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042
09 de dezembro de 2001
são paulo recife rio de janeiro
santa maria curitiba
>>>
n e s t a e d i ç ã o:
perdão amoroso desespero jornalistas
outras vidas jezebel
memórias o rei
>>>
Tem havido
ultimamente um bom número de pessoas sofisticadas e bem-pensantes escrevendo
ou falando coisas em favor dos cigarros e do hábito (ou vício) de fumar. Diante
das alegações de que o cigarro faz mal, dá câncer e brochura, e mata em terrível
agonia, essas pessoas respondem que fumam porque querem, e acabou. A par dos
possíveis problemas que o cigarro traz, acham que o prazer da tragada compensa
riscos incertos. E, por maior que seja a ira ou o despeito dos antitabagistas,
ninguém nem sonha em privá-las desse seu direito fundamental que é fumar. Ninguém
pensa em sair pela aí tomando o cigarro da boca dos outros e dizendo “estou
fazendo o melhor para você”.
A mesma
coisa acontece com aqueles que gostam de beber até cair. A gente lamenta, acha
chato, às vezes até começa a evitar a companhia dessas pessoas, mas nem pensa
em privá-las dos seus goles habituais. Mesmo esse hábito (ou vício) sendo infinitamente
mais perigoso que o de fumar. Afinal, ninguém bate o carro porque deu umas tragadas
a mais num charuto.
Pois bem:
o que é que nos leva a ser tão sofisticados, tão laissez-faire com os
fumantes e bêbados, e, por outro lado, tão mais “bonzinhos” e “solidários” com
os viciados em drogas, a ponto de acharmos certo interferir em seus hábitos
e vontades? Se é direito do cidadão cuspir os pulmões em pedacinhos pretos e
calcinados, ou derreter todos os seus neurônios na cachaça, por que não seria
também direito seu ausentar-se do mundo com cocaína, heroína, crack, ópio, LSD
ou o que seja?
Estou
falando aqui de uma coisa muito citada mas pouco encarada de frente: os limites
extremos da liberdade individual. Aliás, nem tão extremos assim; quando o assunto
é liberdade, acreditem, a gente pode ir assombrosamente (e incomodamente) longe.
Estou falando da liberdade que todos têm (ou deveriam ter) de fazer o que bem
entenderem consigo mesmos.
Eu, por
exemplo: sou gordo. Bem gordo. Segundo a Veja e o meu dietista, uns exercícios
seriam ótimos pra minha saúde. O sedentarismo (nome chique que dei à minha preguiça)
me faz mal: engordo, aumenta os riscos de derrame, infarto, trombose. Ocorre
que eu não quero fazer exercício nenhum; quero engordar mais e mais, e na sombra,
se possível. E aí? Alguém me obriga a malhar, sendo a malhação uma coisa tão
boa pra mim?
Logo,
se eu quisesse me entupir de tudo o que é droga que existe, eu deveria poder,
não é mesmo?
É por
essa razão que eu acho que a produção, a venda e o consumo de todas as drogas
deveriam ser descriminalizados. Porque quem quiser usá-las deve ter esse direito.
É a mesma posição defendida pela revista inglesa The Economist, e também
pelo patrono de tudo o que é liberdade individual que existe: John Stuart Mill.
Leiam dele A Liberdade, e parem pra pensar que essa palavra, “liberdade”,
não é o campo florido que a gente costuma pensar que é. Liberdade é também o
direito de fazer o mal a nós mesmos.
Atenção,
autoridades: isto não é uma apologia da droga. Não uso, não aconselho nem recomendo
a ninguém que as use. Mas acho que, quem quer, deveria poder. Só isso.
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Esta é
uma edição meio sobre a opinativa. Tem Zé Roberto futucando feridas de internautas
e Eduardo Fernandes falando de telejornalismo. Tem também o começo das belas
e impressionantes memórias de Iosif Landau (outro estreante), para as quais
peço toda a atenção possível, pois elas fazem jus a Orson Welles: é tudo verdade.
Tem também Alyuska Lins, e o pequeno conto cyberpunk que faz a estréia
de Ivan Fiedoruk. E Drica Kee falando de um assunto que incomoda. E atenção
ainda para a bela prosa poética da Mariza Lourenço.
No meio
disso tudo, não sobrou muito espaço pras seções tradicionais. Mas tradição é
tradição principalmente porque ninguém consegue (ou quer) acabar com ela. Domingo
que vem estão de volta o Navegar Impreciso, o Rápido e Rasteiro, etc., sob as
bênçãos de Alexandre Inagaki.
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Já comeu
o sagrado macarrão? Então
saiba que indigestão is what you get, folks, for making... whoopee!
>>>
que
o amor tudo perdoa e tudo esquece...
alyuska lins [email protected]
O navio, atracado no cais, podia ser
visto ao longe.
O
maior pretexto que ele já inventara na vida, você já entrou em um navio, precisa
ver os motores, o camarote é até confortável, mas balança um pouco, vem se despedir
de mim no sábado que você vê que bonito que é.
Ela
não podia deixar de ir. Iria de qualquer forma. Ainda que ele não soubesse.
Ainda que ele não a visse, ela se escondendo por entre as gentes, seus olhos
refletindo lágrimas feito lanternas na noite.
Por
ele, iriam juntos na viagem, riqueza e pobreza, até o mar se comoveria com aquele
amor.
