eles foram muito simpáticos com a gente. Pagaram umas cervejas pra gente e tal. Conversaram, contaram piadas. Não foram cantadas baratas, sabe? Então a gente estava ali no bar. Tava calor, mas a gente queria se divertir. Então eles convidaram a gente para ir até uma casa grande lá na praia de não sei das quantas. Era pra ser um negócio grande, mulher não paga, então a gente foi.

- E como foi lá?

- Eles deram carona pra gente. A gente tinha ido praquela cidade de ônibus. E naquela época a gente não tinha grana nenhuma, então a gente tinha muito pouco, mas eles estavam bem legais e a gente curtiu a idéia de ir até outro lugar. Era carnaval? Não sei... mas a gente foi.

- Mas vocês não chegaram a entrar.

- Não, porque o troço estava fechado. Era uma boate, de verdade. Ela existia. Mas tava de recesso por causa do feriado, não sei. Quer dizer... não sei se eles sabiam que tava fechado ou se realmente acharam que tava aberta.

- Que horas eram?

- Ah, isso eu não lembro. Era de madrugada. Tarde. Mas não a ponto de amanhecer.

- Tudo bem. Me desculpe, mas vou pedir para você pular para o fato em si.

- Tá. A gente foi para o apartamento de um deles. Eles eram riquinhos, e... era a casa do loiro. Não, do outro. Do primo dele. Bom, não lembro de quem era a casa. Dois deles eram parentes e o outro bem amigo de um deles. Então depois que a gente chegou e bebeu mais um pouco, a gente ficou com eles. Quer dizer, cada uma de nós com um deles. Eu não sou de fazer isso, sabe? Não sou mesmo. Mas, porra, eu estava chateada e triste e aqueles caras foram as únicas coisas que me fizeram rir nos últimos dias.

- Isso não é um julgamento, só preciso que você conte exatamente o que houve. Ou o que você lembra que houve.

- Bem, a gente ficou com eles e cada casal foi para um canto da casa. Não sei pra onde minhas amigas foram. Mas eu fiquei com ele...

- (Mostra um papel) Era esse aqui?

...

- Não sei. Parece que é. É difícil lembrar.

- Certo. Continue.

- Eu fiquei com ele. Nós demos uns beijos e a coisa começou a esquentar. Naquele ponto eu não queria que acontecesse mais nada. Queria que ficasse por ali mesmo...

- Você se sentiu obrigada a ficar com ele?

- Não... mais ou menos. Quer dizer, na hora em que a gente aceitou ir pra a casa deles ficou implícito que nós ficaríamos com eles. Mas eu não imaginei que as coisas fossem tomar as proporções que tomaram. Achei que a gente fosse dar uns pegas e fosse ficar nisso. Achei que, no pior dos casos, eu ia pedir pra ele parar e ele fosse ficar puto.

- Mas ele não parou.

- Não. Eu pedi. Eu pedi com jeito. Disse que não estava me sentindo bem, e pedi que a gente ficasse só nas brincadeiras. Mas ele disse que não, que ele sabia que "era isso que eu queria". Disse que sabia que eu era uma vagabunda e que era aquilo que eu queria.

- Você lutou com ele?

- Não. Quando ele disse aquilo eu me senti tão mal, mas tão mal, que eu comecei a chorar. Simplesmente não tinha força para qualquer coisa. Achei que fosse melhor ficar quieta para não piorar. Me senti uma merda e fiquei com muito medo que ele pudesse ficar violento.

- E ele ficou?

- Que eu vou dizer? Não. Durante o ato ele não foi bruto. Ele simplesmente ignorou minha existência ali. Mas o que eu achei pior, pior de tudo, foi que enquanto ele vinha pra cima de mim eu suspirava em lágrimas. Chorava baixinho enquanto ele gritava de prazer.

- E depois?

- Depois foi só. Eu não dormi. Minhas amigas acordaram tarde e nós fomos embora.
 
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eles
ellen aprobato  [email protected]
 
Tantos. Lembro-me de todos, muitos nem lembro o nome, guardei cheiros e sons, minha cabeça é um cemitério de sensações.

