editorial
ricardo sabbag  [email protected]

Esta edição 044 do Spam Zine deveria ter sido entregue especificamente na noite da véspera de Natal ou, no máximo, até a manhã do dia 25. Não foi. Por problemas quais não se deve discutir aqui o mérito, ela está chegando atrasada. Mas o importante é que a edição ainda mantém seu espírito natalino. Caros leitores, sejam bem vindos ao Spam Zine especial de Natal.

Quando estava preparando os textos para essa edição, não pude deixar de notar que a maioria das impressões natalinas de nossos colaboradores não é das mais simpáticas com a data que marca o nascimento de Jesus. O que também não surpreende, visto que a maioria de nós que fazemos - e até arrisco dizer, lemos - essa publicação virtual não é cristã, e não enxerga no Natal a necessidade de celebração que os devotos de Cristo têm.

Mas o Natal não deveria ser um momento de melancolia ou de mau-humor simplesmente por haver a necessidade de se encontrar, às vezes, com gente que não se quer ver e ainda ter que fazer aquela cara de alegria, de que tudo está bem e que todos estão felizes. Com o passar dos anos, vamos enxergando a hipocrisia das relações familiares e esse tipo de festa se torna ainda mais chato, porque há a obrigação de se executar o ritual.

Entretanto, a necessidade do rito é o que ainda nos torna animais sociais. É o que nos une e, ao mesmo tempo, nos separa em tribos, turmas, gangues e núcleos familiares. A sociedade só funciona na base da cooperação e se nos isolássemos totalmente uns dos outros, viraríamos todos ermitões, e tudo teria ainda menos graça. Pederíamos a nossa essência. O Natal, então, pode ser mais do que aparenta.

É claro que não é por isso que devemos perder nosso senso crítico sobre festas como o Natal, que servem para nos estressar nas multidões dos shoppings, nos empanturrar de comida gordurosa, beber mais do que o normal ou sorrir para aquele tio pentelho que mora no interior. Mas o Natal - e festejos afins - pode ser também o momento que usamos para rever os amigos, dar um presente bonito para a namorada e até se emocionar quando o pai faz um discurso emocionado depois de uns vinhos a mais. Qualquer coisa pode ser uma desculpa para se fazer o que gosta. E um dia feliz é melhor que um dia triste, independente da data que seja.
>>>

Apesar de o Natal já ter passado e cada um de nós já estar, hoje, se reabituando à rotina de trabalho e problemas do cotidiano, ou, no máximo, planejando a viagem de ano novo, nós do Spam Zine desejamos a todos os leitores muita paz, harmonia e sabedoria para saber aproveitar ao máximo todo e qualquer momento que pode nos trazer felicidade.

Boas festas.

(ilustração da página: Henrick Manreza)

>>>

papai noel
sara fazib  [email protected]

este ano não me traga nada
leva de mim somente
o medo que sinto do presente
>>>

a lição de baré
lau siqueira  [email protected]

"Nunca se escreveu poesia de boa qualidade usando um estilo de vinte anos atrás, pois escrever dessa maneira revela que o escritor pensa através de livros, convenções e clichês, e não a partir da vida".
Ezra Pound

Magro, descalço e tranqüilo como um rio. Desde uns três ou quatro anos, lava meu carro. Sempre me pede “um real para o almoço”. Vezenquando, bolacha recheada e  refrigerante Baré. Aquele feito “com água do Rio Sanhauá”, como dizem. E de tanto tomar Baré, Baré virou Baré. Nem  nome ele tem. Sua identidade é seu maior vício. Miserável, mas doce e transparente. Um ser translúcido. Brilha no meio de tanta gente que vive oculta de si, temendo as trevas que vê.

Baré deu uma lição de dignidade que precisa ser lida por alguém mais que minhas duas filhas. Por isso, desculpe esta suave invasão de domicílio. Cauteloso, nos últimos tempos tenho buscado habitar meu próprio silêncio. Inconstante, decidi escrever esta “missiva aleatória” como reflexão para o fim de um ano difícil, rico em aprendizados ásperos. É como se Che Guevara estivesse dizendo agora, pela voz de Baré: “hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”.

Vamos aos fatos para facilitar a compreensão da minha apologia.

No mês passado andei vivendo uns arrochos contábeis dionisíacos (achava que eram colheitas do vinho). Passei dobrado pelos duendes protetores dos abismos cotidianos. Desapareceu R$ 300 paus do meu orçamento. Puts! Pedi dinheiro emprestado para passar o mês. O carro quebrado quase dez dias e eu sem um puto para o conserto. As despesas cotidianas contadas na unha. Quando recebi o quase extinto décimo terceiro, corri para pagar meus débitos e consertar meu “Gol Contra”.

