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046
06 de janeiro de 2002
são paulo  porto alegre  goiânia  joão pessoa  itararé  são josé dos campos  londrina
 
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n e s t a   e d i ç ã o:
 
o tempo  essência cardíaca  criança diz cada uma  papo-cabeça  no supermercado  assassinos virtuais  o sexo das baratas  being cool  mulher paraibana
 
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editorial
alexandre inagaki  [email protected]
 
"Quem mata o tempo injuria a eternidade".
(Henry David Thoreau)
 
Estamos no começo de um ano novo, mas o que isso significa? Oras, na prática a troca de datas no calendário não muda muita coisa, a não ser o fato de que precisaremos ficar mais espertos na hora de preencher cheques. Hoje é o amanhã de ontem: o tempo não muda.
 
Relógios, calendários, agendas e cronômetros não passam de artifícios que nos recordam de compromissos assumidos e carnês pra pagar. Tentativas pífias de algemar o Tempo, esse bicho esquisito que teima em escapar por entre nossos dedos enrugados. É assim que nos prendemos ao calabouço dos ponteiros, à senzala das agendas, à penitenciária do rádio-relógio que religiosamente violenta nossos ouvidos e decapita nossos sonhos. A história de nossos tempos é a saga de uma sociedade de pessoas bocejantes. Indivíduos que dormem cada vez mais tarde e acordam cada vez mais cedo, na necessidade premente de driblar congestionamentos e esticar dias cujas 24 horas mal dão para dar conta de todo o serviço, mastigar decentemente as refeições, ir à academia, lavar a roupa, levar as crianças ao colégio, fazer os deveres de casa, ir à happy hour com o pessoal do serviço, assistir à novela das oito (que só começa às nove), dormir e ter algumas horas decentes de sono antes que o amaldiçoado despertador toque novamente.
 
Nossos relógios biológicos são reajustados a fórceps. A pressa com que tudo muda faz com que apertemos enésimas vezes o mesmo botão do elevador, zapeemos os canais de televisão sem possível repouso dos olhos, apressemos nossos passos, engulamos pedaços mal mastigados de fast food. Poucos fatos simbolizam tão bem a loucura de nossos dias quanto a artrite precoce da ovelha Dolly. É, meu filho: nem a ciência é capaz de retardar a inexorabilidade da natureza. Não se acelera impunemente a passagem natural do Tempo.
 
Tempus fugit. Frente à volatilidade contemporânea, nossos metabolismos escangalhados pedem por uma redinha preguiçosa pra deitar. É este o meu desejo para 2002: que cada um reserve uma porção generosa do dia para dar a si mesmo tempo para contemplar a lua, o sol, as estrelas, o mar, os sorrisos extraviados na multidão que se atropela a si mesma na digestão precoce do cotidiano.
 
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A edição de hoje tem como texto inicial um conto da portoalegrense Homera Cristalli, que nos brinda com uma narrativa digna de uma HQ de Moebius. E que marca a despedida dela da Terra Brasilis: Homera ficará um ano na Itália. Aqui no Brasil, desejamos toda a sorte do mundo, e aguardaremos por seus relatos a respeito da Velha Bota em tempos de euro.
 
A nível de papel enquanto suporte físico de reflexões (sic), temos logo após Danilo Russo de Andrade usando sua cabeça de baixo como alter-ego de uma sátira à intelligentsia paulistana (Vila Madalena em especial). E mais: colaborações de nossos leitores Carolina Carvalho e Tiago Soares, um alô do graaaaande Mateus Potumati, textos dos nossos correspondentes de Goiânia AL-Chaer e Carlos Eduardo, a.k.a. (arlã(), e os versos de Lau Siqueira e Silas Corrêa Leite.
 
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A você, um Feliz Ano Todo.
 
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23 ataques cardíacos
homera cristalli  [email protected]
 
Ele disse adeus numa manhã de maio. “Pelo menos me deixe guardar a sua essência” ela pediu. Ele relutou.

- “Você sabe que dói um pouco.”

- “Por favor, você já está me deixando... eu quero só um pouco da sua essência.”

- “Ok, mas vamos logo com isso.”

Ela deu um pulinho de felicidade e puxou-o pelo braço, em direção ao Sugador. Ele se postou sob o tubo extrator e tratou de esvaziar a mente, enquanto a agulha penetrava na sua espinha dorsal. Ela esfregou as mãos de contentamento e correu para telefonar para uma amiga. “O Tixo me deixou, mas estou pegando um pouco de essência!”

