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09 de dezembro de 2001
são paulo  recife  rio de janeiro  santa maria  curitiba

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n e s t a   e d i ç ã o:
 
perdão amoroso  desespero  jornalistas  outras vidas  jezebel  memórias  o rei

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editorial
orlando tosetto junior  [email protected]

Tem havido ultimamente um bom número de pessoas sofisticadas e bem-pensantes escrevendo ou falando coisas em favor dos cigarros e do hábito (ou vício) de fumar. Diante das alegações de que o cigarro faz mal, dá câncer e brochura, e mata em terrível agonia, essas pessoas respondem que fumam porque querem, e acabou. A par dos possíveis problemas que o cigarro traz, acham que o prazer da tragada compensa riscos incertos. E, por maior que seja a ira ou o despeito dos antitabagistas, ninguém nem sonha em privá-las desse seu direito fundamental que é fumar. Ninguém pensa em sair pela aí tomando o cigarro da boca dos outros e dizendo “estou fazendo o melhor para você”.

A mesma coisa acontece com aqueles que gostam de beber até cair. A gente lamenta, acha chato, às vezes até começa a evitar a companhia dessas pessoas, mas nem pensa em privá-las dos seus goles habituais. Mesmo esse hábito (ou vício) sendo infinitamente mais perigoso que o de fumar. Afinal, ninguém bate o carro porque deu umas tragadas a mais num charuto.

Pois bem: o que é que nos leva a ser tão sofisticados, tão laissez-faire com os fumantes e bêbados, e, por outro lado, tão mais “bonzinhos” e “solidários” com os viciados em drogas, a ponto de acharmos certo interferir em seus hábitos e vontades? Se é direito do cidadão cuspir os pulmões em pedacinhos pretos e calcinados, ou derreter todos os seus neurônios na cachaça, por que não seria também direito seu ausentar-se do mundo com cocaína, heroína, crack, ópio, LSD ou o que seja?

Estou falando aqui de uma coisa muito citada mas pouco encarada de frente: os limites extremos da liberdade individual. Aliás, nem tão extremos assim; quando o assunto é liberdade, acreditem, a gente pode ir assombrosamente (e incomodamente) longe. Estou falando da liberdade que todos têm (ou deveriam ter) de fazer o que bem entenderem consigo mesmos.

Eu, por exemplo: sou gordo. Bem gordo. Segundo a Veja e o meu dietista, uns exercícios seriam ótimos pra minha saúde. O sedentarismo (nome chique que dei à minha preguiça) me faz mal: engordo, aumenta os riscos de derrame, infarto, trombose. Ocorre que eu não quero fazer exercício nenhum; quero engordar mais e mais, e na sombra, se possível. E aí? Alguém me obriga a malhar, sendo a malhação uma coisa tão boa pra mim?

Logo, se eu quisesse me entupir de tudo o que é droga que existe, eu deveria poder, não é mesmo?

É por essa razão que eu acho que a produção, a venda e o consumo de todas as drogas deveriam ser descriminalizados. Porque quem quiser usá-las deve ter esse direito. É a mesma posição defendida pela revista inglesa The Economist, e também pelo patrono de tudo o que é liberdade individual que existe: John Stuart Mill. Leiam dele A Liberdade, e parem pra pensar que essa palavra, “liberdade”, não é o campo florido que a gente costuma pensar que é. Liberdade é também o direito de fazer o mal a nós mesmos.

Atenção, autoridades: isto não é uma apologia da droga. Não uso, não aconselho nem recomendo a ninguém que as use. Mas acho que, quem quer, deveria poder. Só isso.

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Esta é uma edição meio sobre a opinativa. Tem Zé Roberto futucando feridas de internautas e Eduardo Fernandes falando de telejornalismo. Tem também o começo das belas e impressionantes memórias de Iosif Landau (outro estreante), para as quais peço toda a atenção possível, pois elas fazem jus a Orson Welles: é tudo verdade. Tem também Alyuska Lins, e o pequeno conto cyberpunk que faz a estréia de Ivan Fiedoruk. E Drica Kee falando de um assunto que incomoda. E atenção ainda para a bela prosa poética da Mariza Lourenço.

No meio disso tudo, não sobrou muito espaço pras seções tradicionais. Mas tradição é tradição principalmente porque ninguém consegue (ou quer) acabar com ela. Domingo que vem estão de volta o Navegar Impreciso, o Rápido e Rasteiro, etc., sob as bênçãos de Alexandre Inagaki.

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Já comeu o sagrado macarrão? Então saiba que indigestão is what you get, folks, for making... whoopee!

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que o amor tudo perdoa e tudo esquece...
alyuska lins  [email protected]

O navio, atracado no cais, podia ser visto ao longe.

O maior pretexto que ele já inventara na vida, você já entrou em um navio, precisa ver os motores, o camarote é até confortável, mas balança um pouco, vem se despedir de mim no sábado que você vê que bonito que é.

Ela não podia deixar de ir. Iria de qualquer forma. Ainda que ele não soubesse. Ainda que ele não a visse, ela se escondendo por entre as gentes, seus olhos refletindo lágrimas feito lanternas na noite.

Por ele, iriam juntos na viagem, riqueza e pobreza, até o mar se comoveria com aquele amor.