Na segunda-feira passada, então, voltei a levar minhas filhas para a Escola. Como sempre, deixei o carro no estacionamento do SINTTEL. Baré pediu pra lavar. Eu abri o carro para que  fizesse a limpeza interna. Ia subindo aos andaimes da produção diária quando chegou Baré com R$ 300 paus na mão:

- “Ó, 'pai Lau', achei debaixo do tapete do carro!” Estremeci. Recebendo R$ 2,00 por lavagem e vivendo na mais absoluta miséria, ele deu uma lição dignidade. E esse é o fato que me catapultou ao computador para escrever este “Cartão de Natal”.

Num momento de tantas desesperanças, achei que o fato precisava ser brindado e repartido. Não me perguntem porque ele me chama de “pai Lau”.  Eu sei lá! O fato é que constatar a honestidade em estado absoluto me deixa tão feliz quanto me deixa infeliz descobrir que para alguns basta a aparência. Há até quem vista pele de vítima para praticar “delitos”. De “esquerda”, “centro” ou “direita”, ideologicamente falando, essas pessoas representam a essência da hipocrisia que reina, absoluta, nesta e em tantas províncias. Baré é o contraponto. Sua honestidade não é um instrumento de representação social, apenas. Ele difere dos que vivem de pose. Os flácidos de caráter. Os larápios disfarçados de todas as tribos desta Ilha de Vera Cruz. É o contraponto de gente intimamente desonesta que vive como se a vida fosse um roteiro de cinema. Como se bastasse escrever uma outra versão da verdade para recuperar o sono e o riso. Gente que não vive a lógica do outro. E eu nem estou falando de canalhas explícitos, nacional ou regionalmente conhecidos. Refiro-me aos que habitam nosso cotidiano.

Trezentos reais representa nada para alguns. Para mim é muito. Imaginem para Baré! Esse gesto foi o meu melhor presente de Natal. Até porque há pouco tempo, “erros de cálculo” me fizeram jogar muito mais do que isso na lata do lixo. Ele não precisou de nenhum contrato assinado e registrado em cartório. Como se soubesse – e sabe – que quase tudo pode ser forjado. O caráter, não. O presente de Natal que recebi e reparto, é uma lição de dignidade. Baré parece um personagem qualquer de João do Rio em “A Alma Encantadora das Ruas”. Alguém tão romântico quanto vivo. Tão quanto miserável digno.

Vivemos num país onde é considerado “otário” quem se nega a cumprir a “lei de Gerson”. Seja no trabalho, na política, na arte, nos bares e até na vida afetiva. Muitas vezes parece que a Constituição Moral da Nação é uma antiga propaganda do cigarro Vila Rica. O cumprimento ou não é da consciência de cada um.

Baré é um guerreiro do Bem. Tem “a mente quieta/ a espinha ereta/ e o coração tranqüilo.”  É a alma universal dos mais nobres princípios. Um príncipe vestido de mendigo. “É dos nossos”, como diria meu querido amigo Adeildo Vieira. Um jovem que, vivendo num submundo, mostra um caminho de esperança. E isso faz com que a fé no futuro seja um compromisso íntimo no qual mergulho com minhas sete vidas misturadas num cotidiano sempre tão... eternamente efêmero. Baré é o Bem resistindo ao Mal dos tantos Osamas y Buchs que, em nome de Alá ou Dólar, cravam as unhas no intestino do mundo. Ele escreve os princípios universais da existência humana, nas mesmas calçadas por onde tantos passos se perdem.

Só não me perguntem o como e o porquê daquele depósito na instituição bancária Tapete do Meu Carro, onde Baré sempre será o meu banqueiro favorito. Não sei explicar o inexplicável nem tornar inexplicável o que sei. E sei tão pouco de tudo. Até - e principalmente - de mim.

E assim recebam, caros amigos, o meu abraço afetuoso de fim de ano. Que a esperança seja uma atitude coletiva. Que a humanidade respeite mais a si própria. Que ninguém se sinta no direito de ferir porque está ferido. Agredir porque está agredido... E que prevaleça sempre a lição de Baré.

“tanta coisa
 eu tinha a dizer
 mas me perdi
 na poeira das
 ruas”
>>>

noite feliz
daniela abade  [email protected]

Escolheu a roupa que mais gostava. O vestido cinza de tecido fino caiu delicadamente sobre sua pele clara. Não. Não usaria meias. Não precisava delas. Os sapatos com um salto discreto. Nada muito alto para não destoar com a saia curta.