Por
ela, não só o mar se comoveria, o céu estrelado, o vento, os seres também diriam:
um para o outro foram feitos. Ide juntos, pois, pelos caminhos.
Ele
não pedira para que o acompanhasse. Numa ocasião, ouvira dizer que ela já tinha
para onde ir nas férias. Uns tios distantes, andar nas dunas, quem sabe um namorado,
desses leves, de estação.
Ela
falara para uns amigos que talvez viajasse, visitasse uns tios distantes, e
o fez para aparentar aos outros ocupar a mente com quaisquer planos, que não
ele, o tempo todo, a todo instante, que bastava acordar, não pensava em mais
nada, já nem os livros eram possíveis. Precisava contar isso, disfarçar a esperança
de que tudo ainda fosse a tempo. Só não entendia o advento, o sonho adiado.
Pensava bobagens. Se não me chamar, tem outra pessoa em mente. Não pergunto
também. Mordo a língua antes, mas não falo.
E
ele, triste. Até os pais perguntavam pela tal moça, aquela que, souberam, iria
juntar-se a eles, chame-a para um jantar, conhecê-la antes. Ele balançava a
cabeça, como um sim, mas desolado. Ela não iria nem a um nem a outro. Ela nem
pergunta... pensava antes de dormir. Não parece nem interessada, não quer nem
saber quem vai. Não gosta de mim. Nem um pouco.
Nem
um pouco... ela chorava. Gostasse um tantinho, ao menos convidava como quem
não quer nada, como quem nem quisesse que eu fosse, eu entenderia a timidez.
Também não pergunto. Cai a língua antes, mas não falo.
E
a tal noite chegara.
Ele
ainda fazendo as malas.
Ela
ainda olhando o telefone.
Não
viajo sem ela!
Vou
ligar para ele!
Mas
ela viajaria sem mim...
Ele
atenderia como se nada estivesse acontecendo...
O
navio atracado no cais podia ser visto ao longe.
Ele
esperava.
Ela
também.
Ele
no navio.
Ela
a meio caminho.
O
apito, a fumaça, ele embarcando, ela correndo, e ele jurando, como se o mar
fosse um rio, não se banhar nele na volta o mesmo homem que embarcara.
E
ela prometendo, como se um verão fosse uma vida, não mais lembrar de nada quando
voltasse de viagem.
E
viajaram.
Com
essa, já são três férias que dizem isso.
>>>
sou
só eu?
josé roberto pereira [email protected]
Às vezes
eu passo um tempão zanzando pela Internet, lendo mensagens de fóruns, newsgroups,
listas de discussão... Sou um cara que, como disse um amigo meu, já estou aposentado
sem ter precisado trabalhar duro para isso. Coisas da vida.
Aí eu
me pego olhando essa fauna elétrica, fico lendo seu amontoado de coisas e fico
imaginando como são as pessoas do lado de lá. Não imaginando fisicamente, porque
aí é ir longe. Imagino como é a cabeça delas. Como é a papa que é o seu pensamento,
sua mente, seu desejo.
Essa observação
começou quando recebi um texto de um dos meus editores. Homem inteligente, jornalista,
boa pessoa. Trabalhou na Folha e coisa e tal. O e-mail que recebi dele era uma
bosta. Erros graves de ortografia, oração sem começar com letra maiúscula, ponto
final no meio da frase, um terror. Mas me toquei que ali ele estava sendo "soltinho",
não estava se preocupando em dar aquela ênfase "profissional". Era
ele largadão, de sandália e bermuda, barriga de fora.
Só que
não gostei do que vi. Eu tinha uma certa idéia do que fosse ver dele como missivista
e fiquei desapontado; ou se escreve bem o tempo todo, ou não se escreve. Não
tenho meio termo.
Essa imagem
que mostrava a perenidade das aparências que os textos da Internet possuem ficou
guardada no arquivo.
Mas então
pintaram mais coisas.
Numa lista
de discussão veio uma mensagem de um "poeta" que clamava aos ventos
eletrônicos seu desejo por amor e por sua amada. E lá veio outra mensagem, de
uma moça, com mais ou menos a mesma coisa, os mesmos "objetivos",
mas com outras palavras. O sentido oculto era o mesmo. Quero trepar. Com amor.
O sujeito
e a moça prosseguiram em seus delírios literários, lambendo-se um ao outro com
palavras cada vez mais quentes e mais deslavadas. O que antes era "espada
apaixonada" descambou para "membro intumescido". O que antes
eram "olhos molhados pela paixão" (nunca esqueci dessa frase. Mas
daqui a pouco esqueço) virou "ser possuída por um macho viril".
É o subúrbio
que sobe à cama.
Ali adiante,
naquele fórum, um bando de adolescentes de todas as idades discorre sobre as
últimas notícias, quase sempre fofocas sobre o ídolo do grupo, que acabou de
realizar uma exposição de desenhos animados. É uma patotinha (perdão pela gíria
antiga) em que todos "se conhecem", todos são "amigos" mas
nunca jamais se encontraram fisicamente. Interessante como se cria amigos sem
corpo, rosto, ou contato físico, bastando dizer "bom dia", "você
é legal", "te curto"...
Percebo
no fórum um silêncio que grita um respeito, disfarçado de despeito. Gente que
fez tem méritos. Gente da "comunidade" (percebeu o paradoxo? Comunidade
que não convive, só se toca com palavras) que se sobressai um pouco mais leva
cascudo verbal. São todos parte de um ninho de anêmonas grudados uns nos outros,
comendo do plâncton que despeja de si mesmos.