Renatos, três, Rodrigos quatro. Dois Andrés, Fernandos e Ricardos, grande paixão um Marcelo, pequenos momentos dois Alexandres. O primeiro Paulo, o segundo Silvio, o terceiro e o quarto Betos, assim eles se confundem no meio do meu corpo como se fossem pedaços de mim.

Esqueço os nomes das audácias de uma noite só, de dormir às quatro da manhã nos braços de um recém-conhecido, mas sem esquecer-lhe a cor dos olhos, o formato dos dentes, o sabor do último drinque. E o som do chuveiro quente que embalava os últimos beijos, aqueles antes do "tchau, foi muito bom", "quero te ver novamente", "te ligo amanhã" e "vou sonhar com você".

Cada carta do tarô virada, um novo Imperador, um novo Sol, um pedaço do destino anunciado como se fosse novidade. Como se eu não soubesse que o dia nasceria novamente, trazendo um novo Sol para os meus braços, um Sol Rogério com os olhos mais lindos da escola, um Sol Rogério na porta da minha casa de noite.

E tem os beijos que eu não beijei, o gosto que eu não senti, e desses só sei lembrar do rosto, sem marcas, sem vida, sem som. E desses que não me lembro o nome, tenho pena por que eles morreram, dentro de mim, e dentro do meu mundo, e não deixaram a coisa mais importante que um homem dá para uma mulher: uma doce saudade.
 
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tomate bom é tomate morto
chico barney  [email protected]
 
Tomate é ruim pra cacete. Não sei qual o motivo de insistirem em colocar o molho dessa porcaria nas pizzas. A única coisa boa no tomate é a embalagem do extrato. O Jotalhão é um sujeito muito boa praça.

Certa vez, entrei numa pizzaria e pedi uma calabresa. Mas sem molho de tomate. O dono ficou indignado. "Pizza sem molho de tomate não é pizza! Tás é maluco!", disse o amigão. Malucos são vocês, que gostam de tomate.

Proponho aqui a substituição completa e irrestrita do molho de tomate pelo creme de manga. Muito mais saudável, nutritivo e saboroso. É importante banir o tomate da mesa da família brasileira. Vamos pregar o fim das plantações de tomate. Em seu lugar, vamos plantar macieiras, figueiras, pés de acerola, alfafa e moranga.
 
Chega de tomates. Essa fruta só trouxe desgraças pra humanidade. Vide "Tomates Verdes Fritos".

Outra coisa ruim que o tomate nos trouxe foi aquele guitarrista varzeano do não menos varzeano Jô Soares. Ô sujeitinho escroto, bons os tempos do Rubinho, que Deus o tenha. Aquele certamente não comia tomate. Se comia, morreu por isso, não tenham dúvidas.
 
Mas calma. Nem tudo está perdido.

Guardemos então os tomates, para jogar nos comediantes de segunda linha.
 
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pela involução do povo
daniela abade  [email protected]
 
Esqueçam os agrupamentos políticos. As caras pintadas. Os discursos de direita, esquerda, centro, sul ou norte.

Nós - o povo, a plebe ignara, a massa numerosa e anônima que povoa essa maravilhosa terra tropical - deveríamos levantar a bandeira da involução. É um direito adquirido pelo brasileiro no decorrer de sua história. Não a involução baseada na teoria de Darwin: de homens a orangotangos. Macaquinhos lépidos com rabos preênseis. Seria uma involução muito mais radical: de homens a quadrúpedes - cavalos, jegues, mulas, burros ­ o que o freguês preferir.

Se você imediatamente teve um flash de uma imagem romântica com um cavalo galopando livremente por uma pradaria, pode tirar seu cavalinho da chuva (ou da pradaria). Nossa luta é pela involução a quadrúpedes amestrados.

Não é justo que o povo brasileiro seja bípede. Todo o santo dia a classe política monta em cima da gente, ignorando por completo nossa frágil coluna cervical. Isso sem falar da carga tributária jogada em nossas costas, sem a menor piedade. O último boato, com muito fundo de verdade, é que nem a poupança seria mais isenta de imposto de renda. Quadrúpedes, teríamos mais base para agüentar todo esse peso que, querendo ou não, nos é entregue.