Usou o rímel só para alongar os cilios. Mas a merda de olho não parava de lacrimejar. Puta borrão. Limpou tudo. Coragem, Olhou pra cima. Fez de novo. Perfeito. Chega de mexer com o olho. Nada de lápis. Poderia parecer vulgar. Precisava de um corretivo para disfarçar as olheiras. Procurou na bolsa, procurou na gaveta, acabou achando na sala de jantar. Ok. Só algumas gotinhas. Pronto: pele de pêssego.

Hora do batom, hum, nada de rosa, muito menos vinho. Melhor um tom amadeirado. Não esqueceu o gloss - num tom prateado, para realçar os lábios. Tinha lábios bonitos. Sabia disso. Sorriu.

O perfume de sempre: CK One. Sem essas fórmulas adocicadas que bicha inventa para fazer mulher repelir homem. Três borrifadas. Uma em um dos pulsos, que logo se encontrou com o outro, espalhando o aroma. Mais uma na nuca. A última no colo.

Colocou os cabelos para cima. Presos? Semi-presos? Soltos. Definitivamente soltos. Um pouco de mousse para definir os cachos. Sim, soltos. Os fios escuros tocaram suas costas nuas pelo decote.

Última olhada no espelho. Linda. Nem ela conseguiu conter o adjetivo.

E linda ela foi. Pegou o carro sozinha. Deixou com o manobrista do bar. Sentou na mesa de sempre e esperou. Em dois minutos ele chegou. Eles trocaram sorrisos. Ele pediu um uísque. Ela preferiu uma taça de vinho. Ele afagou o pescoço da moça, fez alguns elogios. Parecia ansioso.

Beberam, falaram sobre a vida. Nada de importante. Ele falou mais. Ela sem dúvida o deixava ansioso. Apesar de preferir o silêncio, era a voz dela - doce e rouca - que guiava os assuntos. Hipnotizava.

Quarenta minutos e dois copos de uisque depois ele achou melhor que os dois saíssem. Já ela achou melhor avisar antes.

São 400 reais.
>>>

dessa vez é diferente
marco aurélio brasil  [email protected]
 
Toda vez que o papai noel do Shopping C... chegava em casa, caía no sofá bufando e ligava a televisão, os pés sobre uma cadeira que já não saía mais de frente do sofá. Passava algum tempo confiando a barba e trocando de canais. Acabava deixando sempre no mesmo. Depois pegava a garrafa estrategicamente esquecida ali ao lado, dava dois longos goles e esperava a madrugada colocar um ponto final no último programa. Era só aí que se arrastava para a cama, onde ficava fritando, virando de um lado para o outro até o sol sair. Era sempre assim: esperava o ano inteiro pelo dezembro com seu emprego certo, e passava dezembro inteiro esperando pelo dia 26, com a alforria que ele trazia. Dos pés machucados, da cãimbra nos lábios de tanto beijar criancinhas, dos flashes das máquinas.

Mas aquele dia foi diferente. Era véspera de natal, o dia seguinte haveria de ser o último, mas ali, em frente à TV, sentindo as pernas pesadas sobre a cadeira e aquele negócio luzindo ali na caixa, ele não pensava nisso. Em cima da mesa bamba o folheto natalino do Shopping C... e a frase nonsense que não lhe saía da cabeça: "... é celebrar Aquele que nasceu para que todos tivessem uma nova chance..." Repetia sem tentar entender. Nunca o barulho da ceia dos Souza o havia incomodado. Mas aquele dia, você sabe, foi diferente.  Depois de ouvir a família inteira saindo no quintal pra dar feliz natal praquele energúmeno do Chico, saco de pulgas que adora latir a manhã inteira, o papai noel do Shopping C... sentiu-se esburacado por dentro. Depois de ouvi-los cantando "O holly night" em inglês certinho, achou que precisava de mais dois goles.

Então adormeceu olhando a TV. Adormeceu e sonhou. Sentia o vento no rosto imberbe e viu a velha ladeira de Jundiaí, cercada daquele mato da sua infância, e ele sobre o carrinho de rolemã que o irmão lhe fizera. O vento, a ladeira, o mato, no rosto. Lá em baixo, contudo, nada da velha praça, mas a escola (que virou estacionamento nos anos 90).