Por ela, não só o mar se comoveria, o céu estrelado, o vento, os seres também diriam: um para o outro foram feitos. Ide juntos, pois, pelos caminhos.

Ele não pedira para que o acompanhasse. Numa ocasião, ouvira dizer que ela já tinha para onde ir nas férias. Uns tios distantes, andar nas dunas, quem sabe um namorado, desses leves, de estação.

Ela falara para uns amigos que talvez viajasse, visitasse uns tios distantes, e o fez para aparentar aos outros ocupar a mente com quaisquer planos, que não ele, o tempo todo, a todo instante, que bastava acordar, não pensava em mais nada, já nem os livros eram possíveis. Precisava contar isso, disfarçar a esperança de que tudo ainda fosse a tempo. Só não entendia o advento, o sonho adiado. Pensava bobagens. Se não me chamar, tem outra pessoa em mente. Não pergunto também. Mordo a língua antes, mas não falo.

E ele, triste. Até os pais perguntavam pela tal moça, aquela que, souberam, iria juntar-se a eles, chame-a para um jantar, conhecê-la antes. Ele balançava a cabeça, como um sim, mas desolado. Ela não iria nem a um nem a outro. Ela nem pergunta... pensava antes de dormir. Não parece nem interessada, não quer nem saber quem vai. Não gosta de mim. Nem um pouco.

Nem um pouco... ela chorava. Gostasse um tantinho, ao menos convidava como quem não quer nada, como quem nem quisesse que eu fosse, eu entenderia a timidez. Também não pergunto. Cai a língua antes, mas não falo.

E a tal noite chegara.

Ele ainda fazendo as malas.

Ela ainda olhando o telefone.

Não viajo sem ela!

Vou ligar para ele!

Mas ela viajaria sem mim...

Ele atenderia como se nada estivesse acontecendo...

O navio atracado no cais podia ser visto ao longe.

Ele esperava.

Ela também.

Ele no navio.

Ela a meio caminho.

O apito, a fumaça, ele embarcando, ela correndo, e ele jurando, como se o mar fosse um rio, não se banhar nele na volta o mesmo homem que embarcara.

E ela prometendo, como se um verão fosse uma vida, não mais lembrar de nada quando voltasse de viagem.

E viajaram.

Com essa, já são três férias que dizem isso.

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sou só eu?
josé roberto pereira   [email protected]

Às vezes eu passo um tempão zanzando pela Internet, lendo mensagens de fóruns, newsgroups, listas de discussão... Sou um cara que, como disse um amigo meu, já estou aposentado sem ter precisado trabalhar duro para isso. Coisas da vida.

Aí eu me pego olhando essa fauna elétrica, fico lendo seu amontoado de coisas e fico imaginando como são as pessoas do lado de lá. Não imaginando fisicamente, porque aí é ir longe. Imagino como é a cabeça delas. Como é a papa que é o seu pensamento, sua mente, seu desejo.

Essa observação começou quando recebi um texto de um dos meus editores. Homem inteligente, jornalista, boa pessoa. Trabalhou na Folha e coisa e tal. O e-mail que recebi dele era uma bosta. Erros graves de ortografia, oração sem começar com letra maiúscula, ponto final no meio da frase, um terror. Mas me toquei que ali ele estava sendo "soltinho", não estava se preocupando em dar aquela ênfase "profissional". Era ele largadão, de sandália e bermuda, barriga de fora.

Só que não gostei do que vi. Eu tinha uma certa idéia do que fosse ver dele como missivista e fiquei desapontado; ou se escreve bem o tempo todo, ou não se escreve. Não tenho meio termo.

Essa imagem que mostrava a perenidade das aparências que os textos da Internet possuem ficou guardada no arquivo.

Mas então pintaram mais coisas.

Numa lista de discussão veio uma mensagem de um "poeta" que clamava aos ventos eletrônicos seu desejo por amor e por sua amada. E lá veio outra mensagem, de uma moça, com mais ou menos a mesma coisa, os mesmos "objetivos", mas com outras palavras. O sentido oculto era o mesmo. Quero trepar. Com amor.

O sujeito e a moça prosseguiram em seus delírios literários, lambendo-se um ao outro com palavras cada vez mais quentes e mais deslavadas. O que antes era "espada apaixonada" descambou para "membro intumescido". O que antes eram "olhos molhados pela paixão" (nunca esqueci dessa frase. Mas daqui a pouco esqueço) virou "ser possuída por um macho viril".

É o subúrbio que sobe à cama.

Ali adiante, naquele fórum, um bando de adolescentes de todas as idades discorre sobre as últimas notícias, quase sempre fofocas sobre o ídolo do grupo, que acabou de realizar uma exposição de desenhos animados. É uma patotinha (perdão pela gíria antiga) em que todos "se conhecem", todos são "amigos" mas nunca jamais se encontraram fisicamente. Interessante como se cria amigos sem corpo, rosto, ou contato físico, bastando dizer "bom dia", "você é legal", "te curto"...

Percebo no fórum um silêncio que grita um respeito, disfarçado de despeito. Gente que fez tem méritos. Gente da "comunidade" (percebeu o paradoxo? Comunidade que não convive, só se toca com palavras) que se sobressai um pouco mais leva cascudo verbal. São todos parte de um ninho de anêmonas grudados uns nos outros, comendo do plâncton que despeja de si mesmos.