Agora vamos à alimentação: mais de 50 milhões de brasileiros passam fome. Não têm o que comer. Pelo menos outros 60 ­ onde se encontra a classe C/D - não conseguem manter uma dieta minimamente saudável. O restante se pauta por um padrão de beleza vendido na mídia, onde a magreza é fundamental. Portanto, nada mais coerente do que mudar nossa dieta para feno e capim. Todos ficariam contentes,

O uso de rédeas e cabrestos não deve ser um problema maior. Ou alguém ainda acha que não é guiado nesse país? Que pode fazer escolhas livremente? Falar em livre arbítrio na frente de Roberto Marinho, Sílvio Santos e Roberto Civita deve provocar horas de boas gargalhadas.

A maioria de nós seria castrado, é verdade. Mas de certa forma já somos. E a castração física evitaria a disseminação de doenças venéreas e da gravidez infantil em meninas - que são sexualizadas, antes de terem qualquer oportunidade de serem educadas.

Mas a maior vantagem entre todas, seria o tapa-olhos lateral. Já imaginou? Não precisaríamos mais fingir que não estamos vendo o que acontece em nossa volta. De fato não veríamos.

Lute pelo seu direito. Lute pela involução. E defenda esse lema: "Ordem e regresso."
 
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o silêncio
cid boechat  [email protected]
 
Querida, não me pergunte a razão de eu ser assim tão calado.

De te olhar intensamente e não dizer nada.

Você fica então me observando, tentando adivinhar no que eu estou pensando, o que se passa pela minha cabeça. E me chama de enigma.

Eu não sou um enigma.

Eu só fico quieto pra você pensar que talvez eu seja um cara misterioso. Pra você pensar que talvez eu tenha um tiquinho de charme. Que eu guardo algum segredo.

Eu não digo nada pra valorizar minhas poucas palavras. E pra você achar que elas têm mais importancia do que realmente têm.

Eu não digo nada porque eu não sei o que dizer.

Eu não digo nada porque eu não tenho o que dizer.

Nenhuma história pra contar. Como os outros têm.

A minha vida é tão normal.

E há algo mais medíocre do que ser comum?

Querida, não me pergunte por que eu não falo nada.

Eu só quero te dar um pouco de aventura.

Eu só quero que você ache que eu tenho alguma graça.

Não me pergunte. Pois eu terei então que mentir.

Eu sou apenas um ator

de filme mudo

num monólogo

tão sozinho.
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três rapazes num quarto
orlando tosseto jr  [email protected]

- O Gomes vem aí - disse Lucas, de pernas cruzadas no chão, lendo um gibi. Estéfano falou, sem tirar os olhos do seu gibi:
- Como é que você sabe?
- Ele ligou.
Samuel, que estava sentado na prancheta de desenho, examinando cuidadosamente um gibi, disse:
- A gente podia fazer uma surpresa pra ele.
- Que surpresa? - perguntou Estéfano, bocejando.
- Podíamos ficar pelados.
- Ah, não - disse o Lucas. - Ele é veado.
- Por que ele é veado? - perguntou Estéfano, olhando sonolento para um poster do Superman.
- Porque ele dá o cu. Porque ele gosta. Porra, sei lá por que ele é veado - respondeu o Lucas.
- Eu tenho uma teoria sobre os veados... - disse Samuel.
- Iiiiiih... - fizeram os outros dois.
- Eu acho que os veados são anti-ecológicos.
- Explica isso melhor, Samuel - fez o Lucas, esfregando as mãos, enquanto o olhar de Estéfano se perdia no teto.
- Bom, é só você ver uma bússola.
- Hein?
- Quer dizer, é o princípio do imã. O que é que acontece quando você tenta ajuntar os dois pólos iguas de dois imãs diferentes?
- Eles se repelem - disse o Lucas. Estéfano, sentado na cama, olhava para o chão.
- Exatamente. É assim: os opostos se atraem. Quando os iguais começam a se atrair, o campo magnético da Terra é afetado.
- Vai te foder, Samuel. Você tá ficando louco - disse o Lucas.
- Misticamente... - começou o Estéfano.
- Que que tem? - perguntou o Lucas.
- Misticamente, os iguais se atraem - disse Estéfano. Bocejando.
- Os místicos são todos uns veados? - perguntou Samuel.
- Não. A tua teoria é que é furada.
- Os necromantes. Sodorra e Gomona... Como se explica isso? - perguntou Samuel.
- A Bíblia é cheia de mentiras - disse Estéfano.
- É. Como o urso que comeu 40 moleques que caçoaram de um profeta - disse o Lucas.
Os outros dois riram.
- Como é que é?
- Tá lá na Bíblia, meu! Cê que lê aquela merda e num sabe?
- Nunca li isso - disse Samuel
- Mas tem - insistiu Lucas.
- Liga o rádio - pediu Estéfano.
 