Mais acolá,
agora nos e-mails, eu vou entrando devagar na cabeça de assessoras de imprensa:
mulheres ocupadas, atarefadas, trabalhando para grandes multinacionais da comunicação.
Prato cheio! Faço meu papel de pedinte de informação, mas, no meio, solto uma
gracinha.
[Pausa
que refresca: a gracinha, o sorriso, a piscadela entre duas pessoas notoriamente
formais é um bálsamo para quebrar o gelo e aproximar os outros. Contudo, é uma
aproximação que pode tanto lhe trazer uma Messalina quanto um Pateta ou um simples
imbecil.]
E a moça
da assessoria se abre, devagar, desacostumada (despreparada?) que está para
esse lado mais humano, mais bestinha. E ela me conta, ao cabo de um mês e pouco
de conversa mole, sobre seus gatos e de seu ex. Raspo o ranço da mulher profissional
e fria, alcanço os gatos, toco no ex-marido e já sou parte da vida dela. Ela
chega a me cobrar porque parei de escrever, onde eu estive, por que estive,
cadê Zé Roberto, cadê?
Como um
polvo (adoro polvos! E adoro citá-los!) ela vai esticando primeiro de leve,
depois mais pesado, seus tentáculos (bracinhos, é mais bonito) em minha direção.
Vai me tocando com suas antenas (epa! Mas aí ela virou lagosta!), me cutucando
aqui e ali, vendo qual a minha reação. Ficou curiosa, quer saber mais. Uma hora
ela solta a máxima: "queria poder entrar em sua cabeça e comer seu cérebro".
Não, criança!
Não se trata de canibalismo explícito. É o subúrbio que mora nessa gente e que
tascou um Living Dead no seu camarada aqui. Ela quer me entender, está curiosa,
e me quer sexualmente. Canibalismo também é sexo.
Na Usenet
da AT&T, porto do mundo secreto virtual, um banho de spam. Mas pinta uma
coletânea de imagens de sexo comuns, banais. Só que numa certa seqüência de
um desenhista japonês desconhecido, crianças de cinco anos, incrivelmente bem
desenhadas, fazem sexo selvagem e consentido com um adulto. Me choca ver tudo
aquilo e é difícil lembrar que para eles é liberado, desde que seja desenhado.
Só que
o desejo do cara está ali, no porão, se cutucar pula fora da calça. Não é bem
o que se espera de um sujeito saudável para nossos padrões, não? Só que lá entre
eles pode. Sem crise, sem culpa. É arte. Não entendo lá muito bem como pode
ser arte uma menina de cinco anos, mesmo desenhada, chupar pinto e beber sêmen,
enquanto revira os olhinhos de mangá de prazer. Mas enfim...
Depois,
em outro fórum, pinta a escancarada. Uma moça bonita de rosto, bota a cara no
mundo: arreganha sua home page, suas palavras, seus pensamentos, sua vida. Tem
até aquele tal de resumo diário de atividades, em que a moça vai contando seu
dia-a-dia, o que fez, o que deixou de fazer. Eu patino no tédio; acho legal
as pessoas se expressarem, mas (quase) nunca sobre si mesmas, que não tem tanta
gente interessante neste mundo. Mas ela se achou, ela se acha interessante,
interessantíssima. Tem até fã-clube a danada...
Numa hora
ela se diz escrava de um cara. Conheço o sujeito, ele nem dá a mínima para ela,
mas tá lá a coitada, arrastando um Titanic pelo camarada. E dizendo isso para
seus seguidores e seguidoras. O pessoal que está com ela é um segredo a parte:
eles curtem a moça e sua paixão, seus faniquitos, suas abobrinhas com tom de
moça livre, passando aquela imagem de "num tô nem aí", coisa que adolescente
ama. Ela solta desvarios com molho de RPG, vai trazendo a turma para seu convívio
no mundo in natura, parece que rola festa e o escambau.
A moça
vomita e (re)come a própria história, um tamanduá que solta a língua e pega
de volta atenção grudada junto.
A noção
do real e do imaginário sumiu. Resta a letra Times New Roman na sua tela. E
se ela está ali, ela é real. Logo, o que ela diz é real, percebe?
O ego
anda em moda: outro menino (tá na cara que é menino) quer pegar um cara que
ele detesta porque o cara "zoou comigo, tá ligado?" A ofensa: xingou-lhe
a mãe.
Me fascina
esse abismão de BOSTA que vai se abrindo por bits e bytes, arreganhando as pessoas
além do corpo, além do que elas querem mostrar. E que se mostram, mesmo sem
querer. Penso sempre, sempre tento me convencer de que elas podem estar mentindo,
mas custa esse pensamento descer pela minha goela: a turma está escondida, atrás
de IP's, e-mails falsos, identidades falsas. Elas são o que querem ser, não
ha repressão (esqueça o Estado, ele não tem tantos braços e tantos olhos).
Então
é baderna, é Sodoma, é Gomorra. É a Babilônia.
O Bigodudo
estava certo: olha no abismo que o abismo te olha de volta. E tenho receio de
me tornar parte desse inconsciente eletrônico de advogadas carentes, de pompoaristas,
de esposas que querem ser putas, de putos que querem ser esposos, de quem é
o que não é, de quem é o que não é, de quem é o que quer que você quer que seja,
meu senhor. Vejo desesperados.