- Corre! Você está atrasado! ela dizia e lhe puxava pela mão. Quem era? Tereza? Tereza... Pobre Tereza. Se o casamento fora com ele, e não com Felix, teria sido diferente? Estaria ela viva, ao menos? Mas isso não cabe num sonho. Entrou, ela o segurava pela mão. Sentaram-se no chão, como todos e quem falava era Márcio. Márcio, seu filho. Não importa, é sonho, e ele fala. Conta uma história linda, linda, sobre uma família... Bom, uma família feliz, e ele chora, porque sabe que seu filho está inventando. As crianças choram, mas ele evita olhar o rosto dele. De fininho, se esgueira para fora da sala. Uma voz atrás de si o assusta. Pede para ele olhar por uma janela. É seu pai, de rosto impreciso, pitando um cigarro de palha numa cadeira familiar. Ele sente medo, como sempre, e obedece, e olhando vê uma mulher esfregando roupa num tanque, duas crianças sentadas no chão. A mais velha lia um livro em voz alta e a menor caçava bichos no chão. A voz infantil de Márcio lendo uma história, e o olhar triste da mulher, ele olha e chora, não é mais a criança, a barba no peito outra vez. O pai diz:

- Foi aí.

Ele não pergunta o que. Foi aí que eu errei, é o que ele quer dizer.

- Não, foi antes - ele olha nos olhos do pai, que a princípio não gosta da contrariedade, mas então anui, olhando ao longe.

Ele vai saindo do prédio, a luz do sol ofusca. Vê uma longa longa estrada e começa a andar. Na semi-consciência do sonho, pensa: acho que não vou mais acordar. Sente o asfalto sob os pés, a estrada longa, longa.

Aí Chico late feliz, ele abre os olhos e o sol invade a sala com tudo. Em cima da mesa o folheto, na sacola jogada no chão se vê a pontinha da touca vermelha. Hora de levantar, ele pensa.
>>>

p e r g u n t a r   n ã o   o f e n d e
"Qual foi a pior invenção do século XX?"

Nota dos editores: os donos das respostas abaixo selecionadas, e mais as leitoras-ombudsman Dafne ([email protected]) e Isabella Tedesco ([email protected]) receberão em casa exemplares da novíssima revista Play, editada por André Forastieri e Rogério de Campos. Mas, por favor, enviem e-mail para [email protected] com seus endereços completos. Spam Zine e Editora Conrad recheando seu peru natalino.

ana maria tomei  [email protected]
Olha, eu não sei se o Zepelin é dessa época, mas, a pior invenção foi com certeza essa porcaria. Além de incendiar facilmente, agora ele fica fazendo propaganda da Goodyear no céu. Como se isso influenciasse as pessoas a comprarem os pneus deles.

mário mendes júnior  [email protected]
Vejam se vocês acertam: É muito simples, possui um péssimo design, é difícil manuseá-la e é praticamente uma embalagem! ... Ainda não? Vejamos: é rejeitada pela maioria dos que experimentam, embora seja de suma importância para a nossa civilização (exagerei??? Acho que não). Tá bom, tá bom: ela é destinada a reduzir o prazer de todos nós, embora seja usada justamente na hora que queremos ter (prazer). Acho que já adivinharam: a camisinha! Ô negocinho ruim de usar!

edney soares de souza  [email protected]
A pior invenção do século XX foi o SPAM! Lixo digital entupindo nossas caixas postais diariamente consumindo nosso tempo e obstruindo o acesso à informação. A única exceção é o SpamZine, que consome nosso tempo mas não obstrui o acesso à informação! :)

marcelo sawasato  [email protected]
Na ponta da língua: a novela das oito! Que consegue deixar pra trás coisas como  as bandas de pagode, o Fiat 147, o Cremutcho, a Cherry Coke, e outras porcarias como Amaury Jr, programas "1406", a Hebe Camargo e até o Sergio Mallandro.

lois lane  [email protected]
O plástico que embala os CDs. É impossível um ser humano abrir aquilo de primeira sem usar objetos cortantes.

fábio valente  [email protected]
Os joguinhos em aparelhos celulares. Às vezes estamos em uma roda de amigos e sempre tem alguma guria jogando no celular, será que não há uma forma mais criativa de dizer que o nosso papo tá fraco??

paula pimenta  [email protected]
Não é bem uma invenção, mas deveriam mandar para o inferno quem faz versão brasileira para músicas internacionais.

flaviane lopes  [email protected]
Sem sombra de dúvida... A pior invenção do Diabo, nem sei se foi neste século, foi o microfone. Essa pior invenção do mundo. Se Deus fala pelos homens, o Diabo age pelo microfone.

pergunta da próxima semana:
"Se você pudesse falar em cadeia mundial de televisão durante um minuto, o que você diria?"
Escreva: [email protected]. As respostas mais cínicas, originais e autodepreciativas serão publicadas na próxima edição.