"Bring On The Dancing Horses". Silêncio.
 
- E aí? - insistiu Samuel. - Vamos ficar pelados?
- Não - disse o Lucas. - Vai empestear meu quarto inteiro com esse chulé, cheiro de cu...
- Quêisso... - disse Estéfano.
- Quando é que foi teu último banho, Estéfano? - perguntou Lucas, desafiador.
- Que dia é hoje?
- Sexta.
- Foi... ontem.
- Ontem, né? Por isso que eu vi teu casaco descendo a Santo Amaro sozinho hoje! - disse o Lucas.
- Nós cheiramos muito bem - disse Samuel.
- Mentiroso. Você não lava o pinto, que eu sei!
- Lavo sim.
- Por dentro? Puxa a pelinha? Passa sabão? Tira o queijinho?
- Puxar a pelinha não posso, porque eu tenho fimose.
- Vocês são uns lixões ambulantes! Como é que pode? Estéfano, tira o tênis aí!
 
 Era um Topper basquete cor creme. Não se fazem mais. Estéfano tirou, e pôs o pé no chão. Ficou uma poça d'água.
 
- OLHAÍ! OLHAÍ! - berrou o Lucas, fazendo o maior escândalo. - VOCÊ FEDE!
- Eu transpiro - disse Estéfano. - Mas o chulé do Samuel é pior.
- É nada! - disse Samuel, subitamente alerta.
- Lembra aquele teu Commander amarelo? - perguntou Estéfano, apontando-lhe o dedo acusador. - Aquele Commander que parou uma aula no Santos Dumont, e que fez o professor de física calcular a potência gravitacional do fedor?
- Potência gravitacional? Era um Commander ou um buraco negro? - perguntou o Lucas.
- Aquele Commander - prosseguia Estéfano, implacável - cujos eflúvios pestilentos desceram as escadas da tua casa atrás de nós certa vez?
- O QUÊ? - espantou-se o Lucas.
- AQUELE COMMANDER - erguia-se Estéfano - QUE DEU BRONQUITE NO TEU IRMÃO? LEMBRA DELE, SAMUEL?
- Lembro - disse Samuel.
- Era foda. Não era chulé, era Napalm - concluiu Estéfano.
- Mas eu não tou com ele agora - disse Samuel. - E, se querem saber, nem foi o pior calçado que eu tive.
- Houve coisa pior? - perguntou o Lucas, horrorizado.
- Era um Conga Allcolor. Não era escandaloso, era venenoso mesmo. Um dia eu fui pôr o tênis no pé, e lá dentro estavam três filhotinhos de barata. Morrendo.
 
Silêncio respeitoso.
 
- Não sei como é que vocês conseguem pegar mulher - disse o Lucas.
- Elas gostam - disse o Estéfano. - Acham rústico. Autêntico. Assim, verdadeiro, sabe? Pego um monte de esquerdistas.
- Eu sou poeta - disse Samuel, - e todo poeta fede.
- Não, quem fede é filósofo. Tá lá no Monteiro Lobato - disse Estéfano.
- Tudo o que eu sei é que eu não beijaria a boca do Gonçalves Dias - disse Samuel.
- Falando em Gonçalves Dias - disse Estéfano, misteriosamente, - como é? Vamos tirar a roupa?
- Ah, foda-se, vamos! - disse o Lucas.
Despiram-se, e cada um ficou no seu lugar: Estéfano na cama, Samuel no banquinho da prancheta, Lucas no chão. Entreolhavam-se. Cedo ou tarde Gomes chegaria; e é a minha imaginação, ou de repente a luz ficou um
pouquinho mais fraca?
 