Mais acolá, agora nos e-mails, eu vou entrando devagar na cabeça de assessoras de imprensa: mulheres ocupadas, atarefadas, trabalhando para grandes multinacionais da comunicação. Prato cheio! Faço meu papel de pedinte de informação, mas, no meio, solto uma gracinha.

[Pausa que refresca: a gracinha, o sorriso, a piscadela entre duas pessoas notoriamente formais é um bálsamo para quebrar o gelo e aproximar os outros. Contudo, é uma aproximação que pode tanto lhe trazer uma Messalina quanto um Pateta ou um simples imbecil.]

E a moça da assessoria se abre, devagar, desacostumada (despreparada?) que está para esse lado mais humano, mais bestinha. E ela me conta, ao cabo de um mês e pouco de conversa mole, sobre seus gatos e de seu ex. Raspo o ranço da mulher profissional e fria, alcanço os gatos, toco no ex-marido e já sou parte da vida dela. Ela chega a me cobrar porque parei de escrever, onde eu estive, por que estive, cadê Zé Roberto, cadê?

Como um polvo (adoro polvos! E adoro citá-los!) ela vai esticando primeiro de leve, depois mais pesado, seus tentáculos (bracinhos, é mais bonito) em minha direção. Vai me tocando com suas antenas (epa! Mas aí ela virou lagosta!), me cutucando aqui e ali, vendo qual a minha reação. Ficou curiosa, quer saber mais. Uma hora ela solta a máxima: "queria poder entrar em sua cabeça e comer seu cérebro".

Não, criança! Não se trata de canibalismo explícito. É o subúrbio que mora nessa gente e que tascou um Living Dead no seu camarada aqui. Ela quer me entender, está curiosa, e me quer sexualmente. Canibalismo também é sexo.

Na Usenet da AT&T, porto do mundo secreto virtual, um banho de spam. Mas pinta uma coletânea de imagens de sexo comuns, banais. Só que numa certa seqüência de um desenhista japonês desconhecido, crianças de cinco anos, incrivelmente bem desenhadas, fazem sexo selvagem e consentido com um adulto. Me choca ver tudo aquilo e é difícil lembrar que para eles é liberado, desde que seja desenhado.

Só que o desejo do cara está ali, no porão, se cutucar pula fora da calça. Não é bem o que se espera de um sujeito saudável para nossos padrões, não? Só que lá entre eles pode. Sem crise, sem culpa. É arte. Não entendo lá muito bem como pode ser arte uma menina de cinco anos, mesmo desenhada, chupar pinto e beber sêmen, enquanto revira os olhinhos de mangá de prazer. Mas enfim...

Depois, em outro fórum, pinta a escancarada. Uma moça bonita de rosto, bota a cara no mundo: arreganha sua home page, suas palavras, seus pensamentos, sua vida. Tem até aquele tal de resumo diário de atividades, em que a moça vai contando seu dia-a-dia, o que fez, o que deixou de fazer. Eu patino no tédio; acho legal as pessoas se expressarem, mas (quase) nunca sobre si mesmas, que não tem tanta gente interessante neste mundo. Mas ela se achou, ela se acha interessante, interessantíssima. Tem até fã-clube a danada...

Numa hora ela se diz escrava de um cara. Conheço o sujeito, ele nem dá a mínima para ela, mas tá lá a coitada, arrastando um Titanic pelo camarada. E dizendo isso para seus seguidores e seguidoras. O pessoal que está com ela é um segredo a parte: eles curtem a moça e sua paixão, seus faniquitos, suas abobrinhas com tom de moça livre, passando aquela imagem de "num tô nem aí", coisa que adolescente ama. Ela solta desvarios com molho de RPG, vai trazendo a turma para seu convívio no mundo in natura, parece que rola festa e o escambau.

A moça vomita e (re)come a própria história, um tamanduá que solta a língua e pega de volta atenção grudada junto.

A noção do real e do imaginário sumiu. Resta a letra Times New Roman na sua tela. E se ela está ali, ela é real. Logo, o que ela diz é real, percebe?

O ego anda em moda: outro menino (tá na cara que é menino) quer pegar um cara que ele detesta porque o cara "zoou comigo, tá ligado?" A ofensa: xingou-lhe a mãe.

Me fascina esse abismão de BOSTA que vai se abrindo por bits e bytes, arreganhando as pessoas além do corpo, além do que elas querem mostrar. E que se mostram, mesmo sem querer. Penso sempre, sempre tento me convencer de que elas podem estar mentindo, mas custa esse pensamento descer pela minha goela: a turma está escondida, atrás de IP's, e-mails falsos, identidades falsas. Elas são o que querem ser, não ha repressão (esqueça o Estado, ele não tem tantos braços e tantos olhos).

Então é baderna, é Sodoma, é Gomorra. É a Babilônia.

O Bigodudo estava certo: olha no abismo que o abismo te olha de volta. E tenho receio de me tornar parte desse inconsciente eletrônico de advogadas carentes, de pompoaristas, de esposas que querem ser putas, de putos que querem ser esposos, de quem é o que não é, de quem é o que não é, de quem é o que quer que você quer que seja, meu senhor. Vejo desesperados.

Mas não sou eu também um desesperado, porque olho os outros como se eu fosse são?