Mas não
sou eu também um desesperado, porque olho os outros como se eu fosse são?
>>>
jornalistas
no aquário
eduardo fernandes [email protected]
Semana passada a TV Bandeirantes reformulou seus telejornais. Eles estão com
novos cenários. Que são iguais aos de outras emissoras: espécies de redações
Enterprise. No centro, o âncora Kirk, ali o editor vulcaniano sem emoções, todos
cercados de computadores, luzes piscantes, etc.
Os Klingons
(et’s horríveis, que parecem ter uma tartaruga na testa) aparecem nas reportagens,
reclamando de enchentes, de buracos nas ruas e de coisas que não funcionam em
geral. Porém, na Enterprise, tudo parece limpo, funcional, bonito e cheio de
modernidade.
Se fosse
para retratar a situação do país, o design dos programas deveria ser como o
das naves de Ed Wood (informe-se): coladas com fita crepe, penduradas por barbantes,
feitas de papel alumínio etc. Não soaria mais verdadeiro?
E por
que, de repente, essa obsessão por mostrar redações? Os diretores de TVs dizem
que é para mostrar como o telejornal é feito, dar mais transparência ao jornalismo.
Sei.
Finalmente
descobriram a fórmula: o próximo passo é colocar o governo em prédios de vidro.
Assim, todas as falcatruas serão definitivamente controladas. Também deveríamos
aderir em massa ao naturismo. Pelados, não conseguiremos esconder as mazelas
das nossas almas.
Se você
já esteve numa redação, sabe que são muito diferentes daquelas coisas assépticas
que aparecem na TV. São mais conflituosas e complexas do que alguns computadores
simetricamente enfileirados, cercados de pessoas com ares de "confiáveis"
e "sérias".
As mudanças
nos telejornais refletem o desejo de visibilidade, de invasão de espaços, que
a tv cada vez mais promove. Queremos ver a "novela da vida real".
E isso também tem de aparecer nos telejornais, mesmo que de forma diluída. Até
enjoarmos.
E qual
será a próxima moda? Redações Casa dos Artistas? Não, não será muito prático.
E também não poderemos saber das decisões que são tomadas longe das câmeras.
Se hoje
a coisa está mais para jornalistas-cenário, talvez, no futuro, haja jornalistas-modelo.
E as redações não terão gente gorda, careca, negra, peluda ou fora dos padrões
estéticos vigentes. Vai saber. O importante é servir bem.
>>>
p e r g u n t a r n ã
o o f e n d e
"Quem seriam as dez pessoas que
você colocaria na Casa dos Artistas?"
claudia villela de andrade [email protected]
Eu
colocaria o FHC. Quem sabe ele lá dentro pararia de dizer bobagens? Ele pensaria
só em sexo e ficaria ocioso, nos livrando de seus pensamentos pedagógicos de
quem não trepa e nem é professor.
marco aurélio brasil lima [email protected]
Tinha
que começar com uma trupe de biscoitudas: Ellen Roche, Não-Sei-o-Quê Cicarelli
e Camila Pitanga. Depois o Edmundo, o Junior Baiano e o Renato Gaúcho. Aí uma
pitadinha de Padre Marcelo com Padre Quevedo, pra terminar com mulheres
sábias e pacíficas: Astrid e Carla Perez. Indigestão à vista.
ana maria [email protected]
Eu e minhas nove personalidades.
flaviane lopes [email protected]
Meus 10 irmãos: o
Osmar (convertido ao "Senhor Jesus" depois de anos entregue
ao alcoolismo), a Graça
(que divorciou-se, fez plástica e agora vive dando uma de menininha), o
Jair (que adora cachorros, construir casas e comer comida fria), a
Ângela (que nunca gostou de casa, comida e roupa lavada e que enfrenta 2
horas de viagem para fazer sua 3ª ou 4ª faculdade), a
Sônia (a Madrasta da família, prendada e do lar, defensora da moral
e bons costumes e a única que conheceu as últimas vontades de minha mãe),
o Adilson (o artista
da família, intelectual que faz doutorado na Europa e adora festas), o
Paulo (o homem que dirige scania e já teve 3 esposas e está no quarto
filho), o Carlinhos
(o namorador. Tudo que caía na rede era peixe), a
Regina (a desbocada, a desajustada, a rebelde e a mãe solteira), o
Bruno (o irmão caçula que vive nas barras da saia da Sônia-Madrasta).
Lógico que a casa iria pegar fogo ou morreriam afogados... Eu estaria de fora...
acho que não sou mesmo desta família...
camila f [email protected]
A lista: 1. Poeta da Inet que chora amor/sexo perdido, rimando amor com dor,
ou escritora de egotrips em zines (à escolha); 2. O amigo do Orlando Tosetto
Jr., Zé Roberto; 3. Macaco Simão; 4. Paulo Coelho, na versão Ex-Mago/Intelectual;
5. João Gordo do Ratos de Porão; 6. Sua Majestade Pepezinha (a pet da Vera
Loyola) sem a Vera Loyola; 7. Fátima Bernardes sem o William Bonner; 8. Gretchen
sem o estojo de maquiagem; 9. Sandy sem o Júnior; 10. a mãe do meu ex-namorado.
pergunta da próxima semana:
"Se você pudesse transar com uma celebridade,
quem seria? Justifique."
Escreva:
[email protected]. As respostas mais
cínicas, originais e autodepreciativas serão publicadas na próxima edição.