O Sugador começou a fazer seu trabalho, fazendo com que o corpo do rapaz ondulasse levemente para frente e para trás, os olhos em branco. Finalmente, a máquina parou e o tubo retraiu-se, extraindo a agulha devagar. O rapaz desabou, inconsciente, e a moça correu para ajudá-lo. Depois ela pegou o frasquinho cheio de essência, aspirou um pouco e colocou o resto na galeria.

Havia reparado que o Sugador estava um pouco lento. Logo teria que chamar o técnico. Claro que a maioria das pessoas não possuía seu próprio aparelho. O mais comum era ir aos locais autorizados para extração e efetuar a operação lá mesmo. Ou então, ir às lojas e adquirir a essência favorita de cada um. Muitos artistas famosos comercializavam suas essências, mas havia suspeitas de que elas chegassem diluídas ao consumidor.

Entre os ricos estava muito em voga comprar essências de pessoas comuns, não industrializadas, portanto não diluídas. Custavam muito caro e eram difíceis de encontrar. Uma como a do Tixo, extraída imediatamente após um rompimento amoroso, era uma verdadeira jóia. Pura, forte e duradoura. Também eram consideradas ultracool as essências de momentos críticos. Um frasco de Acidente Aéreo podia chegar a custar centenas de dólares.

A ex-namorada do Tixo levou seu recém coletado frasquinho para avaliação e venda (afinal ela podia estar com uma pequena fortuna nas mãos) e, enquanto esperava ser atendida, viu uma mulher pedir 23 frascos de Ataque Cardíaco. Pretendia dar uma festa, justificou. A ex-namorada virou-se para a vizinha de banco e comentou que era absurdo que certas pessoas esbanjassem daquela forma, com o país nessa crise. Depois deu uma última aspirada no seu frasquinho, deixando-se percorrer por um derradeiro arrepio de saudades, antes de vender até a última gota da essência do seu antigo amor.

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d i á l o g o s   i n e s q u e c í v e i s
 
- O que é ter fé?
- É uma menininha, na praia, esvaziando o mar com um baldezinho de plástico furado.
 
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Garoto, ao ver irmãs gêmeas na rua:
- Mãe, eu vi duas meninas de cara repetida!
 
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- A cor do céu depende da hora, do tempo e de quem olha. Quem diz que o céu é azul, nem desconfia que, de noite, ele pode ser preto e, quando vai anoitecendo, pode até ser rosa ou vermelho. Quem diz que o céu é azul é analfabeto de céu.
 
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- Eu sou otimista, sim. Nunca penso nos oito gols que deixei entrar, mas nos cinco que eu não deixei.
 
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Definições:
 
- Paciência é uma coisa que mamãe perde sempre.
- Relâmpago é um barulho rabiscando o céu.
- Palhaço é um homem todo pintado de piadas.
- Sono é saudade de dormir.
- Strip-tease é mulher tirando a roupa toda, na frente de todo mundo, sem ser pra tomar banho.
- Rede é uma porção de buracos amarrados com barbante.
- Vento é ar com muita pressa.
- Cobra é um bicho que só tem rabo.
- Helicóptero é um carro com ventilador em cima.
- Esperança é um pedaço da gente que sabe que vai dar certo.
 
(trechos do "Dicionário de Humor Infantil", coletânea de definições espontâneas e achados poéticos de crianças entre 3 e 11 anos de idade, compilada por Pedro Bloch e publicada pela Ediouro.)
 
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ah, as cabeças...
danilo russo de andrade  [email protected]
 
Meu nome é Pinto. Sou também conhecido como Bilau, Bráulio e Dan-dan, além de uns outros nomes que algumas donas andaram dando para mim. Êpa, sem malícia aí que a história que vou contar é séria. Aconteceu dia desses, nas vésperas do ano novo.
 
Fazia um tempo já que eu não me encontrava com as donas. Andava meio triste, caídão. Acho que o Danilo, é o Danilo, o que diz ser meu dono, também. O cara teve a pachorra de, no dia 31, véspera de réveillon, ir a um desses cineclubes (onde se vê muito viado e poucas mulheres bonitas desacompanhadas) para assistir a um filme indiano. Eu dormi durante o filme todo, é claro. Só saí para fora da minha toca quando o Danilo me botou preguiçosamente por entre a fenda da sua cueca para fazer xixi. O cara tava numa deprê tão foda que, ao invés de dormir assistindo a “O Vaso” indiano, chorou na cena em que o pobre coitado se espatifou no chão, simbolizando a perda da inocência, numa metáfora meio junguiana, da perda inevitável da inocência de Luanda, a personagem feminina principal. É... o cara tava sensível mesmo, ainda sofrendo com a ressaca amorosa que dona Matilde lhe fazia sofrer.
 