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p e r g u n t a r   n ã o   o f e n d e
"Se é verdade que a beleza depende do modo como se olha, como encontrar beleza no câncer de testículo?"
 
ricardo nishizaki  [email protected]
Que tal olhar de olhos fechados?
 
rosi  [email protected]
Na verdade, o saco que aconchega os testículos não tem uma estética muito boa, é todo enrugado e, em alguns casos, tão peludo que nem dá coragem de chegar perto. Existe também o problema do tamanho e da cor, aqueles enormes e roxos são medonhos, coisas assustadoras, faz com que tenhamos noites e noites de pesadelo. Com raras exceções vemos alguns de pequeno porte, rosadinhos e depilados que dá até uma vontadezinha de degustar, mas são raríssimos, os que conheço e pelas pesquisas que já andei fazendo normalmente são horrorosos. Portanto, seguindo essa teoria, quando surge o câncer no testículo, resolve-se noventa por cento do problema estético do saco. Uma vez que o testículo é um órgão que não se faz transplante, deve-se tirá-lo por intervenção cirúrgica e, em seguida fazer, o tratamento quimioterápico.
 
Se o câncer for em apenas um deles, o homem acaba ficando "sacolho". Não fica lá essas maravilhas, mas fica engraçadinho, só de um ladinho, diminuindo a proporção total do saco. Se o câncer avança para os dois, aí sim resolve de vez o problema, porque tirando-se os testículos, teoricamente some o tumor. Outra vantagem também que ajudará na estetica é a quimioterapia, que faz com que todos aqueles pentelhos nojentos também sumam. Aí está, pois, a beleza de se ter um câncer de testiculo.
 
Olhando o lado prático, o homem, ao se livrar dos testiculos e, conseqüentemente, do câncer, pode levar boladas à vontade que nunca mais sentirá dores.
 
daniela abade  [email protected]
Quando eu soube que o Maluf e o Quércia tinham câncer de próstata, até me emocionei. Quer coisa mais bonita que essa? Pena que a imprensa não divulgou as radiografias.

luis sardinha  [email protected] 
É fácil: na ótica do câncer!!!
 
icaro bandeira  [email protected]
Com o olho do **!!
 
pergunta da próxima semana:
"Que explicação você daria se encontrassem R$ 1,3 milhão no cofre do seu escritório?"
Ajude dona Sarney Jr. a inventar uma desculpa convincente: [email protected].
 
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f a l a   q u e   e u   t e   e s c u t o
Tropeçou, caiu, machucou? Escreva para [email protected] que passa.

"Por que a maioria dos usuários de MAC são viados?"
rogério campos
 
josé vicente solicita: ALGUÉM AÍ RESPONDA ESTA BAGAÇA.
 
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c r é d i t o s   f i n a i s

Patota traquina
José Vicente > lets_kill_all_artists@yahoo.com.br
Alexandre Inagaki > [email protected]
Ricardo Sabbag > [email protected]
Orlando Tosetto Junior > [email protected]

Gente supimpa
Indigo Girl > [email protected]r
Marcelo Firpo > [email protected]
Ricardo Nishizaki > [email protected]
Ellen Aprobato > [email protected]
Chico Barney > [email protected]
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orlando: eufemismo é chamar uma coisa de outra coisa, porque a coisa que essa coisa é de verdade, é uma coisa muito feia de se falar.
 
analog kid: resposta ao Fala que Eu te Escuto: "deve ser porque a maçãzinha antigamente era toda colorida feito um arco-íris. Mais gay-pride impossível".
 
ian: de um vendedor de cartõezinhos com mensagens evangélicas e chocolate, dentro do ônibus: - Eu tinha uma namorada com diabetes, mas ela comeu chocolate e morreu, acabou a namorada...