>>>
pequenas
outras vidas
ivan fiedoruk [email protected]
Esperamos. Silenciosamente equilibrados no parapeito do quarto andar, Joan e
eu esperamos. Duas quadras adiante, o outdoor digital do edifício Holiday informa
que são duas e doze da manhã e a temperatura é de onze graus.
Abaixo
dos postes de luz o rastro cônico da garoa fina oscila com o vento. Uma limusine
desce a avenida quase vazia. Ajusto o sensor ótico em infravermelho. Um casal
trepa no banco de trás. Sem blindagem, não é essa. Joan deixa escapar um suspiro.
Sem
mover o corpo ou os lábios ela inicia nossa conversa silenciosa. Um toque gentil
em minha mente anuncia as palavras que mais rapidamente do que uma batida do
meu coração se juntam em frase.
- Às
vezes eu fico imaginando... as escolhas que fazemos todos os dias... os caminhos
que seguimos... as realidades que destruímos em nome dessas decisões... para
onde vão... essas outras vidas que extinguimos... – sua voz é doce e triste.
Aguardo
alguns instantes se formarem entre nós em nossa vida cheia de demora. Antes
de atinar onde Joan pretende chegar ela fala outra vez em minha mente.
- Jack...
você nunca pensa em como as coisas poderiam ser diferentes..? Que essa é apenas
uma pequena outra vida entre tantas...? – a angústia furtivamente vai tomando
forma dentro dela.
- Em
vez de estarmos aqui poderíamos dormindo em outras casas... em outras vidas...
dormindo o sonho confortável dos subúrbios... sonhando com o fim de uma estiagem...
sozinhos... medíocres e felizes... – tento manter a atenção na avenida.
- Nossas
escolhas nos criaram. Nos trouxeram até aqui, Joan. Por que isso agora? – minha
voz psíquica trai a preocupação.
Um
carro cheio de adolescentes bêbados cruza a noite rumo a alguma festa em algum
lugar onde os sorrisos nunca terminam. Em nossas pequenas festas privadas os
sorrisos sempre acabam.
- Eu
sonhei com uma vida triste... onde não havia você... havia apenas essa rotina
avassaladora... onde eu era quase feliz... mas meu coração daqui gritava que
aquilo estava terrivelmente errado... Jack... foi tão real... tão assustador...
– como eu não percebi essa aflição toda?
Um
soluço rompe o disfarce mental de Joan. Prestes a dizer para quebrarmos o contrato
e irmos para casa dois veículos estacionam em frente do restaurante. Ruim, muito
ruim.
Do
primeiro carro descem dois capangas com seus eternos sobretudos pretos. Um deles
vasculha a noite com seu sensor ótico disfarçado de óculos escuro. Seu olhar
cruza com o meu. Convenço seu cérebro de que não há nada aqui além de parede
úmida.
O segundo
entra no Luigi’s. Momentos depois faz um sinal de OK para o brutamontes “A”
abrir a porta da limusine. O Contrato desce sorridente com seu terno feito à
mão lutando contra a barriga gorda.
Sua
acompanhante é tão medicinalmente bela que chega a doer. Minha acompanhante
diz “vamos” e saltamos cortando a quietude da madrugada.
Tudo
é muito rápido. Antes mesmo de tocarmos o chão os gorilas já estão mortos. A
última coisa que Gordo enxerga é um borrão e seu próprio sangue jorrando no
vestido de Senhorita Artificial. A Rainha dos Cosméticos abafa um grito enquanto
desaparecemos nas sombras.
Doze
quarteirões mais tarde Joan soluça e chora abraçada em mim. Digo a ela que está
tudo bem, tudo bem...
Nesta
vida deixamos os trajes e as espadas no armazém e vamos para casa. Nesta vida
trepamos contra todas as outras vidas em que não pudemos trepar. Na tarde seguinte
desta vida nos beijamos sob o sol do Caribe enquanto todas as pequenas outras
vidas ficavam para trás.
>>>
a
c h a d o s &
p e r d i d o s
celebridades,
professores, amantes, namorados, financiadores, devedores... escreva para [email protected]
dizendo quem é que você precisa muito muito muito rever, ou ver pela primeira
vez. E cruze os dedos.
KEILA
CRISTINA MONTI procura o Mateus
Potumati, nosso sumido colaborador que ainda nos deve o final de uma novela,
e completa: “Parabéns pra você, nesta data querida, muitas felicidades
e muitos anos de vida. Mateus, desejo a você muito sucesso, realizações e concretizações
de sonhos nesta nova etapa da sua vida. De uma amiga que te ama muito”.
O aniversário dele vai ser dia 11.
ORLANDO
TOSETTO JUNIOR procura a menina do blog
“Colunista”. Perdeu o e-mail dela no meio de uma discussão muito importante...
e perdeu também o endereço do blog. Uma besta, esse Orlando.
>>>
jezebel
mariza lourenço [email protected]
Em óleo e sal mergulhou a criança, chamando-a: Maria. Delírios de mulher-dama
que para a filha desejava a santidade em vida. Mas de nada adiantou que aquele
corpo cobrissem de panos, tão pouco ordenar que de Davi recitasse os cânticos.
Ao sangue, ainda ralo, já se lhe enfiara a teimosia e tal e qual Jezebel o faria,
mastigava entre os dentes o pulsar desesperado de um coração em permanente orgia.