Saímos do cinema, eu e Danilo, inconsoláveis, um pouco desnorteados, um tanto inconsoláveis. Ficamos vagando pela Rua Augusta por um tempo, sentindo um ventinho frio passar entre nós, o que me causou um enrugamento desagradável. Foi quando Danilo avistou um barzinho simpático aberto, com o sugestivo nome Frevo. Entramos e, para nossa surpresa, o lugar encontrava-se barulhento, cheio de risadas, cochichos e sons de talheres trabalhando fervorosamente.
 
Sentamos numa mesa na área de fumantes. Já tentei convencer o Danilo de que fumar não faz bem a mim e nem a ele. Que isso, às vezes, atrapalha minha performance. Porra, sou um cara vaidoso, de cabeça boa, e simplesmente abomino aquelas situações em que me sinto literalmente diminuído por culpa exclusiva do Danilo, um ser meio juca quando mal alimentado.
 
O Danilo acendeu seu cigarro, chamou o garçom e pediu um chopp, uma porção de fritas e um cheese-salada com ovo. Tudo indicava que seria mais uma daquelas noites enfadonhas. Estava começando a bocejar quando eu e Danilo entramos repentinamente em sinal de alerta verde. Duas donas entraram no bar, lindas e esvoaçantes, com a pele reluzente, exalando o frescor de um banho morninho e espumante. Ainda estavam com os cabelos molhados. A de cabelo chanel usava um vestido feito de um fino algodão estampado que nos deixava adivinhar todas as curvas de seu corpo, o contorno de seus seios, a maciez de sua pele, o roçar de suas coxas firmes quando ela as cruzava. Já a morena de cabelos longos e selvagens usava uma saia curtinha e molenga, e uma blusa justinha e docotada que deixava seu umbiguinho enfeitado com um piercing à mostra. Ah que cinturinha, que peitões, que belo par de pernas. Danilo e eu ficamos extasiados quando as donas sentaram na mesa ao lado e nos cumprimentaram com sorrisos radiantes.
 
Eu, um cara sensato e precavido, já havia começado meus exercícios de respiração chinesa para não fazer feio frente a tão belas donas. Percebia-se que Danilo estava agitado, com a cabeça fervendo mais que o corpo, tentando achar uma frase de efeito para abordar as donas.
 
Entregues o chopp e a porção de fritas, Danilo e eu nos oferecemos para acompanhar as donas em sua mesa. Elas gentilmente aceitaram o convite e se apresentaram: Luana e Paula, “somos amigas desde os tempos do primário e acabamos de assistir a “O Vaso”. Que belo filme! A direção de Pathak Kopran foi sublime, perfeita!”.
 
Danilo balançava a cabeça (a dele) com um sorriso abobado no rosto. Foi aí que a tragédia começou, mais ou menos assim.
 
[Luana] “O filme fala da perda da inocência feminina enquanto fato inevitável e evento sociológico, a nível de pensamento como manifestação intelectual gerada pela ciranda randômica de situações imersas no quotidiano do artista, entende?”.
 
[Paula] “Eu iria além, Lu. Tipo assim, a quebra do vaso representa o inexorável caminhar da humanidade enquanto sublimação e concretização de um ato a nível metafísico, que do ponto de vista de Durkheim, como grande idealizador da sociologia enquanto conhecimento substanciado no ID a nível de estado tautológico, se comparado à física quântica, é uma representação metalingüística de justaposições fenomenológicas da libertação feminina enquanto ente social, compreende?”
 
Danilo não se conteve com o “tautológico”, e soltou uma gargalhada presa com a boca cheia de chopp. Eu me encolhi entre minhas bolas e fiquei horrorizado com a verborragia desestimulante das duas donas, esperando pelo pior, porque além de chopp e saliva voando pela mesa, Danilo ainda chutou, em seu acesso incontido de gargalhadas, o garçom que trazia o cheese-salada com ovo, manchando os trajes esvoaçantes de Luana e Paula com maionese, gordura e gema de ovo.
 
Danilo ria tanto que até eu me balançava freneticamente dentro de sua cueca samba-canção. Tentava me segurar como podia em minhas bolas, mas o esforço resultava inútil diante do acesso de gargalhadas de Danilo.
 