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jornalistas no aquário
eduardo fernandes  [email protected]

Semana passada a TV Bandeirantes reformulou seus telejornais. Eles estão com novos cenários. Que são iguais aos de outras emissoras: espécies de redações Enterprise. No centro, o âncora Kirk, ali o editor vulcaniano sem emoções, todos cercados de computadores, luzes piscantes, etc.

Os Klingons (et’s horríveis, que parecem ter uma tartaruga na testa) aparecem nas reportagens, reclamando de enchentes, de buracos nas ruas e de coisas que não funcionam em geral. Porém, na Enterprise, tudo parece limpo, funcional, bonito e cheio de modernidade.

Se fosse para retratar a situação do país, o design dos programas deveria ser como o das naves de Ed Wood (informe-se): coladas com fita crepe, penduradas por barbantes, feitas de papel alumínio etc. Não soaria mais verdadeiro?

E por que, de repente, essa obsessão por mostrar redações? Os diretores de TVs dizem que é para mostrar como o telejornal é feito, dar mais transparência ao jornalismo. Sei.

Finalmente descobriram a fórmula: o próximo passo é colocar o governo em prédios de vidro. Assim, todas as falcatruas serão definitivamente controladas. Também deveríamos aderir em massa ao naturismo. Pelados, não conseguiremos esconder as mazelas das nossas almas.

Se você já esteve numa redação, sabe que são muito diferentes daquelas coisas assépticas que aparecem na TV. São mais conflituosas e complexas do que alguns computadores simetricamente enfileirados, cercados de pessoas com ares de "confiáveis" e "sérias".

As mudanças nos telejornais refletem o desejo de visibilidade, de invasão de espaços, que a tv cada vez mais promove. Queremos ver a "novela da vida real". E isso também tem de aparecer nos telejornais, mesmo que de forma diluída. Até enjoarmos.

E qual será a próxima moda? Redações Casa dos Artistas? Não, não será muito prático. E também não poderemos saber das decisões que são tomadas longe das câmeras.

Se hoje a coisa está mais para jornalistas-cenário, talvez, no futuro, haja jornalistas-modelo. E as redações não terão gente gorda, careca, negra, peluda ou fora dos padrões estéticos vigentes. Vai saber. O importante é servir bem.

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p e r g u n t a r   n ã o   o f e n d e
"Quem seriam as dez pessoas que você colocaria na Casa dos Artistas?"

claudia villela de andrade  [email protected]
Eu colocaria o FHC. Quem sabe ele lá dentro pararia de dizer bobagens? Ele pensaria só em sexo e ficaria ocioso, nos livrando de seus pensamentos pedagógicos de quem não trepa e nem é professor.

marco aurélio brasil lima  [email protected]
Tinha que começar com uma trupe de biscoitudas: Ellen Roche, Não-Sei-o-Quê Cicarelli e Camila Pitanga. Depois o Edmundo, o Junior Baiano e o Renato Gaúcho. Aí uma pitadinha de Padre Marcelo com Padre Quevedo, pra terminar com mulheres sábias e pacíficas: Astrid e Carla Perez. Indigestão à vista.

ana maria  [email protected]
Eu e minhas nove personalidades.

flaviane lopes  [email protected]
Meus 10 irmãos: o Osmar (convertido ao "Senhor Jesus" depois de anos entregue ao alcoolismo), a Graça (que divorciou-se, fez plástica e agora vive dando uma de menininha), o Jair (que adora cachorros, construir casas e comer comida fria), a Ângela (que nunca gostou de casa, comida e roupa lavada e que enfrenta 2 horas de viagem para fazer sua 3ª ou 4ª faculdade), a Sônia (a Madrasta da família, prendada e do lar, defensora da moral e bons costumes e a única que conheceu as últimas vontades de minha mãe), o Adilson (o artista da família, intelectual que faz doutorado na Europa e adora festas), o Paulo (o homem que dirige scania e já teve 3 esposas e está no quarto filho), o Carlinhos (o namorador. Tudo que caía na rede era peixe), a Regina (a desbocada, a desajustada, a rebelde e a mãe solteira), o Bruno (o irmão caçula que vive nas barras da saia da Sônia-Madrasta). Lógico que a casa iria pegar fogo ou morreriam afogados... Eu estaria de fora... acho que não sou mesmo desta família...

camila f  [email protected]
A lista: 1. Poeta da Inet que chora amor/sexo perdido, rimando amor com dor, ou escritora de egotrips em zines (à escolha); 2. O amigo do Orlando Tosetto Jr., Zé Roberto; 3. Macaco Simão;  4. Paulo Coelho, na versão Ex-Mago/Intelectual; 5. João Gordo do Ratos de Porão; 6. Sua Majestade Pepezinha (a pet da Vera Loyola) sem a Vera Loyola; 7. Fátima Bernardes sem o William Bonner; 8. Gretchen sem o estojo de maquiagem; 9. Sandy sem o Júnior; 10. a mãe do meu ex-namorado.

pergunta da próxima semana:
"Se você pudesse transar com uma celebridade, quem seria? Justifique."
Escreva: [email protected]. As respostas mais cínicas, originais e autodepreciativas serão publicadas na próxima edição.
 
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pequenas outras vidas
ivan fiedoruk  [email protected]

Esperamos. Silenciosamente equilibrados no parapeito do quarto andar, Joan e eu esperamos. Duas quadras adiante, o outdoor digital do edifício Holiday informa que são duas e doze da manhã e a temperatura é de onze graus.
 