>>>

bilhetes para meu amigo secreto
pedro vitiello  [email protected]

Cuidado! Hoje você está prestes a ser atacada por um... Oh não! Tarde demais!!!
O Astrólogo
 
>>>

Cante a canção do baleeiro gentil

Vejam porque tenho tristeza na veia:
Casei-me com uma sereia
E ela virou uma baleia
Moby Dick
 
>>>

Prezado Fulano,

Presentei-o você não com presentes, mas com algo profundo como palavras filosóficas:

Toda civilização, conforme seu grau de desenvolvimento tecnológico, passa por três estágios: Sobrevivência, Indagação e Sofisticação. Estas fases também são conhecidas como do "COMO, POR QUE e AONDE".

Por Exemplo: Fase 1- COMO vamos comer
Fase 2- POR QUE Comemos
Fase 3- AONDE vamos almoçar...
Karl Marx
>>>
 
Olá, eu queria te dizer que gostei muito de ter te tirado e que você ta pensando da vida? Qué moleza? Sai dessa e vai pra um lugar bem especial para você e sua família neste fim de ano. Afinal, o amor é uma frescura, coisa de boiola! É aquela frescura todo fim de ano de gente trocando presente, dando beijinho, passando germes, dá vontade de dizer que é todo mundo um bando de ba...itas amigos! Sim, só com pessoas especiais como vocês é que o amor fraternal no mundo poderá ser re-encarnado! Viva os passarinhos, viva o arco-íris! Lembre-se que um copo de vinho pela metade não está meio vazio, mas meio cheio... então passa ele pra cá que eu tou com sede, sacou? E fica na tua senão vai voar bordoada! Assim, por tudo isso, espero que tenha um natal de paz, harmonia e felicidade, com um lindo 2002! A não ser que você seja argentino! Hua hua hua!!!
Dr. Jeckyl & Mr. Hyde
 
>>>

Honorável Amigo,
 
Segundo o horóscopo chinês, a confluência do yin e do yang karmicos sofrerá a influencia energética dos cristais dos incas venusianos. Confúcio, a partir dos estudos do Instituto Britânico da busca pela verdade divina, diria que "feliz é o dragão que voa e não pega rush nos feriados de fim de ano, mas ponha um tigre no seu carro, abasteça com gasolina ESSO" (Confúcio passava por um período de dificuldades financeiras e precisava fazer merchandising).

Confúcio estava era doidão!
Sen-Chu Lé (filósofo e pedicure)
 
>>>

Companheira trabalhadora, Tirei você neste sórdido e capitalista jogo.

Estamos vivendo tempos negros onde a moral e os bons costumes sofrem com a falta de privilégio do proletáriado.

As pessoas estão consumistas e mal-remuneradas, além de extremamente pão-duras!

Mostre que você se importa com o povo, que não faz parte desta elite consumista e apegada ao dinheiro. Mostre que você não merece o paredão e me empresta trezentas pilas!

Te pago antes do alvorecer da nova utopia proletária sem a existência da exploração do homem pelo homem e do homem por sua esposa consumista que quer ir passar o réveillon em Paris.
Karl Marx
 
>>>
 
Trabalhadores do mundo, uni-vos! A união faz açúcar! Se todos os cobradores de ônibus se dessem as mãos, quem ia dar o troco? Se a burguesia fede, ela tem dinheiro pra perfume. Abaixo o perfume! Vamos nos unir com o povo, sentir o cheiro das massas e... hum, pensando bem, viva a burguesia e o cheirinho de paco rabanne.
K. M.
 
>>>

Companheira de lutas:

Somos tão comunistas que estamos no vermelho! Assim, o presente da loja de 1,99 é uma boa forma de evitarmos que o capitalismo consuma nossas parcas economias. Fique feliz, e engula o choro, sua consumista! Ps: Tenho pensado com alguns amigos de esquerda (Leon Tolstoi, Josef Stalin e Rivelino) e chegamos à conclusão de que algo na vida estar duro, na nossa idade, não deixa de ser algo positivo.