No fim acabamos sendo expulsos do restaurante. Danilo parecia pouco se importar, pois deixou o recinto dançando Frevo e entoando pagodes de quinta categoria.
 
A princípio fiquei um pouco triste com a oportunidade que havia perdido de ter duas belas damas numa mesma noite. Já me sentia meio enferrujado e entediado desde o sumiço da Rejaninha.
 
Porém, depois de refletir um pouco, entendi Danilo. Ele, com seu ataque de risos, no final acabou por me proteger. Porque ele certamente sabia que eu me enrugaria de desgosto se ficasse exposto diante de duas donas que me avaliariam como membro fálico enquanto representação de simbiose nietzscheana a nível de instrumento propício à sublimação do prazer.

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vira
(arlã()  [email protected]
 
meus bolsos no espelho são casulos
onde tiro borboletas com a mão
meu bolso da camisa é muito grande
só para caber meu coração

séculos dos séculos alguém
toque-me e eu me atualizo
vida minha vida amém
você é o ano novo que preciso
 
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r á p i d a s  r a s t e i r a s
 
"Morreu de falência múltipla dos órgãos - Polícia Federal, Justiça Estadual e Governo do Estado''.
(Millôr Fernandes, comentando com sua costumeira precisão o caso Fernando Dutra Pinto, vítima do efeito colateral mais comum a presidiários que matam policiais no Brasil.)
 
"É um réveillon que se abre e se desdobra europeu, seguro, clássico, sofisticado, vienense, bigbeniano, brussélsico e que se apoteotiza tropical. O que não podia acontecer era a exuberância das mortes e dos feridos. A exuberância
da insegurança".
(César Maia, prefeito do Rio de Janeiro, ao justificar, de modo tipicamente carlinhosbrowniano, a falta de graça na queima de fogos em Copacabana.)
 
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código para amêndoas, ou três mil e seiscentas opções para sua salada
tiago soares  [email protected]
 
A necessidade de se dissecar e classificar e rotular e arquivar coisas é tão comum à natureza humana quanto a vontade esporádica que sentimos de ir ao banheiro. Toda sociedade razoavelmente organizada da qual tenhamos algum conhecimento pôde contar com a ajuda de indivíduos especializados em estabelecer métodos e padrões pelos quais as coisas estranhas do mundo pudessem ser analisadas e decifradas e devidamente destinadas às suas prateleiras e gavetas. Astrólogos, filósofos, cientistas, astrônomos, bibliotecários - sejam quais forem os nomes que lhes são dados, a função que denominam é, em um grau ou outro, a mesma: entender um pouco mais das coisas amedrontadoras do universo e as colocar num lugar seguro. Muito possivelmente esta é a maneira que a humanidade encontrou para garantir sua posição de domínio relativo sobre os acontecimentos do mundo e poder dormir de forma tranqüila.
 
Os campos cobertos pelos métodos de estudo e classificação estabelecidos pelo homem são um tanto mais vastos que o espaço que tenho para escrever, e contam com estudiosos razoavelmente mais bem preparados que eu para se dedicarem à tarefa de entender sobre o que afinal é esta coisa toda. Da vida social de formigas à mecânica de corpos celestes provavelmente mortos agora (pelo menos foi isto o que eu entendi), da vida e morte de deuses à divisibilidade de pedaços indivisíveis da matéria - qualquer coisa que se mova, ou seja visível, ou respire, ou o contrário, encontrará alguém disposto a gastar um tanto de seu precioso tempo se debruçando sobre seja o que isso for. Letras, números, átomos, elefantes ou cenouras.
 
Eu trabalho como caixa num supermercado, e é do meu emprego que tiro o meu sustento e algum do meu estímulo intelectual. Mais que uma vez gastei alguns segundos tentando entender sobre como afinal funciona o código de barras, ou se certificados de cartões de crédito são confiáveis mesmo, ou se aquela luzinha vermelha que sai da máquina registradora para escanear as coisas é segura. E eu não encontrei qualquer resposta nas minhas divagações, nem motivo para continuar perdendo meu tempo com isto. Mas há algo que ainda me deixa curioso, e que, talvez, seja o único motivo pelo qual continuo neste emprego. Não, isto não é verdade. Eu continuo nisto pelo dinheiro.
 