Abaixo dos postes de luz o rastro cônico da garoa fina oscila com o vento. Uma limusine desce a avenida quase vazia. Ajusto o sensor ótico em infravermelho. Um casal trepa no banco de trás. Sem blindagem, não é essa. Joan deixa escapar um suspiro.
 
Sem mover o corpo ou os lábios ela inicia nossa conversa silenciosa. Um toque gentil em minha mente anuncia as palavras que mais rapidamente do que uma batida do meu coração se juntam em frase.
 
- Às vezes eu fico imaginando... as escolhas que fazemos todos os dias... os caminhos que seguimos... as realidades que destruímos em nome dessas decisões... para onde vão... essas outras vidas que extinguimos... – sua voz é doce e triste.
 
Aguardo alguns instantes se formarem entre nós em nossa vida cheia de demora. Antes de atinar onde Joan pretende chegar ela fala outra vez em minha mente.
 
- Jack... você nunca pensa em como as coisas poderiam ser diferentes..? Que essa é apenas uma pequena outra vida entre tantas...? – a angústia furtivamente vai tomando forma dentro dela.
 
- Em vez de estarmos aqui poderíamos dormindo em outras casas... em outras vidas... dormindo o sonho confortável dos subúrbios... sonhando com o fim de uma estiagem... sozinhos... medíocres e felizes... – tento manter a atenção na avenida.
 
- Nossas escolhas nos criaram. Nos trouxeram até aqui, Joan. Por que isso agora? – minha voz psíquica trai a preocupação.
 
Um carro cheio de adolescentes bêbados cruza a noite rumo a alguma festa em algum lugar onde os sorrisos nunca terminam. Em nossas pequenas festas privadas os sorrisos sempre acabam.
 
- Eu sonhei com uma vida triste... onde não havia você... havia apenas essa rotina avassaladora... onde eu era quase feliz... mas meu coração daqui gritava que aquilo estava terrivelmente errado... Jack... foi tão real... tão assustador... – como eu não percebi essa aflição toda?
 
Um soluço rompe o disfarce mental de Joan. Prestes a dizer para quebrarmos o contrato e irmos para casa dois veículos estacionam em frente do restaurante. Ruim, muito ruim.
 
Do primeiro carro descem dois capangas com seus eternos sobretudos pretos. Um deles vasculha a noite com seu sensor ótico disfarçado de óculos escuro. Seu olhar cruza com o meu. Convenço seu cérebro de que não há nada aqui além de parede úmida.
 
O segundo entra no Luigi’s. Momentos depois faz um sinal de OK para o brutamontes “A” abrir a porta da limusine. O Contrato desce sorridente com seu terno feito à mão lutando contra a barriga gorda.
 
Sua acompanhante é tão medicinalmente bela que chega a doer. Minha acompanhante diz “vamos” e saltamos cortando a quietude da madrugada.
 
Tudo é muito rápido. Antes mesmo de tocarmos o chão os gorilas já estão mortos. A última coisa que Gordo enxerga é um borrão e seu próprio sangue jorrando no vestido de Senhorita Artificial. A Rainha dos Cosméticos abafa um grito enquanto desaparecemos nas sombras.
 
Doze quarteirões mais tarde Joan soluça e chora abraçada em mim. Digo a ela que está tudo bem, tudo bem...
 
Nesta vida deixamos os trajes e as espadas no armazém e vamos para casa. Nesta vida trepamos contra todas as outras vidas em que não pudemos trepar. Na tarde seguinte desta vida nos beijamos sob o sol do Caribe enquanto todas as pequenas outras vidas ficavam para trás.
 
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a c h a d o s  &  p e r d i d o s
celebridades, professores, amantes, namorados, financiadores, devedores... escreva para [email protected] dizendo quem é que você precisa muito muito muito rever, ou ver pela primeira vez. E cruze os dedos.
 
KEILA CRISTINA MONTI procura o Mateus Potumati, nosso sumido colaborador que ainda nos deve o final de uma novela, e completa: “Parabéns pra você, nesta data querida, muitas felicidades e muitos anos de vida. Mateus, desejo a você muito sucesso, realizações e concretizações de sonhos nesta nova etapa da sua vida. De uma amiga que te ama muito”. O aniversário dele vai ser dia 11.
 
ORLANDO TOSETTO JUNIOR procura a menina do blog “Colunista”. Perdeu o e-mail dela no meio de uma discussão muito importante... e perdeu também o endereço do blog. Uma besta, esse Orlando.
 
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jezebel
mariza lourenço  [email protected]

Em óleo e sal mergulhou a criança, chamando-a: Maria. Delírios de mulher-dama que para a filha desejava a santidade em vida. Mas de nada adiantou que aquele corpo cobrissem de panos, tão pouco ordenar que de Davi recitasse os cânticos. Ao sangue, ainda ralo, já se lhe enfiara a teimosia e tal e qual Jezebel o faria, mastigava entre os dentes o pulsar desesperado de um coração em permanente orgia.

E Maria virou “Betedeivis”, homenagem ao confessor estrangeiro que, tentado, segredara-lhe um dia:

— Filha, tens os olhos da artista...