Do Seu
Karl
>>>
 
memórias – parte 2
iosif landau   [email protected]

Ser velho (desculpem-me, mas eu sou) é memória. Às vezes sorrio, outras vezes lamento, não digo que choro, é muita apelação ao consolo - detesto ser consolado, me faz sentir impotente, todas as gamas da impotência humilhante. Mas neste preciso momento estou sorrindo: ouvi há pouco um CD de Henri Salvador. Creio que ninguém o conhece, excetuando o poeta di Cavalcanti, tenho certeza; é um chansonnier francês, muito bom mesmo. Conheci-o no Rio, sim, no Rio, em 1941: era crooner da orquestra de Ray Ventura, também francês, fugidos da guerra como o foi Jean Sablon, todos residentes no Copacabana Palace. Isso deve ser ancient history para vocês; pra mim é reminiscência, a belle époque no lato sensu que jamais se repetirá: sol, mar, céu azul, areia limpa.
 
Hoje ainda temos (com areia suja) tudo tão igual, mas tão diferente - o mundo complicou-se, o País perdeu a inocência, tudo enfeou. Alegria, camaradagem, beleza, amor, ainda encontram-se, mas como tem que se procurar! E como, com freqüência, topa-se com o desapontamento. Talvez eu exagere; me perdoem, sou velho... Mas, droga, me perdi no caminho: os chansonniers franceses me fazem retroceder a bem antes de 1941, antes da débâcle, quando a Douce France de Trenet era também Dolce Vita, e a Côte d´Azur abrigava a burguesia endinheirada. E eu digo sem remorsos: minha família era bem endinheirada. Monte Carlo, Cannes, Nice, Cap Ferrat eram nossos lares, em especial Juan les Pains (a Saint-Tropez daquela época). Como já escrevi uma vez para uma amiga, era bom ser rico: um luxo só, hotel, restaurantes, cassinos, luxo e mais luxo, smoking, dinner jacket, summer jacket, longos, jóias resplandecentes, Rolls Royce, Bugatti, Mercedes, Hispano Suiza, Auto Union (estou rindo imaginando seus rostos; algumas dessas são antigas marcas de carros usados pelos ricaços). Vocês devem pensar: esse cara é um fútil, um babaca. Pode ser, talvez concorde com vocês, mas eu era um babaca super feliz e tenho saudades e gosto dessas memórias e estou sorrindo...

Adieu jolie rêve! Adeus belo sonho!
 
>>>
 
porque o natal tem dessas coisas...
suzi hong  [email protected]
 
Sabe MÃE, hoje vou lembrar que somos feitas da mesma carne, ainda que assim não me sinta há tempos. Hoje vou esquecer sua rejeição, sua cegueira quanto à minha doença, seu ódio pelo mundo que respinga em gotas generosas em mim. Hoje vou lhe comprar um ramalhete de seus cravos preferidos e tentar te seduzir para que as cores vivas vermelhas dos cravos de Natal te impregnem mais fortes que você. Para que você se lembre de como é ser verdadeiramente mãe e mulher, sem que uma exclua a outra. Para que sua memória se lembre de me ensinar essas coisas que uma mãe diz à sua filha. Por mais idiota que eu possa parecer, vou chorar na sua frente, emburrada, cobrando-lhe os afagos que não tive e as conversas regadas ao vinho que te ensinei a apreciar. Não vou lhe pedir perdão. Não vou te perdoar. Será apenas um dia de trégua verdadeira e ocos n’alma que não curam, mas anestesiam os maus sentimentos. Sabe MÃE, ando meio cansada de fincar os meus pés em cada lugar que vou. Hoje só queria descansar olhando para seu sorriso discreto e embriagado pelo perfume dos cravos que lhe darei.
 
Quanto a você, PAI, hoje à noitinha, quase chegada a hora da ceia, vou visitá-lo em sua casa e cumprimentar sua esposa com a educação e cordialidade que lhe são devidas. Vou agir como uma hóspede sentada à mesa, para mais tarde, em frente à TV, lembrar saudosa de quando eu, você, a mamãe, meu irmão e minha irmã assistíamos aos especiais de Natal da TV Globo. Vou te pedir perdão por não ser a filha vencedora que você desenhou quando ainda era menina, perdão por ainda não estar casada com um coreano, mesmo sabendo que você sempre estará me perdoando, antes mesmo de eu saber que eu pisei na bola. Já te perdoei. Eu te perdôo todas as vezes que você me liga para saber como estou, toda vez que você sua para pagar minhas consultas médicas e meus remédios, toda vez que você sofre ao pensar em mim e esboça um sorriso porque ainda acredita, simplesmente acredita, em mim.
 