Mas, bem, tudo gira ao redor de dinheiro nos dias de hoje, e não há motivos para que eu me sinta desconfortável por isto. De qualquer maneira, de todas as questões que a vida de caixa possa levantar, para mim não há alguma que traga um mundo de maior profundidade e complexidade e desconhecimento que o universo do código para vegetais. Sabe quando você quer comprar algum legume ou fruta e se dirige ao caixa e ele prontamente digita alguma coisa na registradora e sua compra é pesada de maneira quase mágica? Bem, saiba que, para cada coisa vinda da terra que você carregue no seu carrinho de supermercado, existe um código. Pimentões verdes são 12, e alface, 161. Maçãs podem ser 4015, ou 4139, ou 5006, ou, simplesmente, 10. Pimentões vermelhos são 4088, e abacates, 4225. O que me faz perder o sono de maneira metafórica não é o fato de cada vegetal ter um número correspondente, ou a possibilidade de se calcular uma salada, e sim o método que foi usado para se estabelecer estes números. Talvez tenham usado algum cálculo de probabilidade de consumo, e, por este método, o fato de bananas serem o número 1 faz algum sentido. Mas tomates são 4945, e qualquer pessoa razoável não pensaria em 4944 outros vegetais possíveis para se colocar numa salada. Seja como for, deve haver algum motivo para isto, e, talvez, ele até faça algum sentido. Ou talvez eu esteja gastando meu tempo com algo estabelecido de maneira aleatória por algum oficial de ministério mal-humorado.
 
Talvez eu deva apenas questionar meu supervisor a respeito disto na próxima vez em que for trabalhar.
 
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p e r g u n t a r  n ã o  o f e n d e
"Se você pudesse matar alguém com as próprias mãos, quem seria?"
 
antonio gilberto bellucci junior  [email protected]
Eu convocaria uma votação extraordinária no congresso para aprovação de medidas que visem aumentos de salários para os senadores, e então jogaria uma bomba lá dentro. Os cidadãos brasileiros, motivados por meus atos, fariam o mesmo em suas cidades na câmara dos vereadores. Cortaríamos o mal pela raiz. Bem, os deputados restantes...  estes entrariam na linha facilmente.

diana flor 
[email protected]
Eu esquartejaria toda a cambada de mela-cuecas da música brasileira. Que ódio! Como é que pode? É tanta ode à dor-de-cotovelo! Coisa de pagodeiro! Toada de sertanejo! Nódoa enjoada que não larga apesar do meu desejo!
 
andré lopes  [email protected]
Gustavo Franco. Porque escrever bobagens é imperdoável e o Roberto Campos já morreu. Pensando melhor, eu ressuscitaria Bob Fields e faria o trabalho. Não, peraí, já que posso ressuscitar ia logo de Jesus Cristo para ele ter uma morte decente. Aquele troço de cruz deu no que deu. Mas tocar em pessoas é nojento, ainda que para matá-las. Posso usar um sudário?
 
edney soares de souza  [email protected]
Ei tio! Só pode matar um ? :(

michelli marçal  [email protected]
Eu mataria com minhas mãos e com todo prazer aquele cantorzinho que o "Senhor Raul Gil" lançou....  RoBINson (hahah q nome... urgh!) que se faz de "anjo" e que fica cantarolando (ou estragando?!) as músicas dos outros... como ex... We are the world (é assim q escreve?)....eu ODEIO esse cara...!!!
 
eder rebouças  [email protected]
Eu mataria o cara que canta a música da novela das gafes (ops! das oito!) quando a Giovanna tá lá com o Murilo. O pessoal que assiste diz que a letra da música é "somente por amor", e SEXO QUE É BOM NEM GERA! Por isso que não assisto novela. Bem merecido dizer que a novela das oito é a pior invenção do século!

rodrigo de oliveira  [email protected]
Mataria o primeiro político que falasse... "Eu prometo em 2002...."
 
pergunta da próxima semana:
"Qual foi a cantada mais marcante que você já deu (ou recebeu)?"
Mande seu petardo: [email protected].
 
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o galo
lau siqueira  [email protected]
 
o silêncio
com suas equações
              de estrelas
abre os portais da
madrugada
 
sob os olhos atentos
                 do
infinito
um quarto de lua
empresta
             a partitura
ao galo
 
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n a v e g a r  i m p r e c i s o
 
manteiga aviação
http://paocommanteiga.blogspot.com
Hoje li o DIÁRIO DO PÃO COM MANTEIGA NA CHAPA. Utilizei Pentium II 486, Internet Explorer 5.5 e meus olhos. Estava muito engraçado.
 
fait divers
http://www.ananova.com/news/index.html?keywords=Quirkies&menu=news.quirkies
Mulher com 6.000 comprimidos em seus sapatos-plataforma. Homem preso depois de urinar em uma máquina de gelo. Russo construiu uma casa inteira com garrafas de champanhe. Artista criou uma escultura de manteiga em homenagem às vítimas do WTC. Um site com notícias que mostram que a realidade é mais inverossímil do que qualquer ficção.
 