E Maria
virou “Betedeivis”, homenagem ao confessor estrangeiro que, tentado, segredara-lhe
um dia:
— Filha,
tens os olhos da artista...
Se é verdade
que do destino ninguém foge, deu cabo, a quenga, da própria sina: pariu, com
fartura, seus amores e, escandalosa, chorou suas dores. A ela outra vida nunca
coube, senão aquela que escolhera: a de ser livre – mesmo na tristeza – feito
asas de borboleta.
E quando
lhe perguntavam se daquela lida não deixava, um brilho manso dos belos olhos
se apossava: sonho descarnado de puta antiga em se vestir de noiva para, em
maio, quem sabe, se casar com Henry Fonda.
>>>
memórias –
parte 1
iosif landau [email protected]
Não sou fujão, nem covarde, nem herói;
sou um desgarrado, talvez desertor, mas quem vai me julgar? Os heróis estão
enterrados em vala comum, não só judeus, cristãos também. Os mortos e vivos
podem ser contados, os desgarrados nunca, porque não são nem vivos, nem mortos
– são como fantasmas. Minha fuga começou em 1937, mas eu não sabia; só perceberia
muitos anos mais tarde. Meu pai, minha mãe, minha irmã saímos para as férias,
todo ano saíamos, sempre o mesmo trajeto, levados pelo Orient Express: Hungria,
Áustria, norte da Itália, Suíça, França. Parada final em Paris, hotel Scribe,
perto da Place de L'Opera. O velho tinha bastante dinheiro, aliás, tinha muito
para nos hospedar no Ritz, no Athenée, no Crillon, mas ele dizia que o Scribe
tinha atmosfera: era onde Hemingway se hospedara depois da guerra de 1918. O
velho era muito esperto, tinha que ser... Eu já era rico (“judeu rico tem passaporte
para a vida”, ele dizia), eu era soldado raso, da cavalaria romena – judeu não
podia ter patente, nem cabo, nem sargento. Eu me dava bem com os coronéis, perdia
no pôquer, eles sempre ganhadores. Na véspera das batalhas, eu era destacado
para tomar conta dos estábulos. Todos os judeus dos regimentos morreram com
tiros nas costas...
...Até
hoje não sei se o admiro ou se me envergonho dele, o velho. Rumino essa coisa,
como rumino o fato de eu ter escapado do holocausto, mas me diga: afinal a vida
não é uma dádiva divina? Os kapos, judeus carrascos dos próprios judeus
nos campos de concentração, também não tinham direito à vida? Onde está o limite?
Consolo-me por saber que não tive escolha, levado pelo destino...
De
Paris, íamos à estação de águas à beira do lago Leman, com a Suíça do outro
lado. No fim do verão, Côte d'Azur, um luxo só. O mundo querendo pegar fogo:
guerra civil na Espanha, nazistas fazendo das suas, Stalin matando para se manter
no poder, ameaça de guerra no ar. E eu no bem bom: cassinos, plage privé.
Eu tinha 14 anos, quase 15, bem taludo, fazia até barba. Afastado da realidade:
se houvesse guerra, o velho daria jeito. Como deu na outra. Ele dizia: “quando
há guerra, precisamos nos resignar, nos tornar diferentes, e nada de mau nos
acontecerá”. Eu não entendia naquela ocasião, agora sei: ser anônimos, passar
despercebidos, desgarrados. “O povo judeu saiu do deserto, só viu um bosque”,
continuava ele, “e pegou fogo. Agora vive num paraíso terrestre e já fazem mais
de cinco mil anos. Continuaremos vivos...” Que otimismo! Tanto quanto o dos
idiotas que acreditavam na Linha Maginot. No fim do verão daquele ano, me jogaram
num colégio na Inglaterra. Não achei ruim; lá só tinha filho de magnata, muito
esporte, pouco estudo, boa mesada, fim de semana em Londres. “Você vai primeiro,
nós iremos depois”, me disse o velho. Só que esse depois levaria mais três anos:
a vida na terra natal era boa, em especial para quem tinha dinheiro. Podia ter
recusado, nada de Inglaterra, mas não esbocei resistência. Minha primeira fuga.
Minto: minha segunda fuga. Tinha escapado do barmitzvah, nunca fui perdoado.
Londres era benvinda: livre do abafo da mãe, longe da sisudez do pai. Nova vida,
esquecer a matemática, a química, a física, viver o máximo, ver o mundo, ver
Bangkok, subir o Himalaia, ser a glória de minha geração. A vida um sorteio,
sonhar, nunca parei... O mundo parece bom quando se nasce em berço de ouro.
...Agosto
de 1939, debandada geral, fuga em massa, trens abarrotados a caminho de Paris,
mobilisation generale, o sacana de Chamberlain e seu guarda-chuva a caminho
de Munique. Reunião da família, onde? No hotel Scribe, bom cenário, decadente
como a burguesia pós e pré-guerra. “Você volta pro colégio na Inglaterra”, sentenciou
o velho. “Nós voltamos a Bucareste, arrumo tudo, saio de lá”, ele falava, solene,
como se preparasse a ida para a terra prometida, “se tiver guerra não demora
muito, a Linha Maginot...”
...Setembro
de 1939. Invasão da Polônia, blitzkrieg, queda de Paris, retirada de
Dunquerque. Os alemães avançando, capitulação, governo de Vichy. Pai, mãe, irmã
encurralados em Biarritz. De lá, Lisboa: visto para Portugal comprado, sim senhor,
o velho era muito safo. Permissão para desembarcar no Brasil, embaixadores brasileiros
humanitários... Junho de 1940: chegada deles ao Rio, hospedagem no Copacabana
Palace. Só podia ser lá...