E você, meu IRMÃO, como sinto falta da época em que éramos crianças e eu te enchia a paciência para brincar de Playmobil e Super Trunfo comigo. Como corria pela sala, fugindo de você porque tinha riscado sem querer seu vinil do Pink Floyd. Graças a você, conheci Arnaldo Baptista, Chet Baker, New Order, The Cure, The Jesus and Mary Chain, Echo & The Bunnymen, Plebe Rude, Violetas de Outono enquanto minhas amigas se derretiam ouvindo RPM e Dominó. Agora você está casado, desejoso em formar uma família bem diferente da que tivemos, não é mesmo? Sinto saudades suas, agora. Se antes o que sentia era raiva, por você ter saído de casa tão cedo deixando todo o inferno em minhas mãos, hoje eu entendo que só assim poderias ser feliz e sereno como és hoje. Consciente e discretamente zeloso comigo. Sinto saudades, meu IRMÃO de quando cuidávamos juntos da nossa irmã caçula, arrumando-a, trocando-lhe as fraldas, lavando a chupeta, penteando-lhe os cabelos, enquanto nossos pais trabalhavam na velha loja de confecção de roupas no Bom Retiro. No dia de hoje estarei feliz em saber que você saiu quase imune à loucura coletiva de nossa família e manteve-se firme e homem em seus propósitos. Estarei orando para que a sua família seja abençoada, sempre.
 
Chegou sua vez, minha IRMÃZINHA. Putz, você já está com quase 23 anos e ainda não consigo parar de referir-me a você no diminutivo. Você cresceu, está quase se formando e sinto muito por não ter participado da sua vida como gostaria. Quando foi que você saiu da barra do meu uniforme do colégio? Ainda são vívidos na minha mente os dias em que íamos juntas para escola, você segurando minha mão, resmungando que não penteei seu cabelo do jeito que você pedira. Lembra do seu primeiro dia de aula no pré? Você com seu vestidinho xadrez vermelho, com o escudo do Colégio de Santa Inês bordado cuidadosamente, seu par de meias brancas e seu tênis conga vermelho novinho, e seus longos cabelos presos num rabo de cavalo com uma maria-xiquinha de bolinhas brancas? Você queria ir para a minha sala de aula e ficou chorando, chorando aos berros, acudida pela sua professora, agarrada aos suspensórios do meu uniforme azul-marinho, tão agarrada que rasgou o suspensório costurada da minha saia plissada. Não, eu nem fiquei brava, fiquei preocupada no recreio e doida para ir na ala do pré para ver se comias direitinho o sanduíche, suco e danoninho que eu pus na sua lancheira. Você sempre dava um jeito de me deixar sem grana pro meu lanche, pois era bastante persuasiva na hora de pedir doces do Tio Joca. Daí, você cresceu rápido demais. Ou não, acho que eu estava muito envolvida com minha vida que esqueci de ver você crescer ouvindo Guns and Roses. Ao contrário de quando você era uma criança, sua adolescência foi tranqüila demais, tímida. E eu não estava lá. Como não estou agora ao seu lado. Por mais que você duvide, eu não queria estar assim agora, neste lugar, nesta situação, escrevendo-lhe coisas que eu sei que você não vai ler (você nunca gostou de ler, seu negócio era desenhar). Queria conversar com você como duas mulheres. Dizer-lhe que você deve sair mais com pessoas da sua idade e não ficar presa à mamãe, com sua eterna insegurança. Queria dizer que você vai ser uma puta arquiteta bem-sucedida, porque, ao contrário de mim, possui uma perseverança e uma tenacidade surpreendentes. E olhar nos seus olhos, tão diferentes dos meus, para dizer que sinto saudades do tempo em que fui sua mãe, sua irmã coruja e rabugenta, sinto falta da capacidade que eu tinha de cuidar de você. Espero que você um dia entenda a fase pela qual estou passando, minha doença, eu. E fico feliz ao perceber que você lê e consulta os livros de arquitetura que te dei de Natal.
 
É... O Natal tem dessas coisas. Eu fico melancólica, saudosa e com a boca quase querendo esboçar um sorriso por saber que tive dias muito felizes em minha vida. Porque para mim, o que realmente importava nessa data era estar com toda a família reunida. Era dia de passar uma borracha em brigas tolas e abrir um sorriso sem graça para pedir desculpas. Era a noite do ano em que eu, com certeza, iria dormir feliz. Não importava quanto a cidade estava caótica, não importava os enfeites das lojas, porque a minha árvore de Natal era sempre a mais bonita. Hoje, exatamente dia 21 de dezembro de 2002, não há árvore na minha casa, meu pai não mora aqui, meu irmão está casado e mal falo com minha mãe e minha irmã. Escrevo essas palavras molhadas trancada em meu quarto. Irritam-me os agitos das ruas, as pessoas comprando presentes apressadas, as luzes que brilham, os enfeites, a hipocrisia das propagandas de tv, irrita-me o Natal. Porque a saudade que tenho dele deixou-me amarga há tempos.
 