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baratas
al-chaer  [email protected]
 
As baratas possuem um sistema nervoso único, formado apenas por sinapses nervosas diferenciadas sob a forma de um líquido (quase pastoso) contínuo. Poderíamos dizer, em linguagem não culta, uma gosma transmissora das sensações.
 
Na verdade este sistema nervoso também é o sangue da barata. É quase impossível "queimar" uma barata. Já tentei, quando criança, mas a barata não pega fogo (sei que você não se permitirá a esta experiência, nem seria necessário). A barata não sente o calor, nem sente a dor provocada por calor extremo. A barata agüenta. Daí a expressão "eu não tenho sangue de barata", quando justificamos nossas "explosões".

Numa hecatombe nuclear, apesar de que o homem não conseguiria presenciar, deduz-se que as baratas não sofreriam com tamanho desprendimento de calor provocado pela explosão. Após o massacre de Hiroshima e Nagasaki, cientistas puderam registrar baratas por entre os escombros. Somente elas.

Há uma corrente de biólogos russos que defende a afinidade da barata com o plutônio, mas ainda não foram autorizados a executar os experimentos. A proibição foi oficialmente conseguida no Simpósio Internacional de Biologia Animal, realizado em Genebra, em 1999, quando o "Green Peace" aprovou um tratado de "Proteção às Baratas". Na ocasião, somente os EUA não assinaram o documento (eles são mestres nisto). Hoje, até o IBAMA distribui este "manifesto" na "Cartilha do Bom Fiscal", seguida fielmente pela totalidade destes funcionários exemplares (exemplaridade comparada apenas à dos funcionários dos Correios, que "levam antraz sem soltar spam").

Já foi comprovado (isto eu li na "Seleções do Reader's Digest", em 1977) que a "barata-macho" quando copula com a "barata-fêmea", expele um, vamos dizer assim, esperma, que tem a mesma composição química do "sangue da barata", que é - na verdade - o sistema nervoso das baratas, já comentado acima. Dizem que uma mulher, quando sente orgasmo, a energia equivalente desprendida é suficiente para acender uma lâmpada de 100 W, ou um conjunto de 1500 "luzinhas de Natal" (destas de ornamentar as árvores, que vem do Paraguai). Por sua vez, a "barata-fêmea" quando recebe o "esperma" da "barata-macho", desprende uma energia equivalente a 5 lâmpadas de 100 W, energia que atinge a "barata-macho", através de seu membro (Leonardo da Vinci, dentre seus legados, deixou o "projeto do pára-raios" e, nada me tira da cabeça que este Gênio se baseou no momento da cópula das baratas, o que é revisitado por Miró, na célebre pintura intitulada "A Bailarina", de 1925, onde o órgão genital da dançarina é uma "barata", dêem uma olhada). Isto foi verificado porque as baratas, depois da cópula, saem andando "feito barata tonta", mais uma expressão devidamente justificada.

Quanto a acender uma lâmpada de 100 W numa "mulher gozando", ninguém ainda o fez, afin-AL, nesta hora estamos muito ocupados para sair procurando a lâmpada no armário...

"- Linda, te espero amanhã à noite. A previsão do tempo garante que não vai chover; no jardim, à luz de velas: salmão, rúcula, queijo, vinho e jazz. p.s.: ontem dedetizei a casa, pode vir tranqüila: as baratas sumiram, só estaremos nós...para acender os holofotes, múltiplos..."
 
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alô, turminha
mateus potumati  [email protected]

antes de mais nada, feliz ano novo. fico pensando sobre o que desejar a vocês, leitores do spam. é, me deu vontade de desejar algo, pareceu sensível e educado já que ultimamente não tenho dado muito o ar da graça por aqui. esta ausência não é nada pessoal, caras, segurem esta lágrima inconveniente, não sejam mari alexandre. estamos juntos agora e isso é o que importa, não é mesmo?
 
bem, quero então desejar-lhes algo. mas não sei o quê, não sou muito bom nisso. além do mais, o rígido controle editorial desta publicação nos impede de ficar com mensagens piegas e frases feitas, o que seria uma saída mais fácil. então tenho que realmente PENSAR em algo. acho que uma boa forma de começar é talvez imaginar o que eu desejaria pra mim mesmo durante este ano de 2002. alguém disse uma vez que isso se chama empatia. nome bonito.
 