Se é verdade que do destino ninguém foge, deu cabo, a quenga, da própria sina: pariu, com fartura, seus amores e, escandalosa, chorou suas dores. A ela outra vida nunca coube, senão aquela que escolhera: a de ser livre – mesmo na tristeza – feito asas de borboleta.

E quando lhe perguntavam se daquela lida não deixava, um brilho manso dos belos olhos se apossava: sonho descarnado de puta antiga em se vestir de noiva para, em maio, quem sabe, se casar com Henry Fonda.

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memórias – parte 1
iosif landau   [email protected]

Não sou fujão, nem covarde, nem herói; sou um desgarrado, talvez desertor, mas quem vai me julgar? Os heróis estão enterrados em vala comum, não só judeus, cristãos também. Os mortos e vivos podem ser contados, os desgarrados nunca, porque não são nem vivos, nem mortos – são como fantasmas. Minha fuga começou em 1937, mas eu não sabia; só perceberia muitos anos mais tarde. Meu pai, minha mãe, minha irmã saímos para as férias, todo ano saíamos, sempre o mesmo trajeto, levados pelo Orient Express: Hungria, Áustria, norte da Itália, Suíça, França. Parada final em Paris, hotel Scribe, perto da Place de L'Opera. O velho tinha bastante dinheiro, aliás, tinha muito para nos hospedar no Ritz, no Athenée, no Crillon, mas ele dizia que o Scribe tinha atmosfera: era onde Hemingway se hospedara depois da guerra de 1918. O velho era muito esperto, tinha que ser... Eu já era rico (“judeu rico tem passaporte para a vida”, ele dizia), eu era soldado raso, da cavalaria romena – judeu não podia ter patente, nem cabo, nem sargento. Eu me dava bem com os coronéis, perdia no pôquer, eles sempre ganhadores. Na véspera das batalhas, eu era destacado para tomar conta dos estábulos. Todos os judeus dos regimentos morreram com tiros nas costas...
 
...Até hoje não sei se o admiro ou se me envergonho dele, o velho. Rumino essa coisa, como rumino o fato de eu ter escapado do holocausto, mas me diga: afinal a vida não é uma dádiva divina? Os kapos, judeus carrascos dos próprios judeus nos campos de concentração, também não tinham direito à vida? Onde está o limite? Consolo-me por saber que não tive escolha, levado pelo destino...
 
De Paris, íamos à estação de águas à beira do lago Leman, com a Suíça do outro lado. No fim do verão, Côte d'Azur, um luxo só. O mundo querendo pegar fogo: guerra civil na Espanha, nazistas fazendo das suas, Stalin matando para se manter no poder, ameaça de guerra no ar. E eu no bem bom: cassinos, plage privé. Eu tinha 14 anos, quase 15, bem taludo, fazia até barba. Afastado da realidade: se houvesse guerra, o velho daria jeito. Como deu na outra. Ele dizia: “quando há guerra, precisamos nos resignar, nos tornar diferentes, e nada de mau nos acontecerá”. Eu não entendia naquela ocasião, agora sei: ser anônimos, passar despercebidos, desgarrados. “O povo judeu saiu do deserto, só viu um bosque”, continuava ele, “e pegou fogo. Agora vive num paraíso terrestre e já fazem mais de cinco mil anos. Continuaremos vivos...” Que otimismo! Tanto quanto o dos idiotas que acreditavam na Linha Maginot. No fim do verão daquele ano, me jogaram num colégio na Inglaterra. Não achei ruim; lá só tinha filho de magnata, muito esporte, pouco estudo, boa mesada, fim de semana em Londres. “Você vai primeiro, nós iremos depois”, me disse o velho. Só que esse depois levaria mais três anos: a vida na terra natal era boa, em especial para quem tinha dinheiro. Podia ter recusado, nada de Inglaterra, mas não esbocei resistência. Minha primeira fuga. Minto: minha segunda fuga. Tinha escapado do barmitzvah, nunca fui perdoado. Londres era benvinda: livre do abafo da mãe, longe da sisudez do pai. Nova vida, esquecer a matemática, a química, a física, viver o máximo, ver o mundo, ver Bangkok, subir o Himalaia, ser a glória de minha geração. A vida um sorteio, sonhar, nunca parei... O mundo parece bom quando se nasce em berço de ouro. 
 
...Agosto de 1939, debandada geral, fuga em massa, trens abarrotados a caminho de Paris, mobilisation generale, o sacana de Chamberlain e seu guarda-chuva a caminho de Munique. Reunião da família, onde? No hotel Scribe, bom cenário, decadente como a burguesia pós e pré-guerra. “Você volta pro colégio na Inglaterra”, sentenciou o velho. “Nós voltamos a Bucareste, arrumo tudo, saio de lá”, ele falava, solene, como se preparasse a ida para a terra prometida, “se tiver guerra não demora muito, a Linha Maginot...”
 
...Setembro de 1939. Invasão da Polônia, blitzkrieg, queda de Paris, retirada de Dunquerque. Os alemães avançando, capitulação, governo de Vichy. Pai, mãe, irmã encurralados em Biarritz. De lá, Lisboa: visto para Portugal comprado, sim senhor, o velho era muito safo. Permissão para desembarcar no Brasil, embaixadores brasileiros humanitários... Junho de 1940: chegada deles ao Rio, hospedagem no Copacabana Palace. Só podia ser lá...
 