>>>

f a l a   q u e   e u   t e   e s c u t o
seu natal foi solitário? no ano novo vai ter que beber o champagne ao lado do seu cachorro? isso não é problema. escreva para [email protected] e divida conosco suas angústias e carências de fim de ano.

"Pessoal do Spam, foi um gozo interminável, participar das edições deste ano, fosse como colaborador bissexto, fosse como leitor surpreso de encontrar tantas sacadas e textos realmente originais reunidos num e-zine. Parabéns a todos, feliz Natal, e um abraço especial ao Inagaki, editor compreensivo e bonzinho, que teve a insensatez de publicar minhas mal traçadas e de torcer para o Guarani; beijos para a Suzi, que conheci rapidamente numa noite bêbada, e mandou muito bem na criação do novo site, e para minha cara metade, que é dona dos poemas mais incríveis do céu e da Terra."
Alexandre Carvalho

sabbag responde: grande Alexandre, aqui do lado sul do Brasil te desejamos enorme sucesso e ainda mais realizações para 2002. Do meu lado, quero agradecer a todo mundo que teve paciência para ler nossos comentários, textos e idéias insensatas e ainda teve a pachorra de escrever. SpamZildo 2002 é parafuso na roela!

"oi inagaki, blz? nao sei bem ao certo como, o fato é que nesta madrugada eu passei várias horas lendo as edicoes anteriores do spamzine; entrei na pagina spamzine.net e nem vi o tempo passar.

depois de ler um monte de coisa interessante e desinteressante, um texto me chamou a atencao. tive uma vontade incontrolavel de saber um pouco mais sobre a autora do texto que me deixou chapado; os altavistas e googles me ajudaram na investigacao; a cada link e clique, sentia que alguma coisa tava acontecendo e que hoje nao seria apenas mais um domingo. lendo as pegadas que essa pessoa deixou na web, seus textos, seus comentários, etc, percebi que finalmente tinha chegado o meu dia. sim, eu pensava que isso nunca iria acontecer comigo (heheheheh), mas é verdade: fiquei mesmo doidao por essa mulher. só me dei conta disso quando levei o tapa; ela nao esta disponivel. dureza.

tsc, tsc. nao deu certo, tudo bem. foi divertido, gracas ao spamzine. agora eu vou dormir. o hoje pra vc ainda é o ontem pra mim, pois nao dormi nadica.

feliz natal"
Carlos Une

sabbag responde: Carlos, tenha certeza de que nos compadecemos pelo seu calvário. Tanto eu quanto Inagaki (suponho) já passamos por algumas parecidas. Mas a pergunta que não quer calar é: quem será sua musa? Quais são seus níveis de comprometimento? Será que ela não estaria disposta a abdicar de sua relação atual e apostar tudo num amor novo e radical? Se precisar de ajuda, nós damos uma forcinha. Tudibom.

>>>
c r é d i t o s   f i n a i s

papais-noéis
Ricardo Sabbag > [email protected]
Alexandre Inagaki > [email protected]
Orlando Tosetto Junior > [email protected]

renas do nariz vermelho
Daniela Abade > [email protected]
Henrick Manreza > http://www.criativos.net/rick/artistica
Iosif Landau > [email protected]
Lau Siqueira > [email protected]
Marco Aurélio Brasil > [email protected]
Pedro Vitiello > [email protected]
Ricardo Nishizaki > [email protected]
Sara Fazib > [email protected]
Suzi Hong > [email protected]

meias sobre a lareira
Ana Maria Tomei > [email protected]
Edney Soares de Souza > [email protected]
Fábio Valente > [email protected]
Flaviane Lopes > [email protected]
Lois Lane > [email protected]
Mário Mendes Júnior > [email protected]
Marcelo Sawasato > [email protected]
Paula Pimenta > [email protected]

>>>

Spam Zine - fanzine por e-mail

conheça, leia, assine:
http://www.spamzine.net

colaborações, sugestões, críticas, pedidos de receitas, suspiros apaixonados:
[email protected]

>>>
      
p. s.
ricardo nishizaki: O natal chegou/ Pedras de gelo, vento/ Frio e coração.