há algumas coisas que desejo pra mim, claro, e um punhado delas tornaram-se um tanto minuciosas desde que decidi me tornar uma pessoa de projetos. bem, um primeiro desejo óbvio seria que estes projetos dessem certo. querem saber quais são? na-na-não, curiosinhos. somente na hora conveniente. mais, queria que dessem certo muito além do que eu possa imaginar.

e mais ainda, queria que caísse tudo do céu, de mão beijada, e que, se possível, eu não precisasse entender nenhuma linha torta escrita por deus. vocês acham isso absurdo? pois eu digo, as coisas caem do céu, como quando os chili peppers aterrissaram de asa delta na frente dos caras do malditos ácaros numa praia do rio (copacabana?). vi a foto na casa da clarah averbuck quando estive em são paulo em dezembro. eu teria feito rolar uma jam, pelo menos. bem, talvez não. era 93, eu era um fã de 17 anos e provavelmente não teria conseguido falar nada.
 
mas as oportunidades continuam a cair a todo momento. só que a gente nem sempre está esperto pra isso. fico imaginando qual foi a reação do cara que descobriu o primeiro poço de petróleo. não deve ter sido legal levar um jorro de um líquido preto e fedido. mas pior ainda deve ter sido ver um outro cara ganhando uma fortuna incalculável com aquilo. podemos tirar uma lição disso, 'todo mundo tem um poço de petróleo dentro de si'. meu deus, vou chorar. vou escrever um livro de auto-ajuda. vou escrever um livro de auto-ajuda chorando e pedir pra mari alexandre prefaciar.

                                       *
                                       
bom, algumas vezes a oportunidade simplesmente aparece. e a perdemos porque ainda não estamos preparados para reconhecê-la como tal. o sílvio santos apareceu do meu lado num congestionamento em são paulo, eu tinha alguns cds da minha banda na mão, mas não sabia se e como aproveitar aquilo. em outras vezes, é pior: até sabemos como aproveitar, mas não temos sangue frio pra extrair o máximo. nestas situações é comum até acabar estragando tudo falando demais, revelando demais a vontade de fazer seu projeto virar, fazendo a outra pessoa achar que você faria tudo pra realizar seu projeto. nessas horas não tem jeito, you gotta be bad, you gotta be cool. being cool, that's it. o pessoal traduz cool toscamente por 'legal', mas deixam de perceber uma nuance interessante da palavra. being cool é ser legal, mas o legal brasileiro comum é um legal meio diferente do cool americano.

primeiro que legal é uma palavra mais geral, cool é mais específica. o nosso legal pode abranger desde supla a roberto carlos, de guga a netinho, de sílvio santos a fernando gonzales. o deles tá mais pra samuel l. jackson em pulp fiction, ou aquele carinha namorado da thora birch em beleza americana, ou, num nome só e definitivo, pj harvey em cada segundo de sua vida. o legal brasileiro tem a ver com aquela coisa brasileiríssima do carisma pessoal, com capacidade de ser querido, às vezes de sorrir muito. é o 'salve simpatia' do jorge ben antes do jor. sim, ele é o legal brasileiro por excelência. o cara que todo mundo queria ter como irmão, como chegado.
  
o cool americano, por sua vez, tem um quê mais existencialista, menos deslumbrado diante da vida e, conseqüentenmente, diante da morte. um cool não precisa necessariamente ser teu amigo, aliás em geral ele é meio unfriendly. um cool é simplesmente alguém calmo o bastante para realizar coisas, e quanto mais notáveis as coisas, mais cooleza é exigida. isto gera a curiosa a capacidade de ser carismático sendo anti-carismático, de valorizar o sorriso emitindo-os quase que nunca, ou nunca. como john lennon, como billy corgan. num certo sentido, a tradução literal de cool (frio) seria perfeita para este caso, mas como 80% das pessoas ficariam sem entender e 19% achariam que foi erro de tradução, os filmes continuarão a traduzir por 'legal'.
 
                                    *
                                    
talvez o único legítimo cool do brasil até hoje tenha sido o mano brown. e boto a maior fé que ele não entenda picas dessa baboseira toda que eu escrevi aí pra trás. ele não precisa, é cool. ou era, sei lá. falar nisso, por onde andam mano brown e cia?
 
o resto, ou é gente que se intitula e se comporta como cool (o que já é um indicativo de não coolzice), tipo modernoso pintando o cabelo e macaqueando gringo (índie-os, clóbers, freaks de meia-tigela, etc.), ou é simplesmente legal.
 