...Dezembro de 1940, Andalucia Star, navio inglês partindo de Southampton. Destino: Brasil. Eu nele, pensando. Nunca é como a gente imagina, nunca é como a gente imagina mesmo: eu encurralado nessa casca a navegar no Atlântico, em vez de zanzar pelo West End em algum uniforme. Eu podia ser anjo vingador, matar os que matam, herói numa guerra heróica, o bem contra o mal, um merda de um submarino nazista vai achar essa droga de navio, serei resgatado pela Royal Navy, ainda serei um eleito para matar o dragão... Corri ao banheiro, vomitei as tripas, fiquei olhando a escotilha tentando entender. “Você tem que se deixar cair de joelhos, agradecer a Jeová”, mas tudo que conseguia pensar era que havia uma grande distância, tudo isso em volta de mim, dentro de mim, essa glória — aleluia –, jamais será alcançada. O que é esse zás-trás em comparação com mais de 5000 anos de sangue e lágrimas? Devo ir ao convés, olhar para cima e pensar que é espantoso estar vivo, olhar o horizonte, perscrutar com afinco, conseguir ver, divisar o outro mundo... 17 de dezembro, desembarque, Rio de Janeiro, fim de mais uma fuga.
 
Agora cheiro a velhice, carne viva cheira melhor que carne morta?, você se lembra do velho pai, da mãe doente, daquele bebê morto, de outras fugas. Não pode negar, fugiu arrumando desculpas, forjando mentiras em verdades... Fortuna dissipada, perdida nas mãos de safados, o velho achando que ainda se encontrava no Velho Mundo, um aperto de mão é suficiente, dizia solene, a palavra dada é sagrada... Lembro-me da sua figura imperial, terno bem talhado com colete, relíquia pré-holocausto, gravata borboleta, relógio de ouro Patek Phillipe com corrente, bengala e chapéu, maravilhosa e imponente figura, mas, Deus, joguete na mão dos gangsters do Novo Mundo... Eu via, percebia, sofria, tentava, por Jeová, como tentava, nunca me escutou... Abandonei-o à própria sorte, tratei de minha vida; vejo a mãe na minha frente, doente, esclerose múltipla, afastada da vida, doce, frágil como um passarinho. Não soube lhe dar carinho, nunca te dei um beijo, nunca ninguém sente tanta saudade de você como eu... Morreu comigo longe, muito longe... Enterrei os dois no cemitério israelita, o rabino sussurrando palavras no meu ouvido, palavras que eu não entendia e repetia envergonhado... Rabino, repita, por favor, as palavras sagradas, me absolva da minha descrença, da minha indiferença, do meu desamor... Avistei os túmulos como se estivessem me esperando, pedras de mármore com letras douradas se projetando no céu azul. Vi os lampejos de luz nas janelas da sinagoga, o sol brilhando debaixo de uma massa de nuvens, o calor fazia exsudar do chão trêmula névoa, os túmulos pareciam flutuar... Atá Adonai... O rabino afastou-se... Não chorei, não choro os mortos, nem mesmo a morte do bebê... Muito tempo depois voltei aos túmulos, pareciam esquecidos, só capinzal eriçado, arrepiado pelo vento... Chorei.
 
Não devo mais pensar em coisas assim, mas também não posso negá-las. Impossível quando se é um velho com mais de setenta, sem ar nos pulmões e nada vivo entre as pernas.
 
Não fujo mais. Espero... Não há jeito de fugir das lembranças. A memória guarda tudo. Vou contar a minha, aos poucos. Talvez me repita, mas não fujo...
 
nota do editor: a linha Maginot era o elefante branco de fortificações ao longo da fronteira com que a França achou que pararia as tropas alemãs, e que foi facilmente ultrapassada. Tão facilmente que pegou todo mundo de surpresa. O governo de Vichy, comandado pelo General Pétain, é assim chamado porque estabeleceu-se na cidade de Vichy, e não em Paris – e colaborava com os alemães, mesmo sendo oficialmente “neutro”. Neville Chamberlain era o primeiro ministro inglês quando estourou a guerra; foi substituído por Churchill em 1940.
 
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roberto carlos
drica kee  [email protected]

Depois de ler a história triste do gato, na edição 41, me lembrei de uma passagem da infância: havia um amiguinho vizinho que era meio Forrest Gump – o apelido dele era Roberto Carlos. Eu devia ter uns 6/7 anos. Ele adorava o Rei.
 
Pois os meninos da rua o enganavam dizendo que tinha um jeito de ele ficar mais parecido com o seu ídolo. Pois era isso que vocês imaginaram. Levavam o menino para o matinho e fazia aquela fila para comê-lo.
 
Pois na hora que eles estavam lá "bombando" precisavam ficar falando: "vira, Roberto Carlos", "vira, Roberto Carlos". Depois todos saíam e pediam para ele cantar. Pois o tal Roberto Carlos fazia um microfone imaginário com a mão e começava: "debaixo dos caracóis de seus cabelos...." Os meninos riam às gargalhadas e o Roberto Carlos achava que estava abafando.
 
Todos contavam esta história, mas o tal Roberto Carlos não falava para ninguém. Acho que no fundo ele não acreditava muito, mas gostava, pois o "tratamento" foi se repetindo...
 