...Dezembro
de 1940, Andalucia Star, navio inglês partindo de Southampton. Destino: Brasil.
Eu nele, pensando. Nunca é como a gente imagina, nunca é como a gente imagina
mesmo: eu encurralado nessa casca a navegar no Atlântico, em vez de zanzar pelo
West End em algum uniforme. Eu podia ser anjo vingador, matar os que
matam, herói numa guerra heróica, o bem contra o mal, um merda de um submarino
nazista vai achar essa droga de navio, serei resgatado pela Royal Navy, ainda
serei um eleito para matar o dragão... Corri ao banheiro, vomitei as tripas,
fiquei olhando a escotilha tentando entender. “Você tem que se deixar cair de
joelhos, agradecer a Jeová”, mas tudo que conseguia pensar era que havia uma
grande distância, tudo isso em volta de mim, dentro de mim, essa glória — aleluia
–, jamais será alcançada. O que é esse zás-trás em comparação com mais de 5000
anos de sangue e lágrimas? Devo ir ao convés, olhar para cima e pensar que é
espantoso estar vivo, olhar o horizonte, perscrutar com afinco, conseguir ver,
divisar o outro mundo... 17 de dezembro, desembarque, Rio de Janeiro, fim de
mais uma fuga.
Agora
cheiro a velhice, carne viva cheira melhor que carne morta?, você se lembra
do velho pai, da mãe doente, daquele bebê morto, de outras fugas. Não pode negar,
fugiu arrumando desculpas, forjando mentiras em verdades... Fortuna dissipada,
perdida nas mãos de safados, o velho achando que ainda se encontrava no Velho
Mundo, um aperto de mão é suficiente, dizia solene, a palavra dada é sagrada...
Lembro-me da sua figura imperial, terno bem talhado com colete, relíquia pré-holocausto,
gravata borboleta, relógio de ouro Patek Phillipe com corrente, bengala e chapéu,
maravilhosa e imponente figura, mas, Deus, joguete na mão dos gangsters
do Novo Mundo... Eu via, percebia, sofria, tentava, por Jeová, como tentava,
nunca me escutou... Abandonei-o à própria sorte, tratei de minha vida; vejo
a mãe na minha frente, doente, esclerose múltipla, afastada da vida, doce, frágil
como um passarinho. Não soube lhe dar carinho, nunca te dei um beijo, nunca
ninguém sente tanta saudade de você como eu... Morreu comigo longe, muito longe...
Enterrei os dois no cemitério israelita, o rabino sussurrando palavras no meu
ouvido, palavras que eu não entendia e repetia envergonhado... Rabino, repita,
por favor, as palavras sagradas, me absolva da minha descrença, da minha indiferença,
do meu desamor... Avistei os túmulos como se estivessem me esperando, pedras
de mármore com letras douradas se projetando no céu azul. Vi os lampejos de
luz nas janelas da sinagoga, o sol brilhando debaixo de uma massa de nuvens,
o calor fazia exsudar do chão trêmula névoa, os túmulos pareciam flutuar...
Atá Adonai... O rabino afastou-se... Não chorei, não choro os mortos,
nem mesmo a morte do bebê... Muito tempo depois voltei aos túmulos, pareciam
esquecidos, só capinzal eriçado, arrepiado pelo vento... Chorei.
Não
devo mais pensar em coisas assim, mas também não posso negá-las. Impossível
quando se é um velho com mais de setenta, sem ar nos pulmões e nada vivo entre
as pernas.
Não
fujo mais. Espero... Não há jeito de fugir das lembranças. A memória guarda
tudo. Vou contar a minha, aos poucos. Talvez me repita, mas não fujo...
nota
do editor: a linha
Maginot era o elefante branco de fortificações ao longo da fronteira com que
a França achou que pararia as tropas alemãs, e que foi facilmente ultrapassada.
Tão facilmente que pegou todo mundo de surpresa. O governo de Vichy, comandado
pelo General Pétain, é assim chamado porque estabeleceu-se na cidade de Vichy,
e não em Paris – e colaborava com os alemães, mesmo sendo oficialmente “neutro”.
Neville Chamberlain era o primeiro ministro inglês quando estourou a guerra;
foi substituído por Churchill em 1940.
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Depois de ler a história triste do gato, na edição 41, me lembrei de uma passagem
da infância: havia um amiguinho vizinho que era meio Forrest Gump – o apelido
dele era Roberto Carlos. Eu devia ter uns 6/7 anos. Ele adorava o Rei.
Pois
os meninos da rua o enganavam dizendo que tinha um jeito de ele ficar mais parecido
com o seu ídolo. Pois era isso que vocês imaginaram. Levavam o menino para o
matinho e fazia aquela fila para comê-lo.
Pois
na hora que eles estavam lá "bombando" precisavam ficar falando: "vira,
Roberto Carlos", "vira, Roberto Carlos". Depois todos saíam e
pediam para ele cantar. Pois o tal Roberto Carlos fazia um microfone imaginário
com a mão e começava: "debaixo dos caracóis de seus cabelos...." Os
meninos riam às gargalhadas e o Roberto Carlos achava que estava abafando.