                                    *
                                  
pois é, disse que ia desejar algo a vocês para este ano de 2002.
assim, que vocês tenham sangue frio (COOL blood) pra aproveitar as chances que lhes aparecerem pela frente. não se desesperem, não se empolguem demais e, principalmente, não se vendam barato. este vai ser um ano legal. ou cool.

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pais & filhos
silas corrêa leite  http://www.poetasilas.hpg.com.br

Levou o filho ao zoológico
Para perder a virgindade
Sabia o bicho que criava
Desde a mais tenra idade
 
Levou a filha ao aquário
E não aceitou barganha
Sabia a boa bisca que era
Aquela futura piranha
 
Depois se levou ao matadouro
E ficou boi brabo ali
Esperando a desonra de ser-se
No mal que não cabia em si
 
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mulheres da paraíba - janaína
carolina carvalho  [email protected]
 
Ri, mulher!

Teu riso de cavalos brancos ao luar trotando livres, de pedras negras, lisas, recebendo o tapa da água clara.

Ri como todas as estrelas de cinema rindo juntas enquanto o mundo pára tonto para vê-la.

Vejo estáticos, zonzos, nervosos, abobados rapazes a olhar surpresos teus olhos fechados no rosto voltado para cima, enquanto teus dentes em vitrine escondem a fonte cantante das ondas de Hás! que nos entorpecem.

E tu dançaste! E eras chorões balouçando ao vento, teu corpo, como carinhos de mãe a espantar o pesadelo, languidamente deslocava o ar em sua passagem pelo espaço-tempo.

Requebros estalavam em tuas mãos erguidas, que sacudiam e amparavam a Terra abalada pelo teu entregar-se tão profundo a uma música que não era senão um pretexto para que nos oferecesse, generosa, o bálsamo de teu amor pela vida que se manifestava de modo tão puro, vibrante e verdadeiro.

Não era sem encanto ou desprovida de charme que bebias loucamente e fumava sem tragar baforando expessos bolos de fumaça nos narizes ofendidos pela tua graça.

Nem te davas conta dos olhares desamparados das outras mulheres.

Eras, então, todos os dias do passado reunidos em certeza fremente de futuro rico em luzes e sombras, cerejas e limões perfumando o ar de forma confusa e conduzindo meu pensar por centenas de ruas, atalhos, becos e trilhas dos quatro cantos do mundo.

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f a l a  q u e  e u  t e  e s c u t o
aí mano, fica esperto! é nóis na fita, os pleibói no DVD e o spam zildo na área: [email protected].
 
"Como 'perguntar não ofende', queria saber uma coisa dos leitores do Spam-zine, inspirada no texto da Suzi Hong: qual foi a cor de sua 'roupa de baixo' na virada do ano? Ou me vão dizer: 'No creo en las brujas'? Te lo digo: 'que las hay, las hay... rs'. De minha parte, usei calcinhas rosa, vermelha e amarela... nesta ordem. Amor, paixão e grana. Pedidos assumidamente hedonistas disfarçados sob o branco imaculado e bem intencionado da semi transparente roupa 'de cima'...".
Rachel Gusmão - [email protected]
 
suzi responde: Rachel, yo no creo en las brujas pero año nuevo és año nuevo. Eu mesma usei calcinha amarela bem clarinha, porque din-din no bolso é booom, mas não arrisquei um amarelo-ouro para que las brujitas não tivessem a impressão de que sou gananciosa, he he. Apenas "percebi que venho me apegando às coisas materiais que me dão prazer". Buenas, até pensei em fazer uma combinação fashion londrina de amarelo, branco, vermelho e rosa, mas estava com um calorzão, um fogo mulé, e não ousei arriscar demais nos modelitos. Obrigada por ler meu texto e feliz Dia dos Reis. Que a Força esteja com você.
 
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p. s.
 
márvio: a partir de janeiro, oferecerei um Curso Livre de Poesia, envolvendo apreciação, criação e declamação de poemas. Os objetivos do curso serão:

- estudos sobre as poesias portuguesa e brasileira; formação de leitores;
- estímulo à composição poética; compreensão das formas fixas, versificação e estilística;
- desenvolvimento da arte declamatória; a poesia ao público.
Aulas semanais de 1h30 de duração. Mensalidade de R$ 50. Prazo de conclusão: indeterminado (sem diploma). Os interessados deverão entrar em contato comigo pelo e-mail [email protected].