Uma vez, eu vi a movimentação em direção ao "matinho" e fui atrás sorrateiramente. Fiquei de longe vendo e era assim mesmo. Um dos meninos da fila tinha, digamos, uma ferramenta grande demais, e o Roberto Carlos disse que aquele não podia, pois, se machucasse, o tratamento para virar Roberto Carlos não funcionaria. O tal menino (na verdade ele era mais velho mesmo, perto dos 18) ainda ficou convencendo o tal Roberto Carlos de que era justamente o contrário, com dor o tratamento era completo, pois até a voz ia mudar.
 
Depois disso, uma vizinha do tal matinho (um terreno baldio) viu a movimentação e começou a gritar. Todos correram e eu perdi o espetáculo. Cresci e não soube mais do Roberto Carlos. Seus parentes ainda moram naquela rua da zona norte. O tal rapaz bem servido virou motorista de táxi, e eu até olhava para ele com mais interesse depois do que vi, até que um dia soube que ele foi morto num assalto. O nome dele era Edinho. Ele era loiro de olhos verdes, baixinho e atarracado, bem troncudinho.
 
Ele bem que podia me fazer um tratamento para eu virar Vanderléia. Eu, muito tímida, não tive coragem de me aproximar. Passou.
 
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f a l a   q u e   e u   t e   e s c u t o
bata um fio pra gente – aqui não é CVV, mas também não deixamos ninguém à míngua de carinho, atenção e risadinhas camaradas: [email protected].

”Olá, senhores do SpamZine. Meu nome é João Mortágua, sou de Piracicaba-SP, e gostaria de mandar uma poesia que eu escrevi. Ela é assim:

Declaración de amor

Aonde a vaca vai, o boi vai atrás!
Atrás do Botão!
Seus seios são
Seis seios dos céus!
Seis seios do Celsão,
O boi com coração!

Bom, como vocês são pessoas muito cultas, não sei se irão publicá-la, mas mesmo assim agradeço, da mesma forma que agradeço por saírem da mesmice com esse E-zine. Valeu!”
João Mortágua

tosetto responde: João, meu nego, é por isso que eu aceitei trabalhar aqui, mesmo sem ganhar um tostão. E eu não sou culto não, meu irmão; mas mesmo assim curti seus versos de montão. Tanto, meu caro João, que é com emoção redobrada que meu coração à toa os entoa. E por aí vai, vou, vamos. Abraço.
 
"Meu caro Ricardo Sabbag.
 
Eu vivo em Lisboa (Portugal para os mais distraídos) e leio com bastante atenção a SpamZine. Sou forçado a discordar consigo na sua opinião sobre o estado do cinema pelos seguintes motivos.
 
Em Portugal existe um discurso muito parecido com o seu: que os bons filmes não passam no cinema; que só passa o lixo americano. Mas isto é mentira!!!!!! A verdade é que a maioria das salas de cinema não passa cinema de qualidade, nem cinema Europeu. Mas existem redutos com programação baseada na qualidade e esses locais estão sempre vazios (posso dar um exemplo: na sexta feira passada à noite ver um filme Português e estavam cerca de 20 pessoas na sala, eu pergunto como estaria as sessões do Harry Potter?).
 
Por isso o que eu lhe pergunto meu caro Ricardo é: Não passam filmes bons no Brasil ou os que passam ninguém vai vê-los?!??!!?!?!?!?
 
Os meus parabéns pelos óptimos textos que todas as semanas chegam aqui ao outro lado do Atlântico e continuem!!
 
Atenciosamente"
Luis Sardinha
 
sabbag responde: Caro Luis, esse texto despertou diversas opiniões das mais diferentes personalidades. No caso brasileiro, Curitiba é uma cidade ao sul do Brasil que, apesar de estar crescendo bastante, ainda é muito provinciana. Por isso, são poucas salas (três, para ser exato) que exibem filmes fora do circuito norte-americano. Alguns filmes brasileiros são exibidos também, mas aí precisaríamos falar de outro assunto, que é a qualidade do cinema nacional (prometo comentário para próxima edição do Spam). E, meu caro, é claro que o interesse maior da população não está em filmes com atores desconhecidos ou diretores escandinavos e assim por diante. Mas nem por isso a cultura deveria ser nivelada por baixo.
 
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c r é d i t o s   f i n a i s

feios
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sujos
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tosetto: padre que lança livro de putaria, só no Brasil. E na Bahia. Pois não é que um padreco de lá já botou na rua oito – eu disse oito – “romances” ditos picantes? O último do elemento tem o delicado título de “No Fundo da Raloa”. O nome do cara é Edmilson Ribeiro.
 
inagaki: aproveitando o mote do reality show Casa dos Artistas ter transformado um cantor de segundo escalão, Supla, no pop star número 1 do Brasil, sugiro a criação da Casa dos Coadjuvantes. Que teria Wilson Grey como seu patrono oficial, e Barney Rubble, Sancho Panza e Robin como musos inspiradores. O casting conteria estrelas do porte de Dedé Santana, Roberto de Carvalho, Maria Paula, Júnior (da Sandy), DJ Zé Pedro, Rubens Barrichello, Cumpadi Washington, Luiza Ambiel e o convidado estrangeiro Louis Gosset Jr.
 
inagaki: "The answer to the Great Question of Life, the Universe and Everything is Forty-two".