Todos
contavam esta história, mas o tal Roberto Carlos não falava para ninguém. Acho
que no fundo ele não acreditava muito, mas gostava, pois o "tratamento"
foi se repetindo...
Uma
vez, eu vi a movimentação em direção ao "matinho" e fui atrás sorrateiramente.
Fiquei de longe vendo e era assim mesmo. Um dos meninos da fila tinha, digamos,
uma ferramenta grande demais, e o Roberto Carlos disse que aquele não podia,
pois, se machucasse, o tratamento para virar Roberto Carlos não funcionaria.
O tal menino (na verdade ele era mais velho mesmo, perto dos 18) ainda ficou
convencendo o tal Roberto Carlos de que era justamente o contrário, com dor
o tratamento era completo, pois até a voz ia mudar.
Depois
disso, uma vizinha do tal matinho (um terreno baldio) viu a movimentação e começou
a gritar. Todos correram e eu perdi o espetáculo. Cresci e não soube mais do
Roberto Carlos. Seus parentes ainda moram naquela rua da zona norte. O tal rapaz
bem servido virou motorista de táxi, e eu até olhava para ele com mais interesse
depois do que vi, até que um dia soube que ele foi morto num assalto. O nome
dele era Edinho. Ele era loiro de olhos verdes, baixinho e atarracado, bem troncudinho.
Ele
bem que podia me fazer um tratamento para eu virar Vanderléia. Eu, muito tímida,
não tive coragem de me aproximar. Passou.
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f a l a q u e
e u t e e s c u t o
bata um fio pra gente – aqui não é CVV,
mas também não deixamos ninguém à míngua de carinho, atenção e risadinhas camaradas:
[email protected].
”Olá, senhores do SpamZine. Meu nome é João Mortágua, sou de Piracicaba-SP,
e gostaria de mandar uma poesia que eu escrevi. Ela é assim:
Declaración de amor
Aonde a vaca vai, o boi vai atrás!
Atrás do Botão!
Seus seios são
Seis seios dos céus!
Seis seios do Celsão,
O boi com coração!
Bom, como vocês são pessoas muito cultas, não sei se irão publicá-la, mas mesmo
assim agradeço, da mesma forma que agradeço por saírem da mesmice com esse E-zine.
Valeu!”
João
Mortágua
tosetto responde: João, meu nego, é por
isso que eu aceitei trabalhar aqui, mesmo sem ganhar um tostão. E eu não sou
culto não, meu irmão; mas mesmo assim curti seus versos de montão. Tanto, meu
caro João, que é com emoção redobrada que meu coração à toa os entoa. E por
aí vai, vou, vamos. Abraço.
"Meu
caro Ricardo Sabbag.
Eu vivo em Lisboa (Portugal
para os mais distraídos) e leio com bastante atenção a SpamZine. Sou
forçado a discordar consigo na sua opinião sobre o estado do cinema pelos
seguintes motivos.
Em Portugal existe
um discurso muito parecido com o seu: que os bons filmes não passam no cinema;
que só passa o lixo americano. Mas isto é mentira!!!!!! A verdade é que a
maioria das salas de cinema não passa cinema de qualidade,
nem cinema Europeu. Mas existem redutos com programação baseada na qualidade
e esses locais estão sempre vazios (posso dar um exemplo: na sexta feira passada
à noite ver um filme Português e estavam cerca de 20 pessoas na sala, eu pergunto
como estaria as sessões do Harry Potter?).
Por isso o que eu lhe
pergunto meu caro Ricardo é: Não passam filmes bons no Brasil ou os
que passam ninguém vai vê-los?!??!!?!?!?!?
Os meus parabéns pelos
óptimos textos que todas as semanas chegam aqui ao outro lado do Atlântico
e continuem!!
Atenciosamente"
Luis Sardinha
sabbag responde:
Caro Luis, esse texto despertou
diversas opiniões das mais diferentes personalidades. No caso brasileiro,
Curitiba é uma cidade ao sul do Brasil que, apesar de estar crescendo bastante,
ainda é muito provinciana. Por isso, são poucas salas (três, para ser exato)
que exibem filmes fora do circuito norte-americano. Alguns filmes brasileiros
são exibidos também, mas aí precisaríamos falar de outro assunto, que é a
qualidade do cinema nacional (prometo comentário para próxima edição do Spam).
E, meu caro, é claro que o interesse maior da população não está em filmes
com atores desconhecidos ou diretores escandinavos e assim por diante. Mas
nem por isso a cultura deveria ser nivelada por baixo.
>>>
malvados
p. s.
tosetto: padre que lança livro de putaria,
só no Brasil. E na Bahia. Pois não é que um padreco de lá já botou na rua oito
– eu disse oito – “romances” ditos picantes? O último do elemento tem o delicado
título de “No Fundo da Raloa”. O nome do cara é Edmilson Ribeiro.
inagaki:
aproveitando o mote do reality show Casa dos Artistas ter transformado um cantor
de segundo escalão, Supla, no pop star número 1 do Brasil, sugiro a criação
da Casa dos Coadjuvantes. Que teria Wilson Grey como seu patrono oficial, e
Barney Rubble, Sancho Panza e Robin como musos inspiradores. O casting conteria
estrelas do porte de Dedé Santana, Roberto de Carvalho, Maria Paula, Júnior
(da Sandy), DJ Zé Pedro, Rubens Barrichello, Cumpadi Washington, Luiza Ambiel
e o convidado estrangeiro Louis Gosset Jr.